quarta-feira, 31 de maio de 2023

Nossa Senhora da Visitação


    Assim narra São Lucas a Visitação de Nossa Senhora a Santa Isabel:

    "No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem que se chamava José, da casa de Davi, e o nome da virgem era Maria. Entrando, o anjo disse-lhe:
    - Ave, cheia de Graça, o Senhor é contigo!
    Perturbou-se ela com estas palavras, e pôs-se a pensar o que significaria tal saudação. O anjo disse-lhe:
    - Não temas, Maria, pois encontraste Graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um Filho, e por-Lhe-ás o Nome de Jesus. Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus dá-Lhe-á o trono de Seu pai Davi. Ele reinará eternamente na Casa de Jacó, e Seu Reino não terá fim.
    Maria perguntou ao anjo:
    - Como se fará isso, pois não conheço homem?
    Respondeu-lhe o anjo:
    - O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo envolvê-te-á com Sua sombra. Por isso, o Santo Ente que nascer de ti será chamado Filho de Deus. Isabel, tua parenta, também concebeu um filho em sua velhice. E já está no sexto mês aquela que é tida por estéril, porque a Deus nenhuma coisa é impossível.
    Então disse Maria:
    - Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo tua palavra.
    E o anjo afastou-se dela.
    Naqueles dias, Maria levantou-se e às pressas foi às montanhas, a uma cidade de Judá. Entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel.
    Ora, Isabel apenas ouviu a saudação de Maria e a criança estremeceu em seu seio. Isabel ficou cheia do Espírito Santo, e exclamou em alta voz:
    - Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto de teu ventre! Donde me vem esta honra? De vir a mim a Mãe de Meu Senhor? Pois assim que a voz de tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria em meu seio. Bem-aventurada és tu que creste, pois da parte do Senhor hão de cumprir-se as coisas que te foram ditas!
    E Maria disse:
    - Minha alma glorifica ao Senhor,
    meu espírito exulta de alegria em Deus, Meu Salvador,
    porque olhou para sua pobre serva.
    Por isto, desde agora todas gerações
    proclamá-me-ão bem-aventurada,
    porque em mim realizou maravilhas Aquele que é poderoso.
    Seu Nome é Santo,
    e Sua Misericórdia estende-se de geração em geração
    sobre os que O temem.
    Manifestou o poder de Seu braço,
    desconcertou os corações dos soberbos.
    Derrubou do trono os poderosos
    e exaltou os humildes.
    Saciou de bens os indigentes
    e despediu de mãos vazias os ricos.
    Acolheu a Israel, Seu servo,
    lembrado de Sua Misericórdia,
    conforme prometera a nossos pais,
    em favor de Abraão e sua posteridade, para sempre.

    Maria ficou com Isabel cerca de três meses. Depois voltou para casa." 
                                                 Lc 1,26-56


NOSSA MÃE EM VISITAÇÃO POR MUNDO TODO

    Avisada pelo Arcanjo São Gabriel da gravidez de sua parenta, Maria viajou aproximadamente 100 quilômetros em companhia de São José para visitá-la, numa cidade das montanhas de Judá. Ou seja, além da radiante alegria que por tão grandes Graças partilhavam entre si, mesmo durante a gravidez que traria ao mundo o Salvador ela não poupou esforços para servir a quem precisava. Ciosa dos cuidados da casa de Santa Isabel em tão especial momento, Nossa Senhora aí ficou até o Nascimento de São João Batista.
    Mas as visitações de Nossa Senhora não parariam por aí. Nem seus primorosos auxílios. Recordando o casamento em Caná da Galileia, Maria estava lá com Jesus e Seus discípulos. E sempre muito atenciosa e prestativa, Nossa Mãe percebeu que o vinho tinha acabado e avisou a Jesus, o único que poderia evitar uma vexaminosa situação para a família dos noivos. Como Deus, Ele já sabia do embaraço, mas não planejava manifestar-Se publicamente ali, e chegou a alegar que Sua hora ainda não havia chegado.
    Maria, entretanto, por compaixão à família amiga não media esforços. E instou que Jesus usasse de Seus divinos dons, com os quais ela já estava bem acostumada. Nesses dias falava alto seu coração de Mãe, não somente do Messias, mas, em seus primeiros raios, Mãe de toda humanidade. Sem dúvida, após Seu Batismo por São João no Jordão, ela sabia que a vida pública de Seu Filho já havia iniciado, e por isso não se contentou com a explicação que Ele lhe deu: tratou de avisar os serviçais.
    Dada a tão especial natureza de Jesus, os noivos e seus familiares deveriam ser Seus potenciais seguidores, pois fizeram questão de tê-Lo presente mesmo com quase todos Doze Apóstolos, a exceção de São Mateus. E como Maria, além de Perfeita Mãe, era a primeiríssima seguidora de Jesus, lá estava ela, silente, ouvindo cada palavra do Salvador, embora sempre igualmente atenta às alheias dificuldades.
    Ou se os noivos e familiares apenas eram íntimos amigos da Sagrada Família, pois Caná ficava a apenas 8 km de Nazaré, por certo fizeram questão da presença de Maria, atitude que é para todos nós um belo exemplo. Além da harmoniosa e santa interação ente ela e Seu Filho, eles já tinham uma razoável ideia de quem seria aquela flor, a Bem Aventurada, como dissera Santa Isabel.
    Nossa Mãe, contudo, foi muito além em suas visitações. Bem mais que as peregrinações junto a Seu Filho, enquanto Ele estava entre nós, ou junto aos Apóstolos, após Sua Ascensão, que inicialmente se detiveram em Jerusalém.
    Ela já visitou todos continentes por meio de esplendorosas manifestações que são suas Aparições. Aonde pelo mundo foram seus laboriosos filhos, os Sacerdotes, lá ela aparecia para ajudá-los na conversão e Salvação das almas. Veio ao México nos primeiros anos do descobrimento das Américas, em Guadalupe, estabelecer contato com os indígenas, assim como à América do Sul, a Quito, ainda nos anos de 1500, para alertar-nos dos difíceis séculos que se seguiriam.
    A Europa já é um privilegiado lugar com tantas visitas. Também apareceu na África, especialmente em Ruanda, quando tentou evitar o recente e terrível genocídio. Esteve, da mesma forma, na Ásia e na Oceania.
    Seus constantes cuidados, porém, terminam por 'atordoar' os religiosos que precisam dar a palavra final da Igreja a respeito da veracidade das Aparições. Por todo mundo, são listadas mais de 400 só no século passado. Por isso, na década de 1960, diante de tão frequentes afagos da Mãe do Céu, as autoridades eclesiais viram-se na obrigação de simplesmente autorizar a peregrinação e o culto em todos locais onde houver relatos de Aparição, apenas bastando que as mensagens a ela atribuídas não estejam em discordância com a Revelação, com os ensinamentos da Santa Igreja.
    É muito séria e complexa a tarefa de confirmação das aparições e de cada uma de suas mensagens. O certo é que temos muito especial e extremamente benevolente Mãe, correndo o mundo em socorro de seus filhos. E como se pode imaginar, nem todas aparições trazem novas revelações em suas mensagens, mas, mais frequentemente, trata-se de manifestações locais, com específicos objetivos para aquelas pessoas, história e época.
    Das mais recentes, entretanto, junto à Aparição de Medjugorje uma das mais importantes é Aparição de Akita, no Japão, em 1973, cuja mensagem teve aprovação da Igreja e é uma evidente continuação da Aparição de Fátima, como testemunhou a vidente, Irmã Agnes Sasagawa:


    O próprio Bispo de Niigata, antes de aposentar-se, viu-se obrigado a deixar seu relato, que pode ser visto neste sítio: http://www.adf.org.br/home/tag/nossa-senhora-de-akita/
    Assim é Nossa Senhora da Visitação, Nossa Mãe sempre tão ativa e presente apesar de requisitada a cada instante por todos cantos do mundo. Esses fenômenos são muito mais que simples maternal carência de humildes pessoas, como pretendem alguns incrédulos. A gritante Verdade é que boa parte da humanidade claramente percebe seus sobrenaturais cuidados. A quantidade de relatos é praticamente infindável.
    Mas nós podemos e devemos adiantar-nos e poupar-lhe algum esforço. Basta que obedeçamos a Seu Amado Filho e ajudemos a cuidar de nossos mais necessitados irmãos, seus filhos, e que, em agradecimento por seus silenciosos e constantes cuidados, diariamente dirijamos a ela nossas preces para manifestar-lhe amor. Pois com tantos e tão carentes filhos para cuidar, é muito bom que ela não tenha que se preocupar também conosco.
    Ainda podemos, e também devemos, imitá-la em seu maior exemplo como Filha da Deus, oferecendo-nos para mais intensamente trabalhar nas obras do Reino de Seu Filho. Após o anjo ter-lhe anunciado a Concepção do Messias em Seu ventre, ela prontamente respondeu com seu obediente e prestativo amor: "Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo tua palavra." Lc 1,38

