sábado, 18 de outubro de 2025

São Lucas Evangelista


    São Lucas não era judeu, como se deduz da Carta de São Paulo aos Colossenses quando menciona dois grandes Santos, um deles São Marcos, que também viria a ser Evangelista: "Saúda-vos Aristarco, meu companheiro de prisão, e Marcos, primo de Barnabé. A respeito de Marcos, recebestes instruções. Se ele for ter convosco, acolhei-o. Jesus, chamado Justo, também vos saúda. Dentre os judeus, somente estes três trabalham comigo pelo Reino de Deus." Cl 4,10-11
    Mas percebendo desde o início a importância do Apóstolo dos Gentios, que por erudição e profunda espiritualidade brilhava cada vez mais em suas missões, nosso evangelista, que igualmente era estudioso, tornou-se um de seus mais íntimos colaboradores no anúncio da Boa Nova. Está na saudação da Carta de São Paulo a Filemon: "Epafras, meu companheiro de prisão por Cristo Jesus, saúda-te. Igualmente, Marcos, Aristarco, Demas e Lucas, meus colaboradores." Fm 1,23-24
    Além de São Paulo, Loukás conheceu e também conviveu com alguns ou mesmo com todos demais Apóstolos, dos quais obteve privilegiadas informações. Por isso, resolveu escrever o que viria a ser o Evangelho Segundo São Lucas, em concorrência com tantos outros, inclusive aqueles que mais tarde seriam reconhecidos apenas como apócrifos. Ele declarou logo no início: "Muitos empreenderam compor uma história dos acontecimentos que se realizaram entre nós, como no-los transmitiram aqueles que desde o princípio foram testemunhas oculares e que se tornaram Ministros da Palavra. A mim também pareceu, depois de diligentemente haver investigado tudo desde o princípio, escrevê-los para ti segundo a ordem, excelentíssimo Teófilo, para que conheças a solidez daqueles ensinamentos que tens recebido." Lc 1,1-4
    Essas mesmas linhas desfazem uma hipótese que se levanta sobre o próprio São Lucas, apontando-o como um dos setenta e dois discípulos de Jesus (cf. Lc 10,1), uma vez que, como visto, ele não se inclui entre as testemunhas oculares nem entre os Ministros da Palavra. A verdade é que, apesar de tudo que escreveu, em todo Novo Testamento temos pouca informação sobre sua pessoa. Nosso Santo bem atendia, portanto, ao que Nosso Senhor ensinou no Evangelho Segundo São João: "Quem fala por si mesmo busca a própria glória, mas quem busca a Glória de Quem o enviou, é verdadeiro e nele não há injustiça." Jo 7,18
    Ele também registrou os primeiros capítulos da História da Santa Igreja Católica, o fundamental Livro de Atos dos Apóstolos, onde temos importantíssimos detalhes sobre como Jesus ministrava Seus ensinamentos, sobre a ação do Espírito Santo e sobre o nascimento da Tradição Cristã: "Em minha primeira narração, ó Teófilo, contei toda sequência das ações e dos ensinamentos de Jesus, desde o princípio até o dia em que, depois de ter dado pelo Espírito Santo Suas instruções aos Apóstolos que escolhera, foi arrebatado ao Céu. E a eles manifestou-Se vivo depois de Sua Paixão, com muitas provas, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando das coisas do Reino de Deus. E comendo com eles, ordenou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem o cumprimento da promessa de Seu Pai, 'que ouvistes', disse Ele, 'de Minha boca. Porque João batizou na água, mas vós sereis batizados no Espírito Santo daqui a poucos dias.'" At 1,1-5
