quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Visões e Aparições (II)


NO NOVO TESTAMENTO

    As revelações da Nova Aliança começam com a aparição do Arcanjo São Gabriel ao sacerdote Zacarias no Templo de Jerusalém, para anunciar o nascimento de São João Batista, seu filho. É do Evangelho Segundo São Lucas: "Ora, exercendo Zacarias diante de Deus as funções de sacerdote, na ordem de sua classe, coube-lhe por sorte, segundo o costume em uso entre os sacerdotes, entrar no santuário do Senhor e aí oferecer o incenso. Todo povo estava de fora, à hora da oferenda do incenso. Apareceu-lhe, então, um anjo do Senhor, em pé, à direita do altar do incenso. Vendo-o, Zacarias ficou perturbado e o temor assaltou-o. Mas o anjo disse-lhe: 'Não temas, Zacarias, porque foi ouvida tua oração: Isabel, tua mulher, dá-te-á um filho, e chamá-lo-ás João. Ele será para ti motivo de gozo e alegria, e muitos alegrar-se-ão com seu nascimento. Porque será grande diante do Senhor e não beberá vinho nem cerveja, e desde o ventre de sua mãe será cheio do Espírito Santo. Ele converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, Seu Deus, e irá adiante de Deus com o Espírito e poder de Elias para reconduzir os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à Sabedoria dos justos, e assim preparar ao Senhor um povo bem disposto.' Zacarias perguntou ao anjo: 'Como terei certeza disto? Pois sou velho e minha mulher é de avançada idade.' O anjo respondeu-lhe: 'Eu sou Gabriel, que assisto diante de Deus, e fui enviado para falar-te e trazer-te esta Boa Nova. Eis que ficarás mudo e não poderás falar até o dia em que estas coisas acontecerem, visto que não deste crédito às minhas palavras, que hão de cumprir-se a seu tempo.' Entretanto, o povo estava esperando Zacarias, e admirava-se de ele demorar-se tanto tempo no santuário. Ao sair, não lhes podia falar, e compreenderam que no santuário tivera uma visão. Ele explicava-lhes isto por acenos, e permaneceu mudo." Lc 1,8-22
     Seis meses depois, este mesmo Arcanjo vai aparecer a Nossa Senhora na mais remota região de Israel, para anunciar-lhe o Nascimento de Nosso Salvador. E perfeitamente afeita às manifestações celestes, Nossa Mãe Celeste não vai estranhar sua aparição: "No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade de Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem que se chamava José, da casa de Davi, e o nome da virgem era Maria. Entrando onde ela estava, disse-lhe: 'Ave, cheia de Graça, o Senhor é contigo.' Perturbou-se ela com estas palavras, e pôs-se a pensar o que significaria semelhante saudação. O anjo disse-lhe: 'Não temas, Maria, pois encontraste Graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um Filho, e pô-Lhe-ás o Nome de Jesus. Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus dá-Lhe-á o trono de Seu pai Davi. Ele reinará eternamente na Casa de Jacó, e Seu Reino não terá fim.' Maria perguntou ao anjo: 'Como se fará isso, pois não conheço homem algum?' Respondeu-lhe o anjo: 'O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo envolvê-te-á com Sua sombra. Por isso, o Ente Santo que de ti nascer será chamado Filho de Deus. Isabel, tua parenta, também concebeu um filho em sua velhice. E já está no sexto mês aquela que é tida por estéril, porque para Deus nenhuma coisa é impossível.' Então disse Maria: 'Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo tua palavra.' E o anjo afastou-se dela." Lc 1,26-38