    Nossa Senhora da Visitação, rogai por nós!

terça-feira, 30 de maio de 2023

Santa Joana d'Arc


    Nossa Santa viveu as últimas décadas da Guerra dos Cem Anos, dada entre França e Inglaterra. Filha de humildes camponeses, era pastora e não foi alfabetizada. Nascida em 1412, em Domrémy, região de Lorena, nordeste da França, seu pai era agricultor e sua mãe ensinou-lhe domésticos afazeres, que incluíam fiar e costurar. Sempre foi muito religiosa: gostava de rezar e assiduamente ia à Santa Missa. Muitas vezes confiantemente entregava o rebanho à Divina Providência e ia à igreja da cidade, onde passava horas em orações.
    Ainda aos 13 anos começou a ter experiências místicas: de longe ouviu vozes que vinham da igreja que frequentava. Elas provocavam uma inexplicável claridade à sua volta, fenômeno que chegava a repetir-se até três vezes por semana. Mais tarde, ela identificou-as como as vozes de São Gabriel Arcanjo, Santa Catarina de Alexandria e Santa Margarida de Antioquia, avisando da importância de firmemente perseverar na oração, pois Deus reservava-lhe uma difícil missão: haveria de expulsar os ingleses da região da cidade de Orleans. 


    Em 1428, aos 16 anos, recebeu mais específicas mensagens: deveria ir ao encontro do comandante do exército, numa cidade vizinha, e pedir uma escolta que a conduzisse ao rei da França. Seu tio levou-a, mas o comandante riu de suas motivações e das previsões que fazia sobre uma batalha que ocorreria nas proximidades de Orleans, no seguinte ano. Quando elas se cumpriram, porém, e com exatidão como Santa Joana d'Arc havia previsto, o comandante pessoalmente encaminhou-a com toda segurança ao rei. Viajou disfarçada de escudeiro, vestida de armadura como os soldados franceses, por sugestão das vozes que ouvia, artifício que acabou adotando em todas batalhas que liderava.
    Em Chinon, ao sul de Paris, onde o rei estava refugiado, ela reconheceu-o entre vários nobres sem nunca o ter visto, pois ele disfarçava-se por conta dos riscos que corria. Numa sala repleta, ela caminhou diretamente até ele e disse: "Senhor, vim conduzir seus exércitos à vitória!" Foi um grande sinal e muito impressionou o rei, mas ele foi convencido a entregá-la para ser examinada pelas autoridades eclesiásticas de Poitiers, que exaustivamente a interrogaram até convencerem-se de que suas mensagens, de fato, tinham origem divina.
    Ao retornar ao rei, mais uma vez causou-lhe profunda admiração ao demonstrar que conhecia segredos das forças armadas francesas. Absolutamente consciente que ela era inspirada por Deus, em suas mãos entregou um grupamento de 4 mil homens para que libertasse Orleans, conforme pediam-lhe as vozes. E mesmo posicionando-se em meio à batalha, comandando e incentivando os soldados franceses, os ingleses miraculosamente não a atacavam. Por fim, após dez dias de batalha, Orleans foi reconquistada. A despeito das pinturas que a retratam, como arma ela apenas empunhava uma branca bandeira em que ostentava a Cruz, o Nome de Jesus e o Nome de Maria.


    A vitória em Orleans, após tantas e frustradas tentativas, reergueu o moral das tropas e do povo francês, e foi o início da virada. Sob seu comando os franceses também impuseram fragorosas derrotas ao inimigo nas cidades vizinhas: Jargeau, Meung-sur-Loire e Beaugency. A fama de Santa Joana correu toda França e muitos combatentes franceses, que até então lutavam a favor da Inglaterra, passaram a temê-la e mudaram de lado. Os ingleses estavam assombrados com os relatos a seu respeito.


    A cerimônia de coroação de Carlos VII, na cidade de Reims, após uma arriscada viagem praticamente circundando toda Paris, que estava dominada, passando por várias áreas do exército inimigo, é um exemplo de como os caminhos se abriram para ela e para o rei, que fielmente acatava suas instruções. Várias autoridades que viajaram até Reims também tiveram suas passagens liberadas.
    Com a vitória em Orleans, os ingleses esperavam que ela atacasse Paris, mas Santa Joana, inspirada pelas vozes, convenceu o rei a firmar posição em Rouen, mais uma vez circundando Paris e cruzando com o exército francês algumas posições do invasor.


    Embora já tivesse cumprido sua missão, a pedido do rei e por própria vontade Santa Joana d'Arc também foi a campo na batalha pela reconquista de Paris, onde foi ferida por uma flecha. O rei, batendo em retirada, abandonou-a. Sozinha, mas ainda com o exército absolutamente solícito ao seu comando, ela mudou de estratégia e atacou Compiègne, uma pequena cidade ao norte de Paris, porém traiçoeiramente foi aprisionada por nobres da região, que se opunham ao rei da França. Como os soldados franceses não a esqueciam e iriam fazer de tudo para resgatá-la, os ingleses anteciparam-se e pagaram para obter sua guarda. Na verdade, como não podiam matá-la, pois era prisioneira de guerra, eles julgaram-na como feiticeira num processo pretensamente religioso, simulando uma inquisição.
    Aos 19 anos, depois de receber a Comunhão Eucarística, Santa Joana d'Arc foi levada à fogueira, onde padeceu martírio murmurando os nomes de Jesus e Maria. Era 30 de maio de 1431, na Praça Vermelha, em Rouen, no noroeste da França.
    Enquanto alguns gritavam 'bruxa', 'feiticeira', uma multidão de humilde gente comovidamente acompanhou seu sacrifício, que ela enfrentou com muita coragem e . Suas cinzas foram jogadas no Rio Sena, para que não fossem veneradas.
 

    20 anos mais tarde, por falta dos mais elementares fundamentos, o Papa Calisto III considerou inválido o processo de seu julgamento e reabilitou-a como perfeita cristã. Em 1920, como havia muito já pedia o simples e devoto povo do país e de outros lugares, o Papa Bento XV canonizou-a e deu-lhe o título de Padroeira da França.
    Além de muitas igrejas e monumentos por toda França, assim como imagens e estátuas nas principais catedrais, o local de seu martírio, em Rouen, foi preservado e uma moderna igreja, dessas mórbidas inovações, foi construída em sua homenagem.


    Santa Joana d'Arc, rogai por nós!

