sexta-feira, 3 de outubro de 2025

Ouvir a Deus


    O verbo 'obedecer', em hebraico, é literalmente traduzido como 'ouvir a voz'. Por isso, vemos na Bíblia tantas passagens que falam em 'ouvir'. O Primeiro Mandamento (cf. Mc 12,29), anunciado por Moisés no Livro de Deuteronômio, começa exatamente com um convite à escuta dos ensinamentos de Deus: "Ouve, ó Israel! O Senhor, Nosso Deus, é o único Senhor. Amarás o Senhor, Teu Deus, de todo teu coração, de toda tua alma e de todas tuas forças." Dt 6,4-5
    Em caso contrário, esse grande Profeta de Israel também advertia: "Como as nações que o Senhor exterminou diante de vós, assim também perecereis vós, se não obedecerdes a voz do Senhor, Vosso Deus." Dt 8,20
    O Livro de Salmos, portanto, convida-nos a exaltar o Senhor e canta para que O ouçamos de abertos corações: "Entremos com louvor em Sua presença... Ele é Nosso Deus, e nós somos Seu povo, rebanho que Ele conduz. Oxalá escuteis hoje o que Ele diz: 'Não endureçais vossos corações...'" Sl 94,2.7-8
    Sem dúvida, essa foi a razão da prosperidade de Israel, como Deus prometeu ao patriarca Isaac, filho de Abraão, no Livro de Gênesis: "Multiplicarei tua posteridade como as estrelas do céu, dá-lhe-ei todas estas regiões e nela serão benditas todas nações da Terra, porque Abraão obedeceu a Minha voz e observou Meus preceitos, Meus Mandamentos e Minhas leis." Gn 26,4-5
    Aliás, tão preciosa é a obediência aos olhos de Deus, que mesmo os ritos por Ele determinados devem ser preteridos em caso de expressa de ordem Sua. Está no Primeiro Livro de Samuel, quando ele anunciou a destituição do rei Saul por não seguir estritamente o que Deus lhe ordenara, no combate contra o povo de Amalec: "Samuel replicou-lhe: 'Acaso o Senhor Se compraz tanto nos holocaustos e sacrifícios como na obediência a Sua voz? A obediência é melhor que o sacrifício, e a submissão vale mais que a gordura dos carneiros. A rebelião é tão culpável quanto a superstição, a desobediência é como o pecado de idolatria. Pois como rejeitaste a Palavra do Senhor, Ele também te rejeita e te despoja da realeza!" 1 Sm 15,22-23
    E acenando para o Advento, quando Cristo aperfeiçoaria o Antigo Testamento, os sagrados autores de um Salmo garantem: "Escutarei o que diz o Senhor Deus, porque Ele diz palavras de Paz a Seu povo, a Seus fiéis, e àqueles cujos corações se voltam para Ele. Sim, Sua Salvação está bem perto daqueles que O temem, de sorte que Sua Glória retornará a nossa terra." Sl 84,9-10
    Pois desde os tempos de Moisés, o mais importante Profeta do povo hebreu (cf. Dt 34,10), já coube a ele fazer o primeiro anúncio da Vinda do Messias. E sua recomendação singularmente reduzia-se a que nós O ouvíssemos: "O Senhor, Teu Deus, suscitará dentre teus irmãos um Profeta como eu: é a Ele que devereis ouvir." Dt 18,15
    Ora, Deus pessoalmente tratou de apresentar este 'Profeta' a três dos Apóstolos, o seleto grupo mais próximo de Jesus. Foi no momento de Sua Transfiguração, quando a voz do Pai se fez ouvir dentro da radiante Nuvem que era o Espírito Santo, ordenando que todos O ouvissem. Está no Evangelho Segundo São Mateus: "Eis Meu Amado Filho, em Quem pus toda Minha afeição. Ouvi-O!" Mt 17,4
    E tal audição causou-lhes tão grande pavor que só um toque da Mão de Jesus pôde aclamá-los: "Ouvindo esta voz, os discípulos caíram com a face por terra e tiveram medo. Mas Jesus aproximou-Se deles e tocou-os, dizendo: 'Levantai-vos e não temais.' Eles levantaram os olhos e não viram mais ninguém, senão Jesus." Mt 17,6-8
    O Evangelho Segundo São João, que era um desses três, em reconhecidamente difícil tarefa assim explicou Quem é Jesus: o próprio Verbo que encarnou, a Palavra de Deus que se tornou Carne: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus. E o Verbo fez-Se Carne e habitou entre nós. E vimos Sua Glória, a Glória que o Filho Único recebe de Seu Pai, cheio de Graça e de Verdade." Jo 1,1.14
    Por isso, ao falar da fonte de Seus ensinamentos, Jesus atestou, clamando em Jerusalém durante Sua última Páscoa: "Em Verdade, não falei por Mim mesmo, mas o Pai, que Me enviou, Ele mesmo prescreveu-Me o que devo dizer e o que devo ensinar. O que digo, portanto, digo-o como o Pai Me falou." Jo 12,49.50b
    E dava exemplo, como disse aos Apóstolos após a Santa Ceia: "... Eu também guardei os Mandamentos de Meu Pai, e persisto em Seu amor." Jo 15,10b
    Perante Pilatos, Ele declarou qual é Sua Missão e a quem é dirigida Sua Mensagem: "É para dar testemunho da Verdade que nasci e vim ao mundo. Todo aquele que é da Verdade ouve Minha voz." Jo 18,37
