segunda-feira, 19 de maio de 2025

Deus castiga!


A JUSTIÇA DE DEUS

    Deus é Deus de Misericórdia, não há dúvida, mas Ele também é, e indefectivelmente, Deus de Justiça! E só esta noção já é o bastante para que se entenda a razão de ser do Purgatório, pois ninguém poderá aproximar-se d'Ele sem antes passar por uma completa purificação, como é o caso da grande maioria de nós, que não busca a santidade. A Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios revela: "Será descoberto pelo fogo. O fogo provará quanto vale a obra de cada um. Se a construção resistir, o construtor receberá a recompensa. Se pegar fogo, arcará com os danos. Ele será salvo, porém de alguma maneira passando através do fogo." 1 Cor 3,13b-15
    Mais do que observamos, a justiça de Deus frequentemente é mencionada nas Escrituras. O próprio Jesus, que entre nós exemplarmente tudo viveu em perfeita obediência ao Pai, tratou de apontá-la logo no início de Sua vida pública, no Evangelho Segundo São Mateus, diante do batismo ministrado por São João Batista. Assim reverenciava a autoridade do Antigo Testamento, que se encerrava no Batista (cf. Mt 11,13): "De Galileia foi Jesus ao Jordão ter com João, a fim de ser batizado por ele. João recusava-se: 'Eu devo ser batizado por Ti, e Tu vens a mim?' Mas Jesus respondeu-lhe: 'Deixa por agora, pois convém que cumpramos a completa justiça.' Então João cedeu." Mt 3,13-15
    Ele afirmou, desde o Sermão da Montanha, que quem a busca já vive a bem-aventurança: "Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados!" Mt 5,6
    Advertiu, entretanto, que quem a buscasse seria perseguido, mas ganharia um lugar junto a Deus: "Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus!" Mt 5,10
    Esta justiça vai muito além de terrenos parâmetros. Referindo-Se a alguns religiosos de então, Jesus mostrou-Se exigente: "Digo-vos, pois, se vossa justiça não for maior que a dos escribas e fariseus, não entrareis no Reino dos Céus." Mt 5,20
    E deles mesmos tratou de cobrar, jogando-lhes em face e exortando-os à perfeita interiorização da fé: "Ai de vós, hipócritas escribas e fariseus! Pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e desprezais os mais importantes preceitos da Lei: a justiça, a Misericórdia, a fidelidade. Eis o que era preciso praticar em primeiro lugar, contudo sem deixar o restante." Mt 23,23
    Recomendava-a, pois, como o mais elevado valor aos olhos de Deus. Está no Evangelho Segundo São Lucas: "Não vos inquieteis com o que haveis de comer ou beber, e não andeis com vãs preocupações. Porque os homens do mundo é que se preocupam com todas estas coisas. Mas Vosso Pai bem sabe que precisais de tudo isso. Antes buscai o Reino de Deus e Sua justiça, e todas estas coisas sê-vos-ão dadas por acréscimo." Lc 12,29-31
    Dizia de Sua própria condição, no Evangelho Segundo São João, referindo-Se a Sua esplendorosa Glória e à Onipotência do Pai: "Não busco Minha Glória. Há Quem a busque e Ele fará justiça." Jo 8,50
    E deu este testemunho de São João Batista perante os líderes religiosos de Jerusalém: "João veio a vós no caminho da justiça e não crestes nele. Os publicanos e as prostitutas, porém, creram nele. E vós, vendo isto, nem fostes tocados de arrependimento para nele crerdes." Mt 21,32
    Mas a plena revelação da justiça, ainda segundo Jesus, seria obra do Espírito Santo, a partir do Pentecostes: "E quando Ele vier, convencerá o mundo a respeito do pecado, da justiça e do Juízo. Convencerá o mundo a respeito do pecado, que consiste em não crer em Mim. Convencê-lo-á a respeito da justiça, porque Eu vou para junto de Meu Pai e vós já não Me vereis. Convencê-lo-á a respeito do Juízo, que consiste em que o príncipe deste mundo já está julgado e condenado." Jo 16,8-11
    Ela já era mencionada com uma das quatro cardeais virtudes no Livro de Sabedoria: "E se alguém ama a justiça, as virtudes são seus frutos. Ela ensina a temperança e a prudência, a justiça e a fortaleza, que na vida são os mais úteis bens aos homens." Sb 8,7
    E Zacarias, quando do nascimento de seu filho São João Batista, disse que esta seria uma das duas condições para bem servir a Deus, quer dizer, bem celebrar a Santa Missa, pois por Jesus Seu Reino estaria estabelecido: "Assim exerce Sua Misericórdia com nossos pais, e recorda-Se de Sua Santa Aliança, segundo o juramento que fez a nosso pai Abraão: de conceder-nos que, sem temor, libertados de mãos inimigas, possamos servi-Lo em santidade e justiça, em Sua presença, todos dias de nossa vida." Lc 1,72-75
    O completo estabelecimento da justiça de Deus, porém, será a obra final de Jesus, como profetizado havia séculos, pois até lá Ele sempre agirá discretamente, não permitindo alarde sobre Seus milagres: "Abertamente proibia-lhes de falar sobre isso, para que se cumprisse o anunciado pelo Profeta Isaías: 'Eis Meu Servo a Quem escolhi, Meu Bem-Amado em Quem Minha alma pôs toda Sua afeição. Farei repousar sobre Ele Meu Espírito e Ele anunciará a justiça aos pagãos. Ele não disputará, não elevará Sua voz. Ninguém ouvirá Sua voz nas praças públicas. Não quebrará o caniço rachado, nem apagará a mecha que ainda fumega, até que faça triunfar a justiça. Em Seu Nome, as pagãs nações porão sua esperança (Is 42,1-4).'" Mt 12,16-21
