sábado, 5 de julho de 2025

Comunhão Reparadora dos Cinco Primeiros Sábados

     O primeiro sábado de cada mês é dia de comungar em desagravo às ofensas feitas ao Imaculado Coração de Maria, como o próprio Jesus revelou à Beata Lúcia de Fátima e Nossa Senhora lhe pediu na Promessa de Fátima.

A Verdadeira Alegria


    Jesus ensina que neste mundo a verdadeira alegria está em viver o salvífico amor, e simplesmente não há como ser feliz de outro modo. Por isso, no Evangelho Segundo São João, Ele pedia estável ânimo e perseverança, garantindo que, se não desistirmos, nossa alegria alcançará a plenitude: "Perseverai em Meu amor. Se guardardes Meus Mandamentos, sereis constantes em Meu amor, como Eu também guardei os Mandamentos de Meu Pai e persisto em Seu amor. Disse-vos essas coisas para que Minha alegria esteja em vós, e vossa alegria seja completa." Jo 15,9-11
    É uma sobrenatural alegria que só Deus pode infundir em nossos corações, como a Graça de ver Suas promessas sendo realizadas, especialmente aquela que se deu na manhã do Domingo da Ressurreição, quando Santa Maria Madalena e a outra Maria, esposa de Cléofas e mãe de São Tiago Menor e São Judas Tadeu, foram ao túmulo e encontraram-no vazio. É do Evangelho Segundo São Mateus: "De repente, Jesus foi ao encontro delas e disse: 'Alegrem-se!'" Mt 28,9
    Foi a sensação que tiveram os Apóstolos quando Jesus lhes apareceu pela primeira vez, na leitura do Evangelho Segundo São Lucas: "Enquanto ainda falavam dessas coisas, Jesus apresentou-Se em meio a eles e disse-lhes: 'A Paz esteja convosco!' Mas, por causa da alegria, ainda não podiam acreditar e permaneciam perplexos..." Lc 24,36.41
    Ele prometeu-a quando anunciou Sua Paixão, pois Sua Ressurreição iria imprimir tamanha felicidade em seus corações que jamais esqueceriam, e seria a arrebatadora força que os mobilizaria em pregações pelo mundo: "Assim vós, sem dúvida, agora também estais tristes, mas hei de ver-vos outra vez, e vosso coração alegrar-se-á e ninguém vos tirará vossa alegria." Jo 16,22
    E como reação em testemunhar as demais realizações das promessas de Deus, a despeito dos excruciantes sofrimentos que teve, Nossa Senhora foi uma grande privilegiada. Quando foi avisada por São Gabriel Arcanjo da indizível Graça de conceber o Messias, e em seguida o Espírito Santo pousou sobre ela, logo foi compartilhar essa incontível euforia com sua parenta Santa Isabel, também agraciada com uma extraordinária gravidez: "... meu espírito exulta de alegria em Deus, Meu Salvador..." Lc 1,47
    Aliás, São João Batista, que recebeu o Espírito Santo ainda no seio de sua mãe, como previsto pelo Arcanjo São Gabriel (cf. Lc 1,15), fato que se deu através da poderosa voz da Santíssima Virgem, teve idêntica reação. Santa Isabel testemunhou: "Pois assim que a voz de tua saudação chegou a meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria em meu seio." Lc 1,44
    Tal emoção também viveriam os Santos Reis ao reverem a Estrela de Belém, após a infausta consulta com Herodes em Jerusalém, porque aí ela não aparecia: "Ao verem de novo a Estrela, os magos sentiram muito grande alegria." Mt 2,10
    Ou ainda o próprio São João Batista já adulto, ao tomar ciência do início da vida pública de Jesus. Ele comentou com seus seguidores: "Aquele que tem a esposa é o Esposo. O amigo do Esposo, porém, que está presente e O ouve, sobremodo regozija-se com a voz do Esposo. Nisso consiste minha alegria, que agora se completa." Jo 3,29
    O próprio Jesus, ao ver o sucesso da primeira missão dos setenta e dois discípulos, também foi tomado de um grande contentamento. E de imediato agradeceu ao Pai: "Naquele mesma hora, Jesus exultou de alegria no Espírito Santo e disse: 'Pai, Senhor do Céu e da Terra, Eu dou-Te graças...'" Lc 10,21
    Pois Deus também tem Suas alegrias, como é a cidade de Jerusalém, mesmo em todos seus altos e baixos. Está no Livro do Profeta Isaías: "... como a noiva é a alegria do noivo, assim tu também és a alegria de Teu Deus." Is 62,5b
    E no Livro do Profeta Neemias, séculos depois, vemos que ela já era bem conhecida, quando ele exortou o povo de Jerusalém no dia do nascimento do judaísmo, ainda que em difíceis anos: "Não fiqueis tristes, porque a alegria do Senhor será vossa força." Ne 8,10b
    A entrada de Jesus em Jerusalém, ademais, foi um esplendoroso momento para quem percebeu que Ele é o Messias: "Quando já ia aproximando-se da descida do monte das Oliveiras, toda multidão dos discípulos, tomada de alegria, começou a louvar a Deus em altas vozes, por todas maravilhas que tinha visto. E dizia: 'Bendito o Rei que vem em Nome do Senhor! Paz no Céu e Glória no mais alto dos Céus!'" Lc 19,37-38
    O mesmo deu-se quando os Apóstolos presenciaram a Ascensão do Senhor aos Céus: "... voltaram para Jerusalém com grande júbilo." Lc 24,52
    Da mesma forma Abraão, quase dois mil antes, foi tomado de um grande enlevo ao ser agraciado com a visão da Vinda do Redentor, como Jesus mesmo declarou: "Abraão, vosso pai, exultou com o pensamento de ver Meu Dia. Viu-o e ficou cheio de alegria." Jo 8,56
    Essa também é, e por excelência, a alegria da chamada Visão Beatífica, da qual nos Céus usufruem os filhos de Deus ao ver Sua face. Ela é cantada no Livro de Salmos, e foi evocada por São Pedro para explicar a Glória da Ressurreição de Jesus, como se lê no Livro de Atos dos Apóstolos: "Fizeste-Me conhecer os Caminhos da Vida, e enchê-Me-ás de alegria com a visão de Tua face (Sl 15,11)." At 2,28
    Aliás, como é uma das bem-aventuranças apontadas por Jesus no Sermão da Montanha: "Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus!" Mt 5,8
    A Carta de São Paulo aos Filipenses também suspirava por essa visão: "Dessa forma, no Dia de Cristo, sentirei alegria..." Fl 2,16
    Mas também acontece ao sentir a presença de Deus, como o rei Davi canta: "Os justos, porém, exultam e rejubilam-se em Sua presença, e transbordam de alegria." Sl 67,4
    Ao sentir Seu afago, mesmo após Seus castigos: "Porque Sua ira dura apenas um momento, enquanto Sua benevolência é para toda vida. Pois se pela tarde vem visitar-nos o pranto, de manhã vem saudar-nos a alegria." Sl 29,6
    Ou simplesmente ao constatar a exatidão de Sua Palavra: "Os preceitos do Senhor são precisos, alegram o coração." Sl 18,9
    Sem dúvida, é isso que indizivelmente acontecerá nos Céus, como Deus convida o servo que produziu frutos na parábola dos talentos, que Jesus contou: "Muito bem, servo bom e fiel já que foste fiel no pouco, Eu confiá-te-ei muito. Vem alegrar-te com Teu Senhor." Mt 25,21