segunda-feira, 29 de maio de 2023

Testemunhar Jesus


    Todos que cremos em Jesus temos uma premente missão: ser Suas testemunhas. Está claro, Deus quer-nos ativos participantes na construção de Seu Reino, o que devemos fazer dando exemplo por atitudes e sendo capazes de explicar a razão de nossa . São Pedro dava essa recomendação: "Antes santificai em vossos corações Cristo, o Senhor. Estai sempre prontos para dar a razão de vossa esperança a todo aquele que vos pedir, mas fazei-o com suavidade e respeito." 1 Pd 3,15b
    Sacerdotes e fiéis, pois, estamos incumbidos desse serviço em defesa da Verdade, o que inclui a caridade material para com nossos irmãos. E tudo começou com os Apóstolos, pois exatamente para isso foram chamados. Antes de subir aos Céus, Jesus disse-lhes: "... mas descerá sobre vós o Espírito Santo e dá-vos-á força. E sereis Minhas testemunhas em Jerusalém, em toda Judeia e Samaria, e até os confins do mundo." At 1,8
    Por isso, diante da primeira leva de pagãos a serem convertidos ao Cristianismo, São Pedro abertamente declarava qual a missão dos Doze: "E nós somos testemunhas de tudo que Ele fez na terra dos judeus e em Jerusalém." At 10,39
    Mas, como visto, os Apóstolos não estavam sós: tinham o Divino Auxílio. Logo após iniciarem suas pregações, o Príncipe dos Apóstolos alegou perante o Sinédrio: "O Deus de nossos pais ressuscitou Jesus, que vós matastes, suspendendo-O num madeiro. Deus elevou-O pela mão direita como Príncipe e Salvador, a fim de dar a Israel o arrependimento e a remissão dos pecados. Deste fato nós somos testemunhas! Nós e o Espírito Santo, que Deus deu a todos aqueles que Lhe obedecem." At 5,30-32
    Pois assim acontece a verdadeira pregação da Palavra, como ele disse em carta apostólica: "... estas revelações que agora vos têm sido anunciadas por aqueles que vos pregaram o Evangelho da parte do Espírito Santo, enviado do Céu." 1 Pd 1,12b
    São Paulo diz o mesmo: "Nosso Evangelho foi-vos pregado não somente por palavra, mas também com poder, com o Espírito Santo e com plena convicção." 1 Ts 1,5a
    E São Tiago Menor diz das decisões da Igreja, como se deu no primeiro Concílio de Jerusalém: "Com efeito, pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor outro peso além do indispensável seguinte..." At 15,28
    Ora, essa era uma promessa de Jesus: "E Eu rogarei ao Pai, e Ele dá-vos-á outro Paráclito, para que convosco fique eternamente." Jo 14,16
    Como não poderia deixar de ser, o Antigo Testamento e os Evangelhos foram escritos sob Sua inspiração. São Pedro atesta: "Porque jamais uma profecia foi proferida por efeito de uma vontade humana. Homens inspirados pelo Espírito Santo falaram da parte de Deus." 2 Pd 1,21
    E foram fundamentados nos testemunhos dos Apóstolos, como São Lucas garantiu: "... como nos transmitiram aqueles que desde o princípio foram testemunhas oculares, e que se tornaram Ministros da Palavra." Lc 1,2
    Jesus havia-lhes garantido: "Se guardaram Minha Palavra, também hão de guardar a vossa." Jo 15,20b
    E também prometeu Sua constante presença entre os membros da Igreja: "Eis que convosco estou todos dias, até o fim do mundo." Mt 28,20b
    Claro, porém, desde que realmente estejamos reunidos em Seu Nome: "Porque onde dois ou três estão reunidos em Meu Nome, aí estou Eu em meio a eles." Mt 18,20
    São Lucas narra a cena em que Jesus, logo em Sua primeira Aparição aos Apóstolos no Domingo da Ressurreição, explica-lhes as profecias que se cumpriram por Sua Paixão e Ressurreição e diz-lhes: "Vós sois as testemunhas de tudo isso." Lc 24,48
    Sem dúvida, nos primeiros anos da anunciação do Evangelho, a principal prova da Vinda do Messias era o testemunho ocular de Sua Ressurreição. Tanto que, ao escolher o substituto para o lugar de Judas Iscariotes, um dos indicados foi São Matias porque já estava com os Apóstolos e com Jesus desde o início de Seu Batismo por São João Batista até a Ascensão. E foi São Pedro, inspirado pelo Espírito Santo, que tomou essa decisão: "Convém que destes homens que têm estado em nossa companhia todo tempo em que o Senhor Jesus viveu entre nós, a começar do Batismo de João até o dia em que de nosso meio foi arrebatado, um deles torne-se conosco testemunha de Sua Ressurreição." At 1,21-22
    Assim, representados pela figura de São Pedro, os Apóstolos fielmente vão cumprir essa missão, como ele afirma diante do povo no Templo de Jerusalém após haver curado um aleijado: "Mas Deus ressuscitou-O dentre os mortos: disso nós somos testemunhas." At 3,15b
    E faziam-no com todo empenho: "Com grande coragem os Apóstolos davam testemunho da Ressurreição do Senhor Jesus. Em todos eles, era grande a Graça." At 4,33
    Essas testemunhas, entre as quais São Matias, foram agraciadas por Deus para cumprir outra muito especial missão: fazer parte da nascente Igreja, pois o Ministério da Palavra só foi entregue a um específico grupo, que tem por mister manter-se unido. À ela São Paulo assim refere-se: "... quero que saibas como deves portar-te na Casa de Deus, que é a Igreja de Deus Vivo, coluna e sustentáculo da Verdade." 1 Tm 3,15
    São Pedro, de fato, vai resguardar a missão dos Doze Apóstolos, antes da escolha dos sete diáconos: "Portanto, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de Sabedoria, aos quais encarregaremos este ofício. Nós atenderemos sem cessar à oração e ao Ministério da Palavra." At 6,3-4
    É isso que ele vai pregar na casa de Cornélio, centurião da corte Itálica: "Mas Deus ressuscitou-O no terceiro dia, concedendo-Lhe manifestar-Se não a todo o povo, mas às testemunhas que Deus havia escolhido, a nós que com Ele comemos e bebemos, depois que ressuscitou." At 10,40-41
    Com efeito, Jesus havia assegurado a vitória aos Onze: "Não fostes vós que Me escolhestes, mas Eu escolhi-vos e constituí para que vades e produzais fruto, e vosso fruto permaneça" Jo 15,16a
    Por isso, eles são chamados de fundamentos da Igreja por São Paulo: "Consequentemente, já não sois hóspedes nem peregrinos, mas sois concidadãos dos Santos e membros da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos Apóstolos e Profetas, tendo por pedra angular o próprio Cristo Jesus." Ef 2,19-20
    Ele diz que só através do Divino Paráclito podemos ser Igreja: "É n'Ele (Cristo) que vós também entrais, pelo Espírito, na estrutura do edifício que se torna a habitação de Deus." Ef 2,22
    Ora, sequer podemos perceber que Jesus é Deus sem Sua ajuda, como o Último Apóstolo afirma: "... ninguém pode dizer: Jesus é o Senhor, senão sob a ação do Espírito Santo." 1 Cor 12,3b
    Quanto a essa indizível Graça dada aos Apóstolos, que certamente inclui muitas responsabilidades, Jesus comentou: "Ditosos os olhos que vêem o que vós vedes, pois digo-vos que muitos Profetas e reis desejaram ver o que vós vedes, e não o viram; e ouvir o que vós ouvis, e não o ouviram." Lc 10,23-24
    São Paulo, da mesma forma, fazia específica menção à Ressurreição, exaltando o feito que foi e que se comprovou por Suas aparições: "Durante muitos dias apareceu àqueles que com Ele subiram da Galileia a Jerusalém, os quais até agora d'Ele são testemunhas junto ao povo." At 13,31
    Pois ele também foi testemunha da Ressurreição por meio da Aparição que provocou sua conversão, quando Jesus lhe falou: "Mas levanta-te e põe-te em pé, pois Eu apareci-te para fazer-te ministro e testemunha das coisas que viste, e de outras para as quais hei de manifestar-Me a ti." At 26,16
    Aos poucos, contudo, além da Ressurreição, as demais revelações passaram a ser divulgadas, como São Pedro vai pregar: "... testemunhar que Deus O constituiu Juiz dos vivos e dos mortos." At 10,42b
    E assim até chegar à completa compilação dos Evangelhos, que incluem Sua vida, Seus atos e Suas pregações. São Lucas já afirmava em primeiríssimas linhas: "Em minha primeira narração, ó Teófilo, contei toda sequência de ações e de ensinamentos de Jesus..." At 1,1
    Pouco antes de Sua morte, pois, Jesus avisou aos Apóstolos do grande compromisso que eles haviam assumido: "Cuidai de vós mesmos. Sereis arrastados diante dos tribunais e açoitados nas sinagogas, e comparecereis diante dos governadores e reis por Minha causa, para diante deles dar testemunho de Mim." Mc 13,9
    Não o dizia, porém, só a aos Doze, mas a todos que se esforçam por obedecê-Lo e dar testemunho aos irmãos, ou seja, todos nós fazemos parte de Seu Corpo Místico, que é Sua Igreja: "Portanto, quem der testemunho de Mim diante dos homens, Eu também darei testemunho dele diante de Meu Pai que está nos Céus." Mt 10,32
    Assim como não dizia que tal testemunho seria fácil: "Se alguém quiser vir Comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-Me. Porque aquele que quiser salvar sua vida, perdê-la-á. Mas aquele que tiver sacrificado sua vida por Minha causa, recobrá-la-á." Mt 16,24b-25
    Porém, desde então já garantia o divino auxílio do Santo Paráclito: "Quando, porém, levarem-vos às sinagogas, perante os magistrados e as autoridades, não vos preocupeis com o que haveis de falar em vossa defesa, porque naquela hora o Espírito Santo inspirá-vos-á o que deveis dizer." Lc 12,11-12
    Ora, o próprio fim do mundo só dar-se-á quando o Evangelho tiver sido anunciado por toda parte, segundo Suas próprias Palavras: "Este Evangelho do Reino será pregado pelo mundo inteiro para servir de testemunho a todas nações, e então chegará o fim." Mt 24,14
    Na verdade, mesmo antes da convocação dos Apóstolos, testemunhos a favor de Jesus já vinham sendo espontaneamente dados pelo próprio povo de Nazaré, desde o início de Sua vida pública: "Todos davam-Lhe testemunho e admiravam-se das Palavras de Graça, que procediam de Sua boca, e diziam: 'Não é este o filho de José?'" Lc 4,22
    O próprio São João Batista era testemunha de Jesus. E testemunha exemplar, segundo os desígnios de Deus: seu martírio mostra que assumiu as consequências da missão. Sobre ele, São João Evangelista vai dizer: "Houve um homem, enviado por Deus, que se chamava João. Este veio como testemunha, para dar testemunho da Luz, a fim de que por meio dele todos cressem." Jo 1,6-7