    Sem dúvida, no Livro do Profeta Isaías vemos Deus como a própria justiça, a Glória de Jerusalém, certamente a Jerusalém Celestial (cf. Hb 12,22). Este grande arauto do Senhor, em atitude oposta a de Jesus, dizia: "Por amor a Sião não me calarei, por amor a Jerusalém não descansarei, enquanto não surgir nela, como um luzeiro, a justiça, e não se acender nela, como uma tocha, a Salvação. As nações verão Tua justiça, todos reis verão Tua Glória..." Is 62,1-2b
    A Segunda Carta de São Paulo aos Tessalonicenses também diz: "Ele descerá do Céu com os mensageiros do Seu poder, por entre chamas de fogo, para fazer justiça àqueles que não reconhecem a Deus e aos que não obedecem ao Evangelho de Nosso Senhor Jesus." 2 Ts 1,7b-8
    Contudo, a Carta de São Paulo aos Romanos garante, ao dizer de Jesus: "Porque n'Ele se revela a justiça de Deus..." Rm 1,17a
    Ora, isso já estava previsto desde o Livro do Profeta Jeremias: "Dias virão,' Oráculo do Senhor, 'em que farei brotar de Davi um Justo Rebento. Ele será Rei e governará com Sabedoria, e exercerá na Terra o direito e a equidade. Sob Seu reinado será salvo Judá, e Israel viverá em segurança. E eis o Nome com que será chamado: Javé, Nossa Justiça!" Jr 23,5-6
    Também no Livro do Profeta Malaquias, que anunciou Jesus como um anjo, dizendo que Ele purifica nossos Sacerdotes para que possam oferecer um culto digno: "'... o Anjo da Aliança, que vós desejais. 'Eis que Ele vem', diz o Senhor dos Exércitos. Porque Ele é como o fogo do fundidor, como a lixívia dos lavadeiros. E assentar-Se-á Aquele que funde e que purifica. Ele purificará os filhos de Levi e refiná-los-á como ouro e prata, e eles tornar-se-ão para o Senhor aqueles que apresentam uma oferenda conforme a justiça." Ml 3,1.2b-3
    E a Carta de São Paulo a São Tito resumiu: "Veio para ensinar-nos a renunciar à impiedade e às mundanas paixões, e a viver neste mundo com toda sobriedade, justiça e piedade... " Tt 2,12
    Ele recomenda, neste sentido, a companhia dos fiéis da Santa Igreja Católica, como vemos na Segunda Carta de São Paulo a São Timóteo: "Foge das paixões da mocidade, busca com empenho a justiça, a , a caridade, a Paz, com aqueles que invocam o Senhor com pureza de coração." 2 Tm 2,22
    A Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios, pois, identifica como "Ministros da Justiça" os Sacerdotes da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo: "Pois, se o próprio Satanás se transfigura em anjo de Luz, parece bem normal que seus ministros se disfarcem em Ministros de Justiça, cujo fim, no entanto, será segundo suas obras." 2 Cor 11,14b-15
    Exalta, em exortação a São Timóteo, a Luz de Deus nos Santos Livros: "E desde a infância conheces as Sagradas Escrituras e sabes que elas têm o condão de proporcionar-te a Sabedoria que conduz à Salvação, pela fé em Jesus Cristo. Toda Escritura é inspirada por Deus, e útil para ensinar, para repreender, para corrigir e para formar na justiça. Por ela, o homem de Deus torna-se perfeito, capacitado para toda boa obra." 2 Tm 3,15-17
    E em seus últimos meses, pois estava preso em Roma pela segunda vez, diz que espera a 'Coroa dos Santos': "Combati o bom combate, terminei minha carreira, guardei a fé. Resta-me, agora, receber a coroa da justiça, que o Senhor, Justo Juiz, me dará naquele Dia. E não somente a mim, mas a todos que com amor aguardam Sua aparição." 2 Tm 4,7-8
    Como Zacarias, pai de São João Batista, a Carta de São Paulo aos Efésios zelava por essas duas qualidades: "Renovai sem cessar o sentimento de vossa alma, e revesti-vos do novo homem, criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade." Ef 4,23-24
    E pediu aos cristãos de Roma: "Pois, como pusestes vossos membros a serviço da impureza e do mal para cometer a iniquidade, ponde agora vossos membros a serviço da justiça para chegar à santidade." Rm 6,19b
    Falou-lhes da obediência como o oposto do pecado: "Não sabeis que, quando vos ofereceis a alguém para obedecer-lhe, sois escravos daquele a quem obedeceis, quer do pecado para a morte, quer da obediência para a justiça? E, libertos do pecado, tornastes-vos servos da justiça." Rm 6,16.18
    Apontou-a como uma dádiva que Deus nos concede viver, escrevendo aos cristãos da cidade de Éfeso: "Ora, o fruto da Luz consiste em toda bondade, justiça e Verdade. Procurai o que é agradável ao Senhor, e não tenhais cumplicidade nas infrutíferas obras das trevas. Pelo contrário, abertamente condenai-as." Ef 5,9-11
    E também como parte da 'armadura' de Deus: "Ficai alerta, à cintura cingidos com a Verdade, o corpo vestido com a couraça da justiça, e os pés calçados de prontidão para anunciar o Evangelho da Paz." Ef 6,14-15
    Ela era constante objeto de suas pregações, como quando foi preso e apresentado diante do procurador de Judeia, no Livro de Atos dos Apóstolos: "Mas, como Paulo lhe falasse sobre a justiça, a castidade e o futuro Juízo, Félix, todo atemorizado, disse-lhe: 'Por ora, podes retirar-te. Na primeira ocasião, chamá-te-ei.'" At 24,25
    Enfim, a Carta de São Paulo aos Filipenses rezou para que eles produzissem de seus frutos: "Peço, em minha oração, que vossa caridade se enriqueça cada vez mais de compreensão e critério, com que possais discernir o que é mais perfeito e tornei-vos puros e irrepreensíveis para o Dia de Cristo, cheios de frutos da justiça, que provêm de Jesus Cristo, para a Glória e louvor de Deus." Fl 1,9-11
    Já a Carta de São Tiago diz do meio como alcançar este fruto, que é a Paz oferecida por Jesus (cf. Jo 14,27): "O fruto da justiça semeia-se na Paz, para aqueles que praticam a Paz." Tg 3,18