GLÓRIA DE DEUS

    Antes de ser crucificado, pois, Jesus rezou ao Pai pedindo expressamente que motivasse os Apóstolos com toda exuberância de Seu amor: "Mas, agora, vou para junto de Ti. Dirijo-Te esta oração enquanto estou no mundo, para que eles tenham a plenitude de Minha alegria." Jo 17,13
    Por isso, pregava a confiante prática da caridade, visando bens espirituais: "Mas quando deres uma ceia, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos. Serás feliz porque eles não têm com que te retribuir, mas sê-te-á retribuído na Ressurreição dos Justos." Lc 14,14
    E ao ensinar-lhes a humildade pelo Lava-Pés, assegurou-lhes: "Em Verdade, em Verdade, digo-vos: o servo não é maior que Seu Senhor, nem o enviado é maior que Aquele que o enviou. Se compreenderdes estas coisas sereis felizes, sob condição de praticá-las." Jo 13,16-17
    Esta é a Glória de Deus que a Santa Igreja Católica reflete, e que a mantém íntegra através dos séculos, pois Jesus pediu ao Pai na Oração da Unidade: "Dei-lhes a Glória que Me deste, para que sejam Um, como Nós somos Um: Eu neles e Tu em Mim, para que sejam perfeitos na Unidade e o mundo reconheça que Me enviaste e os amaste, como amaste a Mim." Jo 17,22-23
    Assim embalados, desde sempre os Apóstolos celebravam o Sacramento da Eucaristia: "Partiam o Pão nas casas, e tomavam a comida com alegria e singeleza de coração..." At 2,46
    Para o mundo, porém, tal sacrifício é no máximo um paradoxo, embora a reação dos Onze ante a perseguição dos religiosos judeus demonstrasse a exata realidade do processo de Redenção da humanidade: "Chamaram os Apóstolos e mandaram açoitá-los. Ordenaram-lhes, então, que não pregassem mais em Nome de Jesus, e soltaram-nos. Eles saíram da sala do Grande Conselho, cheios de alegria, por terem sido achados dignos de sofrer afrontas pelo Nome de Jesus." At 5,40-41
    Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios também aponta esse bem-estar interior, que vem em oposição ao que ocorre ao redor: "Eis por que sinto alegria nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições, no profundo desgosto sofrido por amor a Cristo. Porque quando me sinto fraco, então é que sou forte." 2 Cor 12,10
    Carta de São Paulo aos Colossenses diz o mesmo: "Agora, alegro-me nos sofrimentos suportados por vós. O que falta às tribulações de Cristo, completo em minha carne, por Seu Corpo que é a Igreja." Cl 1,24
    Pois essa é a verdadeira sensação de ser Igreja Católica: "Para que, em tudo confortados por Seu glorioso poder, tenhais a paciência de tudo suportar com longanimidade. Sede contentes e agradecidos ao Pai, que vos fez dignos de participar da herança dos Santos na Luz." Cl 1,11-12
    Pois só Deus concede a devida consolação nas maiores contrariedades da vida, como os seguidores da tradição de São Paulo escreveram na Carta aos Hebreus: "Lembrai-vos dos dias de outrora, logo que fostes iluminados. Quão longas e dolorosas lutas sustentastes. Seja tornando-vos alvo de toda espécie de opróbrios e humilhações, seja tomando moralmente parte nos sofrimentos daqueles que tiveram de suportá-los. Não só vos compadecestes dos encarcerados, mas com alegria aceitastes a confiscação de vossos bens, pela certeza de possuirdes muito melhores e imperecíveis riquezas." Hb 10,34
    A Primeira Carta de São Pedro, enfim, adianta-se e flerta direto com os Céus: "Caríssimos, não vos perturbeis no fogo da provação, como se vos acontecesse alguma extraordinária coisa. Pelo contrário, alegrai-vos em ser participantes dos sofrimentos de Cristo, para que possais alegrar-vos e exultar no Dia em que Sua Glória for manifestada." 1 Pd 4,12-13
    Pois o próprio Jesus ensinou: "Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, vos perseguirem e falsamente disserem todo mal contra vós por causa de Mim. Alegrai-vos e exultai, porque grande será vossa recompensa nos Céus, pois assim perseguiram os Profetas que vieram antes de vós." Mt 5,11-12
    Invocando a inviolabilidade da divina justiça, o Livro de Eclesiastes inspiradamente já afirmava: "Eu sei, no entanto, que a felicidade é para os que temem a Deus, que Sua presença enche de respeito, e que não haverá nenhuma felicidade para o ímpio, o qual, como a sombra, não prolongará sua vida, porque não tem temor a Deus." Ecl 8,12b-13
    O salmista também o havia percebido: "Aleluia. Feliz o homem que teme o Senhor, e põe seu prazer em observar Seus Mandamentos." Sl 111,1
    Constatou, de fato, a grandeza e a eficácia de Sua Sabedoria: "O Senhor conhece os pensamentos dos homens, e sabe que são vãos. Feliz o homem a quem ensinais, Senhor, e instruís em Vossa Lei, para dar-lhe a Paz no dia do infortúnio..." Sl 93,11-13a
    Davi igualmente testemunhou: "Digo a Deus: 'Sois Meu Senhor, fora de Vós não há felicidade para mim. Por isso, meu coração alegra-se e minha alma exulta... Vós ensiná-me-eis o Caminho da Vida, há abundância de alegria junto a Vós, e eternas delícias a Vossa direita.'" Sl 15,2.9a.11
    Cantou as primeiras sensações da Vida Eterna: "A felicidade e o amor hão de seguir-me por toda minha vida, e na Casa do Senhor habitarei pelos infinitos tempos." Sl 22,6
    Da alegria eterna: "Que se alegrem e se rejubilem para sempre todos que se abrigam em Vós. Vós protegei-los, e exultam em Vós aqueles que amam Vosso Nome." Sl 5,12
    Porque Deus contraria poderosos e rejeita mundanas ilusões, como Davi seguia louvando: "... com Vossa mão livrai-me dos homens, desses cuja única felicidade está nesta vida, que têm o ventre repleto de bens, cujos filhos vivem na abundância e a eles ainda deixam o que lhes sobra. Mas eu, confiado em Vossa justiça, contemplarei Vossa face. Ao despertar, saciar-me-ei com a visão de Vosso Ser." Sl 16,14-15
    Pedia cânticos: "Cantai à Glória de Deus, cantai um cântico a Seu Nome, abri caminho para aquele que em Seu Carro avança pelo deserto. Senhor é Seu Nome, exultai em Sua presença. É o Pai dos órfãos e o Protetor das viúvas, esse Deus que habita num Santo Templo." Sl 67,5-6
    Sentia a indizível leveza do divino perdão: "Feliz aquele cuja iniquidade foi perdoada, cujo pecado foi absolvido. Feliz o homem a quem o Senhor não argui de falta, e em cujo coração não há dolo." Sl 31,1-2