TESTEMUNHO: RAZÕES E CONSEQUÊNCIAS

    Aliás, São João Evangelista é pródigo em falar em testemunho. Também cioso de sua missão, ele usa o termo com frequência. É assim que ele registra a reclamação de Jesus a Nicodemos, dizendo que está sendo rejeitado, junto a Seus Apóstolos, pelos religiosos de Jerusalém: "Em Verdade, em Verdade, digo-te: dizemos o que sabemos e damos testemunho do que vimos, mas não recebeis Nosso Testemunho." Jo 3,11
    No entanto, Ele contava com mais uma especialíssima testemunha. E por isso até isentava-Se da obrigação de dar provas de Si mesmo: "Há Outro que dá testemunho de Mim, e Eu sei que o testemunho que dá de Mim é digno de fé. ... o Pai que Me enviou, Ele mesmo deu testemunho de Mim." Jo 5,32.37
    Explicitando Sua Comunhão com o Pai, Ele referia-Se às Suas obras, contundentes provas de Quem Ele é. Sem dúvida, elas são bem maior testemunho que o do Batista: "... tenho maior testemunho que o de João, porque as obras que Meu Pai Me deu para executar, essas mesmas obras que faço, testemunham a Meu respeito, que o Pai Me enviou." Jo 5,36
    São João Evangelista vai apontá-las, entre elas a Ressurreição, como o maior dos testemunhos em favor do Nazareno: "Ora, maior é o testemunho de Deus ... aquele que Ele deu de Seu próprio Filho." 1 Jo 5,9
    E como inicial parte da Revelação, o Antigo Testamento, que profetiza Sua Vinda e Suas obras, também é Sua testemunha. Ao argumentar com os principais dos judeus sobre Sua autoridade, Jesus vai invocá-lo: "Vós perscrutais as Escrituras, nelas julgando encontrar a Vida Eterna. Pois bem! São elas mesmas que dão testemunho de Mim." Jo 5,39
    Não bastante, como vimos São Pedro dizer, o Espírito Santo também O confirmaria como o Cristo. Jesus avisou aos Apóstolos: "Quando vier o Paráclito, que enviar-vos-ei da parte do Pai, o Espírito da Verdade, que procede do Pai, Ele dará testemunho de Mim." Jo 15,26
    E deu estes três detalhes, inerentes à Sua Missão: "E quando Ele vier, convencerá o mundo a respeito do pecado, da justiça e do Juízo. Convencerá o mundo a respeito do pecado, que consiste em não crer em Mim. Convencê-lo-á a respeito da justiça, porque Eu Me vou para junto de Meu Pai e vós já não Me vereis. Convencê-lo-á a respeito do Juízo, que consiste em que o príncipe deste mundo já está julgado e condenado." Jo 16,8-11
    Esse é um argumento que São João Evangelista vai repetir em sua Primeira Carta: "E o Espírito é Quem dá testemunho d'Ele, porque o Espírito é a Verdade." 1 Jo 5,6b
    Ele ainda evoca a Água e o Sangue que, na Cruz, jorraram de Seu lado, que seriam visíveis sinais dos Sacramentos do Batismo e da Eucaristia: "Ei-Lo, Jesus Cristo, Aquele que veio pela Água e pelo Sangue... São, assim, três os que dão testemunho: o Espírito, a Água e o Sangue; estes três dão o mesmo testemunho." 1 Jo 5,6a.7-8
    Por fim, temos que Jesus já havia encarregado os Apóstolos antes mesmo de Sua Paixão, logo após o Lava-Pés, e tão-somente por haverem presenciado toda Sua vida pública: "Vós também dareis testemunho, porque Comigo estais desde o princípio." Jo 15,27
    Diante de Pilatos, em Suas últimas horas, Ele vai sintetizar a essência da Missão que recebeu do Pai, provocando todos nós porque Ele também deu um testemunho, mesmo tendo-Lhe custado a vida: "É para dar testemunho da Verdade que nasci e vim ao mundo. Todo aquele que é da Verdade ouve Minha voz." Jo 18,37
    E Seu testemunho, como disse a Seus incrédulos parentes antes da festa dos Tabernáculos, era muito claro: "O mundo não vos pode odiar, mas odeia-Me porque contra ele Eu testemunho: suas obras são más." Jo 7,7
    De fato, Ele havia dito a Nicodemos: "Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por Ele. Ora, este é o Julgamento: a Luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas que a Luz, pois suas obras eram más." Jo 3,19
    Ciente do compromisso que assumiu, e mantendo sua verve, São João termina seu Evangelho identificando-se e atestando com seu peculiar modo: "Este é o discípulo que dá testemunho de todas essas coisas..." Jo 21,24
    E em sua Primeira Carta vai explicitar: "E o testemunho é este: Deus deu-nos a Vida Eterna, e esta Vida está em Seu Filho. Quem possui o Filho possui a Vida; quem não tem o Filho de Deus não tem a Vida." 1 Jo 5,11-12
    Assim como fez São Paulo, evocando os antigos Profetas como testemunhas da Revelação que culminaria em Jesus, e por isso fundamentos da Igreja junto aos Apóstolos, São Pedro recorda a importância destes arautos da Redenção que só se tem pelo Cristo: "D'Ele todos Profetas dão testemunho, anunciando que todos aqueles que n'Ele creem recebem o perdão dos pecados por meio de Seu Nome." At 10,43
    E com total destemor, o Apóstolo dos Gentios atestava que Jesus é o Messias previsto no Antigo Testamento. É a narração de São Lucas: "Sua presença em Corinto foi, pela Graça de Deus, de muito proveito para os que haviam crido, pois publicamente e com grande veemência refutava os judeus, provando, pelas Escrituras, que Jesus era o Messias." At 18,27a-28
    É o que ele vai dizer durante seu julgamento perante o rei Agripa: "Mas, assistido do socorro de Deus, permaneço vivo até o dia de hoje. Dou testemunho a pequenos e a grandes, nada dizendo senão o que os Profetas e Moisés disseram que havia de acontecer..." At 26,22
    Tinha, porém, além dos auxílios do Santo Paráclito, a guia do Divino Mestre, como aconteceu em Jerusalém logo após sua conversão: "Voltei para Jerusalém e, orando no Templo, fui arrebatado em êxtase. E vi Jesus que me dizia: 'Apressa-te e sai logo de Jerusalém, porque não receberão teu testemunho a Meu respeito.'" At 22,17-18
    Isso tornou a acontecer em Corinto: "Numa noite, o Senhor disse a Paulo em visão: 'Não temas! Fala e não te cales. Porque Eu estou contigo. Ninguém se aproximará de ti para fazer-te mal, pois tenho um numeroso povo nesta cidade.' Paulo deteve-se ali um ano e seis meses, ensinando a eles a Palavra de Deus." At 18,9-11
    Para ele, portanto, testemunhar Jesus é testemunhar a Graça: "... o Ministério da Palavra que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho ao Evangelho da Graça de Deus." At 20,24