    E alertava contra o pecado capital da ira: "Já o sabei, meus diletíssimos irmãos: todo homem deve ser pronto para ouvir, porém tardo para falar e tardo para irar-se, porque a ira do homem não cumpre a justiça de Deus. Rejeitai, pois, toda impureza e todo vestígio de malícia, e com mansidão recebei a Palavra em vós semeada, que pode salvar vossas almas." Tg 1,19-21
    São Paulo ensinava o mesmo, e até invocou uma significativa passagem do Livro de Deuteronômio: "Não vos vingueis uns aos outros, caríssimos, mas deixai agir a ira de Deus, porque está escrito: 'A Mim a vingança. A Mim exercer a justiça', diz o Senhor (Dt 32,35)." Rm 12,19
    A Primeira Carta de São Pedro apontou-a como o sentido da vida do cristão: "Carregou (Jesus) nossos pecados em Seu Corpo sobre o madeiro para que, mortos para nossos pecados, vivamos para a justiça." 1 Pd 2,24
    Até alertava para possíveis sacrifícios: "Se fordes zelosos do bem, quem vos poderá fazer mal? E até sereis felizes se alguma coisa padecerdes por causa da justiça!" 1 Pd 3,13-14
    A Segunda Carta de São Pedro disse que foi graças a ela que os pagãos também chegaram à fé: "Simão Pedro, servo e Apóstolo de Jesus Cristo, àqueles que, pela justiça de Nosso Deus e do Salvador Jesus Cristo, por partilha alcançaram tão preciosa fé como a nossa. Graça e Paz sejam-vos dadas em abundância por um profundo conhecimento de Deus e de Jesus, Nosso Senhor!" 2 Pd 1,1-2
    E falou da eterna morada, prometida por Jesus: "Nós, porém, segundo Sua promessa, esperamos novos céus e uma nova Terra, nos quais habitará a justiça." 2 Pd 3,13
    A Primeira Carta de São João indicava essa marca de Cristo: "Filhinhos, ninguém vos seduza: aquele que pratica a justiça é justo, como Jesus também é justo." 1 Jo 3,7
    Falou dos renascidos do Espírito Santo, como Jesus ensinou a Nicodemos (cf. Jo 3,5): "Se sabeis que Ele (Deus) é justo, também sabei que todo aquele que pratica a justiça é nascido d'Ele." 1 Jo 2,29
    E fez esta radical distinção: "É nisto que se conhece quais são os filhos de Deus e quais os do Demônio: todo aquele que não pratica a justiça não é de Deus, como também aquele que não ama seu irmão." 1 Jo 3,10
    Ora, o Livro de Salmos já atestava essa orientação dada por Deus, mas ressalta que Ele a confere aos humildes: "O Senhor é bom e reto, por isso reconduz os extraviados ao reto caminho. Dirige os humildes na justiça, e ensina-lhes Sua via." Sl 24,8-9


A NECESSÁRIA JUSTIFICAÇÃO

    Ora, São Paulo atesta na Missão de Jesus a plena justificação do ser humano: "Mas fostes lavados, mas fostes santificados, mas fostes justificados, em Nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito de Nosso Deus." 1 Cor 6,11b
    Já não dava crédito aos rituais do Antigo Testamento, mas somente à indizível Graça que nos foi concedida por Cristo: "E não por causa de obras de justiça que tivéssemos praticado, mas unicamente em virtude de Sua Misericórdia, Ele salvou-nos mediante o Batismo da regeneração e renovação, pelo Espírito Santo, que por meio de Cristo, Nosso Salvador, em profusão nos foi concedido. Para que a justificação obtida por Sua Graça nos torne, em esperança, herdeiros da Vida Eterna." Tt 3,5-7
    Ele explica: "Porquanto pela observância da Lei nenhum homem será justificado diante d'Ele, porque a Lei se limita a dar o conhecimento do pecado. Mas, agora, sem o concurso da Lei, se manifestou a justiça de Deus, atestada pela Lei e pelos Profetas. Esta é a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo, para todos fiéis, pois não há distinção. Com efeito, todos pecaram e todos estão privados da Glória de Deus e gratuitamente são justificados por Sua Graça. Tal é a obra da Redenção, realizada em Jesus Cristo: Deus destinou-O para ser, por Seu Sangue, vítima de propiciação mediante a fé. Assim Ele manifesta Sua justiça, porque no tempo de Sua paciência Ele havia deixado sem castigo os pecados anteriores. Assim, digo eu, Ele manifesta Sua justiça no presente tempo, exercendo a justiça e justificando aquele que tem fé em Jesus. Onde está, portanto, o motivo de gloriar-se? Foi eliminado. Por qual Lei? Pela das obras? Não, mas pela Lei da fé. Porque julgamos que o homem é justificado pela fé, sem as observâncias da Lei." Rm 3,20-28
    Pois depois da Paixão de Cristo, a Vinda do Espírito de Deus é o grande diferencial da Nova Aliança: "O que era impossível à Lei, visto que a carne a tornava impotente, Deus fez. Enviando, por causa do pecado, Seu próprio Filho numa carne semelhante à do pecado, condenou o pecado na carne a fim de que a justiça prescrita pela Lei fosse realizada em nós, que vivemos não segundo a carne, mas segundo o espírito. Os que vivem segundo a carne não podem agradar a Deus. Vós, porém, não viveis segundo a carne, mas segundo o espírito, se realmente o Espírito de Deus habita em vós. Se alguém não possui o Espírito de Cristo, este não é d'Ele. Ora, se Cristo está em vós, o corpo, em Verdade, está morto pelo pecado, mas o espírito vive pela justificação." Rm 8,3-4.8-10
    Assim também explicou, distinguindo meras práticas religiosas de uma verdadeira interiorização da fé, a adesão dos não-judeus ao cristianismo: "Então que diremos? Que os gentios, que não buscavam a justiça, alcançaram a justificação, a que vem da fé, ao passo que Israel, que procurava uma lei que desse a justificação, não a encontrou. Por quê? Porque Israel a buscava como fruto não da fé, e sim das obras." Rm 9,30-32a
    Anunciando, pois, o Cristo, ele convictamente pregou em Antioquia da Pisídia: "Todo aquele que crê, por Ele é justificado de tudo aquilo que não pôde ser pela Lei de Moisés." At 13,39