    E já havia dito aos judeus durante a Festa da Dedicação, quando estava no Templo de Jerusalém, próximo ao Pórtico de Salomão, referindo-Se a Sua Igreja ainda por nascer (cf. At 2,4): "Minhas ovelhas ouvem Minha voz, Eu conheço-as e elas seguem-Me." Jo 10,27
    Isso explica a pessoal realização do próprio São João Batista, antes de ser preso, quando testemunho sobre Jesus: "Aquele que tem a esposa é o Esposo. O amigo do Esposo, porém, que está presente e O ouve, sobremodo regozija-se com a voz do Esposo. Nisso consiste minha alegria, que agora se completa." Jo 3,29
    Com efeito, no Livro do Apocalipse de São João, Nosso Senhor confirma os tempos que vivemos desde Sua Ascensão, que são os tempos do Santo Paráclito, da Santa Igreja Católica ou dos Sacramentos: "Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir Minha voz e Me abrir a porta, entrarei em sua casa e cearemos. Eu com ele e ele Comigo." Ap 3,20
    Na parábola do Semeador, que é Ele mesmo, Nosso Salvador compara Sua Palavra a uma semente, e tudo mais refere-se ao cuidado como nós a ouvimos. O Evangelho Segundo São Marcos apontou: "O Semeador semeia a Palavra. Alguns encontram-se à beira do Caminho, onde ela é semeada. Apenas ouvem-na, vem Satanás tirar a Palavra neles semeada. Outros recebem a semente em pedregosos lugares. Quando a ouvem, recebem-na com alegria, mas não têm raiz em si, são inconstantes, e assim que se levanta uma tribulação ou uma perseguição por causa da Palavra, eles tropeçam. Ainda outros recebem a semente entre os espinhos. Ouvem a Palavra, mas as mundanas preocupações, a ilusão das riquezas, as múltiplas cobiças sufocam-na e tornam-na infrutífera. Mas aqueles que recebem a semente em boa terra, escutam a Palavra, acolhem-na e dão fruto, trinta, sessenta e cem por um." Mc 4,14-20
    E para que esta parábola fosse bem entendida, Ele havia alertado, pois aos Apóstolos só daria a explicação que vimos acima: "Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!" Mc 4,9
    Igreja Católica Apostólica Romana, portanto, que Jesus pessoalmente edifica sobre a pessoa de São Pedro (cf. Mt 16,18), é a guardiã de Sua Palavra. E não pode ser desprezada! Do contrário, está-se renegando a Revelação e incorrendo em excomunhão, como o próprio Jesus determinou: "E se também se recusar a ouvir a Igreja, seja ele para ti como um pagão e um publicano." Mt 18,17
    Onisciente, Ele confiou Sua Palavra a seres humanos, e assim nos induz à Comunhão, à Salvação do homem pela participação homem, enfim, à Santa Unidade. Pois ouvir a Igreja é ouvir os Apóstolos, e ouvir os Apóstolos é ouvir a Ele mesmo e ao Pai. No Evangelho Segundo São Lucas, enquanto subiam a Jerusalém, Ele garantiu aos Doze: "Quem vos ouve, a Mim ouve. E quem vos rejeita, a Mim rejeita. E quem Me rejeita, rejeita Aquele que Me enviou." Lc 10,16
    Ora, referindo-Se aos não judeus, Ele avisou que seria ouvido mesmo após Sua Paixão, por intermédio de Sua Igreja, como disse aos religiosos de Jerusalém: "Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco. Também preciso conduzi-las. E ouvirão Minha voz, e haverá um só rebanho e um só Pastor." Jo 10,16
    Num claro exemplo da Igreja Católica identificada enquanto pessoas, São Lucas diz que, antes de sua conversão, São Paulo perseguia não pessoas mas a própria Igreja. É do Livro de Atos dos Apóstolos: "Saulo, porém, devastava a Igreja. Entrando pelas casas, delas arrancava homens e mulheres e entregava-os à prisão." At 8,3
    E no dia de sua conversão, Jesus vai acusá-lo de estar perseguindo não os membros da Igreja, mas a Ele mesmo. E quando o futuro Apóstolo Lhe perguntou o que deveria fazer, Ele simplesmente mandou-o ouvir a Igreja, no caso representada pela comunidade de Damasco: "Saulo disse: 'Quem és, Senhor?' Respondeu Ele: 'Eu sou Jesus, a Quem tu persegues. Duro é debater-te contra o aguilhão.' Então, trêmulo e atônito, disse ele: 'Senhor, que queres que eu faça?' Respondeu-lhe o Senhor: 'Levanta-te, entra na cidade. Aí te será dito o que deves fazer.'" At 9,5-6
    Exemplar, pois, foi a atitude de um estrangeiro que não tirava conclusões pessoais dos Sagrados Livros, mas pediu explicações a São Filipe Diácono: "Ora, um etíope, eunuco, ministro da rainha Candace, de Etiópia, e superintendente de todos seus tesouros, tinha ido a Jerusalém para adorar. Voltava sentado em seu carro, lendo o Profeta Isaías. O Espírito disse a Filipe: 'Aproxima-te deste carro.' Filipe aproximou-se e ouviu que o eunuco lia o Profeta Isaías, e perguntou-lhe: 'Porventura entendes o que estás lendo?' Respondeu-lhe: 'Como é que posso, se não há alguém que mo explique?' E rogou a Filipe que subisse e sentasse junto a ele." At 8,27b-31