    Um dos últimos registros de sua vida, por sinal, é uma prova do absoluto compromisso que tinha com a missão que Nosso Salvador lhe confiou. Deu-se em Roma: "Marcaram um dia e muitos foram procurá-lo no albergue onde se achava hospedado. A entrevista durou desde a manhã até a tarde. Paulo expôs-lhes o Reino de Deus e apresentou, sempre de novo, testemunhos destinados a convencê-los a respeito de Jesus, baseando-se na Lei de Moisés e nos Profetas." At 28,23
    Ele deixou um sério recado para São Timóteo, mas que vale para todos nós: "Não te envergonhes, portanto, do testemunho de Nosso Senhor, nem de mim, Seu prisioneiro, mas sofre comigo pelo Evangelho, fortificado pelo poder de Deus." 2 Tm 1,8
    Pois para quem obteve a Graça de alguma revelação, como ele, testemunhar é uma obrigação: "Anunciar o Evangelho não é glória para mim; é uma obrigação que se me impõe. Ai de mim, se eu não anunciar o Evangelho!" 1 Cor 9,16
    Ele advertia: "A ira de Deus manifesta-se do alto do Céu contra toda impiedade e perversidade dos homens, que pela injustiça aprisionam a Verdade." Rm 1,18
    E pouco antes de ser preso, vai afirmar aos Anciãos de Éfeso: "Vós sabeis como não tenho negligenciado, como não tenho ocultado coisa alguma que vos podia ser útil. Preguei e instruí-vos publicamente e dentro de vossas casas. Preguei a judeus e a gentios a conversão a Deus e a fé em Nosso Senhor Jesus. Portanto, hoje eu protesto diante de vós que sou inocente do sangue de todos, porque nada omiti no anúncio que vos fiz dos desígnios de Deus." At 20,20-21.26
    O salmista, aliás, mesmo antes da Vinda de Cristo já cantava seu compromisso com a Verdade sobre as coisas de Deus: "Anunciei a justiça na grande assembléia. Não cerrei meus lábios, Senhor, bem o sabeis. Não escondi vossa justiça no coração, mas alto proclamei vossa fidelidade e vossa Salvação. À grande assembléia, não ocultei vossa bondade nem vossa fidelidade." Sl 39,10-11
    Ele até reitera esse compromisso através das gerações: "O que ouvimos e aprendemos, através de nossos pais, nada ocultaremos a seus filhos, narrando à geração futura os louvores do Senhor, Seu poder e Suas obras grandiosas." Sl 77,3-4
    Diz que isso é espontâneo, em função da perfeição dos divinos desígnios: "Cada geração apregoa à outra Vossas obras, e proclama Vosso poder. Elas falam do esplendoroso brilho de Vossa Majestade, e publicam Vossas maravilhas. Vosso Reino é Reino Eterno, e Vosso Império subsiste em todas gerações. O Senhor é fiel em Suas Palavras, e Santo em tudo que faz." Sl 144,4-5.13
    Tinha mesmo que atestar: "O sumário de Vossa Palavra é a Verdade, eternos são os decretos de Vossa justiça." Sl 118,160
    E Jesus cobrou dos religiosos de Seu tempo, sob ameaça, a fiel retransmissão da Revelação, sem ocultismo nem manipulação: "Ai de vós, doutores da Lei, que tomastes a chave da ciência, e vós mesmos não entrastes e impedistes aos que vinham para entrar." Lc 11,52
    Cobrava fidelidade às Escrituras: "Ai de vós, hipócritas escribas e fariseus! Pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e desprezais os mais importantes preceitos da Lei: a justiça, a Misericórdia, a fidelidade." Mt 23,23a
    Ele advertia Seus seguidores: "Guardai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia. Porque não há nada oculto que não venha a descobrir-se, e nada há escondido que não venha a ser conhecido. Pois o que dissestes às escuras será dito à Luz, e o que falastes ao ouvido, nos quartos, será publicado de cima dos telhados." Lc 12,1b-3
    Sua Doutrina, portanto, a Igreja abertamente testemunha, nada havendo a ocultar. Ele asseverou: "O que vos digo na escuridão, dizei-o às claras. O que vos é dito ao ouvido, publicai-o de cima dos telhados." Mt 10,27
    E repetiu no dia de Sua Ascensão: "Ide, pois, e ensinai a todas nações. Ensinai-as a observar tudo que vos prescrevi." Mt 28,19a.20a
    Assim reagiram São Pedro e São João Evangelista diante do Sinédrio, quando pela primeira vez foram proibidos de anunciar o Nome de Jesus: "Não podemos deixar de falar das coisas que temos visto e ouvido." At 4,20
    Comprometido em levar a Comunhão ao mundo, o 'amado discípulo', que tanto fala em testemunho, vai dizer: "... damos testemunho e anunciamo-vos a Vida Eterna, que estava no Pai e que Se manifestou. O que vimos e ouvimos nós anunciamo-vos, para que vós também tenhais Comunhão conosco. Ora, nossa Comunhão é com o Pai e com Seu Filho Jesus Cristo." 1 Jo 1,2-3
    E assim ele explicou o motivo de sua prisão, já durante a velhice: "Eu, João, vosso irmão e companheiro nas tribulações, na realeza e na paciência em união com Jesus, estava na ilha de Patmos por causa da Palavra de Deus e do testemunho de Jesus." Ap 1,9
    Neste livro, o Apocalipse, sempre no mesmo sentido ele narra a visão que teve dos mártires, que ao fim de sua vida já eram muitos, incluindo todos demais Apóstolos, e aponta a razão de seus sacrifícios: "Quando abriu o quinto selo, debaixo do Altar vi as almas dos homens imolados por causa da Palavra de Deus e por causa do testemunho de que eram depositários." Ap 6,9
    E exaltando-lhes o despojamento, registrou a vitória deles sobre o inimigo: "Mas estes venceram-no por causa do Sangue do Cordeiro e de Seu eloquente testemunho. Desprezaram a vida até aceitar a morte." Ap 12,11
    Também viu a guerra do inimigo contra os filhos de Nossa Senhora, e sempre expressando a mesma razão: "Cheio de raiva por causa da Mulher, o Dragão então começou a atacar o resto de seus filhos, aqueles que obedecem aos Mandamentos de Deus e mantêm o testemunho de Jesus." Ap 12,17
    Por inspiração, ele atribui ao Tabernáculo, que guardava a Arca da Aliança, um nome que já acusamos ser bem característico de seu vocabulário. Mas não é nenhum exagero: as palavras 'aliança', 'testamento', 'testemunho' e 'martírio' têm o mesmo significado. Diz: "Depois disso, eu vi abrir-se no Céu o Templo que encerra o Tabernáculo do Testemunho." Ap 15,5
    E disse o que significa ser Profeta: "Porque o espírito profético não é outro que o testemunho de Jesus." Ap 19,10
    Por fim, ele vê as almas dos Santos nos Céus, e em especiais lugares por terem cumprido a missão que é de todos cristãos: "Também vi tronos, sobre os quais se assentaram aqueles que receberam o poder de julgar: eram as almas dos que foram decapitados por causa do testemunho de Jesus e da Palavra de Deus... Feliz e Santo é aquele que toma parte na primeira ressurreição! Sobre eles a segunda morte não tem poder, mas serão Sacerdotes de Deus e de Cristo: com Ele reinarão durante os mil anos." Ap 20,4a.6