    E nestes termos denunciava o erro dos judeus, por rejeitarem Jesus: "Desconhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer sua própria justiça, não se sujeitaram à justiça de Deus. Porque a finalidade da Lei é Cristo, para justificar todo aquele que crê." Rm 10,3-4
    A Carta de São Paulo aos Gálatas aponta a Graça como sucessora do Antigo Testamento, e torna a mencionar a definitiva justiça como efeito da Parusia, da futura Vinda de Jesus: "Já estais separados de Cristo, vós que procurais a justificação pela Lei. Decaístes da Graça. Quanto a nós, é espiritualmente, da fé, que aguardamos a esperada justiça." Gl 5,4-5
    Ele exaltava, portanto, o Sacrifício Pascal: "... porque cremos n'Aquele que dos mortos ressuscitou Jesus, Nosso Senhor, o Qual foi entregue por nossos pecados e ressuscitado para nossa justificação." Rm 4,24b-25
    Igualmente pregou aos cristãos da cidade de Corinto: "Aquele que não conheceu o pecado, Deus fê-Lo pecado por nós, para que n'Ele nós nos tornássemos justiça de Deus." 2 Cor 5,21
    Disse mais do Espírito Santo, a grande dádiva da Nova Aliança: "Ora, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, se revestiu de tal Glória que os filhos de Israel não podiam fitar os olhos no rosto de Moisés por causa do resplendor de sua face, embora transitório, quanto mais glorioso não será o Ministério do Espírito! Se o ministério da condenação já foi glorioso, muito mais há de sobrepujá-lo em Glória o Ministério da Justificação !" 2 Cor 3,7-9
    E ele mesmo dava exemplo de prudência e humildade: "De nada me acusa a consciência! Contudo, nem por isso sou justificado. Meu Juiz é o Senhor." 1 Cor 4,4
    De fato, Jesus contou essa parábola: "Subiram dois homens ao Templo para rezar. Um era fariseu, o outro, publicano. O fariseu, em pé, orava em seu interior desta forma: 'Graças dou-Te, ó Deus, porque não sou como os demais homens: ladrões, injustos e adúlteros. Nem como o publicano que ali está. Jejuo duas vezes na semana e pago o dízimo de todos meus lucros.' O publicano, porém, mantendo-se à distância, não ousava sequer levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: 'Ó Deus, tem piedade de mim, que sou pecador!' Digo-vos: este voltou para casa justificado, e não o outro. Pois todo aquele que se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado." Lc 18,10-14
    Falando de vigília, Ele avisou do peso de cada simples palavra: "Eu digo-vos: no Dia do Juízo os homens prestarão contas de toda vã palavra que tiverem proferido. É por tuas palavras que serás justificado ou condenado." Mt 12,36-37
    São Tiago Menor também falou do que elas significam para uma verdadeira religiosidade: "Se alguém pensa ser piedoso, mas não refreia sua língua e engana seu coração, então é vã sua religião." Tg 1,26
    E se não são as "obras da Lei" que nos levam a justificação, como São Paulo diz referindo-se aos rituais judaicos, o segundo bispo de Jerusalém ensinou que as obras de caridade são absolutamente impreteríveis: "A pura e sem mácula religião aos olhos de Deus e Nosso Pai é esta: visitar os órfãos e as viúvas em suas aflições, e conservar-se puro da corrupção deste mundo. Vedes como o homem é justificado pelas obras e não somente pela fé? Do mesmo modo Raab, a meretriz, não foi ela justificada pelas obras, por ter recebido os mensageiros e tê-los feito sair por outro caminho? Assim como o corpo sem a alma é morto, assim a fé sem obras também é morta." Tg 1,27;2,24-26
    De equivalente modo são os rituais da Igreja Católica, nomeadamente seus Sacramentos, e em específico o da Confissão, como o Príncipe dos Apóstolos pregou: "O Senhor não retarda o cumprimento de Sua promessa, como alguns pensam, mas usa de paciência para convosco. Não quer que alguém pereça. Ao contrário, quer que todos se arrependam." 2 Pd 3,9
    Com efeito, São Paulo pedia todo zelo para com os Sacramentos: "Na qualidade de colaboradores Seus (de Deus), exortamo-vos a que não recebais em vão a Graça de Deus." 2 Cor 6,1
    Principalmente o Santíssimo Sacramento: "Portanto, todo aquele que indignamente comer o Pão ou beber o Cálice do Senhor, será culpável do Corpo e do Sangue do Senhor. Que cada um examine a si mesmo, e assim coma desse Pão e beba desse Cálice. Aquele que O come e O bebe sem distinguir o Corpo do Senhor, come e bebe sua própria condenação." 1 Cor 11,27-29
    Exortava, então, mais uma vez à devida contrição: "Examinai a vós mesmos, se estais na fé. Provai-vos a vós mesmos. Acaso não reconheceis que Cristo Jesus está em vós?" 2 Cor 13,5a
    Só não deu muitos detalhes de como se alcança o dom da verdadeira fé, tão raro na atualidade: "Essa é a Palavra da fé, que pregamos. Portanto, se com tua boca confessares que Jesus é o Senhor, e se em teu coração creres que Deus O ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. É crendo de coração que se obtém a justiça, e é professando com palavras que se chega à Salvação." Rm 10,8b-10
    Foi sucinto, mencionando a catequese: "Logo, a fé provém da pregação, e a pregação exerce-se em razão da Palavra de Cristo." Rm 10,17
    E defendeu a humildade, apontando-a como dom de Deus, dado em diferentes medidas: "Em virtude da Graça que me foi dada, recomendo a todos e a cada um: não façam de si próprios uma opinião maior que convém, mas um razoavelmente modesto conceito, de acordo com o grau de fé que Deus lhes distribuiu." Rm 12,3


DEUS CASTIGA!