    E um salmista advertia os poderosos, enquanto assegurava felicidade aos justos: "Agora, ó reis, compreendei isto! Instruí-vos, ó juízes da Terra: servi ao Senhor com respeito e exultai em Sua presença. Prestai-Lhe homenagem com tremor, para que não Se irrite e não pereçais quando, em breve, acender-se Sua cólera. Felizes, entretanto, todos que n'Ele confiam." Sl 2,10-11
    Expressamente dizia: "Minha única alegria encontra-se no Senhor." Sl 103,34b
    Ora, essa é a satisfação de viver a religiosidade e ter amor à Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, como o próprio Deus disse no Livro de Provérbios: "Feliz o homem que Me ouve, que vela todos dias a Minha porta e guarda os batentes de Minha Casa!" Pr 8,34
    Essa é a euforia do recém-convertido, como aconteceu com o eunuco ao ser batizado por São Filipe Diácono: "Mal saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou Filipe dos olhares do eunuco, que, cheio de alegria, continuou seu caminho." At 8,39
    Foi a alegria dos pagãos de Antioquia de Pisídia, até então tidos apenas como 'tementes a Deus', ao saberem que a eles também era oferecido participar do Reino de Deus. Perante eles, São Paulo e São Barnabé disseram aos judeus na sinagoga: "'Era a vós que em primeiro lugar se devia anunciar a Palavra de Deus. Mas, porque a rejeitais e vos julgais indignos da Vida Eterna, eis que nos voltamos para os pagãos.' Estas palavras encheram de alegria os pagãos que glorificavam a Palavra do Senhor." At 13,46b.48
    É a alegria que se sente pela Salvação do próximo, como se viu no Concílio de Jerusalém ao ouvirem os relatos de São Paulo e São Barnabé: "Contaram a todos irmãos a conversão dos não judeus, o que a todos causou grande alegria." At 15,3
    Jesus mesmo afirmou o que acontece entre Deus, os Santos e os anjos: "Digo-vos que assim haverá maior júbilo no Céu por um só pecador, que fizer penitência, que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento." Lc 15,7
    E nestes termos narrou a satisfação do pai, em conversa com o irmão mais velho, na parábola do filho pródigo: "Convinha, porém, que fizéssemos festa e nos alegrássemos, porque este teu irmão estava morto, e reviveu. Tinha-se perdido, e foi achado." Lc 15,32
    Ou com a própria Salvação, como o rei Davi pedia a Deus: "Restituí-me a alegria da Salvação, e sustentai-me com uma generosa vontade." Sl 51,14
    Ela é a consequência da esperança, conforme a Carta de São Paulo aos Romanos: "O Deus da esperança encha-vos de toda alegria e de toda Paz em vossa , para que pela virtude do Espírito Santo transbordeis de esperança!" Rm 15,13
    É a alegria de pessoas pobres em fazer caridade, como ele testemunhou aos cristãos da cidade de Corinto a respeito dos cristãos da região de Macedônia: "Em meio a tantas tribulações com que foram provadas, generosamente e com transbordante alegria distribuíram, apesar de sua extrema pobreza, os tesouros de sua liberalidade." 2 Cor 8,2
    É o que sentimos ao ver um gesto de fraterno amor, como a Carta de São Paulo a Filemon lhe disse: "Tua caridade trouxe-me grande alegria e conforto, porque os corações dos santos encontraram alívio por teu intermédio, irmão." Fm 7
    É ver alguém tratando o próximo como irmão, como sugeriu que Filemon fizesse com seu escravo, Onésimo: "Portanto, se me tens por amigo, recebe-o como a mim. Sim, irmão, quisera eu de ti receber esta alegria no Senhor! Dá esta alegria a meu coração, em Cristo!" Fm 17.20
    É o bem-estar que nos vem quando rezamos, como ele escreveu aos cristãos da cidade de Filipos: "Em todas minhas orações, rezo sempre com alegria por todos vós..." Fl 1,4
    É viver a Unidade da Igreja: "... completai minha alegria, permanecendo unidos. Tende um mesmo amor, uma só alma e os mesmos pensamentos." Fl 2,2
    É ver o próximo perseverando na fé: "Portanto, meus muito amados e saudosos irmãos, alegria e coroa minha, continuai assim firmes no Senhor, caríssimos." Fl 4,1
    É o afago da resignação: "Aprendi a contentar-me com o que tenho. Sei viver na penúria, e também sei viver na abundância. Estou acostumado a todas vicissitudes: a ter fartura e a passar fome, a ter abundância e a padecer necessidade." Fl 4,11-12
    É enfrentar e vencer as tentações, conforme a Carta de São Tiago: "Considerai que é suma alegria, meus irmãos, quando passais por diversas provações, sabendo que a prova de vossa fé produz a paciência. Mas é preciso que a paciência efetue sua obra, a fim de serdes perfeitos e íntegros, sem fraqueza alguma. Feliz o homem que suporta a tentação. Porque, depois de sofrer a provação, receberá a coroa da Vida que Deus prometeu àqueles que O amam." Tg 1,2-4.12
    É ver o errante ser humano no Caminho da Verdade, como a Terceira Carta de São João diz: "Não tenho maior alegria que ouvir dizer que meus filhos caminham na Verdade." 3 Jo 1,4
    É a razão da obra da Igreja, para que cheguemos à Comunhão, conforme a Primeira Carta de São João: "... o que vimos e ouvimos, nós anunciamo-vos, para que vós também tenhais comunhão conosco. Ora, nossa comunhão é com o Pai e com Seu Filho Jesus Cristo. Escrevemo-vos estas coisas para que vossa alegria seja completa." 1 Jo 1,3-4
    É ouvir os testemunhos dos autênticos cristãos, como se depreende da Segunda Carta de São João : "Apesar de ter mais coisas que vos escrever, não o quis fazer com papel e tinta, mas espero estar entre vós e conversar de viva voz, para que vossa alegria seja perfeita." 2 Jo 1,12
    Porque a verdadeira alegria, segundo o Apóstolo dos Gentios, é a perfeição da santidade: "Por fim, irmãos, vivei com alegria. Tendei à perfeição, animai-vos, tende um só coração, vivei em Paz, e Deus de amor e de Paz estará convosco." 2 Cor 13,11
    É um dos frutos do Espírito Santo, nas palavras da Carta de São Paulo aos Gálatas: "... o fruto do Espírito é caridade, alegria, Paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança." Gl 5,22-23
    É, nPrimeira Carta de São Paulo aos Tessalonicenses, a alegria que só a presença do Espírito de Deus pode proporcionar: "E vós fizeste-vos imitadores nossos e do Senhor, ao receberdes a Palavra, apesar das muitas tribulações, com a alegria do Espírito Santo..." 1 Ts 1,6
    É a felicidade de obter uma revelação, como Jesus disse a São Pedro: "Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas Meu Pai que está nos Céus." Mt 16,17