    Nesse Livro, nosso Amado Médico, como São Paulo o chamou, várias vezes inclui-se na narrativa, pois de fato tomou parte de um longo período de sua vida e viagens. Segundo Santo Irineu, eles ter-se-iam encontrado pela primeira vez na cidade de Trôade, na costa noroeste de atual Turquia, por volta do ano 51 de nossa era, antes da viagem a Macedônia, que se deu logo após uma aparição do anjo desta nação: "Depois de rapidamente haverem atravessado Mísia, (São Paulo e São Timóteo) desceram a Trôade. De noite, Paulo teve uma visão: um macedônio, em pé, diante dele, rogava-lhe: 'Passa a Macedônia e vem em nosso auxílio!' Assim que teve essa visão, procuramos partir para Macedônia, certos de que Deus nos chamava a pregar-lhes o Evangelho." At 16,8-10


    E realmente fizeram amizade que se mostraria para sempre: "Embarcados em Trôade, fomos diretamente à Samotrácia e no outro dia a Neápolis e dali a Filipos, que é a cidade principal daquele distrito de Macedônia, uma colônia romana. Nesta cidade, detivemo-nos por alguns dias. No sábado, saímos fora da porta para junto do rio, onde pensávamos haver lugar de oração. Aí nos assentamos e falávamos às mulheres que se haviam reunido." At 16,11-13
    Foi visto, junto a São Paulo e seus seguidores, como servo de Deus por um mau espírito, e testemunhou um exorcismo: "Certo dia, quando íamos à oração, eis que nos veio ao encontro uma moça escrava que tinha o espírito de Pitão, a qual com suas adivinhações dava muito lucro a seus senhores. Pondo-se a seguir a Paulo e a nós, gritava: Estes homens são servos do Deus Altíssimo, que vos anunciam o Caminho da Salvação. Repetiu isto por muitos dias. Por fim, Paulo enfadou-se. Voltou-se para ela e disse ao espírito: 'Ordeno-te em Nome de Jesus Cristo que saias dela.' E na mesma hora ele saiu." At 16,16-18
    Mas com a revolta que se deu na cidade, não foi açoitado nem preso como aconteceu com São Paulo e São Silas, também chamado São Silvano: "O povo insurgiu-se contra eles. Os magistrados mandaram arrancar-lhes as vestes para os açoitar com varas. Depois de terem-lhes feito muitas chagas, meteram-nos na prisão, mandando ao carcereiro que os guardasse com segurança. Este, conforme a ordem recebida, meteu-os na prisão inferior e prendeu-lhes os pés ao cepo. Pela meia-noite, Paulo e Silas rezavam e cantavam um hino a Deus, e os prisioneiros os escutavam." At 16,22-26
    Dadas as controvérsias e confusões, e a grande quantidade de colaboradores de São Paulo, contados em dezenas, depois de uma breve separação nosso Santo voltou a encontrar-se com ele em Trôade. Foi após uma grande agitação na cidade de Éfeso, quando o Apóstolo dos Gentios foi denunciado por tirar a população do culto que aí se prestava à deusa Ártemis: "Depois que cessou o tumulto, Paulo convocou os discípulos. Fez-lhes uma exortação, despediu-se e pôs-se a caminho de Macedônia. Percorreu aquela região, exortou os discípulos com muitas palavras e chegou a Grécia, onde se deteve por três meses. Como os judeus lhe armassem ciladas no momento em que ia embarcar para Síria, tomou a resolução de voltar a Macedônia. Acompanharam-no Sópatro de Bereia, filho de Pirro, e os tessalonicenses Aristarco e Segundo, Gaio de Derbe, Timóteo, Tíquico e Trófimo, de Ásia. Estes foram à frente e esperaram-nos em Trôade. Nós, só depois da festa de Páscoa é que navegamos de Filipos. E cinco dias depois fomos ter com eles em Trôade, onde ficamos uma semana." At 20,1-6
