quarta-feira, 7 de agosto de 2024

Amor de Salvação


    O amor que nos salva não é apenas afeição. Vai muito além e está bem expresso no primeiro Mandamento. Trata-se do amor a Deus, também chamado de salvífico amor, no qual o amor a nossos semelhantes se inclui, pois é a total doação, como Jesus exaltou ao ser questionado por um doutor da Lei: "'Mestre, qual é o maior Mandamento da Lei?' Respondeu Jesus: 'Amarás o Senhor Teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma e de toda tua força (Dt 6,5). Este é o maior e o primeiro Mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás teu próximo como a ti mesmo (Lv 19,18). Nesses dois Mandamentos resumem-se toda a Lei e os Profetas.'" Mt 22,36-40
    Não por acaso, numa das vezes em que Se revelou Deus, Jesus pregou exatamente esse amor: "Quem ama seu pai ou sua mãe mais que a Mim, não é digno de Mim. Quem ama seu filho mais que a Mim, não é digno de Mim." Mt 10,37
    Até exigiu esse amor de São Pedro, quando lhe questionou após ressuscitar, perante outros Apóstolos: "Simão, filho de João, amas-Me mais que a estes?" Jo 21,15b
    Sem dúvida, Ele anunciava um novo conceito de família: "Jesus respondeu-lhe: 'Quem é Minha mãe e quem são Meus irmãos?' E, apontando com a mão para Seus discípulos, acrescentou: 'Eis aqui Minha mãe e Meus irmãos. Todo aquele que faz a vontade de Meu Pai que está nos Céus, esse é Meu irmão, Minha irmã e Minha mãe.'" Mt 12,48-50
    E garantiu ao Príncipe dos Apóstolos: "Em Verdade, digo-vos: ninguém há que tenha deixado casa ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou terras, por causa de Mim e por causa do Evangelho, que não receba já neste século cem vezes mais casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras, mesmo com perseguições, e no vindouro século a Vida Eterna." Mc 10,29-30
    É por esta perspectiva, e só por ela, que podemos entender Jesus como um 'divisor', quando Ele Se opôs à mundana paz, à qual não faz concessão: "Não julgueis que vim trazer a Paz à Terra. Vim trazer não a Paz, mas a espada. Eu vim trazer a divisão entre o filho e o pai, entre a filha e a mãe, entre a nora e a sogra, e os inimigos do homem serão as pessoas de sua própria casa." Mt 10,34-36
    Sua Paz, de fato, Ele oferece apenas à Sua Igreja: "Deixo-vos a Paz, dou-vos Minha Paz. Não vos dou como o mundo a dá." Jo 14,27a
    O mesmo acontece em inverso sentido, como Ele previu, pois o mundo sequer dialoga: "O irmão entregará à morte o irmão, e o pai, o filho; e os filhos insurgir-se-ão contra os pais e dá-lhes-ão a morte. E sereis odiados de todos por causa de Meu Nome. Mas aquele que perseverar até o fim será salvo." Mc 13,12-13
    Contudo, tendo exclusivamente como objetivo a Salvação das almas, Jesus determinou o dever de amar nossos inimigos, pois, para um cristão, oposição não significa ódio: "Tendes ouvido o que foi dito: 'Amarás teu próximo e poderás odiar teu inimigo.' Eu, porém, digo-vos: amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos maltratam e perseguem. Se amais somente os que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem assim os próprios publicanos?" Mt 5,43-44.46
    Desta forma, São Paulo chega ao extremo de abandonar um fiel às mãos de Satanás. É a dramática sentença de excomunhão, quando à Igreja resta apenas o dever da oração: "Em Nome do Senhor Jesus, reunidos vós e meu espírito, com o poder de Nosso Senhor Jesus, seja esse homem entregue a Satanás para mortificação de seu corpo, a fim de que sua alma seja salva no Dia do Senhor Jesus." 1 Cor 5,4-5