CRISTO E A IGREJA

    A verdadeira alegria é a unção de Deus, aquela com que Ele ungiu Jesus, como os discípulos de São Paulo evocaram de um Salmo: "Por isso, ó Deus, Teu Deus ungiu-Te com óleo de alegria, mais que aos Teus companheiros (Sl 44,7s)." Hb 1,9
    E só Jesus, o Ungido de Deus, pode prometer-nos o eterno banquete, como percebeu um convidado que com Ele se sentou à mesa na casa de um dos chefes dos fariseus: "Feliz daquele que se sentar à mesa no Reino de Deus!" Lc 14,15b
    Nas visões do Livro de Apocalipse de São João, ele ouviu de um anjo esta confirmação: "Felizes os convidados para a ceia das Núpcias do Cordeiro." Ap 19,9
    Nós temos, porém, a antecipação desse banquete na Comunhão Eucarística, durante a Santa Missa. Esse alimento é própria eterna alegria, como o salmista versa sobre nosso culto: "Servi ao Senhor com alegria. Vinde, entrai exultantes em Sua presença." Sl 99,2
    E é Jesus Quem nos garante a felicidade de acreditar, como Ele disse a São Tomé: "Felizes aqueles que creem sem ter visto!" Jo 20,29
    É o que São Pedro atesta, afirmando que assim se desfruta de Sua Glória, e mais tarde da definitiva Redenção: "Este Jesus vós amais sem O terdes visto! Credes n'Ele ainda sem O verdes! E isto é para vós a fonte de uma inefável e gloriosa alegria, porque vós estais certos de obter, ao preço de vossa fé, a Salvação de vossas almas." 1 Pd 1,8-9
    Pois foi pensando em Seu povo que Deus nos mandou Seu Filho, como o religioso Simeão rezou durante a Apresentação do Menino Jesus no Templo de Jerusalém: "... para a glória de Vosso povo de Israel." Lc 2,32
    E em nome deste fulgurante projeto, Nosso Salvador rejeitou as tentações do deserto: "Em vista da alegria que Lhe foi proposta, suportou a Cruz, não Se importando com a infâmia, e assentou-Se à direita do trono de Deus." Hb 12,2b
    Nossa glória, pois, é alcançar a santidade, e assim contemplar Sua Glória. .A Carta de São Judas traz: "Àquele que é poderoso para preservar-nos de toda queda e apresentar-nos diante de Sua Glória, imaculados e cheios de alegria... " Jd 1,24
    É propriamente participar de Sua Glória, segundo São Paulo: "... nós temo-vos exortado, estimulado, conjurado a comportarde-vos de maneira digna de Deus, que vos chama a Seu Reino e a Sua Glória." 1 Ts 2,12
    Nesse sentido, Jesus fulmina as ilusões, os elogios e as honrarias meramente mundanas: "Como podeis crer, vós que recebeis a glória uns dos outros, e não buscais a Glória que é só de Deus?" Jo 5,44
    Foi exatamente esse o erro dos religiosos judeus, ao rejeitarem Jesus em troca dos cargos que os romanos lhes garantiam. São João Evangelista registrou: "Assim preferiram a glória dos homens àquela que vem de Deus." Jo 12,43
    Para falar da verdadeira Glória, Nosso Senhor diz como foi passageira a que viveu Salomão: "E por que vos inquietais com as vestes? Considerai como crescem os lírios do campo: eles não trabalham nem fiam. Entretanto, Eu digo-vos que o próprio Salomão, no auge de sua glória, não se vestiu como um deles. Não vos aflijais, nem digais: 'Que comeremos? Que beberemos? Com que nos vestiremos?' Em primeiro lugar, buscai o Reino de Deus e Sua justiça, e todas estas coisas sê-vos-ão dadas em acréscimo." Mt 6,28-29.31.33
    E nem mesmo por um especial dom do Espírito Santo devemos vangloriar-nos, como Ele ensinou: "... não vos alegreis porque os espíritos vos estão sujeitos, mas alegrai-vos porque vossos nomes estejam escritos nos Céus." Lc 10,20
    Peçamos Sua ajuda, portanto, para participar de Seu Reino e alcançar a inefável alegria de ver Sua Glória ainda neste mundo. Porque, pouco antes da crucificação, Ele prometeu aos Apóstolos: "Até agora não pedistes nada em Meu Nome. Pedi e recebereis, para que vossa alegria seja perfeita." Jo 16,24

    "Alegrai-nos, ó Pai, com Vossa Luz!"

sexta-feira, 4 de julho de 2025

Devoção ao Sagrado Coração de Jesus

    A primeira sexta-feira de cada mês é dia de comungar em honra ao Sagrado Coração de Jesus, e assim durante nove meses seguidos, para alcançar a Graça da penitência final e mais 11 promessas, como Ele mesmo revelou através de aparições a Santa Margarida-Maria Alacoque.

Santa Isabel de Portugal


    Tinha como tia-avó Santa Isabel de Hungria, e seu nome é uma homenagem a ela, a Santa duquesa que trouxe consolação a seu povo e revelou as reais dimensões da vida cristã aos nobres da Turíngia, região de atual Alemanha.
    Santa Isabel de Portugal nasceu em 1271, em Saragoça, Espanha, filha de Pedro II, que se tornaria rei de Aragão, mas foi criada por Tiago I, seu avô paterno, muito piedoso católico. Dele obteve uma primorosa dedicação, pois os dons que ela recebeu de Deus foram muito bem percebidos e estimulados. Desde tenra infância era visível o amor que tinha ao crucifixo, às imagens e aos cantos religiosos, e todos no reino sentiam que ali estava uma grande serva de Deus. Aos 8 anos já recitava o Santo Ofício todos dias.
    Apesar de sua extrema beleza, não era vaidosa. Gostava de vestir-se com simplicidade e tinha uma grande alegria em participar da Santa Missa. Alimentava o sonho de tornar-se freira, mas aos 12 anos, pretendida por vários príncipes de Europa, foi dada em casamento ao rei de Portugal, Dom Dinis, que tinha 19 anos. Obediente aos pais, aceitou-o como uma grande oportunidade para servir a Deus na privilegiada condição de rainha de Portugal.
    Mirando-se no feito de sua tia-avó, e também sobre o forte apelo espiritual do carisma das nascentes ordens mendicantes de São Francisco de Assis, de São Domingos e de São Pedro Nolasco, das quais era grande simpatizante, entendeu que assim poderia influenciar a nobreza daquele país a melhor servir aos mais pobres e carentes.
    E logo cativou o povo português por sua sincera caridade: distribuía dotes às pobres jovens e ajudava nos estudos os filhos dos mais modestos cavaleiros. Vividamente estimulou a vida religiosa no país: mandou construir várias igrejas, assim como o Mosteiro Beneditino de Santa Maria do Almoster e o Santuário do Espírito Santo de Alenquer.