    Ora, se o infinito amor e a infinita Misericórdia de Deus levam alguns a pensar que Ele não nos castiga, deveriam conhecer Sua própria Palavra no Livro do Profeta Oseias. Ele fala das armadilhas criadas pelos líderes de Israel, mas diz de Seu verdadeiro poder: "Ouvi isto, sacerdotes, atende, casa de Israel, escuta, casa do rei, pois o direito é para todos vós. Fostes um laço para Masfa e uma rede estendida sobre o Tabor, uma cova em Sitim, que eles cavaram. Mas sou Eu Quem castiga a todos." Os 5,1-2
    Pois Seu infinito amor e Sua infinita Misericórdia aí estão para aqueles se arrependem, e é nesses casos que Ele volta atrás com Suas profecias e castigos, como se lê no Livro do Profeta Joel: "'Por isso, ainda agora - Oráculo do Senhor -, voltai a Mim de todo vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos de luto.' Rasgai vossos corações e não vossas vestes voltai ao Senhor Vosso Deus, porque Ele é bom e compassivo, longânime e indulgente, pronto a arrepender-Se do castigo que inflige. Quem sabe se Ele mudará de parecer e voltará atrás, deixando após Si uma bênção? Ofertas e libações ao Senhor, Vosso Deus." Jl 2,12-14
    E Seus castigos, enquanto não definitivos, como são os do inferno, invariavelmente têm em si uma pedagogia, como Ele justificou o cativeiro em Babilônia: "Assim como Me abandonastes para servir, em vossa terra, a deuses estrangeiros, também servireis a estrangeiros em terra que não é a vossa." Jr 5,19
    O mundo, porém, segue em sua loucura, o que levou um Salmo a observar: "O pecador gloria-se até de sua cupidez, o cobiçoso blasfema e despreza a Deus. Em sua arrogância, o ímpio diz: 'Não há castigo, Deus não existe.' É tudo e só o que ele pensa." Sl 9,24-25
    Enquanto outro Salmo assim entendia a obra da Salvação, cantando diante do Templo: "O Senhor castigou-me e castigou-me, mas não me entregou à morte. Abri-me as santas portas, a fim de que eu entre para agradecer ao Senhor. Esta é a porta do Senhor: só os justos podem passar por ela. Graças dou-Vos porque me ouvistes e Vos fizestes Meu Salvador." Sl 117,18-21
    Sim, o Livro de Provérbios ensina: "... o Senhor castiga aquele a quem ama, e pune o filho a quem muito estima." Pr 3,12
    Também o Livro de Jó, quando seu amigo diz: "Bem-aventurado o homem a quem Deus corrige! Não desprezes a lição do Todo-poderoso, pois Ele fere e cuida. Se golpeia, Sua mão cura." Jó 5,17-18
    O Livro de Eclesiástico, de fato, observou: "Se um único homem se tivesse mostrado obstinado, seria um milagre ter ficado impune, porque piedade e cólera vêm do Senhor, que é potente no perdão e derrama a cólera. Tão grande quanto Sua Misericórdia é Seu castigo, pois Ele julga a cada um segundo suas obras." Eclo 16,11-12
    Bem como os seguidores da tradição de São Paulo, na Carta aos Hebreus: "Aliás, temos na Terra nossos pais que nos corrigem e, no entanto, olhamo-los com respeito. Com quanto mais razão havemos de submeter-nos ao Pai de nossas almas, o Qual nos dará a Vida? Os primeiros educaram-nos para pouco tempo, segundo sua própria conveniência, ao passo que Este o faz para nosso bem, para comunicar-nos Sua santidade. É verdade que toda correção parece, de momento, antes motivo de pesar que de alegria. Mais tarde, porém, granjeia aos que por ela se exercitaram o melhor fruto de justiça e de Paz." Hb 12,9-11
    O próprio Jó, em sua sofrível experiência, já havia observado bênçãos e punições: "Por isso, eu rogarei a Deus, apresentarei minha súplica ao Senhor. Ele faz grandes e insondáveis coisas, incalculáveis maravilhas; espalha a chuva sobre a Terra e derrama as águas sobre os campos; exalta os humildes e dá nova alegria aos que estão de luto; frustra os projetos dos maus, cujas mãos não podem executar os planos; apanha os jeitosos em suas próprias manhas, e os projetos dos astutos tornam-se prematuros: em pleno dia encontram as trevas, e andam às apalpadelas ao meio-dia como se fosse noite." Jó 5,8-14
    Com efeito, Moisés havia sentenciado aos israelitas no Livro de Deuteronômio: "Todas maldições cairão sobre ti, persegui-te-ão e alcançá-te-ão até que sejas exterminado, porque não ouviste a voz do Senhor, Teu Deus, e não guardaste os Mandamentos e as leis que Ele te impôs." Dt 28,45
    Os discípulos de São Paulo também anotaram punições, referindo-se aos 40 anos que Israel passou no deserto, enquanto se dirigia à Terra Santa: "A Palavra anunciada por intermédio dos anjos era a tal ponto válida, que toda transgressão ou desobediência recebeu o justo castigo." Hb 2,2
    Assim como a Sabedoria, versando sobre os mais graves erros: "Mas os ímpios terão o castigo que merecem seus pensamentos, uma vez que desprezaram o justo e se separaram do Senhor. Desgraçado é aquele que rejeita a Sabedoria e a disciplina! A esperança deles é vã, seus sofrimentos, sem proveito, e as obras deles, inúteis. Suas mulheres são insensatas e seus filhos malvados. A raça deles é maldita." Sb 3,10-12
    Sobre os mais leves, dirigindo-se a Deus: "... porque se tinham afastado demais nos caminhos do erro, tomando por deuses os mais vis animais, deixando-se enganar como crianças sem razão. Assim é que, como a crianças sem razão, lhes destes um irrisório castigo. Mas aqueles que se recusam a emendar-se por irrisórios castigos, sofrerão um castigo digno de Deus." Sb 12,24-26