    Ora, junto ao poder de perdoar mediante Confissões, Jesus havia dado esse poder à Igreja, para que Seus Sacerdotes decidissem caso a caso. Foi algo que Ele tratou de fazer logo após Sua Ressurreição: "Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: 'Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, sê-lhes-ão perdoados. Àqueles a quem os retiverdes, sê-lhes-ão retidos.'" Jo 20,22-23
    E claramente havia dito que não é possível amar a Deus e ao mundo: "Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará o outro, ou dedicar-se-á a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro." Mt 6,24
    São João Evangelista replicou: "Não ameis o mundo nem as coisas do mundo. Se alguém ama o mundo, não está nele o amor do Pai." 1 Jo 2,15
    São Tiago Menor foi ainda mais contundente: "Todo aquele que quer ser amigo do mundo, constitui-se inimigo de Deus. Ou imaginais que em vão diz a Escritura: 'Sois amados até o ciúme pelo Espírito que em vós habita?'" Tg 4,4b-5
    Assim devem portar-se, como primeiríssimo exemplo, os verdadeiros Sacerdotes da Igreja de Cristo, que tudo abandonam, por mais estranho e difícil que pareça, em nome do salvífico projeto. Jesus disse: "Porque há eunucos que o são desde o ventre de suas mães, há eunucos tornados tais pelas mãos dos homens e há eunucos que a si mesmos se fizeram eunucos por amor ao Reino dos Céus. Quem puder compreender, compreenda." Mt 16,12
    Aí incluídos, claro, todos bens materiais. Ele também disse: "Assim, pois, qualquer um de vós que não renuncia a tudo que possui, não pode ser Meu discípulo." Lc 14,33
    Ora, quem encontrou Deus encontrou tudo, não carece de mais nada, como Nosso Salvador garantiu: "Quem vem a Mim não terá mais fome, e quem crê em Mim nunca mais terá sede." Jo 6,35b
    Mas isso não deveria ser nenhuma novidade, pois Ele mesmo já havia alertado: "Porque onde está teu tesouro, lá também está teu coração." Mt 6,21
    Por essa mesma lógica, Ele acusava os fariseus, que se pretendiam religiosos: "Raça de víboras, maus como sois, como podeis dizer coisas boas? Porque a boca fala do que lhe transborda do coração." Mt 12,37
    E também acusava os judeus, em geral, que não acreditavam em Suas obras nem tinham o amor de Deus, exatamente por não guardarem Sua Palavra. Ele disse de São João Batista: "Mas tenho maior testemunho que o de João, porque as obras que Meu Pai Me deu para executar, essas mesmas obras que faço, testemunham a Meu respeito que o Pai Me enviou. Vós nunca ouvistes Sua voz nem vistes Sua face... e não tendes permanentemente Sua Palavra em vós, pois não credes n'Aquele que Ele enviou. Não espero Minha Glória dos homens, mas sei que não tendes em vós o amor de Deus." Jo 5,36.37b-38.41-42
    Resignadamente, pois, São Paulo admitia: "O amor de Cristo constrange-nos..." 2 Cor 5,14
    Portanto não é apenas com afeto, mas principalmente por perfeita obediência aos Mandamentos de Deus, capaz do santo sacrifício, que devemos amar uns aos outros. Exatamente como Cristo fez, quando estabeleceu Seu amor como parâmetro: "Este é Meu Mandamento: amai-vos uns aos outros como Eu vos amo. Ninguém tem maior amor que aquele que dá sua vida por seus amigos." Jo 15,12-13
    O Último Apóstolo recita o Hino Cristológico: "Sendo Ele de condição divina, não Se prevaleceu de Sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-Se aos homens. E sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-Se ainda mais, tornando-Se obediente até a morte, e morte de Cruz." Fl 2,6-8
    Explicando como seríamos capazes desse amor, Jesus pediu total adesão à Sua Palavra: "Se guardardes Meus Mandamentos, sereis constantes em Meu amor, como Eu também guardei os Mandamentos de Meu Pai e persisto em Seu amor." Jo 15,10
    Pois Sua Palavra tem o dom de purificar, como Ele garantiu aos Apóstolos: "Vós já estais puros pela Palavra que vos tenho anunciado." Jo 15,3