    E aí, num Domingo como desde de sempre os cristãos guardavam, realizando a Santa Missa, viu-o operar uma Ressurreição, que bem lembrou a realizada pelo Profeta Elias (cf. 1 Rs 17,21-22): "No primeiro dia da semana, estando nós reunidos para partir o Pão, Paulo, que havia de viajar no dia seguinte, conversava com os discípulos e prolongou suas palavras até a meia-noite. Havia muitas lâmpadas no quarto, onde nos achávamos reunidos. Acontece que um moço, chamado Êutico, que estava sentado numa janela, foi tomado de profundo sono enquanto Paulo ia prolongando seu discurso. Vencido pelo sono, caiu do terceiro andar abaixo, e foi levantado morto. Paulo desceu, debruçou-se sobre ele, tomou-o nos braços e disse: 'Não vos perturbeis, porque sua alma está nele.'" At 20,7-10
    Nova separação teve fim noutra cidade, na mesma região, um pouco mais ao sul. Mas desta vez por uma mera decisão do próprio Apóstolo. E aí também registrou a celebração que os cristãos faziam do dia no nascimento da Santa Igreja: "Nós tínhamo-nos adiantado e navegado para Assos, para ali recebermos Paulo. Ele mesmo assim o havia disposto, preferindo fazer a viagem a pé. Reuniu-se a nós em Assos, e nós tomamo-lo a bordo e fomos a Mitilene. Continuando dali, sempre por mar, chegamos no dia seguinte defronte de Quios. No outro dia, chegamos a Samos, e um dia depois estávamos em Mileto. Paulo havia determinado não ir a Éfeso, para não se demorar em Ásia, pois se apressava para celebrar, se possível em Jerusalém, o dia de Pentecostes." At 20,13-16
    De Mileto seguiram viagem até Cesareia, já em Judeia, onde se hospedaram na casa de São Filipe Diácono (cf. At 6,5): "Depois de separarmo-nos deles (anciãos de Éfeso), embarcamos e fomos em direção a Cós, e no dia seguinte a Rodes e dali a Pátara. Aí encontramos um navio que ia partir a Fenícia. Entramos e seguimos viagem. Quando estávamos à vista de Chipre, deixando-a à esquerda, continuamos rumo a Síria e aportamos em Tiro, onde o navio devia ser descarregado. Como achássemos uns discípulos, detivemo-nos com eles por sete dias. Eles, sob a inspiração do Espírito, aconselhavam Paulo que não subisse a Jerusalém. Mas, passados que foram esses dias, partimos e seguimos nossa viagem. Todos eles com suas mulheres e filhos acompanharam-nos até fora da cidade. Ajoelhados na praia, fizemos nossa oração. Despedimo-nos então e embarcamos, enquanto eles voltaram para suas casas. Navegando, fomos de Tiro a Ptolemaida, onde saudamos os irmãos, passando um dia com eles. Partindo no dia seguinte, chegamos a Cesareia e, entrando na casa de Filipe, o evangelista, que era um dos sete, ficamos com ele. Tinha quatro filhas virgens que profetizavam." At 21,1-9
    Aí ouviram o profeta Agabo advertir que São Paulo seria preso em Jerusalém, como os fiéis de Tiro já temiam, mas ele não desistiu. Era a última visita deste grande pregador a Cidade Santa: "A estas palavras, nós e os fiéis que eram daquele lugar, rogamos-lhe que não subisse a Jerusalém. Paulo, porém, respondeu: 'Por que chorais e me magoais o coração? Pois eu estou pronto não só a ser preso, mas também a morrer em Jerusalém pelo Nome do Senhor Jesus.' Como não pudéssemos persuadi-lo, desistimos, dizendo: 'Faça-se a vontade do Senhor!' Depois desses dias, terminados os preparativos, subimos a Jerusalém. Conosco também foram alguns dos discípulos de Cesareia, que nos levaram à casa de Menason de Chipre, um antigo discípulo em cuja casa nos devíamos hospedar. A nossa chegada em Jerusalém, os irmãos receberam-nos com alegria." At 21,12-17
    Uma vez aí, ele não deixou de reverenciar o bispo da Cidade Santa, que depois de São Pedro foi São Tiago Menor (cf. At 12,17), que era parente de Jesus: "No dia seguinte, Paulo dirigiu-se conosco à casa de Tiago, onde todos anciãos se reuniram." At 21,18