    Pois na oração que fez ao Pai pela Unidade da Igreja, Jesus pediu-Lhe não apenas pelos Apóstolos, mas também por nós, que ouviríamos Sua Palavra no Ministério deles: "Eu não rogo somente por eles, mas por aqueles que também vão crer em Mim pela palavra deles." Jo 17,20
    E referindo-Se ao inicial acolhimento dado a Sua Palavra já lançada ao mundo, Ele assegurou-lhes: "Se guardaram Minha Palavra, também hão de guardar a vossa." Jo 15,20b
    Por isso, a Primeira Carta de São João obedientemente diz: "Aceitamos o testemunho dos homens." 1 Jo 5,9a
    Com efeito, desde o início Deus usou deste recurso para divulgar a Revelação, como o salmista Asaf, que era levita, cantou: "Ele (Deus) promulgou uma Lei para Jacó, instituiu a legislação de Israel, para que aquilo que confiara a nossos pais, eles o transmitissem a seus filhos, a fim de que a nova geração O conhecesse, e os filhos que lhes nascessem também pudessem contar aos seus." Sl 77,5-6
    O próprio Jesus exigiu dos Apóstolos o acatamento dos testemunhos. Foi no Domingo da Ressurreição: "Por fim, apareceu aos Onze, quando estavam sentados à mesa, e censurou-lhes a incredulidade e dureza de coração, por não acreditarem nos que O tinham visto ressuscitado." Mc 16,14
    Também o exigiu de São Tomé, oito dias depois, condenando seu egocentrismo, quando dizia aos demais Apóstolos, apesar de seus testemunhos, que tinha que 'ver para crer': "Não sejas incrédulo, mas homem de ." Jo 20,27b
    A Missão de Jesus, portanto, é evidente: que alcancemos a Unidade do Reino de Deus, como Ele declarou ao apresentar-Se como o Bom Pastor, visto acima: "... ouvirão Minha voz e haverá um só rebanho e um só Pastor." Jo 10,16
    Contudo, nem todos realmente buscam, desde então, entender Sua Mensagem, como Ele mesmo atestou diante dos judeus que se bastavam em arrogar-se filhos de Abraão: "Por que não entendeis o que Eu falo?" Jo 8,43a
    Ele bem sabia, no entanto, o porquê! Era o inimigo, tal qual na parábola do Semeador, que lhes fechava o coração: "É porque não sois capazes de ouvir Minha Palavra." Jo 8,43b
    E denunciou: "Quem é de Deus ouve as Palavras de Deus, e se vós não as ouvis é porque não sois de Deus." Jo 8,47
    Amado Discípulo vai dizer algo muito parecido: "Eles são do mundo. É por isto que falam segundo o mundo, e o mundo ouve-os. Nós, porém, somos de Deus. Quem conhece a Deus, ouve-nos. Quem não é de Deus, não nos ouve. É nisto que conhecemos o Espírito da Verdade e o espírito do erro." 1 Jo 4,5-6
    E afirma a razão de ser do Ministério dos Apóstolos, logo em primeira linha: "O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com nossos olhos, o que temos contemplado e nossas mãos têm apalpado no tocante ao Verbo da Vida... o que vimos e ouvimos, nós anunciamo-vos para que vós também tenhais Comunhão conosco. Ora, nossa Comunhão é com o Pai e com Seu Filho Jesus Cristo." 1 Jo 1,1.3
    Nosso Senhor, de fato, reclamara de Nicodemos, que era doutor e bem intencionado fariseu, mas ainda carente das primícias do Espírito de Deus. Isso deu-se logo em sua primeira visita à Jerusalém após iniciar Sua vida pública: "Se vos tenho falado das terrenas coisas e não Me credes, como crereis se vos falar das celestiais?" Jo 3,12
    Também reclamou de dois de Seus discípulos que partiram para Emaús, no Domingo da Ressurreição, apesar dos testemunhos que ouviram de que Ele havia ressuscitado: "Jesus disse-lhes: 'Ó gente sem inteligência! Como sois tardos de coração para crerdes em tudo que anunciaram os Profetas!'" Lc 24,25
    Aliás, reclamou dos próprios Apóstolos, ainda quando ensinava que o mal sai do coração do homem e punha por terra as tradições dos fariseus: "Tomando então a palavra, Pedro disse: 'Explica-nos esta parábola.' Jesus respondeu: 'Também sois vós de tão pouca compreensão?'" Mt 15,15-16
    E aludindo a Sua Ressurreição, provocou até os ateus, através da parábola do pobre Lázaro e do mau rico: "O rico disse: 'Então te rogo, pai, que mandes Lázaro à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos, para lhes testemunhar. Que não aconteça também virem eles parar neste lugar de tormentos.' Abraão respondeu: 'Eles lá têm Moisés e os Profetas. Ouçam-nos!' O rico replicou: 'Não, pai Abraão. Mas se for a eles algum dos mortos, arrepender-se-ão.' Abraão, no entanto, respondeu-lhe: 'Se não ouvirem a Moisés e aos Profetas, tampouco se deixarão convencer, ainda que alguém ressuscite dos mortos.'" Lc 16,27-31