    Fundou o Hospital dos Inocentes, construindo instalações nas cidades de Santarém, Coimbra e Leiria, nas quais iniciou oferecendo cuidados às crianças, como o nome diz, contudo acabou estendendo os mesmos serviços a idosos e enfermos. Várias damas da corte adotaram seu carisma e devotadamente colaboravam.
    Naqueles anos, Portugal havia reconquistado suas próprias terras dos invasores muçulmanos, mas a guerra deixou muitos mortos. Santa Isabel também se entregou a cuidar dos órfãos, dando-lhes abrigo e instrução. Muito ativa, junto ao esposo participou bastante na reconstrução de muitas cidades, principalmente dando condições para que os camponeses restabelecessem suas fazendas.
    Desse esforço, Dom Dinis ficou conhecido como o Rei Lavrador, e ela como a Rainha da Agricultura. É deles também a obra da fundação da Universidade de Coimbra, que é contemporânea das primeiras universidades europeias.


    Tiveram dois filhos: Constança, que se tornaria a rainha de Castela, em Espanha, e Afonso IV, que sucederia o pai como rei de Portugal. Ambos tinham a marca da educação cristã, caprichosamente transmitida pela mãe.
    Mas Santa Isabel teve que suportar entre muitas angústias a pecaminosa infidelidade do marido, da qual nasceram vários filhos bastardos. Em sua profunda piedade, porém, continuava obediente a ele e ainda acolhia seus filhos no castelo, tratando-os como se fossem dela mesma.
    Foi pela predileção do rei por um filho bastardo que Afonso IV, filho legítimo, se rebelou contra o pai e foi ao reino de Aragão e Castela pedir auxílio para enfrentá-lo, sob argumento que desonrava o sangue da família.
    Graças a Santa Isabel, a guerra entre eles foi evitada, pois ela pediu autorização ao esposo para ir a Pombal, onde seu filho já posicionava tropas. Ela havia conseguido do rei a garantia de que Afonso IV seria o primeiro da linha sucessória, e foi oferecê-la ao filho, pedindo que não combatesse contra o pai, quando conseguiu abrandar-lhe os ânimos.
    Logo após a morte do marido, nossa Santa foi em peregrinação a Santiago de Compostela, pedir a Deus por sua alma. Fez boa parte do trajeto montada em burro, mas, por maior penitência, concluiu o último trecho da viagem a pé. Lá deixou em doação todos seus ricos pertences de rainha: a coroa, as jóias e as nobres vestes.
    Foi viver no Paço de Santa Ana, uma nobre morada, vizinha ao Convento de Santa Clara de Coimbra, que ela mesma havia mandado erguer, e aí vestiu o hábito da Ordem Terceira de São Francisco. Tempos depois, também doaria esse paço ao Convento. Entregou-se totalmente a cuidar dos mais pobres e enfermos, em especial dos leprosos, que lhe atribuíam muitas miraculosas curas.


    Como a sua tia-avó, Santa Isabel da Hungria, é-lhe atribuído um grande milagre, e muito parecido. Levava no avental muitas pequenas moedas para doar aos pobres, quando nos corredores foi surpreendida pelo rei, seu esposo, que lhe perguntou aonde ia e o que levava. Um pouco constrangida, pois se conformava em suportar algumas grosserias do marido, ela respondeu: 'São rosas, meu Senhor!' Mas Dom Dinís insistiu: 'Rosas? Em janeiro?' Sem argumento, ela então lhe abriu o avental, que de fato se mostrou repleto de rosas.


    Quando já reinava Afonso IV, este declarou guerra a seu sobrinho, Afonso XI, rei de Castela, filho de sua irmã Constança, por maus tratos a sua filha, Maria, com quem havia casado. Eram um casal de primos, muito comum àquela época, portanto netos de Santa Isabel. Nossa Santa já se encontrava doente e muito frágil, mas humildemente montou em mula e cavalgou vários dias até Estremoz, onde se colocou entre os dois exércitos e evitou a guerra consanguínea. Consagrava-se assim como a Rainha da Paz.


    Santa Isabel morreu aí mesmo, na cidade de Estremoz, em 1336, aos 65 anos, vítima da peste bubônica que acometia a população de Europa e veio a dizimá-la em um terço. Como desejava ser sepultada no Mosteiro de Santa Clara, em Coimbra, temeram em transportar seu corpo de imediato, porque poderia decompor-se durante a viagem de cerca de 250 km. Imaginavam ser melhor trasladar apenas suas relíquias, alguns anos mais tarde.
    Mas todos ficaram surpresos ao perceberem que com o passar das horas seu cadáver adquiria cada vez mais uma suave fragrância. Exultantes, partiram para Coimbra na certeza de que se tratava de mais um corpo santo para a História da Santa Igreja Católica. Em 1625, quase 300 anos depois, quando foi canonizada, ao abrirem seu túmulo constataram que seu corpo ainda não se havia corrompido.


    Em tempos mais recentes fizeram-lhe um novo túmulo, que fica abaixo do coro do Convento de Santa Clara, a Nova.