    Ou sobre os inimigos de Israel: "Portanto, quando nos corrigis, mil vezes mais castigais nossos inimigos, para que em nossos julgamentos nos lembremos de Vossa bondade, e para que esperemos em Vossa indulgência quando somos julgados." Sb 12,22
    E ainda São Paulo, falando da situação de recalcitrantes e rebeldes perante o Juízo Final: "Eles sofrerão como castigo a eterna perdição, longe da face do Senhor e de Sua Suprema Glória. Naquele Dia, Ele virá e será a Glória de Seus Santos e a admiração de todos fiéis, e também vossa, porque crestes no testemunho que vos demos." 2 Ts 1,9-10
    Não por acaso, no Livro de Tobias, seu pai Tobit rezava pelo abrandamento dos castigos a ele e à gente de seu tempo: "Vós sois justo, Senhor! Vossos juízos são cheios de equidade, e Vossa conduta é toda Misericórdia, Verdade e justiça. Lembrai-vos, pois, de mim, Senhor! Não me castigueis por meus pecados e não guardeis a memória de minhas ofensas, nem das de meus antepassados. Se fomos entregues à pilhagem, ao cativeiro e à morte, e se nos temos tornado objeto de mofa e de riso para os pagãos entre os quais nos dispersastes, é porque não obedecemos Vossas leis. Agora Vossos castigos são grandes, porque não procedemos segundo Vossos preceitos e não temos sido leais para Convosco." Tb 3,2-5
    No Livro do Profeta Daniel, este inspirado homem de Deus igualmente intercedeu pelo povo de Israel, durante o exílio em Babilônia: "Senhor, dignai-vos, por Vossa Misericórdia, afastar de Vossa Santa Cidade, Jerusalém, Vossa cólera e Vossa exasperação, porque é devido as nossas iniquidades e aos pecados de nossos antepassados que Jerusalém e Vosso povo são alvo dos insultos por todos nossos vizinhos." Dn 9,16
    E Deus, demostrando que os judeus não tiveram só privilégios, disse no Livro do Profeta Amós ainda quando se aproximava o cativeiro em Assíria: "'Ouvi, israelitas, o Oráculo que o Senhor pronunciou contra vós, contra todo povo', disse Ele, 'que tirei de Egito. Dentre todas raças da Terra, só a vós conheço. Por isso, castigá-vos-ei por todas vossas iniquidades.'" Am 3,1-2
    Noutra situação, até explicou-Se diante dos israelitas: "... não castigarei vossas filhas prostitutas, nem vossas noras adúlteras, porque vós mesmos coabitam com meretrizes, e oferecem sacrifícios com sagradas prostitutas. O insensato povo por si mesmo lança-se à perdição!" Os 4,14
    Ora, luminosa explicação foi dada pelo autor do Segundo Livro de Macabeus, distinguindo temporais castigos do castigo eterno: "Agora, aos que estiverem defrontando-se com este Livro, gostaria de exortar que não se desconcertem diante de tais calamidades, mas pensem antes que esses castigos não sucederam para a ruína, mas para a correção de nossa gente. De fato, não deixar impunes por longo tempo os que cometem impiedade, mas imediatamente atingi-los com castigos, é sinal de grande benevolência. Pois não é como para com as outras nações, que o longânime Soberano espera que cheguem ao cúmulo de seus pecados, para então puni-las. Não é assim que Ele decidiu proceder com relação a nós, a fim de não ter de punir-nos mais tarde, quando nossos pecados tivessem atingido sua plena medida. Por isso, Ele jamais retira de nós Sua Misericórdia. Ainda quando corrige com a desventura, Ele não abandona Seu povo." 2 Mc 6,12-16
    O próprio Jesus falou sobre o tema, advertindo as igrejas de Ásia ao fim do primeiro século, no Livro do Apocalipse de São João: "Eu repreendo e castigo aqueles que amo. Reanima teu zelo, pois, e arrepende-te." Ap 3,19
    Deixou claro o poder que dava às dioceses, prometendo à da Filadélfia: "Eu entrego-te adeptos da sinagoga de Satanás, desses que se dizem judeus e não o são, mas mentem. Eis que os farei vir prostrar-se a teus pés, e reconhecerão que Eu te amo." Ap 3,9
    A Seus Sacerdotes, deu o poder de perdoar ou condenar: "Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: 'Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, sê-lhes-ão perdoados. Àqueles a quem os retiverdes, sê-lhes-ão retidos.'" Jo 20,22-23
    Previu até mesmo a excomunhão: "Se teu irmão tiver pecado contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele somente. Se te ouvir, terás ganho teu irmão. Se não te escutar, toma contigo uma ou duas pessoas, a fim de que toda questão se resolva pela decisão de duas ou três testemunhas. Se se recusa a ouvi-los, dize-o à Igreja. E se também se recusar a ouvir a Igreja, seja ele para ti como um pagão e um publicano." Mt 18,15-17
    São Paulo dela usou, na comunidade de Corinto: "Pois eu, em verdade, ainda que distante corporalmente, mas presente em espírito, já julguei, como se estivesse presente, aquele que assim se comportou. Em Nome do Senhor Jesus, reunidos vós e meu espírito, com o poder de Nosso Senhor Jesus, seja esse homem entregue a Satanás para mortificação de seu corpo, a fim de que sua alma seja salva no Dia do Senhor Jesus." 1 Cor 5,3-5
    Claramente falava do poder da Igreja Católica para corrigir e impor penitências: "Nós aniquilamos todo raciocínio e todo orgulho que se levanta contra o conhecimento de Deus, e cativamos todo pensamento e reduzimo-lo à obediência a Cristo. Também estamos prontos para castigar todos desobedientes, a fim de que vossa obediência seja perfeita." 2 Cor 10,5-6