    Desta forma, amar a Jesus é amar a Palavra por Ele anunciada, com a garantia de receber Sua manifestação: "Aquele que tem e guarda Meus Mandamentos, esse é que Me ama. E aquele que Me ama será amado por Meu Pai, e Eu amá-lo-ei e a ele manifestar-Me-ei." Jo 14,21
    Garantia de ser amado por Deus Pai e tornar-se Sua morada, assim como do próprio Deus Filho: "Se alguém Me ama, guardará Minha Palavra, e Meu Pai amá-lo-á. E Nós a ele viremos e nele faremos Nossa morada." Jo 14,23
    Palavra que Ele assegurou ser autêntica, a própria Palavra do Pai: "Aquele que não Me ama não guarda Minhas palavras. A Palavra que tendes ouvido não é Minha, mas sim do Pai que Me enviou." Jo 14,24
    Enquanto o próprio Verbo de Deus, Ele afirmou: "Em Verdade, não falei por Mim mesmo, mas o Pai, que Me enviou, Ele mesmo prescreveu-Me o que devo dizer e o que devo ensinar." Jo 12,49
    E por isso Ele rezou ao Pai pelos Apóstolos, pouco antes de Sua Paixão: "Santifica-os pela Verdade. Tua Palavra é a Verdade." Jo 17,17
    Eis a razão pela qual Ele exigia fidelidade às Escrituras: "Ai de vós, hipócritas escribas e fariseus! Pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e desprezais os mais importantes preceitos da Lei: a justiça, a misericórdia, a fidelidade." Mt 23,23a
    Sem vacilar, São João Batista atestou sobre Jesus: "Aquele que recebe Seu testemunho confirma que Deus é verdadeiro." Jo 3,33
    Tão profunda conversão, aliás, Deus quer para todos nós. São Paulo diz a São Timóteo que Ele "... deseja que todos homens se salvem e cheguem ao conhecimento da Verdade." 1 Tm 2,4
    E aderir à Palavra de Deus representa um inalienável compromisso com a Salvação dos demais, o que só é possível pela perfeita preservação da Palavra através da Unidade da Igreja. E por isso Jesus também pediu ao Pai: "Não rogo somente por eles, mas também por aqueles que por sua palavra hão de crer em Mim. Para que todos sejam Um, assim como Tu, Pai, estás em Mim e Eu em Ti, para que eles também estejam em Nós, e o mundo creia que Tu Me enviaste." Jo 17,20-21
    Foi nesses termos que Ele garantiu a Vida Eterna: "Porque aquele que quiser salvar sua vida, perdê-la-á. Mas aquele que perder sua vida por amor a Mim e ao Evangelho, salvá-la-á." Mc 8,35
    Foi isso o que Ele fez: "Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara Sua hora de passar deste mundo ao Pai, como amasse os Seus que estavam no mundo, até o extremo amou-os." Jo 13,1
    Foi isso que Ele ofereceu e pediu ao jovem rico, que já se julgava Santo: "Jesus fixou nele o olhar, amou-o e disse-lhe: 'Uma só coisa te falta: vai, vende tudo que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no Céu. Depois, vem e segue-Me.'" Mc 10,21
    Foi isso que fez Deus Pai, enviando-nos Jesus, que disse em terceira pessoa: "Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo que lhe deu Seu Único Filho, para que todo aquele que n'Ele crer não pereça, mas tenha a Vida Eterna." Jo 3,16
    Foi isso que fez São Paulo: "Realmente desejo que estejais informados do árduo combate que sustento por amor de vós e dos de Laodiceia, assim como de todos que ainda não me viram pessoalmente!" Cl 2,1
    Sem dúvida, esse é o caminho da santidade pelo qual este Santo defendeu a Igreja, que é o Corpo Místico de Cristo e se ergue pela força do Espírito Santo: "É n'Ele (Cristo) que todo edifício, harmonicamente disposto, se levanta até formar um santo templo no Senhor. É n'Ele que também vós entrais, pelo Espírito, na estrutura do edifício que se torna a habitação de Deus. Por essa causa é que eu, Paulo, sou prisioneiro de Jesus Cristo por amor de vós, não judeus..." Ef 2,21-22;3,1