    E como ela não poderia explicar tal gestação a São José, o Anjo da Guarda dele tratou de falar-lhe em sonhos. E atribuindo a São José dar nome ao Menino, o Evangelho Segundo São Mateus anotou: "Eis como nasceu Jesus Cristo: Maria, Sua mãe, estava desposada com José. Antes de coabitarem, aconteceu de ela conceber por virtude do Espírito Santo. José, seu esposo, que era homem de bem, não querendo difamá-la, resolveu secretamente rejeitá-la. Enquanto assim pensava, eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse: 'José, filho de Davi, não temas receber Maria por esposa, pois Aquele que nela foi concebido vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um Filho, a Quem porás o Nome de Jesus, porque Ele salvará Seu povo de seus pecados.' Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor falou pelo Profeta: 'Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um Filho, que Se chamará Emanuel (Is 7,14), que significa: Deus conosco.' Despertando, José fez como o anjo do Senhor lhe havia mandado, e recebeu em sua casa sua esposa." Mt 1,18-24


    E assim, na noite de Natal, uma multidão de anjos apareceu a pastores da cidade de Belém, lugar de recenseamento de São José, para que fossem adorar o Menino Jesus: "Havia nos arredores uns pastores, que durante as vigílias da noite guardavam seu rebanho nos campos. Um anjo do Senhor apareceu-lhes e a Glória do Senhor refulgiu ao redor deles, e tiveram grande temor. O anjo disse-lhes: 'Não temais! Eis que vos anuncio uma Boa Nova que será alegria para todo o povo: hoje, na Cidade de Davi, vos nasceu um Salvador, que é o Cristo Senhor. Isto servi-vos-á de sinal: achareis um Recém-Nascido envolto em faixas e posto numa manjedoura.' E subitamente ao anjo juntou-se uma multidão do Celeste Exército, que louvava a Deus e dizia: 'Glória a Deus no mais alto dos Céus, e Paz na Terra aos homens, objetos da divina benevolência.' Depois que os anjos os deixaram e voltaram para o Céu, falaram os pastores uns com os outros: 'Vamos a Belém, e vejamos o que se realizou e o Senhor nos manifestou.' Foram com grande pressa e acharam Maria e José, e o Menino deitado na manjedoura. Vendo-O, contaram o que se lhes havia dito a respeito deste Menino. Todos que ouviam, admiravam-se das coisas que lhes contavam os pastores. Maria conservava todas estas palavras, meditando-as em seu coração. Voltaram os pastores, glorificando e louvando a Deus por tudo que tinham ouvido e visto, e que estava de acordo com o que lhes fora dito." Lc 2,8-20
    Mas eles não foram os únicos. Reis do Oriente, atestando o caráter universal da manifestação do Salvador, foram guiados por uma estrela a Belém, assim como por um anjo a seus países na viagem de retorno: "Tendo, pois, Jesus nascido em Belém de Judá, no tempo do rei Herodes, eis que magos vieram do Oriente a Jerusalém. Perguntaram eles: 'Onde está o Rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos Sua estrela no Oriente e viemos adorá-Lo.' A esta notícia, o rei Herodes ficou perturbado e com ele toda Jerusalém. Convocou os príncipes dos sacerdotes e os escribas do povo, e indagou-lhes onde havia de nascer o Cristo. Disseram-lhe: 'Em Belém, na Judeia, porque assim foi escrito pelo Profeta: E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor entre as cidades de Judá, porque de ti sairá o Chefe que governará Israel, Meu povo (Mq 5,2).' Herodes, então, secretamente chamou os magos e perguntou-lhes sobre a exata época em que o astro lhes havia aparecido. E enviando-os a Belém, disse: 'Ide e informai-vos bem a respeito do Menino. Quando O tiverdes encontrado, comunicai-me, para que eu também vá adorá-Lo.' Tendo eles ouvido as palavras do rei, partiram. E eis que a estrela, que tinham visto no Oriente, foi precedendo-os até chegar sobre o lugar onde estava o Menino e ali parou. A aparição daquela estrela encheu-os de profunda alegria. Entrando na casa, acharam o Menino com Maria, Sua mãe. Prostrando-se diante d'Ele, adoraram-nO. Depois, abrindo seus tesouros, ofereceram-Lhe como presentes: ouro, incenso e mirra. Avisados em sonhos de não tornarem a Herodes, voltaram à sua terra por outro caminho." Mt 2,1-12