    São Lucas acompanhou São Paulo em viagem a Roma, já sob custódia da guarda imperial, onde seria julgado por César (cf. At 25,11). De fato, ele havia sido preso em Jerusalém pelo tribuno militar, oficial romano, dada uma agitação popular ocorrida por sua presença no Templo, sob forte segurança transferido para Cesareia, pois os judeus tinham plano para o assassinar (cf. At 23,12), e aí foi mantido em cárcere por dois anos (cf. At 24,27): "Logo que foi determinado que embarcássemos para Itália, Paulo foi entregue com outros presos a um centurião da coorte augusta, chamado Júlio." At 27,1


    E assim seguiram: "Embarcamos num navio de Adramito que devia costear as terras de Ásia, e levantamos âncora. Em nossa companhia estava Aristarco, macedônio de Tessalônica. No dia seguinte, fazendo escala em Sidônia, Júlio, usando de bondade com Paulo, permitiu-lhe ir ver seus amigos e prover-se do que havia de necessário. Dali, fazendo-nos ao mar, fomos navegando perto das costas de Chipre, por serem-nos contrários os ventos. Tendo atravessado o mar de Cilícia e de Panfília, chegamos a Mira, cidade de Lícia. O centurião ali encontrou um navio de Alexandria, que rumava a Itália, e fez-nos passar para ele. Por muitos dias lentamente navegamos e com dificuldade até diante de Cnido, onde o vento não nos permitiu aportar. Fomos então costeando ao sul da ilha de Creta, junto ao cabo Salmona. Navegando com dificuldade ao longo da costa, chegamos afinal a um lugar, a que chamam Bons Portos, perto do qual está a cidade de Lasaia." At 27,2-8
    Mas o tempo não se mostrou favorável: "Sem poder resistir à ventania, o navio foi arrebatado e deixamo-nos arrastar. Rapidamente impelidos para uma pequena ilha chamada Cauda, conseguimos, com muito esforço, recolher o batel. Içaram-no e, depois, como meio de segurança, cingiram o navio com cabos. Então, temendo encalhar em Sirte, arriaram as velas e entregaram-se à mercê dos ventos. No dia seguinte, sendo a tempestade ainda mais violenta, atiraram fora a carga. No terceiro dia, atiramos para fora com nossas próprias mãos os acessórios do navio. Ora, não aparecendo por muitos dias nem sol nem estrelas, e sendo batidos por forte tempestade, tínhamos por fim perdido toda esperança de sermos salvos." At 27,15-20
    São Paulo, então, profetizou que chegariam a uma ilha: "Já estávamos na décima quarta noite, pelo mar Adriático, quando, pela meia-noite, os marinheiros pressentiram que estavam perto de alguma terra. Então, atirando a sonda, perceberam que a profundidade era de vinte braças. Depois, um pouco mais adiante, viram que era de quinze braças. Temendo que déssemos em algum recife, lançaram quatro âncoras da popa, esperando ansiosos que amanhecesse o dia." At 27,27-29
    Vieram, pois, a naufrágio no mar da ilha de Malta, atualmente país, ao sul da ilha italiana de Sicília: "No navio, éramos ao todo duzentas e setenta e seis pessoas. Afinal, clareou o dia. Os marinheiros não reconheceram a terra, mas viram uma enseada com uma praia, na qual tencionavam encalhar o navio, caso o pudessem. Mas deram numa língua de terra, e aí o navio encalhou. A proa, encalhada, permanecia imóvel, ao mesmo tempo que a popa se abria com a força do mar. Os soldados tencionavam matar os presos, por temerem que algum deles fugisse a nado. O centurião, porém, querendo salvar Paulo, impediu que o fizessem e ordenou que aqueles que pudessem nadar fossem os primeiros a lançar-se ao mar e alcançar a terra. Os demais, uns atingiram a terra em tábuas, outros em cima dos destroços do navio. Desse modo, todos conseguiram chegar à terra, sãos e salvos. Estando já salvos, então soubemos que a ilha se chamava Malta." At 27,37-39.41-44; 28,1