    "Anunciamos, Senhor, Vossa Morte e proclamamos Vossa Ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!"

domingo, 28 de maio de 2023

Ofensas à Verdade


    O que mais faz falta à humanidade é a pura e simples Verdade. Não são as maiores dificuldades, que padecem nossos mais carentes irmãos, um problema que diz respeito à dignidade humana? Falta-nos encará-los nos olhos e percebê-los como irmãos, filhos do mesmo Pai, dignos dos mesmos direitos que ardorosamente defendemos para nós mesmos. Quanto fingimento nosso e quanta fraqueza de nossas instituições na hora de entregar-lhes o que já é deles por direito. Não nos enganemos: para com eles, acintosamente faltamos com a Verdade!
    E para com Deus? Haveria algo mais nocivo a Seus planos e obras que a mentira? E se nós simplesmente omitíssemo-nos sobre as Graças que diariamente recebemos? E se os Apóstolos se tivessem negado a testemunhar a Ressurreição de Jesus? Para nosso bem, as coisas não se deram assim. São Paulo, demostrando profunda consciência, dizia: "Anunciar o Evangelho não é glória para mim. É uma obrigação que se me impõe. Ai de mim, se eu não anunciar o Evangelho!" 1 Cor 9,16
    Ele ouviu de Jesus, quando começou a pregar em Corinto: "Numa noite, o Senhor disse a Paulo em visão: 'Não temas! Fala e não te cales. Porque Eu estou contigo. Ninguém se aproximará de ti para te fazer mal, pois tenho um numeroso povo nesta cidade.'" At 18,9-10
    O salmista já havia percebido: "Anunciei a justiça na grande assembleia. Não cerrei meus lábios, Senhor, bem o sabeis. Não escondi Vossa justiça no coração, mas alto proclamei Vossa fidelidade e Vossa Salvação. À grande assembleia, não ocultei Vossa bondade nem Vossa fidelidade." Sl 39,10-11
    Então: que compromisso que temos com a Verdade? Não é o mesmo compromisso que temos com Jesus? Não é Ele a própria Verdade, como afirmou? "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida." Jo 14,6a
    Referindo-se aos preceitos do Antigo Testamento, São Paulo exalta o Santíssimo Sacramento, e assim a Igreja enquanto o Corpo Místico de Cristo: "Tudo isto não é mais que sombra do que devia vir. A realidade é o Corpo de Cristo." Cl 2,17
    E como Jesus mesmo declarou, essa foi a razão de ser de Sua Missão. Ele disse perante Pilatos: "É para dar testemunho da Verdade que nasci e vim ao mundo. Todo aquele que é da Verdade ouve Minha voz." Jo 18,37b
    É, pois, imperioso que a busquemos. Ou seremos eternos escravos da mentira ou de seu mais usual substituto: o relativismo! Que liberdade temos, de fato? Realmente conhecemos Jesus? Que princípios guiam nossas vidas? Ele vai dizer aos judeus: "Se permanecerdes em Minha Palavra, sereis Meus verdadeiros discípulos. Conhecereis a Verdade, e a Verdade libertá-vos-á." Jo 8,31-32
    Se dizemos que O seguimos, então temos o compromisso de conhecer a Verdade por Ele anunciada e de vivê-la. São João Evangelista exorta: "Eis como sabemos que O conhecemos: se guardamos Seus Mandamentos. Aquele que diz conhecê-Lo e não guarda Seus Mandamentos, é mentiroso e nele não está a Verdade. Aquele, porém, que guarda Sua Palavra, nele o amor de Deus é verdadeiramente perfeito. É assim que conhecemos se estamos n'Ele: aquele que n'Ele afirma permanecer, também deve viver como Ele viveu." 1 Jo 2,3-6
    Não por acaso, Jesus mesmo arguia a multidão: "Por que Me chamais: Senhor, Senhor... e não fazeis o que digo?" Lc 6,46
    E dentre Seus discípulos, Ele abertamente censurou até mesmo os displicentes, que se tornam propagadores de erros: "Aquele que violar um destes Mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será declarado o menor no Reino dos Céus." Mt 5,19
    Perante os meramente mundanos, Ele chegava a apelar para Seus milagres, que desde então estão por toda parte: "Se Eu não faço as obras de Meu Pai, não Me creiais. Mas se as faço e não quiserdes crer em Mim, crede em Minhas obras, para que saibais e reconheçais que o Pai está em Mim e Eu no Pai." Jo 10,37-38
    Por isso, sentenciou: "Respondeu-lhes Jesus: 'Se fôsseis cegos não teríeis pecado, mas, como dizeis ver, vosso pecado subsiste.'" Jo 9,41
    E acenando para a pena capital, duramente falou sobre a hipocrisia: "Uma boa árvore não pode dar maus frutos; nem uma má árvore, bons frutos. Toda árvore que não der bons frutos será cortada e lançada ao fogo. Por seus frutos, conhecê-las-eis. Nem todo aquele que Me diz: 'Senhor, Senhor', entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que faz a vontade de Meu Pai que está nos Céus." Mt 7,18-21
    Nesse sentido, São Paulo questiona imaturos e inconstantes, e pergunta se é realmente a Jesus que se tem como Mestre: "Portanto, eis o que digo e conjuro no Senhor: não persistais em viver como os pagãos, que andam à mercê de suas frívolas ideias. Eles têm o entendimento obscurecido. Sua ignorância e o endurecimento de seu coração mantêm-nos afastados da Vida de Deus. Indolentes, entregaram-se à dissolução, à apaixonada prática de toda espécie de impureza. Vós, porém, não foi para isto que vos tornastes discípulos de Cristo, se é que O ouvistes e d'Ele aprendestes, como convém à Verdade em Jesus." Ef 4,17-21
    Como ele ensina, Jesus deixou a Igreja justamente para nosso amadurecimento espiritual: "A uns Ele constituiu Apóstolos; a outros, profetas; a outros, evangelistas, pastores, doutores, para o aperfeiçoamento dos cristãos, para o desempenho da tarefa que visa à construção do Corpo de Cristo, até que todos tenhamos chegado à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos o estado de homem feito, a estatura da maturidade de Cristo. Para que não continuemos crianças ao sabor das ondas, agitados por qualquer sopro de doutrina, ao capricho da malignidade dos homens e de seus enganadores artifícios." Ef 4,11-14
    Pois o simples ato de sonegar a Verdade já representa atrair para si a ira de Deus: "A ira de Deus manifesta-se do alto do Céu contra toda impiedade e perversidade dos homens, que pela injustiça aprisionam a Verdade." Rm 1,18
    E é isso o que se faz quando se falta à Santa Missa: "Porque, conhecendo a Deus, não O glorificaram como Deus, nem Lhe deram graças. Pelo contrário, extraviaram-se em seus vãos pensamentos e obscureceu-se-lhes o insensato coração. Pretendendo-se sábios, tornaram-se estultos." Rm 1,21-22
    Jesus, portanto, quer tirar-nos da incredulidade, conduzindo-nos à religiosidade"Veio para ensinar-nos a renunciar à impiedade e às mundanas paixões, e a viver neste mundo com toda sobriedade, justiça e piedade..." Tt 2,12
    O cego de nascença curado por Jesus havia atinado: "Sabemos, porém, que Deus não ouve a pecadores, mas atende a quem Lhe presta culto e faz Sua vontade."Jo 9,31
    E Jesus mesmo determinou o verdadeiro culto: "Mas vem a hora, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai em espírito e Verdade, e são esses adoradores que o Pai deseja. Deus é Espírito, e Seus adoradores devem adorá-Lo em espírito e Verdade." Jo 4,23-24
    De fato, segundo o Último Apóstolo, a Verdade, como Jesus Se identificou, é nosso único caminho: "Examinem-se a si próprios e vejam se estão firmes na . Façam uma revisão de si mesmos. Nada podemos contra a Verdade. Só temos poder em favor da Verdade." 2 Cor 13,5.8
    Ora, um dos 10 Mandamentos condena precisamente a falta de sinceridade: "Não levantarás falso testemunho contra teu próximo." Ex 20,16
    É necessário, entretanto, examinar os desdobramentos dessa norma. Ela vai muito além do falso testemunho, tem outras implicações. A questão mais séria é: que testemunho temos dado com nossas ações? Jesus cravou: "Vós sois Meus amigos se fazeis o que vos mando." Jo 15,14
    Com todas letras, Ele disse que a mentira carrega em si o espírito das trevas, e que ela frontalmente atenta contra a Vida Eterna. Foi quando denunciou os falsos religiosos de Jerusalém: "Vós tendes como pai o Demônio e quereis fazer os desejos de vosso pai. Ele era homicida desde o princípio e não permaneceu na Verdade, porque a Verdade não está nele. Quando diz a mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira." Jo 8,44
    Ele fulminou, por isso, a hipocrisia: "Isaías com muita razão profetizou de vós, hipócritas, quando escreveu: 'Este povo honra-Me com os lábios, mas seu coração está longe de Mim.'" Mc 7,6
    E condenou, ademais, toda preguiçosa e escusa consciência, como os discípulos que partiram para Emaús antes de testemunhar Sua Ressurreição: "Ó gente sem inteligência! Como sois tardos de coração para crerdes em tudo que anunciaram os Profetas!" Lc 24,25