     E depois da visita dos Reis Magos, o Anjo da Guarda de São José mandou que a Sagrada Família fugisse de Herodes: "Depois de sua partida, um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse: 'Levanta-te, toma o Menino e Sua mãe e foge para o Egito! Fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o Menino para matá-Lo.' José levantou-se durante a noite, tomou o Menino e Sua mãe e partiu para o Egito. Ali permaneceu até a morte de Herodes, para que se cumprisse o que o Senhor dissera pelo Profeta: 'Do Egito, Eu chamei Meu Filho (Os 11,1).'" Mt 2,13-15
    Bem como lhe mandou voltar a Israel, e ir morar em Nazaré: "Com a morte de Herodes, o anjo do Senhor apareceu em sonhos a José, no Egito, e disse: 'Levanta-te, toma o Menino e Sua mãe e retorna à terra de Israel, porque morreram aqueles que atentavam contra a vida do Menino.' José levantou-se, tomou o Menino e Sua mãe e foi para a terra de Israel. Ao ouvir, porém, que Arquelau reinava na Judeia, em lugar de seu pai Herodes, não ousou ir para lá. Divinamente avisado em sonhos, retirou-se para a província de Galileia e veio habitar na cidade de Nazaré, para que se cumprisse o que foi dito pelos Profetas: 'Será chamado Nazareno.'" Mt 2,19-23
    A vida pública de Jesus começa com Seu Batismo por São João Batista, quando Lhe apareceu o Espírito Santo e se ouviu a voz do Pai: "De Galileia, foi Jesus ao Jordão ter com João, a fim de por ele ser batizado. João recusava-se: 'Eu devo ser batizado por Ti e Tu vens a mim?' Mas Jesus respondeu-lhe: 'Deixa por agora, pois convém que cumpramos toda justiça.' João então cedeu. Depois que Jesus foi batizado, logo saiu da água, e eis que os Céus se abriram e se viu sobre Ele descer, em forma de pomba, o Espírito de Deus. E do Céu baixou uma voz: 'Eis Meu Amado Filho, em quem ponho Minha afeição." Mt 3,13-17
    E logo depois o Diabo manifestou-se a Ele: "Cheio do Espírito Santo, voltou Jesus do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto, onde foi tentado pelo Demônio durante quarenta dias. Durante este tempo, Ele nada comeu e, terminados estes dias, teve fome. Disse-Lhe, então, o Demônio: 'Se és o Filho de Deus, ordena a esta pedra que se torne pão.' Jesus respondeu: 'Está escrito: Não só de pão vive o homem, mas de toda Palavra de Deus (Dt 8,3).' Em seguida, o Demônio levou-O a um alto monte e num só momento mostrou-Lhe todos reinos da Terra, e disse-Lhe: 'Dá-Te-ei todo o poder e a glória desses reinos, porque me foram dados, e dou-os a quem quero. Portanto, se Te prostrares diante de mim, tudo será Teu.' Jesus disse-lhe: 'Está escrito: Adorarás o Senhor Teu Deus, e só a Ele só servirás (Dt 6,13).' O Demônio ainda O levou a Jerusalém, à mais alta parte do Templo, e disse-Lhe: 'Se és o Filho de Deus, lança-Te daqui abaixo! Porque está escrito: Ordenou a Seus anjos a teu respeito, que te guardassem. E que te sustivessem em suas mãos, para não ferires teu pé nalguma pedra (Sl 90,11).' Jesus disse: 'Foi dito: Não tentarás o Senhor Teu Deus (Dt 6,16).' Depois de tê-Lo tentado de todos modos, o Demônio apartou-se d'Ele até outra ocasião." Lc 4,1-13
    Então, vieram-Lhe Seus anjos, na narrativa de São Mateus: "Em seguida, o Demônio deixou-O, e os anjos aproximaram-se d'Ele para servi-Lo." Mt 4,11
    Ora, a própria vida pública de Jesus era uma grande manifestação dos Céus, como Ele vai dizer aos Apóstolos, explicando-lhes porque falava ao povo em parábolas: "Mas quanto a vós, bem-aventurados vossos olhos, porque vêem! Ditosos vossos ouvidos, porque ouvem! Eu declaro-vos, em Verdade: muitos Profetas e justos desejaram ver o que vedes e não o viram, ouvir o que ouvis e não ouviram." Mt 13,16-17