    E ai testemunhou mais milagres deste grande Santo: "Os indígenas trataram-nos com extraordinária benevolência. Acenderam uma grande fogueira e em torno dela recolheram-nos, em vista da chuva que caía e do frio que fazia. Havia na vizinhança sítios pertencentes ao principal da ilha, chamado Públio. Este homem hospedou-nos por três dias em sua casa, tratando-nos bem. Ora, o pai desse Públio achava-se acamado com febre e sofrendo de disenteria. Paulo foi visitá-lo e, orando e impondo-lhe as mãos, sarou-o. Depois desse fato, vieram ter com ele todos habitantes da ilha que se achavam doentes, e foram curados. Assim tiveram conosco toda sorte de considerações e, quando estávamos para navegar, proveram-nos do que era necessário." At 28,2.7-10
    Partiram, então, para o destino que tinham, numa embarcação que tinha como bandeira irmãos gêmeos da mitologia greco-romana: "Ao termo de três meses, embarcamos num navio de Alexandria, que havia passado o inverno na ilha. Este navio levava por insígnias os Dióscuros. Fizemos escala em Siracusa, onde ficamos três dias. De lá, seguindo a costa, atingimos Régio. No dia seguinte, soprava o vento sul e chegamos em dois dias a Pozzuoli. Ali encontramos irmãos que nos rogaram que ficássemos em sua companhia sete dias. Em seguida, dirigimo-nos a Roma." At 28,11-14
    Ele chegou, enfim, com São Paulo a um mercado na Via Apia, a cerca de 60 quilômetros de Roma, e depois a uma vila mais à frente, duas ocasiões em que cristãos vieram acompanhar-lhes: "Os irmãos de Roma foram informados de nossa chegada e vieram a nosso encontro até o Foro de Ápio e as Três Tavernas. Ao vê-los, Paulo deu graças a Deus e sentiu-se animado. Chegados que fomos a Roma, foi concedida licença a Paulo para que ficasse em casa própria com um soldado que o guardava." At 28,15
    Na despedida de sua Carta aos Colossenses, escrita durante esta primeira prisão, que também durou dois anos (cf. At 28,30) e podemos chamar de 'domiciliar', ainda que também tivesse o braço esquerdo acorrentado ao braço deste soldado, ele diz-nos a profissão de São Lucas, que mesmo nessa situação se manteve em sua companhia: "Saúdam-vos, enfim, Lucas, o Amado Médico..." Cl 4,14
    E quando São Paulo foi preso pela segunda vez em Roma, agora encarcerado, mais uma vez São Lucas era seu fiel companheiro. Está escrito ao fim da Segunda Carta de São Paulo a São Timóteo: "Só Lucas está comigo." 2 Tm 4,11


    Exatamente por causas de seu ofício, é tão importante o registro que ele fez da imposição de mãos que Jesus fez sobre a sogra de São Pedro. De fato, ele não aponta a cura de uma simples febre, que bem conhecia, mas propriamente um exorcismo: "Saindo Jesus da sinagoga, entrou na casa de Simão. A sogra de Simão estava com alta febre e pediram-Lhe por ela. Inclinando-Se sobre ela, ordenou Ele à febre, e a febre deixou-a. Ela imediatamente levantou-se e pôs-se a servi-los." Lc 4,38-39
    Igual peso, e pelo mesmo motivo, tem seu relato sobre a agonia de Nosso Senhor no Jardim das Oliveiras, quando anotou um fenômeno médico: "Ele entrou em agonia e rezava com ainda mais instância, e Seu suor tornou-se como gotas de Sangue a escorrer por terra." Lc 22,44
    Enfim, podemos dizer que São Lucas é o Evangelista do Espírito Santo, pois vai mencioná-Lo mais que os outros evangelistas juntos: são 14 vezes. E no Livro de Atos dos Apóstolos, início do tempo da Igreja Católica, fica clara a importância que Lhe confere: são 39 menções, quando com nitidez vemos que o Divino Espírito é Deus e francamente Se põe à frente da Igreja. Aliás, como o próprio Jesus havia predito (cf. Jo 16,13).