    Pois, mesmo àquela época, essa insensatez já não era nenhuma novidade! O Livro do Profeta Daniel, por exemplo, confessa os pecados de Israel nestes termos: "Recusamos ouvir a voz do Senhor, Nosso Deus. Não seguimos as leis que Ele nos oferecia pela boca de Seus servos, os Profetas." Dn 10,10
    E a Segunda Carta de São Pedro segue insistindo no conjunto da Revelação para o pleno conhecimento do Cristo: "Assim, demos ainda maior crédito à Palavra dos Profetas, à qual fazeis bem em atender como a uma lâmpada que brilha num tenebroso lugar, até que o dia desponte e a Estrela da Manhã se levante em vossos corações." 2 Pd 1,19
    Sobre aqueles que bem ouvem o Pai, Jesus, citando o Livro do Profeta Isaías, já havia afirmado: "Ninguém pode vir a Mim se o Pai, que Me enviou, não o atrair. E Eu hei de ressuscitá-lo no Último Dia. Está escrito nos Profetas: 'Todos serão ensinados por Deus (Is 54,13).' Assim, todo aquele que ouviu o Pai e por Ele foi instruído, vem a Mim." Jo 6,44-45
    De tão manso e sereno, porém, Ele chegou a propor um prático teste: "Se alguém quiser cumprir a vontade de Deus, distinguirá se Minha Doutrina é de Deus ou se falo de Mim mesmo." Jo 7,17


PECADO E A PREGAÇÃO

    Mas apontar os desvios do povo de Deus, mesmo dos religiosos, também não era uma novidade. Através de Asaf, o próprio Deus havia-Se pronunciado: "Escutai, ó Meu povo, que Eu vou falar. Israel, vou testemunhar contra ti. Deus, Teu Deus, sou Eu." Sl 49,7
    E após citar alguns graves pecados, Ele pergunta: "Eis o que fazes! E Eu? Hei de calar-Me? Pensas que Eu sou igual a ti? Não, mas vou repreender-te e lançar-te em rosto teus pecados." Sl 49,21
    Pois mesmo em Sua natureza humana, Jesus conhecia o coração da criatura humana, e garantiu que Seu Juízo era o de Deus: "Tenho muitas coisas a dizer e a julgar a vosso respeito, mas o que Me enviou é verdadeiro e o que d'Ele ouvi Eu digo ao mundo." Jo 8,26
    E Seus ensinamentos, como disse aos judeus que n'Ele creram, tem o dom de emancipar-nos do pecado: "Se permanecerdes em Minha Palavra, sereis Meus verdadeiros discípulos. Conhecereis a Verdade, e a Verdade libertá-vos-á." Jo 8,31-32
    Eles vão muito além de simples questões morais: tratam da própria vida espiritual: "Em Verdade, em Verdade, digo-vos: quem ouve Minha Palavra e crê n'Aquele que Me enviou, tem a Vida Eterna e não incorre na condenação, mas passou da morte para a Vida." Jo 5,24
    Sem dúvida, de sua reconhecida inspiração, o Livro de Sabedoria já versava sobre obediência para que se obtenha a imortalidade: "Mas amá-la (a Sabedoria) é obedecer a suas leis, e obedecer a suas leis é a garantia da imortalidade. Ora, a imortalidade faz habitar junto a Deus, assim o desejo da Sabedoria conduz ao Reino!" Sb 6,18-20
    Porque precisamente essa havia sido a promessa de Deus, feita ao povo através do Livro do Profeta Isaías: "Inclinai vosso ouvido e vinde a Mim, ouvi e tereis Vida..." Is 55,3a
    E tão poderosa, a Palavra de Jesus é o próprio Juízo, como publicamente clamou dias antes do início de Sua Paixão: "Se alguém ouve Minhas Palavras e não as guarda, Eu não o condenarei, porque não vim para condenar o mundo, mas para o salvar. Quem Me despreza e não recebe Minhas Palavras, tem quem o julgue. A Palavra que anunciei julgá-lo-á no Último Dia." Jo 12,47-48
    Ele havia anunciado, dizendo dos já falecidos, durante sua segunda festa em missão na Cidade Santa: "Em Verdade, em Verdade, digo-vos: vem a hora, e já está aí, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus. E aqueles que a ouvirem viverão." Jo 5,25
    Juízo que Ele proferiu logo após entrar triunfalmente nela, no Domingo de Ramos: "Agora é o Juízo deste mundo. Agora será lançado fora o príncipe deste mundo." Jo 12,31
    De fato, falando das intenções e dos meramente humanos projetos, Ele coloca a Vida e a eterna condenação nesses termos: "Aquele, pois, que ouve Minhas Palavras e as põe em prática é semelhante a um prudente homem, que edificou sua casa sobre a rocha. Mas aquele que ouve Minhas Palavras e não as põe em prática, é semelhante a um insensato, que construiu sua casa na areia." Mt 7,24.26
    Diante de tão séria decisão, e atestando Sua permanente interlocução com a Santa Igreja, pois jamais a abandonou (cf. Mt 28,20), os seguidores da tradição de São Paulo advertem-nos na Carta aos Hebreus: "Guardai-vos, pois, de recusar ouvir Aquele que fala. Porque, se não escaparam do castigo aqueles que d'Ele se desviaram, quando lhes falava na Terra, muito menos escaparemos nós se O repelirmos quando nos fala desde o Céu." Hb 12,25