     Até havia-lhes perguntado: "Porque o Reino de Deus não consiste em palavras, mas em atos. Que preferis? Que eu vá visitar-vos com a vara, ou com caridade e espírito de mansidão?" 1 Cor 4,20
    E exigindo penitência antes que se receba o Santíssimo Sacramento, explicou o agir de Deus para com os Seus: "... Ele castiga-nos para não sermos condenados com o mundo." 1 Cor 11,32
    Também registrou terríveis castigos à gente de seu tempo: "Porque, conhecendo a Deus, não O glorificaram como Deus nem Lhe deram graças. Mudaram a majestade de Deus incorruptível em representações e figuras de homem corruptível, de aves, quadrúpedes e répteis. Por isso, Deus entregou-os aos desejos de seus corações, à imundície, de modo que entre si desonraram os próprios corpos. Trocaram a Verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram à criatura em vez do Criador, que é bendito pelos séculos. Amém! Por isso, Deus entregou-os a vergonhosas paixões: suas mulheres mudaram as naturais relações em relações contra a natureza. Do mesmo modo os homens, deixando o natural uso da mulher, arderam em desejos uns para com os outros, cometendo homens com homens a torpeza, e recebendo em seus corpos a paga devida a seu desvario." Rm 1,21a.23-28
    No Apocalipse, pois, temos esta grave sentença de Jesus contra a igreja de Tiatira: "Mas tenho contra ti que permites a Jezabel, mulher que se diz profetisa, seduzir Meus servos e ensinar-lhes a praticar imundícies e comer carne imolada aos ídolos. Eu dei-lhe tempo para arrepender-se, mas não quer arrepender-se de suas imundícies. Desta vez, lançá-la-ei num leito, e com ela os cúmplices de seus adultérios para aí muito sofrerem se não se arrependerem de suas obras. Pela peste farei perecer seus filhos, e todas igrejas hão de saber que Eu sou Aquele que sonda os rins e os corações, porque a cada um de vós darei segundo suas obras." Ap 2,20-23
    Deus Pai também havia sentenciado as mais severas punições. Desde àqueles que murmuravam contra Moisés no deserto, mesmo tendo visto Suas obras, até aos anjos caídos, como a Carta de São Judas alerta: "Quisera trazer-vos à memória, embora saibais todas estas coisas: o Senhor, depois de ter salvo o povo da terra de Egito, fez em seguida perecer os incrédulos. Os anjos que não tinham guardado a dignidade de sua classe, mas abandonado seus tronos, nas trevas Ele guardou-os com eternas correntes para o Julgamento do Grande Dia." Jd 5-6
    Nosso Salvador, enfim, falou da condenação total, isto é, do inferno: "Depois Jesus começou a censurar as cidades onde tinha feito grande número de Seus milagres, por terem-se recusado a arrepender-se: 'Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque se em Tiro e em Sidônia tivessem sido feitos os milagres que foram feitos em vosso meio, há muito tempo ter-se-iam arrependido sob o cilício e a cinza. Por isso, digo-vos: no Dia do Juízo haverá menor rigor para Tiro e para Sidônia que para vós! E tu, Cafarnaum, serás elevada até o Céu? Não! Serás atirada ao inferno! Porque se Sodoma tivesse visto os milagres que foram feitos dentro de teus muros, subsistiria até este dia. Por isso, digo-te: no Dia do Juízo haverá menor rigor para Sodoma que para ti!'" Mt 11,20-24
    O próprio Judas Iscariotes, um de Seus Apóstolos, teve severa condenação, em face dos privilégios de estar por mais de três anos em Sua companhia. Jesus disse: "O Filho do Homem vai, segundo o que d'Ele está escrito, mas ai daquele homem por quem o Filho do Homem for traído! Melhor sê-lhe-ia que nunca tivesse nascido..." Mt 14,21
    E antes do fim dos tempos, como foi revelado a São João Apóstolo, cruéis e massivas punições recairão sobre a humanidade, executadas pelos quatro anjos da morte: "Os cavalos tinham crina como uma juba de leão e de suas narinas saíam fogo, fumaça e enxofre. E uma terça parte dos homens foi morta por esses três flagelos que lhes saíam das narinas. Porque o nocivo poder dos cavalos também estava nas caudas. Tinham cabeças como serpentes e com elas causavam dano. Mas o restante dos homens, que não foram mortos por esses três flagelos, não se arrependeu das obras de suas mãos." Ap 9,17b-20
    Aliás, as punições dos últimos tempos não parecem ser novidade para ninguém: "Ainda vi, no Céu, outro grande e maravilhoso sinal: sete anjos que tinham os sete últimos flagelos, porque por eles é que deve consumar-se a ira de Deus." Ap 15,1
    Mas Sua cólera não se reserva apenas para o Juízo Final. São Paulo avisa: "A ira de Deus manifesta-se do alto do Céu contra toda impiedade e perversidade dos homens, que pela injustiça aprisionam a Verdade." Rm 1,18
    Ora, o simples anúncio das punições no Livro de Levítico, feito por Deus mesmo a quem desobedecesse os Mandamentos, e que certamente se cumpriram antes da Vinda de Cristo, é aterrador: "Farei cair sobre vós a espada para vingar Minha Aliança. Se vos ajuntardes em vossas cidades, lançarei a peste em meio a vós e sereis entregues nas mãos de vossos inimigos. Tirá-vos-ei o pão, vosso sustentáculo, de tal sorte que dez mulheres o cozerão em um só forno e vos entregarão por peso: comereis e não ficareis saciados. Se, apesar disso, não Me ouvirdes, e ainda Me resistirdes, marcharei contra vós em Meu furor e castigá-vos-ei sete vezes mais por causa de vossos pecados. Comereis a carne de vossos filhos e de vossas filhas." Lv 26,23-29