    Pois é a santidade, isto é, o voluntarioso e inquebrantável compromisso com os Mandamentos que nos ensina o amor de Deus, claramente guardados pela Igreja, como ele afirma: "Esta é a vontade de Deus: vossa santificação... Pois Deus não nos chamou para a impureza, mas para a santidade. Por conseguinte, desprezar estes preceitos é desprezar não a um homem, mas a Deus, que nos deu Seu Santo Espírito. A respeito da fraterna caridade, não temos necessidade de escrever-vos, porquanto vós mesmos aprendestes de Deus a amar-vos uns aos outros." 1 Ts 4,4a.7-9
    E só pela ação do Espírito de Deus nos é dado conhecer esse amor. Ele segue: "E a esperança não engana. Porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi dado." Rm 5,5
    De fato, São Paulo pôde atestar esta realidade na comunidade de Colossos pelo testemunho de Epafras, um de seus seguidores: "Foi ele que nos informou do amor com que o Espírito vos anima." Cl 1,8
    E condenando os mundanos projetos e ilusões, ele afirmou: "... o fruto do Espírito é caridade... Pois aqueles que são de Jesus Cristo crucificaram a carne com as paixões e concupiscências. Se vivemos pelo Espírito, também andemos de acordo com o Espírito. Não sejamos ávidos da vanglória." Gl 5,22.24-26a
    Aliás, o Divino Paráclito é a própria garantia da Salvação dada por Deus, através da Nova e Eterna Aliança que foi estabelecida por Cristo Jesus: "N'Ele (Cristo) também vós, depois de terdes ouvido a Palavra da Verdade, o Evangelho de vossa Salvação no qual tendes crido, fostes selados com o Espírito Santo que fora prometido, que é o penhor de nossa herança, enquanto esperamos a completa redenção daqueles que Deus adquiriu para louvor de Sua Glória." Ef 1,13-14


AMOR À VERDADE

     Amor de Salvação, portanto, é essencialmente o amor à Verdade. São Paulo escreveu: "A manifestação do ímpio será acompanhada, graças ao poder de Satanás, de toda a sorte de enganadores portentos, sinais e prodígios. Ele usará de todas seduções do mal com aqueles que se perdem, por não terem cultivado o amor à Verdade que teria podido salvá-los. Por isso, Deus enviá-lhes-á um poder que os enganará e os induzirá a acreditar no erro." 2 Ts 2,9-11
    Ora, Jesus chamou o Espírito Santo, Aquele que arremataria Seus ensinamentos e instruiria a Igreja pelos séculos, de Espírito da Verdade: "Muitas coisas ainda tenho a dizer-vos, mas agora não podeis suportá-las. Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensiná-vos-á toda a Verdade. Porque não falará por Si mesmo, mas dirá o que ouvir, e anunciá-vos-á as coisas que virão." Jo 16,12-13
    E falando em nome da Igreja, São João Evangelista vai distinguir: "Quem conhece a Deus, ouve-nos; quem não é de Deus, não nos ouve. É nisto que conhecemos o Espírito da Verdade e o espírito do erro." 1 Jo 4,6b
    Ele explicou o vínculo entre a Palavra de Deus e o verdadeiro amor: "Aquele, porém, que guarda Sua Palavra (de Cristo), nele o amor de Deus é verdadeiramente perfeito. É assim que conhecemos se estamos n'Ele: aquele que afirma n'Ele permanecer, também deve viver como Ele viveu." 1 Jo 2,5-6
    Explicou que só a Verdade, que com a Igreja eternamente permanece, possibilita o amor, como se dirigiu a uma comunidade não identificada: "O Ancião à eleita senhora e a seus filhos, que em Verdade amo. Não somente eu, mas todos que conheceram a Verdade, por causa da Verdade que em nós permanece e conosco ficará eternamente." 2 Jo 1,1-2
    E sintetizou: "Nisto consiste o amor: que vivamos segundo Seus Mandamentos." 2 Jo 1,16
    Disse que tal comportamento era o próprio 'amor de Deus': "Eis o amor de Deus: que guardemos Seus Mandamentos." 1 Jo 5,3a
    Ele exclama pela total entrega através da caridade: "Meus filhinhos, não amemos com palavras nem com a língua, mas por atos e em Verdade." 1 Jo 3,18