    São Pedro falou da verdadeira função do Batismo: "Esta água prefigurava o Batismo de agora, que também vos salva. Não pela purificação das impurezas do corpo, mas pela que consiste em pedir a Deus uma boa consciência, pela Ressurreição de Jesus Cristo." 1 Pd 3,21
    São Tiago Menor também foi contundente ao falar do vício das inverdades: "Se alguém pensa ser piedoso, mas não refreia sua língua e engana seu coração, então é vã sua religião." Tg 1,26
    Ele questionava: "Todas espécies de feras selvagens, de aves, de répteis e de peixes do mar domam-se e têm sido domadas pela espécie humana. A língua, porém, nenhum homem pode domá-la. É um irrequieto mal, cheia de mortífero veneno. Com ela bendizemos o Senhor, Nosso Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. De uma mesma boca procede a bênção e a maldição. Não convém, meus irmãos, que assim seja. Porventura lança uma fonte, por uma mesma bica, doce e amargosa água?" Tg 3,7-11
    E pedia compaixão: "Meus irmãos, não faleis mal uns dos outros. Quem fala mal de seu irmão ou julga-o, fala mal da Lei e julga a Lei. E se julgas a Lei, já não és observador da Lei, mas seu juiz." Tg 4,11
    São João Evangelista convoca-nos a assumir plenamente a fé, pela prática da Comunhão e da Confissão: "Se dizemos ter Comunhão com Ele, mas andamos nas trevas, mentimos e não seguimos a Verdade. Se, porém, andamos na Luz como Ele mesmo está na Luz, temos Comunhão uns com os outros, e o Sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, purifica-nos de todo pecado. Se dizemos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e a Verdade não está em nós. Se confessamos nossos pecados, Deus aí está, fiel e justo, para perdoar-nos os pecados e purificar-nos de toda iniquidade. Se pensamos não ter pecado, nós declaramo-Lo mentiroso e Sua Palavra não está em nós." 1 Jo 1,6-10
    A luta contra a mentira, porém, não se faz apenas denunciando-a, pois Jesus não nos quer em querelas, em guerras de maledicências. São Paulo recomenda a São Timóteo: "Rejeita as tolas e absurdas discussões, visto que geram contendas. Não convém a um servo do Senhor altercar. Bem ao contrário, seja ele condescendente com todos, capaz de ensinar, paciente em suportar os males. É com brandura que deve corrigir os adversários, na esperança de que Deus lhes conceda o arrependimento e o conhecimento da Verdade, e voltem a si, uma vez livres dos laços do demônio, que a seus caprichos os mantém cativos e submetidos." 2 Tm 2,23-26
    Principalmente entre cristãos, como o Apóstolo dos Gentios diz aos colossenses: "Portanto, como eleitos de Deus, santos e queridos, revesti-vos de entranhada misericórdia, de bondade, humildade, doçura, paciência. Suportai-vos uns aos outros e mutuamente perdoai-vos toda vez que tiverdes queixa contra outrem. Como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós." Cl 3,12-13
    Para um homem de Deus, então, querelas equivalem a um escândalo e afastam as pessoas da Igreja: "Lembra-lhes estas coisas e conjura-os, por Deus, a evitarem discussões de palavras, que só servem para a perdição dos ouvintes. Empenha-te em apresentar-te diante de Deus como homem digno de aprovação, operário que não tem de que se envergonhar, íntegro distribuidor da Palavra da Verdade. Procura esquivar-te das frívolas conversas dos mundanos, que só contribuem para a impiedade. As palavras dessa gente destroem como a gangrena." 2 Tm 2, 14-17a
    Isso não significa ser omisso diante de graves questões. Ele pedia aos tessalonicenses: "Pedimo-vos, porém, irmãos, corrigi os desordeiros, encorajai os tímidos, amparai os fracos e tende paciência para com todos." 1 Ts 5,14
    Denunciava gnósticos e esotéricos: "Essas coisas, em vez de promoverem a obra de Deus, que se baseia na fé, só servem para ocasionar disputas. Esta recomendação só visa a estabelecer a caridade, nascida de um puro coração, de uma boa consciência e de uma sincera fé. Apartando-se desta norma, alguns se entregaram a vãos discursos. Pretensos doutores da Lei, que não compreendem nem o que dizem nem o que afirmam." 1 Tm 1,4b-7
    Acusava-os, em específico, dentro da Igreja ou sobre assuntos de seu ministério: "E ninguém vos seduza com vãos discursos. Estes são os pecados que atraem a ira de Deus sobre os rebeldes. Não vos comprometais com eles. Outrora éreis trevas, mas agora sois Luz no Senhor: comportai-vos como verdadeiras luzes. Ora, o fruto da Luz é bondade, justiça e Verdade. Procurai o que é agradável ao Senhor, e não tenhais cumplicidade nas infrutíferas obras das trevas. Pelo contrário, abertamente condenai-as! Porque as coisas que tais homens ocultamente fazem, até delas falar é vergonhoso." Ef 5,6-12
    Ele determinou a São Tito: "O homem que assim fomenta divisões, depois de advertido uma primeira e uma segunda vez, evita-o, visto que esse tal é um perverso, e perseverando em seu pecado condena a si próprio." Tt 3,10-11
    E chegou a excomungar um pervertido da igreja de Corinto: "Em Nome do Senhor Jesus, reunidos vós e meu espírito, com o poder de Nosso Senhor Jesus, seja esse homem entregue a Satanás, para mortificação de seu corpo, a fim de que sua alma seja salva no Dia do Senhor Jesus." 1 Cor 5,4-5
    Entretanto, aconselhou quanto aos demais: "Procedei com Sabedoria no trato com os de fora. Sabei aproveitar todas circunstâncias. Que vossas conversas sejam sempre amáveis, temperadas com sal, e a cada um sabei responder devidamente." Cl 4,5-6
    Pois perante Deus temos por maior dever dar testemunho do bem, de bem falar do que é correto e das boas obras das pessoas. Mais: temos mesmo que procurar nas palavras dos outros sempre o melhor sentido, fazendo vista grossa aos menores ataques e intrigas. A palavra 'benção' vem de 'bendição', que é 'bendizer' as coisas e as pessoas. Jesus pregou a todos: "... abençoai aqueles que vos maldizem e orai pelos que vos injuriam." Lc 6,28
    Ainda disse que, a despeito de toda calúnia e perseguição, nossas bendições, ou seja, nosso bom testemunho d'Ele, e de tudo o que é d'Ele, sempre será recompensado: "Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e falsamente disserem todo mal contra vós por causa de Mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos Céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós." Mt 5,11-12
    Ele proíbe-nos, portanto, de todo maldizer sem razão objetivamente válida, de toda e qualquer pequena ofensa aos nossos irmãos, que terão a maior punição se não houver arrependimento: "Aquele que a seu irmão disser: 'Bobo', será castigado pelo Grande Conselho. Aquele que lhe disser: 'Louco', será condenado ao fogo do inferno." Mt 5,24
    Ao invés de falar por falar das coisas más e erradas, devemos comprometer-nos em anunciar as coisas celestiais como Ele ordenou: "... tu, porém, vai e anuncia o Reino de Deus." Lc 9,60
    Foi exatamente isso o que fez Santa Isabel, ao receber a visita de Nossa Senhora: "Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o Fruto do teu ventre." Lc 1,42b
    Porque, se bem observarmos, são tantas as boas coisas que Deus já nos tem feito. Jesus determinou ao geraseno que exorcizou: "Vai para casa, para junto dos teus e anuncia-lhes tudo que o Senhor fez por ti, e como Se compadeceu de ti." Mc 5,19
    Ele firmou perante Jerusalém: "Porque Eu vos digo: já não Me vereis de hoje em diante, até que digais: 'Bendito seja Aquele que vem em Nome do Senhor.'" Mt 23,39
    E afirmou: "Portanto, quem der testemunho de Mim diante dos homens, Eu também darei testemunho dele diante de Meu Pai que está nos Céus. Aquele, porém, que Me negar diante dos homens, Eu também negá-lo-ei diante de Meu Pai que está nos Céus." Mt 10,32-33
    São Paulo, falando da nova criatura que nasce em Cristo, expressamente diz: "Agora, porém, deixai de lado todas estas coisas: ira, animosidade, maledicência, maldade, torpes palavras de vossa boca, nem vos enganeis uns aos outros. Vós despistes-vos do velho homem com seus vícios, e revestistes-vos do novo, que constantemente vai restaurando-se à imagem d'Aquele que o criou, até atingir o perfeito conhecimento." Cl 3,8-10
    E assim inicia algumas de suas cartas: "Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que do alto do Céu nos abençoou com toda a bênção espiritual em Cristo..." Ef 1,3