    Santa Isabel de Portugal, rogai por nós!

quinta-feira, 3 de julho de 2025

São Tomé Apóstolo


    São Tomé, ou Tomás, na Bíblia também chamado Dídimo, que significa gêmeo, é um dos mais conhecidos Apóstolos de Jesus, marcadamente pela cena em que teria duvidado do testemunho dado por Santa Maria Madalena e pelos Apóstolos da Ressurreição de Cristo.
    Mas a vida deste grande Apóstolo não pode ficar resumida a um único momento, se é que ele realmente duvidou. Seria uma injustiça. Quando comparado aos demais Apóstolos, salta aos olhos o destaque que lhe dá São João, autor do Evangelho mais teológico e de suma importância histórica.
    São três passagens nas quais entre os Doze é ele o protagonista, induzindo diálogos e situações de grande relevância. Como se percebe na própria cena do 'ver para crer', definitivamente não era um arredio Apóstolo, afastado de Jesus e do grupo, como se esperaria de um hesitante ou incrédulo. Pelo contrário, sempre estava muito atento às Palavras do Divino Mestre e, após Sua Ressurreição, tornou-se um ativo Apóstolo, como as distâncias que percorreu e o trágico destino que teve demonstram.
    Mais: não podemos esquecer que ele acompanhava Jesus desde o início (cf. Jo 2,2), antes de muitos outros, e, o que evidencia sua apurada sensibilidade frente tantos outros discípulos, que eram mais de 72 (cf. Lc 10,1), foi um dos Doze escolhidos de primeiríssima linha, e citado pelo levita e historiador São Mateus a sua frente. Ele faz parte do segundo dos três grupos de quatro Apóstolos, invariavelmente em companhia dos estudiosos São Filipe, São Bartolomeu e São Mateus, pois também era muito bem letrado.
    Aqui temos o rol dado pelo Evangelho Segundo São Marcos: "Escolheu estes Doze: Simão, a quem pôs o nome de Pedro; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, aos quais pôs o nome de Boanerges, que quer dizer Filhos do Trovão. Ele também escolheu André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Tadeu, Simão, o Zelador; e Judas Iscariotes, que o entregou." Mc 3,16-19
    Aqui a lista do Evangelho Segundo São Mateus: "Eis os nomes dos Doze Apóstolos: o primeiro, Simão, chamado Pedro; depois André, seu irmão. Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão. Filipe e Bartolomeu. Tomé e Mateus, o publicano. Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu. Simão, o cananeu, e Judas Iscariotes, que foi o traidor." Mt 10,2-4
    E aqui a lista do Evangelho Segundo São Lucas:

    "Naqueles dias, Jesus retirou-Se a uma montanha para rezar, e aí passou toda noite orando a Deus.
    Ao amanhecer, chamou Seus discípulos e dentre eles escolheu Doze, que chamou de Apóstolos: Simão, a quem deu o sobrenome de Pedro; André, seu irmão; Tiago, João, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Simão, chamado Zelota; Judas, irmão de Tiago; e Judas Iscariotes, aquele que foi o traidor."
                                                  Lc 6,12-16

SUA CORAGEM

    São Tomé é apontado como um dos mais destemidos Apóstolos, prontos para sacrificar sua vida por amor a Jesus e ao Evangelho (cf. Mc 8,35). Se a citação a seguir não for entendida, como não deve ser, como uma vaga promessa de seguir Jesus até a morte, São Tomé foi o primeiro a perceber e prontificar-se para o 'batismo' (cf. Mc 10,39) pelo qual passariam todos Apóstolos, à exceção do Amado Discípulo, que morreu idoso. Está no Evangelho Segundo São João:

    "Havia um doente, Lázaro, em Betânia, povoado de Maria e sua irmã Marta.
    Maria foi quem ungira o Senhor com o óleo perfumadoLhe enxugara os pés com seus cabelos. E Lázaro, que estava enfermo, era seu irmão.
    Suas irmãs, pois, mandaram dizer a Jesus:
    - Senhor, aquele que Tu amas está enfermo.
    A estas palavras, disse-lhes Jesus:
    - Esta enfermidade não causará a morte, mas tem por finalidade a Glória de Deus. Por ela, será glorificado o Filho de Deus.
    Ora, Jesus amava Marta, Maria, sua irmã, e Lázaro. Mas, embora tivesse ouvido que ele estava enfermo, ainda Se demorou dois dias no mesmo lugar.
    Depois, disse a Seus discípulos:
    - Voltemos a Judeia.
    - Mestre, responderam eles, há pouco os judeus queriam apedrejar-Te, e voltas para lá?
    Jesus respondeu:
    - Não são doze as horas do dia? Quem caminha de dia não tropeça, porque vê a Luz deste mundo. Mas quem anda de noite tropeça, porque lhe falta a Luz.
    Depois destas palavras, Ele acrescentou:
    - Lázaro, Nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo.
    Disseram-Lhe Seus discípulos:
    - Senhor, se ele dorme, há de sarar.
    Jesus, entretanto, falara de sua morte, mas eles pensavam que falasse de sono como tal. Jesus então abertamente lhes declarou:
    - Lázaro morreu. Alegro-Me por vossa causa, por não ter estado lá, para que creiais. Mas vamos a ele.
    A isso Tomé, chamado Dídimo, disse a seus condiscípulos:
    - Também vamos nós, para com Ele morrermos."
                                                 Jo 11,1-16


BUSCADOR DA VERDADE

    Íntimo de Jesus, São Tomé não se chocou com a renovação do anúncio de Sua Paixão, feita logo após a Santa Ceia, e imediatamente teceu com Ele um oportuno diálogo, dando ocasião a mais uma grande revelação, quando Jesus iria apresentar-Se como o "CaminhoVerdade e a Vida", bem como, em Sua Pessoa, a própria Pessoa do Pai.
    Na verdade, o Mestre especificamente falava de Seu destino final, que é o Reino dos Céus, a Direita do Pai, para onde iria em definitivo, embora após Sua Ressurreição viesse a apresentar-Se aos Apóstolos por várias vezes durante 40 dias. Mas nosso Santo queria saber justamente a distinção entre o Reino de Deus, que eles sentiam ali a Sua volta, e este 'outro lugar' aonde Jesus iria, pois eles imaginavam que Sua manifestação já seria a instauração material e definitiva do Paraíso (cf. Lc 19,11):

    "- Não se perturbe vosso coração. Credes em Deus, também crede em Mim.
    Na casa de Meu Pai há muitas moradas. Não fosse assim, e Eu tê-vos-ia dito, porque vou preparar-vos um lugar. Depois de ir e preparar-vos um lugar, voltarei e tomá-vos-ei Comigo, para que, onde Eu estou, também estejais vós. E vós conheceis o Caminho, para ir aonde vou.
    Disse-Lhe Tomé:
    - Senhor, não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o Caminho?
    Jesus respondeu-lhe:
    - Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai senão por Mim.
    Se Me conhecêsseis, certamente também conheceríeis Meu Pai. Mas desde agora já O conheceis, pois O tendes visto!
    Disse-Lhe Filipe:
    - Senhor, mostra-nos o Pai e isso basta-nos!
    Respondeu Jesus:
    - Há tanto tempo que estou convosco e não Me conheceste, Filipe! Aquele que Me viu, também viu o Pai. Como, pois, dizes: Mostra-nos o Pai?..."
                                                 Jo 14,1-9