    Pois assim como Jesus é Luz e Verdade, com absoluta convicção nós também devemos sê-los no mundo: "Nisto é perfeito em nós o amor: que tenhamos confiança no Dia do Julgamento, pois, como Ele é, assim também nós o somos neste mundo." 1 Jo 4,17
    Essa é a condição que deve buscar todo cristão, como o Apóstolo dos Gentios ensina: "Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos mistérios e toda ciência, mesmo que tivesse toda , a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, não sou nada. Ainda que distribuísse todos meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada valeria! A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante. Nem escandalosa. Não busca seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a Verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta." 1 Cor 13,2-7
    Essa é a condição da santidade, da humana perfeição: "Mas, acima de tudo, revesti-vos da caridade, que é o vínculo da perfeição." Cl 3,14
    E assim ele exalta a indefectível unidade da Igreja de Cristo, que é a própria obra da Salvação, bem como o maior sinal do amor e da santidade dos cristãos: "A uns Ele (Cristo) constituiu Apóstolos; a outros, profetas; a outros, evangelistas, pastores, doutores, para o aperfeiçoamento dos cristãos, para o desempenho da tarefa que visa à construção do Corpo de Cristo, até que todos tenhamos chegado à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos o estado de homem feito, a estatura da maturidade de Cristo." Ef 4,11-13
    Ora, foi nesse sentido que Jesus afirmou este amor: "Nisto todos conhecerão que sois Meus discípulos, se vos amardes uns aos outros." Jo 13,35
    Essa Unidade em torno da Igreja é mais que compreensível em função da obrigação de preservar o Precioso Depósito, o Evangelho que a ela foi confiado. São Paulo explica: "Todavia, se eu tardar, quero que saibas como deves portar-te na Casa de Deus, que é a Igreja de Deus Vivo, coluna e sustentáculo da Verdade." 1 Tm 3,15
    Isso leva a entender o amor que o próprio Jesus tem pela Igreja: "... Cristo amou a Igreja e Se entregou por ela para santificá-la, purificando-a pela Água do Batismo com a Palavra, para apresentá-la a Si mesmo toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito, mas santa e irrepreensível. Este mistério é grande, quero dizer, com referência a Cristo e à Igreja." Ef 5,25b-27.32
    E como Ele ensinou sobre o amor maior, este Apóstolo diz em que consiste essa entrega: "Progredi na caridade, segundo o exemplo de Cristo, que nos amou e por nós entregou-Se a Deus como oferenda e sacrifício de agradável odor." Ef 5,2
    Com efeito, morrermos com Ele é o sentido da Santa Missa: "Eu exorto-vos, pois, irmãos, pela Misericórdia de Deus, a oferecerdes vossos corpos em vivo, santo e agradável sacrifício a Deus: é este vosso culto espiritual." Rm 12,1
    Por sua profunda experiência do amor de Deus, ele não o dizia apenas em sentido figurado, como veio a ser seu martírio: "Ainda que tenha de derramar meu sangue sobre o sacrifício em homenagem à vossa fé, eu alegro-me e felicito-vos." Fl 2,17
    E seus seguidores, cuidando de animar todo rebanho, faziam eco a suas palavras: "Ainda não tendes resistido até o sangue, na luta contra o pecado." Hb 12,4
    Sem dúvida, São João Evangelista ouviu de Jesus palavras de advertência, para que, em nome de um verdadeiro sacrifício de louvor, antes se cumpra em nós a completa purificação dos pecados. Está no Livro do Apocalipse: "Eu repreendo e castigo aqueles que amo. Reanima teu zelo, pois, e arrepende-te." Ap 3,19
    E São Tiago Menor apregoa: "Feliz o homem que suporta a tentação. Porque depois de sofrer a provação receberá a coroa da vida, que Deus prometeu aos que O amam. Cada um é tentado pela sua própria concupiscência, que o atrai e alicia. A concupiscência, depois de conceber, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte." Tg 1,12.14-15