GRANDES OFENSAS A DEUS

    O Catecismo da Igreja listou frequentes ofensas à Verdade, assim como à dignidade e à honra do ser humano, portanto também a Deus:
    - falso testemunho: mentir em favor ou desfavor de alguém;
    - omissão: deixar de testemunhar a Verdade; 
    - perjúrio: mentir contrariando um juramento;
    - temerário juízo: emitir opinião do que não conhece;
    - maledicência: divulgar, por mero prazer, as faltas alheias;
    - calúnia: mentir ou dar ocasião para prejudicar a reputação alheia;
    - adulação, bajulação ou complacência: apoiar alguém em sua malícia ou por interesse;
    - vanglória: atribuir-se valor sem válida razão ou que não se tem;
    - ironia: fazer rir dos erros alheios;
    - auto-ilusão: alimentar fantasias;
    - cinismo: afrontar a moral;
    - dúbia linguagem: confundir ou sonegar a Verdade;
    - dissimulação: esconder grave comportamento ou Verdade.

    Coberto de razão, São Paulo cobra dos membros da Igreja a Verdade que purifica: "É preciso que vos renoveis pela transformação espiritual da inteligência e revistai-vos do novo ser, criado segundo Deus na justiça e na santidade que vem da Verdade. Por isso, renunciai à mentira. Cada um fale a seu próximo a Verdade, pois somos membros uns dos outros." Ef 4,23-25
    E pedia: "Nenhuma  palavra saia de vossa boca, mas só a que for útil para a edificação, sempre que for possível, e benfazeja aos que ouvem. Toda amargura, ira, indignação, gritaria e calúnia sejam desterradas do meio de vós, bem como toda malícia." Ef 4,29-31
    Tomando Deus como testemunha, ele exalta, ao passo que condena as heresias, a postura de um verdadeiro cristão: "Afastamos de nós todo fingido e vergonhoso procedimento. Não andamos com astúcia, nem falsificamos a Palavra de Deus. Pela manifestação da Verdade, nós recomendamo-nos à consciência de todos homens, diante de Deus." 2 Cor 4,2
    E afirma que todos que renegam a Deus, ou seja, à Verdade, já estão vivendo um grande castigo. Essa é a falsidade maior: trocar o reconhecimento devido a Deus pela idolatria ao ser humano: "Por isso, Deus entregou-os aos desejos de seus corações, à imundície, de modo que desonraram entre si os próprios corpos. Trocaram a Verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram à criatura em vez do Criador..." Rm 1,24-25
    De fato, Jesus não nos estimulou a buscar as mundanas glórias. Nelas não há Verdade: "Não espero Minha Glória dos homens... Como podeis crer, vós que recebeis a glória uns dos outros, e não buscais a Glória que é só de Deus?" Jo 5,41.44
    Ele denunciou os que vivem de vanglória: "Quem fala de si mesmo, busca seu próprio prestígio." Jo 7,18
    E Jó ponderadamente condenou até mesmo as mentiras que seus amigos diziam em defesa das obras de Deus: "Para defender Deus, ireis dizer mentiras? Será preciso enganardes em Seu favor?" Jó 13,7
    O Eclesiástico condenava até a mentira por ignorância: "Não contradigas de nenhum modo a Verdade, envergonha-te da mentira cometida por ignorância." Eclo 4,30
    Além de vergonha, ela simplesmente é sinal de falta de educação: "A mentira é no homem uma vergonhosa mancha: não deixa os lábios das pessoas mal-educadas." Eclo 20,26
    São Pedro, no mesmo sentido, pede-nos uma completa depuração: "Despojem-se, portanto, de toda malícia, toda astúcia, fingimentos, invejas e toda espécie de maledicência." 1 Pd 2,1
    E diz sobre quem mais pesará o Juízo: "... principalmente aqueles que correm com impuros desejos atrás dos prazeres da carne e desprezam a autoridade. Audaciosos, arrogantes, não temem falar injuriosamente das Glórias..." 2 Pd 2,10
    São Judas Tadeu também invocou uma profecia: "'Eis que veio o Senhor entre milhares de Seus Santos para julgar a todos e confundir a todos ímpios por causa das obras de impiedade que praticaram, e por causa de todas injuriosas palavras que eles, ímpios, têm proferido contra Deus.' Estes são descontentes murmuradores, homens que vivem segundo suas paixões, e cuja boca profere soberbas palavras, e que admiram os demais por interesse." Jd 14b-16
    Ora, o salmista bem já havia identificado este comportamento do ímpio: "De maledicência, astúcia e dolo sua boca está cheia. Em sua língua só existem injuriosas e ofensivas palavras." Sl 9,27
    Já o Profeta Miqueias registrou a queixa de Deus sobre a fraqueza do povo pelo que é torpe e fútil: "Se houvesse um homem que atirasse palavras ao vento e espalhasse mentiras, dizendo: 'Vou recomendar-lhes o vinho e a cerveja!', tal seria o profeta que convém a Meu povo." Mq 2,11
    Se isso soa um tremendo absurdo, São Paulo profetizou algo muito parecido, e hoje já podemos dizer que esta profecia se cumpriu: "Porque virá tempo em que os homens já não suportarão a Sã Doutrina da Salvação. Levados pelas próprias paixões e pelo prurido de escutar novidades, para si ajustarão mestres. Apartarão os ouvidos da Verdade e atirar-se-ão às fábulas." 2 Tm 4,3-4
    E deu detalhes: "Os homens tornar-se-ão egoístas, avarentos, fanfarrões, soberbos, rebeldes aos pais, ingratos, malvados, desalmados, desleais, caluniadores, devassos, cruéis, inimigos dos bons, traidores, insolentes, cegos de orgulho, amigos dos prazeres e não de Deus, ostentarão a aparência de piedade, mas desdenharão de sua autoridade. Dessa gente, afasta-te!" 2 Tm 3,2,-5
    Diante de problemáticas comunidades, desde sempre ele dava expressas ordens a São Tito: "Portanto, severamente repreende-os para que se mantenham sãos na fé e não deem ouvidos a judaicas fábulas nem a preceitos de homens avessos à Verdade. Para os puros, todas coisas são puras; para os corruptos e descrentes, nada é puro: até sua mente e consciência são corrompidas. Proclamam que conhecem a Deus, mas na prática renegam-nO, detestáveis que são, rebeldes e incapazes de qualquer boa obra." Tt 1,13b-16
    Em contraponto, ele alegra-se com o perfume de Cristo: "Mas graças sejam dadas a Deus, que sempre nos concede triunfar em Cristo, e que por nosso meio difunde o perfume de Seu conhecimento em todo lugar. É que, de fato, não somos, como tantos outros, falsificadores da Palavra de Deus. Mas é em sua integridade, tal como procede de Deus, que nós a pregamos em Cristo, sob os olhares de Deus." 2 Cor 2,14.17
    São João Evangelista já denunciava heresias àquele tempo. E pela presença do Espírito Santo fazia uma clara distinção: "Eles são do mundo. É por isto que falam segundo o mundo, e o mundo ouve-os. Nós, porém, somos de Deus. Quem conhece a Deus, ouve-nos; quem não é de Deus, não nos ouve. É nisto que conhecemos o Espírito da Verdade e o espírito do erro." 1 Jo 4,5-6
    E arremata: "Quem observa Seus Mandamentos permanece em Deus e Deus nele. É nisto que reconhecemos que Ele permanece em nós: pelo Espírito que nos deu." 1 Jo 3,24
    Com efeito, Deus já havia apontado, através do Profeta Jeremias, a razão do desprezo com que Ele é tratado: "'Habitam no seio da falsidade. Por má fé recusam conhecer-Me,' Oráculo do Senhor." Jr 9,5
    Jesus, falando de Si, disse algo semelhante: "... a Luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas que a Luz, pois suas obras eram más." Jo 3,19b
    E ainda segundo Miqueias, faz muitos séculos que as grandes cidades não são dignas de maiores elogios: "Os ricos da cidade são violentos homens, seus habitantes proferem mentiras, e em sua boca a língua só serve para enganar." Mq 6,12
    Mas conforme o Profeta Sofonias, os seguidores do Salvador, isto é, a Igreja, têm no compromisso com a Verdade sua principal marca: "Os que restarem de Israel abster-se-ão do mal, e não proferirão a mentira. Não mais se achará enganosa língua em sua boca, porque serão apascentados e repousarão sem haver quem os inquiete." Sf 3,13
    Jesus, mais uma vez, deixou bem evidente quem nos influencia quando ofendemos a Verdade: "Dizei somente: Sim, se é sim, ou não, se é não. Tudo que passa além disto vem do Maligno." Mt 5,37
    E assim descreveu o Pentecostes, a ação do Autor da Graça sobre a Igreja: "E Eu rogarei ao Pai, e Ele dar-vos-á outro Paráclito, para que convosco fique eternamente. É o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber porque não O vê nem O conhece. Mas vós conhecê-Lo-eis, porque convosco permanecerá e em vós estará." Jo 14,16-1
    A mentira, pois, é um pecado venial, mas pode tornar-se pecado mortal quando usada com frequência, ou, mesmo episodicamente, com gravidade ferir a justiça e a caridade.

    "Mandai Vosso Espírito Santo!"