MATERIALISMO, INDIVIDUALISMO E INCREDULIDADE

    São Tomé, contudo, movido pela mesma desconfiança que muitos de nós bem devemos confessar, teria duvidado de Sua Ressurreição e do testemunho que dela davam os Apóstolos, mesmo após três anos seguindo Jesus e presenciando curas, milagres e prodígios, porque ainda não havia visto nenhuma de Suas aparições.
    Porém, mesmo que só mencionada a Ressurreição, ele certamente teria outras dúvidas, bem mais complexas, e seriam as mesmas de muita gente ainda na atualidade: O Filho de Deus, como Ele Se apresentava, morreu? Nosso Salvador poderia morrer? Nosso Salvador não é Deus? Nosso Salvador seria um ser humano, e por isso morreu? O Filho de Deus não é Deus? E sendo Deus, haveria dois Deuses?
    Com efeito, essas perguntas não lhe eram recentes, como que por conta do Calvário da Cruz, senão desde quando o Senhor anunciou Sua Paixão pela primeira vez (cf. Mt 16,21). Ou mesmo antes, quando realizava grandes milagres mas seguia apresentando-Se como um mero ser humano (cf. Jo 5,19)! Porém, graças ao indômito espírito de São Tomé, e aos prodígios que via, as respostas também já estavam em avançados estágios. Tanto que ele até já se oferecia, como vimos, para morrer com Jesus!
    E assim, talvez por excesso de individualismo, estivesse apenas querendo constatar Sua Ressurreição por si mesmo, como os demais Apóstolos, e até discípulos e seguidores puderam. De fato, se a Ressurreição da Carne não era exatamente uma novidade, vale notar que tal milagre sempre se dava por intermédio de outra pessoa, como Elias ressuscitou o filho da viúva de Serepta (cf. 1 Rs 17,22) ou como o próprio Jesus publicamente ressuscitou o filho da viúva de Naim (cf. Lc 7,15) e, o mais impressionante, em vista do estado de decomposição do cadáver, ressuscitou São Lázaro. Ou ainda: deu-se através de uma santa relíquia, como os ossos de Eliseu fizeram ressuscitar um recém-falecido (cf. 2 Rs 13,21).
    O inaudito no caso da Ressurreição de Jesus, então, seria alguém ressuscitar a si mesmo, e assim Ele estaria comprovando mais um de Seus poderes, pois havia afirmado: "O Pai ama-Me porque dou Minha Vida para retomá-la. Ninguém a tira de Mim, mas Eu dou-a de Mim mesmo, pois tenho poder para dá-la como tenho poder para reassumi-la." Jo 10,17-18a
    Por sua luminosa inteligência, portanto, mais que uma ressurreição nosso Apóstolo estaria querendo confirmar uma intuição que já embalava sua alma, e esperava tão somente por uma prova para entregar-se à indizível alegria. Jesus não havia prometido várias vezes que ressuscitaria? Poderia ser apenas essa sua dúvida?
    Nesse sentido, é muito provável que São Tomé estivesse usando de alguma pirraça, e não apenas para com seus condiscípulos, mas, sabidamente, também para com Deus. Jesus reclamou sim de sua incredulidade, que de alguma forma era verdadeira, pois do contrário Ele não a acusaria, mas este termo pode não retratar com precisão a postura de nosso Apóstolo. Senão, como entender que já estivesse pronto para chamá-Lo de Deus? Estaria sendo o último a perceber essa realidade? Ou, na verdade, o primeiro a afirmar, de plena convicção, o que Jesus havia dito a São Filipe: que eles já conheciam a Deus porque O estariam vendo em Sua Pessoa?
    Só há uma razoável hipótese para todas essas perguntas: São Tomé concebia perfeitamente a possibilidade da Ressurreição da Carne, aliás, como ele mesmo vira a do filho da viúva de Naim e a de São Lázaro, e pela Ressurreição de Jesus ansiosamente aguardava, pois confirmaria, e em definitivo, algo ainda mais importante: Sua Divindade. Quanto a sua já efetiva realização, seria por demais insensível, ou mesmo insano, se ele colocasse em verdadeira suspeição tantos relatos de tão próxima e tão confiável gente, como a própria Santa Maria Madalena, alguns respeitáveis discípulos e todos demais Apóstolos, à exceção de Judas Iscariotes.
    Queria, no entanto, atestá-la pessoalmente, tocando ele mesmo Sua Carne rediviva, as marcas da crucificação ainda à vista segundo os testemunhos de seus companheiros. São Lucas registrou do Domingo da Ressurreição, quando ele não estava presente: "Enquanto ainda falavam dessas coisas, Jesus apresentou-Se em meio a deles e disse-lhes: 'A Paz esteja convosco!' Perturbados e espantados, pensaram estar vendo um espírito. Mas Ele disse-lhes: 'Por que estais perturbados, e por que essas dúvidas em vossos corações? Vede Minhas mãos e Meus pés, sou Eu mesmo. Apalpai e vede: um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que tenho.'" Lc 24,36-39
    Nem tão inconveniente, pois, e, como é característico do agir de Deus, sempre obtendo o melhor proveito mesmo que partindo da falibilidade humana, constatando a Divindade de Jesus, e assim abrindo espaço para a compreensão da Revelação da Santíssima Trindade, São Tomé antecipava-se às ainda incipientes conclusões dos Apóstolos, e também da Santa Igreja Católica por nascer, que atravessaria alguns séculos sendo vez e outra fustigada por heresias que levantavam incertezas justamente sobre essa questão.
    E quantos de nós, mesmo hoje, de arrogantemente individualista e imprudente modo não desprezamos tantos testemunhos de tantas maravilhas de Deus pelo mundo a fora, só porque não fomos nós mesmos que as vimos? Como simples exemplos, aí estão as aparições de Nossa Senhora pelo mundo! Quantos conhecem a Promessa de Fátima? Quantos conhecem a Aparição de Akita? Quantos sequer conhecem as promessas da devoção ao Sagrado Coração de Jesus? Ora, quantos 'Tomés' no seio da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo!
    Não por acaso, nessa mesma oportunidade, perante São Tomé Jesus vai exaltar a valorosa fé dos que creem nas maravilhas de Deus mesmo sem as ter presenciado:

    "Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando Jesus veio. Os outros discípulos disseram-lhe:
    - Vimos o Senhor!
    Mas ele replicou-lhes:
    - Se eu não vir em Suas mãos o sinal dos pregos, e não puser meu dedo no lugar dos pregos, e não introduzir minha mão em Seu lado, não acreditarei!
    Oito dias depois, estavam Seus discípulos outra vez no mesmo lugar e Tomé com eles.
    Estando trancadas as portas, veio Jesus, pôs-Se em meio a eles e disse:
    - A Paz esteja convosco!
    Depois disse a Tomé:
    - Introduz aqui teu dedo, e vê Minhas mãos. Põe tua mão em Meu lado. Não sejas incrédulo, mas homem de .
    Respondeu-Lhe Tomé:
    - Meu Senhor e Meu Deus!
    Disse-lhe Jesus:
    - Creste, porque Me viste. Felizes aqueles que creem sem ter visto!"
                                                Jo 20,24-29


TESTEMUNHA DA PRIMAZIA DE SÃO PEDRO

    Este inteligente Apóstolo também foi testemunha do Pontifício de São Pedro, ou seja, da entrega de todo rebanho de Cristo ao pescador galileu, o que ajuda a explicar a reverência que os outros Onze lhe tinham. Aí ele é mencionado em destaque, como o primeiro, só depois de São Pedro. Ativo pensador, teria ele se colocado à direita do Príncipe dos Apóstolos após a aparição de Jesus que viu?