    Ora, é dele as imagens que temos do Pentecostes, quando a Igreja nasceu Católica, para assim falar ao mundo desde o primeiro instante: "Chegando o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um ruído, como se soprasse um impetuoso vento, e encheu toda casa onde estavam sentados. Apareceu-lhes então uma espécie de línguas de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Ficaram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar em línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem. Achavam-se em Jerusalém piedosos judeus de todas nações que há debaixo do céu. Ouvindo aquele ruído, reuniu-se muita gente e maravilhava-se de que cada um os ouvia falar em sua própria língua." At 2,1-6
    Da mesma forma, pode-se dizer que São Lucas é o Evangelista de Nossa Senhora. Por não ser judeu, e assim em mais abrangente perspectiva contemplar a tradição deles, refere-se à Santíssima Virgem por 12 vezes, quer dizer, também mais que os outros evangelistas juntos. E se não é possível dizer que a tenha conhecido, certamente conheceu a comunidade cristã que a venerava, pois registra a expressão "desde agora" que ela usou logo após a Anunciação, ou seja, o nascimento de uma devoção que se antecipa ao próprio estabelecimento da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo: "Por isto, desde agora todas gerações proclamá-me-ão bem-aventurada." Lc 1,48b
    E este assim como entre tantos outros detalhes de que nos informa, como a Anunciação, a visita a Santa Isabel, as inspiradas palavras de seu Magnificat e importantíssimos fatos da infância de Jesus, como Sua Páscoa em Jerusalém aos 12 anos de idade, quando expressou indissociabilidade da Casa do Pai (cf. Lc 2,49), e Sua submissão a Maria Santíssima e São José (cf. Lc 2,51). Apontou, ademais, a expressiva condição religiosa da Mãe de Deus, que vemos em sua reação à aparição de São Gabriel Arcanjo (cf. Lc 1,29), que absolutamente não estranhou, senão o significado de suas palavras.
    E registros ainda dão conta de que nosso Santo mesmo pintou o primeiro quadro de Maria, que deu origem ao ícone abaixo, de Nossa Senhor do Perpétuo Socorro. O original, infelizmente, desfez-se.


    Um antigo documento, prólogo do Evangelho de São Lucas, muito provavelmente escrito no século II, dá-nos as seguintes informações: "Lucas é um sírio de Antioquia, sírio pela raça, médico de profissão. Tornou-se discípulo dos Apóstolos e mais tarde seguiu a Paulo até seu martírio. Tendo com perseverança servido ao Senhor, solteiro e sem filhos, cheio da Graça do Espírito Santo, morreu aos 84 anos de idade."
    São Jerônimo, Historiador e Doutor da Igreja, que é do século IV, disse a seu respeito: "Era discípulo e inseparável companheiro de São Paulo. Nasceu em Antioquia, exercia a profissão de médico. Ao mesmo tempo, cultivava as letras e chegou a ser muito versado em língua e literatura gregas. Seu gosto literário ressalta nessa preciosa História (Atos dos Apóstolos) que nos deixou da origem do Cristianismo, mais completa em muitíssimos pontos que a dos demais evangelistas, melhor ordenada e de mais agradável leitura."
    São Lucas foi martirizado na região de Bitínia, costa do Mar Negro, em atual Turquia, mas ainda no ano de 357 suas relíquias foram levadas para Constantinopla pelo Imperador Constâncio, filho de Constantino, e depositadas na igreja dos Santos Apóstolos, junto às relíquias de Santo André e São Timóteo. São Gregório Magno, um dos Padres Latinos e quarto Doutor da Igreja, levou-as a Itália ao fim de sua nunciatura, e depositou-as na igreja do Mosteiro de Santo André, que ele havia fundado no Monte Célio, próximo a Roma.
    É o Santo Padroeiro dos médicos e dos artistas.
    Atualmente encontram-se na cidade de Pádua, norte de Itália, na Basílica de Santa Justina, onde recentemente tiveram a autenticidade reconhecida. Seu esqueleto está miraculosamente bem preservado.


    São Lucas, rogai por nós!