AMAR A DEUS COM O PRÓPRIO AMOR DE DEUS

    Assim, pela guarda dos Mandamentos, o amor com que Deus nos ama passa a ser o mesmo que temos por Ele. É o que se depreende do pedido de Jesus ao Pai, quando intercedia pelos Apóstolos na oração da Unidade: "Manifestei-lhes Teu Nome, e ainda hei de manifestá-lhO, para que o amor com que Me amaste neles esteja, e Eu neles." Jo 17,26
    São João Evangelista aponta essa mesma fonte: "Caríssimos, amemo-nos uns aos outros porque o amor vem de Deus. E todo aquele que ama é nascido de Deus, e conhece a Deus." 1 Jo 4,7
    Ele explicita: "Mas amamos porque Deus nos amou primeiro." 1 Jo 4,19
    E explica como se dá a Comunhão com Deus: "Nós conhecemos e cremos no amor que Deus tem para conosco. Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele." 1 Jo 4,16
    Alegando o Sacrifício Pascal de Cristo, ele diz como nos foi dado conhecer esse amor e qual sua finalidade: "Nisto manifestou-se o amor de Deus para conosco: em ter-nos enviado Seu Único Filho ao mundo, para que por Ele vivamos. E nós vimos e testemunhamos que o Pai enviou Seu Filho como Salvador do mundo." 1 Jo 4,9.14
    Também identifica que, por franca antecipação, fomos libertos por esse amor: "Nisto consiste o amor: não em termos nós amado a Deus, mas em Ele ter-nos amado, e enviado Seu Filho para expiar nossos pecados." 1 Jo 4,10
    Por isso, exclama: "Considerai com que amor nos amou o Pai, para que sejamos chamados filhos de Deus." 1 Jo 3,1a
    Afirma, como São Paulo disse ao falar de penhor, que o Santo Paráclito é o selo de amor que temos de Deus: "Se mutuamente nos amarmos, Deus permanece em nós e Seu amor em nós é perfeito. Nisto é que conhecemos que n'Ele estamos e Ele em nós, por Ele ter-nos dado Seu Espírito." 1 Jo 4,12b-13
    Trata-se, pois, do mesmo amor de Salvação, do amor do Sacrifício Pascal, do amor de compromisso com os demais: "Nisto temos conhecido o amor: Jesus deu Sua vida por nós. Nós também devemos dar nossa vida pelos nossos irmãos." 1 Jo 3,16
    E detalha: "No amor não há medo. Ao contrário, o perfeito amor lança fora o medo, pois o medo implica castigo, e aquele que tem medo não chegou à perfeição do amor." 1 Jo 4,18
    O salmista, no entanto, já via tal sacrifício como mera consequência da fé: "Mas por Vossa causa somos entregues à morte todos dias, e tratados como ovelhas de matadouro." Sl 43,23
    Neste caminho da Cruz, São Pedro propõe essa ascese, que culmina na caridade: "Por estes motivos, esforçai-vos quanto possível por unir à vossa fé a virtude, à virtude a ciência, à ciência a temperança, à temperança a paciência, à paciência a piedade, à piedade o fraterno amor, e ao fraterno amor a caridade." 2 Pd 1,5-7
    Citando o Livro dos Provérbios, ele indica no amor nossa intangível luta contra o pecado: "Antes de tudo, mantende entre vós uma ardente caridade, porque o amor cobre a multidão dos pecados (Pr 10,12)." 1 Pd 4,8
    De fato, sobre a mulher adúltera que Lhe lavou os pés com lágrimas, Jesus havia afirmado a um fariseu, que quis ser seu anfitrião: "Por isso, digo-te: seus numerosos pecados foram-lhe perdoados, porque ela tem demonstrado muito amor. Mas ao que pouco se perdoa, pouco ama." Lc 7,47
    São Paulo fala em algo parecido: "... leveis uma vida digna da vocação à qual fostes chamados, com toda humildade e amabilidade, com grandeza de alma, mutuamente suportando-vos com caridade." Ef 4,2
    Também pediu pelos 'de fora', dizendo aos tessalonicenses: "Que o Senhor vos faça crescer e avantajar em mútua caridade e para com todos homens, como é nosso amor para convosco. Que Ele confirme vossos corações e os torne irrepreensíveis e santos na presença de Deus, Nosso Pai..." 1 Ts 3,12-13a