    "Depois disso, tornou Jesus a manifestar-Se a Seus discípulos junto ao lago de Tiberíades. Manifestou-Se deste modo: estavam juntos Simão Pedro, Tomé (chamado Dídimo), Natanael (que era de Caná de Galileia), os filhos de Zebedeu e outros dois de Seus discípulos. Disse-lhes Simão Pedro:
    - Vou pescar.
    Responderam-lhe eles:
    - Nós também vamos contigo.
    Partiram e entraram na barca. Chegada a manhã, Jesus estava na praia. Esta já era a terceira vez que Jesus Se manifestava a Seus discípulos, depois de ter ressuscitado.
    Tendo eles comido, Jesus perguntou a Simão Pedro:
    - Simão, filho de João, amas-Me mais que a estes?
    Respondeu ele:
    - Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo.
    Disse-lhe Jesus:
    - Apascenta Meus cordeiros. Apascenta Minhas ovelhas.'" Jo 21,1-3a.4a.14-15.17b


SUA MISSÃO

    São Tomé, segundo a Sagrada Tradição, era um dos três mais velhos Apóstolos e, assim como São Tiago Maior, São João, São Bartolomeu, São Simão, São André e São Judas Tadeu, não era casado.
    Seus dons de Sabedoria, porém, estão registrados nos próprios Evangelhos, por sempre ser citado junto a São Mateus, cuja erudição inquestionavelmente emerge em seu Evangelho. Aliás, ao citar os Apóstolos em pares, São Mateus mesmo, como vimos, coloca-o à frente de si: "Jesus reuniu Seus Doze discípulos. Conferiu-lhes o poder de expulsar imundos espírito e de curar todo mal e toda enfermidade. Eis os nomes dos Doze Apóstolos: o primeiro, Simão, chamado Pedro; depois André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão; Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o publicano; Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu; Simão, o cananeu, e Judas Iscariotes, que foi o traidor." Mt 10,1-3
    Ele é reconhecido pelo trabalho de pregação aos povos medos e partos, além da divulgação do Nome de Jesus em Pérsia e da primeira missão cristã realizada em Índia. Aí, no ano 53 da nossa era, a mando do rei de Malipura, ele foi assassinado por um golpe de lança enquanto celebrava a Santa Missa na cidade de Madras, região sudeste do país, onde existem um monte e uma Basílica, sobre sua primeira sepultura, que levam seu nome.


    É dele o título de Apóstolo de Índia, como confirmaram os vestígios encontrados por São Francisco Xavier no século XVI. Apesar do politeísmo dominante nesse país, ele ainda é muito venerado pelos cristãos da região de Malabar, ao sul.
    No ano de 232, como presente de um rei indiano, suas relíquias foram levadas a Síria, e, em 1258, por causa das invasões muçulmanas na Terra Santa, à cidade de Ortona, centro-leste de Itália, onde lhes foi erguida uma catedral. Aí vemos a definitiva sepultura, com a lápide confeccionada durante passagem por Grécia, assim com a urna que tempos depois passou a contê-las para veneração.


    São Tomé, rogai por nós!


APÊNDICE

    Outro assunto pelo qual ditos estudiosos evocam o nome de São Tomé é a existência de um livro apócrifo, que dizem ser de sua autoria. Na verdade, o chamado 'Evangelho Segundo São Tomé' é apenas uma coleção de ditos atribuídos a Jesus. Desde os primeiros séculos, porém, estudos realmente sérios já revelaram que os verdadeiros ditos de Jesus, 'Os Discursos', também chamados de 'Logia', haviam sido ajuntados aos primeiros relatos de Sua Paixão e Ressurreição, e, como os detalhes de Sua vida e de Seus atos, formam precisamente os Evangelhos como hoje os conhecemos.
    Os ditos nesse 'evangelho' atribuído a São Tomé, a bem da verdade, são por demais filosóficos, de uma excessivamente transcendental tradição e muito alheia a mais concreta figura de Jesus, isto é, aquela como Ele é conhecido e descrito pelos demais Apóstolos. Sem dúvida, existe 'um' Jesus muito mais real e plausível nos relatos de São Pedro, através de suas Cartas e do Evangelho de São Marcos, nos de São Mateus e São João, em seus próprios Evangelhos, e nos de São Tiago Menor, e São Judas Tadeu, em suas Cartas Apostólicas. Isso só para citar aqueles que foram tão Apóstolos de Cristo como o próprio São Tomé.
    Pois aos relatos dos mais citados Apóstolos também devemos juntar o testemunho de vida de outros tantos discípulos, cujas participações foram registradas nas Escrituras, como o grupo dos 72, entre os quais certamente estavam São Matias, que se tornou Apóstolo, e São Barnabé, que por um tempo chegou a ser chamado de Apóstolo, além de íntimas testemunhas dos Apóstolos, de densidade histórica e grandeza como São Marcos, São Timóteo, São Tito e São Silvano.
    Por fim, uma decisiva pergunta: que dizer dos relatos do próprio São Lucas, um renomado médico, homem de ciência para o mundo de então e ainda de hoje? Ou outra, ainda mais desconcertante: que dizer dos relatos de São Paulo, pessoa tão densa, aliás, concreta do ponto de vista histórico e tão envolvida nos assuntos da fé de Israel à época? E sempre e mais uma vez todos esses testemunhos convergem em favor da história de Jesus que emerge dos livros canônicos.
    A pergunta que fica, então, é: por que só o 'evangelho' de São Tomé, absolutamente atípico, aliás, alheio à própria cultura judaica, à qual indubitavelmente pertencia este Apóstolo, todos outros e até Jesus, seria o verdadeiro, em detrimento dos quatro canônicos que, de modo muito mais verossímil, inclusive pelas pequenas e ligeiras discordâncias, convergem e se confirmam?
    Não bastante, existe ainda uma intenção, principalmente por parte de ateus, de polemizar quanto à identidade de quem seria seu irmão 'oculto', uma vez que Dídimo, um de seus nomes, quer dizer gêmeo. Mas mais uma vez esses 'estudiosos' vagueiam por absolutamente insólitos campos, suscitando flagrantes disparates, e, o que é pior, capciosamente deixando de lado uma montanha de informações muito mais seguras. Ou seja, falta um mínimo de seriedade em tudo isso.