    Punições essas que durariam por gerações do povo de Israel: "Perecereis entre as nações, e a terra inimiga consumi-vos-á. Os que sobreviverem consumir-se-ão por causa de suas iniquidades na terra de seus inimigos, e também serão consumidos por causa das iniquidades de seus pais, que levarão sobre si. Assim, eles confessarão suas iniquidades e as de seus pais, as transgressões cometidas contra Mim, porque Me resistiram. E, por isso, Eu também lhes resisti e os levei à terra de seus inimigos. Se, então, humilharem seu incircunciso coração e sofrerem a pena de sua iniquidade, Eu lembrar-Me-ei de Minha Aliança com Jacó, de Minha Aliança com Isaac e com Abraão, e lembrar-Me-ei dessa terra." Lv 26,38-42
    Algo similar tornou a acontecer séculos mais tarde: "Depois que o rei queimou o rolo que continha os Oráculos escritos por Baruc, que Jeremias lhe ditara, a Palavra do Senhor foi dirigida ao Profeta nestes termos: 'Toma outro rolo, e nele escreverás todos Oráculos contidos no primeiro que foi queimado por Joaquim, rei de Judá.' Pois bem, eis o que o Senhor diz a respeito de Joaquim, rei de Judá: 'Nenhum de seus descendentes ocupará o trono de Davi. Ficará seu cadáver exposto ao calor do dia e ao frio da noite. Assim castigarei a iniquidade nele, em sua raça e em seus servidores. E sobre eles, sobre os habitantes de Jerusalém e sobre o povo de Judá farei cair todos flagelos de que os ameacei, sem que Me houvessem escutado." Jr 36,27-28.30-31
    E Jeremias, em contemplação, assentia: "Concedeis vossos favores a milhares, e castigais os filhos por causa dos pecados dos pais." Jr 32,18a
    Tal castigo, em tão graves tempos, dava-se mesmo contra religiosos: "Quando esse povo ou algum profeta ou sacerdote vier perguntar-te: 'Qual o novo fardo do Senhor que anuncias? Di-lhe-ás: 'Fardo? És tu esse fardo e dele alijar-Me-ei', Oráculo do Senhor. E o profeta, o sacerdote ou o leigo que ousar dizer: 'Oráculo do Senhor', Eu castigá-lo-ei, assim como sua família." Jr 23,33-34
    Por isso, este Profeta encarecidamente pedia em prece: "Castigai-nos, Senhor, mas com equidade, e não com furor, para que não sejamos reduzidos a nada." Jr 10,24
    Pois ao anunciar os Dez Mandamentos, no Livro de Êxodo, Deus havia dito ao povo de Israel através de Moisés: "Eu sou o Senhor, Teu Deus, um zeloso Deus que vingo a iniquidade dos pais nos filhos, nos netos e nos bisnetos daqueles que Me odeiam, mas uso de Misericórdia até a milésima geração com aqueles que Me amam e guardam Meus Mandamentos." Êx 20,5b-6
    Contra tantas desgraças, os Provérbios revelaram: "O princípio da Sabedoria é o temor ao Senhor!" Pr 9,10
    Mas o próprio Deus iria reclamar no Livro do Profeta Ezequiel, dando a entender que tais castigos aos descendentes não se davam sem existência de culpa por parte deles: "A Palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos: 'Por que repetis continuamente esse provérbio entre os israelitas: Os pais comeram verdes uvas, mas são os dentes dos filhos que ficam embotados? Por Minha Vida', Oráculo do Senhor Javé, 'não tereis mais ocasião de repetir esse provérbio em Israel. É a Mim que pertencem as vidas, a vida do pai e a vida do filho. Ora, é o culpado que morrerá.'" Ez 18,1-4
    E vai argumentar: "'É o pecador que deve perecer. Nem o filho responderá pelas faltas do pai nem o pai pelas do filho. É ao justo que se imputará sua justiça, e ao mau sua malícia. Se, no entanto, o mau renuncia a todos seus erros para praticar Minhas leis, e seguir a justiça e a equidade, então ele decerto viverá, não há de perecer. Não lhe será tomada em conta qualquer das faltas cometidas: ele há de viver por causa da justiça que praticou. Terei Eu prazer com a morte do malvado?' Oráculo do Senhor Javé. 'Antes não desejo Eu que ele mude de proceder e viva? E se um justo abandonar sua justiça, se praticar o mal e imitar todas abominações cometidas pelo malvado, viverá ele? Não! Não será tido em conta qualquer dos atos bons que houver praticado. É em razão da infidelidade, da qual se tornou culpado, e dos pecados que tiver cometido que deverá morrer." Ez 18,20-24
    Contudo, essa prática de penitência continuaria ainda no período da reconstrução do Templo de Jerusalém, apontada do Livro de Neemias: "No vigésimo quarto dia do mesmo mês, vestidos de sacos, e com a cabeça coberta de pó, os israelitas reuniram-se para um jejum. Os que eram de origem israelita estavam separados de todos estrangeiros, e apresentaram-se para confessar seus pecados e as iniquidades de seus pais." Ne 9,1-2
    Deus havia assegurado, entretanto, ainda em Deuteronômio: "Não morrerão os pais pelos filhos, nem os filhos pelos pais. Cada um morrerá por seu próprio pecado." Dt 24,16
    E isso foi reafirmado por Jesus: "Porque o Filho do Homem há de vir na Glória de Seu Pai com Seus anjos, e então recompensará cada um segundo suas obras." Mt 16,27
    Fiquemos, pois, com estas inspiradoras palavras de Nossa Senhora a Santa Brígida da Suécia: "Desta forma esperarás na Misericórdia de Deus, porque não esquecerás Sua justiça. Pensa em Sua justiça e em Seu Juízo de forma que não esqueças Sua Misericórdia, porque Ele não usa a justiça sem Misericórdia, nem a Misericórdia sem justiça." (Livro I, capítulo VII)

    "Fazei de nós uma perfeita oferenda!"