    Sem dúvida, nem mesmo o Espírito Santo a abandonaria, como Jesus prometeu na última noite entre os Apóstolos. Aliás, é uma Pessoa de Deus que o mundo não pode receber: "E Eu rogarei ao Pai, e Ele dá-vos-á outro Paráclito, para que fique convosco eternamente. É o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não O vê nem O conhece. Mas vós conhecê-Lo-eis, porque convosco permanecerá e em vós estará." Jo 14,16-17
    Pois, sobre a guia do Espírito Santo, as igrejas particulares são portadoras de Sua Palavra, como Jesus mesmo repetidamente recomenda às dioceses de Ásia: "Quem tiver ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas." Ap 2,7.11.17.29;3,6.13.22
    Não por acaso, enquanto Príncipe dos Apóstolos, São Pedro pediu exatamente isso ao Sinédrio, o mais alto conselho dos judeus, após ele e São João Apóstolo serem presos pela primeira vez: "Então Pedro, cheio do Espírito Santo, respondeu-lhes: 'Chefes do povo e anciãos, ouvi-me...'" At 4,8
    Pois o Verbo de Deus tem vida própria, como se viu no 'Pentecostes dos Gentios': "Estando Pedro ainda a falar, o Espírito Santo desceu sobre todos que ouviam a Palavra. Os fiéis da circuncisão, que tinham vindo com Pedro, profundamente admiraram-se vendo que o dom do Espírito Santo também era derramado sobre os não judeus..." At 10,44-45
    Ora, o Espírito de Deus só Se derrama sobre quem Lhe obedece, como o próprio São Pedro disse ao Sinédrio ao testificar a Ressurreição de Jesus e o Sacramento da Confissão: "Destes fatos, nós somos testemunhas, nós e o Espírito Santo, que Deus deu a todos aqueles que Lhe obedecem." At 5,32
    E fechando o ciclo, a Primeira Carta de São Pedro diz para que O recebemos: "... santificados pelo Espírito, para obedecer a Jesus Cristo..." 1 Pd 1,2
    Aliás, segundo os discípulos de São Paulo, a própria Salvação é uma questão de obediência. Eles dizem de Jesus: "Mas, na consumação de Sua Vida, tornou-Se causa de Eterna Salvação para todos que Lhe obedecem." Hb 5,9
    Dizem dos Sacerdotes da Santa Igreja Católica: "Sede submissos e obedecei àqueles que vos guiam, pois eles velam por vossas almas e delas devem dar conta. Assim eles o farão com alegria, e não a gemer, pois isto vos seria funesto." Hb 13,17
    Ora, a Primeira Carta de São Paulo aos Tessalonicenses pede bem mais que obediência: "Suplicamo-vos, irmãos, que reconheçais aqueles que arduamente trabalham entre vós para vos dirigir no Senhor e vos admoestar. Para com eles tendes singular amor, em vista do encargo que exercem. Conservai a Paz entre vós." 1 Ts 5,12-13
    Obediência que o próprio Jesus demonstrou perante o Pai, como o Hino Cristológico canta, apontado na Carta de São Paulo aos Filipenses: "Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas Ele esvaziou-Se a Si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-Se igual aos homens. Encontrado com aspecto humano, humilhou-Se a Si mesmo, fazendo-Se obediente até a morte, e morte de Cruz." Fl 2,6-8
    Sem dúvida, a obediência deve começar em casa, por força do Quarto Mandamento, o único que incluso traz uma promessa. A Carta de São Paulo aos Efésios exorta: "Filhos, obedecei a vossos pais segundo o Senhor porque isto é justo. O Primeiro Mandamento acompanhado de uma promessa é: 'Honra teu pai e tua mãe, para que sejas feliz e tenhas longa vida sobre a Terra (Dt 5,16).'" Ef 6,1-3
    Porque assim se inicia no caminho da santidade: "Aliás, temos na Terra nossos pais que nos corrigem e, no entanto, olhamo-los com respeito. Com quanto mais razão havemos de submeter-nos ao Pai de nossas almas, o Qual nos dará a Vida? Os primeiros educaram-nos para pouco tempo, segundo sua própria conveniência, ao passo que Este o faz para nosso bem, para nos comunicar Sua santidade." Hb 12,9-10
    São conveniências, enfim, que a sociedade dita moderna reluta em entender, como está na Carta de São Paulo aos Colossenses: "Mulheres, sede submissas a vossos maridos, como convém no Senhor." Cl 3,18
    Pois a rebeldia tem bem conhecida origem, conforme suas palavras aos cristãos da cidade de
Éfeso: "E vós estáveis mortos por vossas faltas, pelos pecados que outrora cometestes seguindo o modo de viver deste mundo, do príncipe das potestades do ar, do espírito que agora atua nos rebeldes." Ef 2,1-2
    De fato, para anunciar o Messias, essa era a grande missão de São João Batista, como Deus mesmo prometeu no Livro do Profeta Malaquias: "... e ele converterá o coração dos pais para os filhos, e o coração dos filhos para os pais..." Ml 3,24b
    E o Arcanjo São Gabriel reafirmaria, dizendo ao sacerdote São Zacarias, seu pai: "... para reconduzir os corações dos pais aos filhos e os rebeldes à Sabedoria dos justos..." Lc 1,17b