    E segundo o Evangelho Segundo São João, disse em Jerusalém, após o Domingo de Ramos, aos líderes religiosos judeus que n'Ele creram: "... e aquele que Me vê, vê Aquele que Me enviou." Jo 12,45
    Teve que dizê-lo ainda mais claramente a São Filipe, Seu Apóstolo, logo depois da Santa Ceia: "Respondeu Jesus: 'Há tanto tempo que estou convosco e não Me conheceste, Filipe! Aquele que Me viu, também viu o Pai.'" Jo 14,9a
    Mas realmente havia alguns detalhes a serem observados, como Ele mesmo afirmou quando retornavam os Apóstolos, da primeira missão em que os enviou: "Por aquele tempo, Jesus pronunciou estas palavras: 'Eu bendigo-Te, Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequenos." Mt 11,25
    E aí mesmo Ele vai acrescentar: "Todas coisas foram-Me dadas por Meu Pai. Ninguém conhece o Filho, senão o Pai, e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho quiser revelá-Lo." Mt 11,27
    Não por acaso, o Amado Discípulo, em profunda conclusão, iniciou seu Evangelho afirmando: "Ninguém jamais viu Deus. O Único Filho, que está no seio do Pai, foi Quem O revelou." Jo 1,18
    Com efeito, Nosso Senhor havia prometido aos primeiros Apóstolos a realização dos sonho de Jacó, logo após Seu Batismo por São João: "Em Verdade, em Verdade, digo-vos: vereis o Céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem." Jo 1,51
    Por isso, em Sua Transfiguração, seis dias depois de anunciar Sua Paixão, apareceram-Lhe Moisés e Elias, que foram vistos por São Pedro, São Tiago Maior e São João Evangelista. Era, assim como em Seu Batismo, mais uma simultânea manifestação da Santíssima Trindade, pois a nuvem é uma das formas assumidas pelo Espírito Santo: "Seis dias depois, Consigo Jesus tomou Pedro, Tiago e João, seu irmão, e conduziu-os à parte a uma alta montanha. Lá Se transfigurou em presença deles: Seu rosto brilhou como o sol, Suas vestes tornaram-se resplandecentes de brancura. E eis que apareceram Moisés e Elias conversando com Ele. Pedro então tomou a palavra e disse-Lhe: 'Senhor, é bom estarmos aqui. Se queres, farei aqui três tendas: uma para Ti, uma para Moisés e outra para Elias.' Ele ainda falava, quando veio uma luminosa nuvem e os envolveu. E daquela nuvem fez-se ouvir uma voz que dizia: 'Eis Meu Amado Filho, em Quem pus toda Minha afeiçãoOuvi-O!' Ouvindo esta voz, os discípulos caíram com a face por terra e tiveram medo. Mas Jesus aproximou-Se deles e tocou-os, dizendo: 'Levantai-vos e não temais.' Eles levantaram os olhos e não viram mais ninguém, senão Jesus. E quando desciam, Jesus fez-lhes esta proibição: 'Não conteis a ninguém o que vistes, até que o Filho do Homem ressuscite dos mortos.'" Mt 17,1-9
    E sem especificar como, Jesus prometeu manifestar-Se pessoalmente aos Seus fiéis, mesmo após Sua Ascensão. Isso deu-se momentos antes do início de Sua Paixão, e levaria o Apóstolo São Judas Tadeu, Seu parente, a perguntar-Lhe por que não Se manifestar ao mundo: "Aquele que tem e guarda Meus Mandamentos, esse é que Me ama. E aquele que Me ama, será amado por Meu Pai, e Eu amá-lo-ei e a ele manifestar-Me-ei." Jo 14,21
    Já no Getsêmani, a exemplo dos quarenta dias no deserto, também apareceu um anjo para consolar Jesus. Foi logo que deixaram o Cenáculo, que veio a ser a primeira igreja: "Conforme Seu costume, Jesus dali saiu e dirigiu-Se para o Monte das Oliveiras, seguido de Seus discípulos. Ao chegar àquele lugar, disse-lhes: 'Orai para que não caiais em tentação.' Depois, afastou-Se deles à distância de um tiro de pedra e, ajoelhando-Se, orava: 'Pai, se é de Teu agrado, afasta de Mim este cálice! Não se faça, todavia, Minha vontade, mas sim a Tua.' Apareceu-Lhe, então, um anjo do Céu para confortá-Lo." Lc 22,39-43