    Ressalvava, porém, a especial atenção que se deve à Igreja: "Por isso, enquanto temos tempo, façamos o bem a todos homens, mas particularmente aos irmãos na fé." Gl 6,10
    Porque afirmava o amor a Deus como vínculo da Divina Graça: "A Graça esteja com todos que amam Nosso Senhor Jesus Cristo com inalterável e eterno amor." Ef 6,24
    E firmando propósito na imprescindível Luz do Evangelho, ele reza: "Peço, em minha oração, que vossa caridade se enriqueça cada vez mais de compreensão e critério, com que possais discernir o que é mais perfeito e vos tornei puros e irrepreensíveis para o Dia de Cristo, cheios de frutos da justiça, que provêm de Jesus Cristo, para a Glória e louvor de Deus." Fl 1,9-11
    Exorta: "Enfim, irmãos, nós pedimo-vos e exortamos, no Senhor Jesus, que sempre mais progridais no modo de proceder para agradar a Deus. Vós aprendeste-lo de nós, e já o praticai. Todavia continueis cada vez mais progredindo." 1 Ts 4,1
    Repete um ensinamento que Jesus evocou, como vimos: "Pelo contrário, fazei-vos servos uns dos outros pela caridade, porque toda a Lei se encerra num só preceito: 'Amarás teu próximo como a ti mesmo' (Lv 19,18)." Gl 5,13b-14
    Em perfeita consonância com São João Evangelista, ele afirma: "... a caridade é o pleno cumprimento da Lei." Rm 13,10
    E diz como deve ser nosso proceder para com todo zelo religioso: "Acolhei aquele que é fraco na fé, com bondade, sem discutir suas opiniões. Quem distingue um dia do outro faz isso por amor ao Senhor. Quem de tudo come, tudo come para a Glória do Senhor, pois, ao comer, dá graças a Deus; e quem não come, deixa de comer por amor ao Senhor, e ele também dá graças a Deus. Nenhum de nós vive para si, e ninguém morre para si. Se vivemos, vivemos para o Senhor; se morremos, morremos para o Senhor. Quer vivamos quer morramos, pertencemos ao Senhor. Não venha a tornar-se objeto de calúnia tua vantagem." Rm 14,1.6-8.16
    Todavia, ao referir-se à resistência dos judeus à Manifestação de Jesus, ele lamenta a religiosidade desprovida de entendimento. Ora, o Profeta Isaías anunciava o Servo Sofredor: "Irmãos, o desejo de meu coração e a súplica que por eles dirijo a Deus são para que se salvem. Pois lhes dou testemunho de que têm zelo por Deus, mas um zelo sem discernimento. Desconhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer sua própria justiça, não se sujeitaram à justiça de Deus. Porque Cristo é o fim da Lei, para justificar todo aquele que crê." Rm 10,1-4
    E por isso questionava o indevido emprego do dom de línguas: "Se eu oro em virtude do dom das línguas, meu espírito ora, mas meu entendimento fica sem fruto. Então, que fazer? Orarei com o espírito, mas também orarei com o entendimento; cantarei com o espírito, mas também cantarei com o entendimento." 1 Cor 14,14-15
    O Príncipe dos Apóstolos, por fim, ressaltando o necessário concurso da razão para que se alcance a Salvação, em exortação argumenta no mesmo sentido: "Estai sempre prontos a responder para vossa defesa a todo aquele que vos pedir a razão de vossa esperança, mas fazei-o com suavidade e respeito. Tende uma reta consciência a fim de que, mesmo naquilo em que dizem mal de vós, sejam confundidos aqueles que desacreditam vosso santo procedimento em Cristo." 1 Pd 3,15b-16
    E vê no salvífico amor a fonte da verdadeira alegria: "Este Jesus, vós amai-Lo sem O terdes visto; n'Ele credes ainda sem O verdes, e isto é para vós a fonte de uma inefável e gloriosa alegria, porque vós estais certos de obter, como preço de vossa fé, a Salvação de vossas almas." 1 Pd 1,8-9

    "Confirmai Vosso povo na Unidade!"