    Assim, afirmando a insensibilidade do mundo e defendendo a importância da pregação, a Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios diz: "Já que o mundo, com sua sabedoria, não reconheceu a Deus na divina Sabedoria, aprouve a Deus salvar aqueles que creem pela loucura de Sua Mensagem." 1 Cor 1,21
    Loucura, dizia ele, porque reconhecia que anunciar a Cristo é anunciar um Mistério: "Também rezai por nós. Pedi a Deus que dê livre curso a nossa palavra para que possamos anunciar o Mistério de Cristo. É por causa deste Mistério que estou preso." Cl 4,3
    Mas mesmo assim todos Apóstolos, inclusive ele, deram suas vidas para o anunciar. Disse daqueles que não o conheciam pessoalmente: "Tudo sofro para que seus corações sejam reconfortados e que, estreitamente unidos pela caridade, sejam enriquecidos de uma plenitude de inteligência, para conhecerem o Mistério de Deus, isto é, Cristo..." Cl 2,2
    Por isso, a Carta de São Paulo aos Romanos argumenta, citando o Livro do Profeta Isaías: "Porém, como invocarão Aquele em Quem não têm fé? E como crerão n'Aquele de Quem não ouviram falar? E como ouvirão falar, se não houver quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados, como está escrito: 'Quão formosos são os pés daqueles que anunciam as boas novas (Is 52,7)'? Mas não são todos que prestaram ouvido à Boa Nova. É o que exclama Isaías: 'Senhor, quem acreditou em nossa pregação (Is 53,1)?' Logo, a fé provém da pregação e a pregação exerce-se em razão da Palavra de Cristo." Rm 10,14-17
    Na verdade, sustenta ele, a verdadeira pregação não acontece se não for por obra do Divino Espírito Santo. São Paulo fez relembrar os cristãos da cidade de Tessalônica: "Nosso Evangelho foi-vos pregado não somente por palavra, mas também com poder, com o Espírito Santo e com plena convicção." 1 Ts 1,5
    Também fez relembrar os da cidade de Corinto: "Minha palavra e minha pregação longe estavam da persuasiva eloquência da sabedoria. Eram, antes, uma demonstração do Espírito e do divino poder, para que vossa fé não se baseasse na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus." 1 Cor 2,4-5
    E falando sobre os poderes da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, a Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios testemunha: "Nós aniquilamos todo raciocínio e todo orgulho que se levantam contra o conhecimento de Deus, e cativamos todo pensamento e reduzimo-lo à obediência a Cristo." 2 Cor 10,5
    Por isso, falando de Jesus aos fiéis da igreja de Roma, ele expressa logo no primeiro capítulo a razão de ser de seu Ministério: "... Jesus Cristo Nosso Senhor, do Qual temos recebido a Graça e o apostolado, a fim de levar, em Seu Nome, todas pagãs nações à obediência da fé..." Rm 1,5
    E ao fim, em idênticos termos, diz para que o Messias Se manifestou: "... mas agora manifestado por ordem do Eterno Deus e, por meio das proféticas Escrituras, dado a conhecer a todas nações, a fim de levá-las à obediência da fé..." Rm 16,26
    Sim, porque a esses tempos, o próprio Evangelho já estava sendo deturpado. É a humanidade reenvidando sua teimosia e desobediência, como São Pedro dizia: "Reconhecei que a longa paciência de Nosso Senhor vos é salutar, como vosso caríssimo irmão Paulo também vos escreveu, segundo o dom de Sabedoria que lhe foi dado. É o que ele faz em todas suas cartas, nas quais fala nestes assuntos. Nelas há algumas passagens difíceis de entender, cujo sentido ignorantes ou pouco fortalecidos espíritos deturpam para sua própria ruína, como também o fazem com as demais Escrituras." 2 Pd 3,15-16
    A Carta de São Paulo a São Tito também os denunciou: "Com efeito, há muitos insubmissos, charlatães e sedutores, principalmente entre aqueles da circuncisão. É necessário tapar-lhes a boca porque transtornam inteiras famílias ensinando o que não convém, e isso por vil espírito de lucro. Para os puros, todas coisas são puras. Para os corruptos e descrentes nada é puro: até sua mente e consciência são corrompidas. Proclamam que conhecem a Deus, mas na prática renegam-nO, detestáveis que são, rebeldes e incapazes de qualquer boa obra." Tt 1,10-11.15-16
    E do mesmo modo demonstrou seu receio aos coríntios: "Mas temo que, como a Serpente enganou Eva com sua astúcia, assim se corrompam vossos pensamentos e se apartem da sinceridade para com Cristo." 2 Cor 11,3
    Ora, o Livro de Provérbios já havia avisado: "Aquele que afasta o ouvido para não ouvir a Lei, até mesmo sua oração torna-se abominável." Pr 28,9
    O convite para ouvir a Deus, pois, já era antiquíssima prática, e continua sendo porque ao fim dos tempos uma grande batalha é dada por certa (cf. Ap 19,19): "Aproximai-vos, nações, para ouvir, e vós, povos, estai atentos! Que ouça a Terra e tudo o que ela contém, o mundo e tudo o que ele produz, porque o Senhor está indignado contra todas nações e enfurecido contra todas suas tropas. Ele devotou-as ao massacre e destinou-as ao morticínio." Pr 34,1-2
    Mas o Apóstolo dos Gentios não deixou de alegrar-se com aqueles que acolhiam o Evangelho, mesmo que àquele tempo ainda não tivesse sido escrito: "Graças a Deus, porém, que, depois de terdes sido escravos do pecado, obedecestes de coração à regra da Doutrina na qual tendes sido instruídos." Rm 6,17
    Ele havia explicado de que realmente se trata: "Não sabeis que, quando vos ofereceis a alguém para obedecer-lhe, sois escravos daquele a quem obedeceis, quer seja do pecado para a morte, quer da obediência para a justiça?" Rm 6,16
    Entre tantas outras grandes verdades que temos que aprender de Jesus, portanto, Ele conclamava-nos em especial a ouvir essa: Deus é um ciumento Pai que, por tanto amor que nos tem, quer ser amado e amado por todas nossas capacidades. Foi Sua resposta, enquanto pregava, quando questionado por um escriba em Jerusalém, reverberando o célebre "Ouve, Israel": "Jesus respondeu: 'O primeiro é: Ouve, Israel, o Senhor Nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma, de todo teu entendimento e de todas tuas forças.'" Mc 12,29-30
    Inequivocamente, Deus merece ser amado. E tão grande é Seu amor por nós que Ele não poderia admitir outra coisa, senão nosso amor em retribuição. Quanto aos insensatos e seus insanos comentários sobre Suas obras, como vemos no Livro de Jó, o Pai rechaça: "Quem é este que assim obscurece a Providência com discursos sem inteligência?" Jó 38,2
    Porque, seja por Suas obras ou por Si mesmo, Ele sempre Se dá a conhecer, como Moisés garantiu após profetizar a desobediência e o castigo da escravidão para o povo israelita, como de fato aconteceria: "O Senhor espalhá-vos-á entre todos povos, e restareis poucos entre as nações, aonde vos conduzir o Senhor. Então procurarás o Senhor, Teu Deus e O encontrarás, contanto que O busques de todo teu coração e de toda tua alma." Dt 4,27.29
    E a verdadeira conversão não acontece senão pela observação de Seus Mandamentos, como este grande líder também profetizou o retorno do exílio e à fidelidade: "Quando, pois, tiverem acontecido todas essas coisas e postas diante de ti a bênção ou a maldição, se tu as tomares a peito em meio a todas nações entre as quais o Senhor, Teu Deus, te tiver espalhado, e assim voltares para o Senhor e obedeceres a sua voz de todo teu coração e de toda tua alma, tu e teus filhos, conformando-vos a tudo o que hoje vos ordeno, então o Senhor, Teu Deus, reconduzirá teus cativos e terá piedade de ti, e te ajuntará de novo do meio das nações entre as quais te houver espalhado." Dt 30,1-3.0
    E torna a enfatizar: "Tu, porém, voltarás a ouvir a voz do Senhor, e porás em prática todas ordens que hoje te prescrevo." Dt 30,8
    Enfim, explica: "O Mandamento que hoje te dou não está acima de tuas forças, nem fora de teu alcance. Mas essa Palavra está perto de ti, em tua boca e em teu coração, e tu podes cumpri-la. Tomo hoje por testemunhas o Céu e a Terra contra vós, ponho diante de ti a vida e a morte, a bênção e a maldição. Escolhe, pois, a vida, para que vivas tu e tua posteridade, amando o Senhor, Teu Deus, obedecendo a Sua voz e permanecendo unido a Ele." Dt 30,11.14.19-20a
    A Carta de São Tiago, por fim, veementemente deixou-nos essa pérola sobre a Palavra da Vida, que tem seu ápice no Evangelho: "Sede cumpridores da Palavra, e não apenas ouvintes. Isto equivaleria a enganardes a vós mesmos. Aquele que escuta a Palavra sem a praticar, assemelha-se a alguém que contempla num espelho a fisionomia que a natureza lhe deu. Contempla-se e, mal sai dali, esquece-se de como era. Mas aquele que procura meditar com atenção a Lei perfeita da liberdade e nela persevera, não como ouvinte que facilmente se esquece, mas como fiel cumpridor do preceito, este será feliz em seu proceder." Tg 1,22-25
    E sobre nossa vocação para ouvir, principalmente a Deus, ele dizia: "... todo homem deve ser pronto para ouvir, porém tardo para falar e tardo para irar-se..." Tg 1,19


MARIA, EXEMPLO DE QUEM OUVE

    Ao contrário daqueles que distorcem a Palavra de Deus, a Santíssima Virgem é perfeito exemplo de quem ouve e guarda os divinos ensinamentos. São Lucas, que mais escreveu sobre Nossa Mãe Celeste, narra duas situações em que ela reage com respeitoso silêncio diante da Palavra de Seu Amado Filho.
    A primeira é quando Jesus responde a uns, que diziam que Sua mãe e 'Seus irmãos' queriam vê-Lo. Ele não os menospreza! Simplesmente aponta Sua verdadeira família em torno de Deus Pai, o que, sem dúvida, envolve muito mais pessoas que meros laços de sangue. E o vínculo dessa família é precisamente a Palavra: "Minha Mãe e Meus irmãos são estes, que ouvem a Palavra de Deus e a observam!" Lc 8,21
    A segunda é quando uma mulher exalta a Graça que tem Maria por ser a Virgem Profetizada (cf. Is 7,14 e Mq 5,2) que trouxe o Salvador ao mundo. E de novo Jesus põe como mais importante o ato de ouvir e obedecer à Palavra de Deus: "Enquanto Ele assim falava, uma mulher levantou a voz em meio ao povo e disse-Lhe: 'Bem-aventurados o ventre que Te trouxe e os seios que Te amamentaram!' Mas Jesus replicou: 'Antes bem-aventurados aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a observam!'" Lc 11,27-28
    Longe de desmerecer Nossa Senhora, Jesus fez-lhe grandes elogios. Sua importância não consistiam simplesmente em ser Sua mãe de sangue, ou de leite, fatos, aliás, que não deixam de ser indizíveis privilégios. Na verdade, desde quando foi gerada no ventre de Santa Ana, sem nenhuma mácula, Maria sempre obedeceu a Deus. Foi o que aconteceu quando lhe apareceu o Arcanjo São Gabriel. Como poderia ela estar preparada para tão grandioso projeto se o Senhor não estivesse sempre com ela? O próprio Santo Arcanjo declarou: "Ave, cheia de Graça, o Senhor é convosco." Lc 1,28
    Perfeitamente afeita à vida espiritual, Nossa Imaculada Mãe não estranhou sua aparição, mas tão somente a mensagem: "Intrigou-se ela com estas palavras, e pôs-se a pensar no que significaria tal saudação." Lc 1,29
    E demonstrando essa prontidão, além da ciência de que os anjos de Deus são fieis cumpridores da Palavra (cf. Sl 102,20), após rápidas explicações ela respondeu-lhe, alegando exatamente esse poderoso instrumento de Deus: "Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo tua palavra." Lc 1,38b
    Quanto a guardar, observar a Palavra de Deus como Jesus determina, também temos dois episódios, igualmente registrados por São Lucas, o Evangelista do Espírito Santo. O primeiro foi quando os pastores de Belém vieram testemunhar a aparição de anjos que lhes anunciaram o Nascimento de Jesus: "Maria conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração." Lc 2,19
    O segundo foi quando Jesus ficou no Templo de Jerusalém, aos 12 anos de idade, após a Páscoa, e pela primeira vez afirmou Seu indefectível vínculo com a Casa do Pai: "Sua mãe guardava todas estas coisas em seu coração." Lc 2,51b
    Maria, portanto, mesmo sendo Mãe, obedecia a Seu Filho, pois, enquanto Bom Pastor e segundo Ele mesmo, "... as ovelhas seguem-nO, pois conhecem Sua voz." Jo 10,4
    Até seus opositores, homens de armas e sem maior formação religiosa, mandados pelo sumo sacerdote para O prender, admiravam-se com Sua Palavra: "Os guardas responderam: 'Ninguém jamais falou como este Homem!'" Jo 7,46
    Enfim, ao mencionar o momento em que Jesus, através das Escrituras, Se identifica com o Filho de Deus em Jerusalém, São Marcos registrou: "E a grande multidão ouvia-O com satisfação." Mc 12,37b
    Era o que se via após o Domingo de Ramos: "Jesus ensinava todos dias no Templo. Os sumos sacerdotes, os mestres da Lei e os notáveis do povo procuravam modo de matá-Lo. Mas não sabiam o que fazer, porque todo povo ficava fascinado quando ouvia Jesus falar." Lc 19,47-48
    Ora, foi assim desde o Sermão da Montanha: "Quando Jesus terminou essas palavras, as multidões ficaram extasiadas com Sua Doutrina. Porque a ensinava como quem tinha autoridade e não como os escribas do povo." Mt 7,28-29
    Aliás, desde que deixou Nazaré: "Desceu a Cafarnaum, cidade de Galileia, e ali os ensinava-os aos sábados. Maravilharam-se de Sua Doutrina, porque Ele ensinava com autoridade." Lc 4,32
    Busquemos essa Graça, como se viu durante uma das Festas das Tendas: "Antes do nascer do sol, já Se achava outra vez no Templo. Todo povo vinha a Ele e, sentando-Se, ensinava-os." Jo 8,2
    Façamos, pois, como Nossa Senhora: sejamos ovelhas de Cristo. Façamos como os peregrinos que estavam em Jerusalém na semana da Páscoa em que Jesus foi imolado: "De manhã cedo, todo povo ia ao Templo para O ouvir." Lc 21,38
    Porque, num suspiro, Nosso Senhor revelou a Santa Faustina. "Ó, se as almas quisessem ouvir Minha voz, quando falo no profundo de seus corações, em pouco tempo atingiriam os cumes da santidade." (Diário, 584)

    "Em Comunhão com toda a Igreja aqui estamos!"