O RESSUSCITADO

    No Domingo da Ressurreição, primeiro um anjo apareceu a Santa Maria Madalena, a Maria de Cleofas e aos guardas que vigiavam o Santo Sepulcro: "Depois do sábado, quando amanhecia o primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o túmulo. E eis que houve um violento tremor de terra: um anjo do Senhor desceu do Céu, rolou a pedra e sentou-se sobre ela. Resplandecia como relâmpago e suas vestes eram brancas como a neve. Vendo isto, os guardas pensaram que morreriam de pavor. Mas o anjo disse às mulheres: 'Não temais! Sei que procurais Jesus, que foi crucificado. Não está aqui: ressuscitou, como disse. Vinde e vede o lugar em que Ele repousou. Ide depressa e dizei aos discípulos que Ele ressuscitou dos mortos. Ele precede-vos em Galileia. Lá haveis de revê-Lo, eu disse.' Com receio, elas prontamente afastaram-se do túmulo, mas ao mesmo tempo com alegria, e correram para anunciar a Boa Nova aos discípulos." Mt 28,1-8
    Então o próprio Jesus apareceu a Santa Maria Madalena, na mesma manhã, depous que ela voltou ao túmulo com São Pedro e São João, e acabou lá ficando sozinha: "Ditas estas palavras, voltou-se para trás e viu Jesus em pé, mas não O reconheceu. Perguntou-lhe Jesus: 'Mulher, por que choras? Quem procuras?' Supondo ela que fosse o jardineiro, respondeu: 'Senhor, se tu O tiraste, dize-me onde O puseste e eu irei buscá-Lo.' Disse-lhe Jesus: 'Maria!' Voltando-se ela, exclamou em hebraico: 'Rabôni!', que quer dizer Mestre. Disse-lhe Jesus: 'Não Me retenhas, porque ainda não subi a Meu Pai. Mas vai a Meus irmãos e dize-lhes: Subo a Meu Pai e a Vosso Pai, Meu Deus e Vosso Deus.'" Jo 20,14-17
    Em seguida, Jesus apareceu a São Pedro, mais uma vez o 'primeiro' dos Apóstolos (cf. Mt 10,20), como o Amado Médico anotou em seu Evangelho: "Todos diziam: 'O Senhor verdadeiramente ressuscitou, e apareceu a Simão.'" Lc 24,34
    A Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios confirmou-o, chamando-o pelo nome de ofício, quando confundiu os Dez, pois aí não estavam nem Judas Iscariotes nem São Tomé, com os Doze. É também nessa passagem que o Último Apóstolo, apesar das visões e aparições com que foi agraciado, atesta sua fidelidade à Sagrada Tradição, ou seja, à transmissão oral da Sã Doutrina: "Eu primeiramente transmiti-vos o que eu mesmo havia recebido: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras. Foi sepultado e ressurgiu ao terceiro dia, segundo as Escrituras, apareceu a Cefas e, em seguida, aos Doze." 1 Cor 15,3,5
    Antes disso, porém, ainda na manhã do Domingo da Ressurreição, muitos Santos haviam aparecido ao povo de Jerusalém: "Os sepulcros abriram-se e os corpos de muitos justos ressuscitaram. Saindo de suas sepulturas, entraram na Cidade Santa depois da Ressurreição de Jesus e apareceram a muitas pessoas." Mt 27,52-53
    Na tarde do Domingo da Ressurreição, Jesus apareceu a dois discípulos que partiram de Jerusalém mesmo após ouvirem os relatos da Santa Maria Madalena e São Pedro. E Ele fez-Se reconhecer exatamente pela Santa Eucaristia: "Nesse mesmo dia, dois discípulos caminhavam para uma aldeia chamada Emaús, distante de Jerusalém sessenta estádios. Iam falando um com o outro sobre tudo que se tinha passado. Enquanto iam conversando e debatendo entre si, o próprio Jesus aproximou-Se e caminhava com eles. Mas os olhos estavam-lhes como que vendados, e não O reconheceram. Perguntou-lhes, então: 'De que estais falando pelo caminho, e por que estais tristes?' Um deles, chamado Cléofas, respondeu-Lhe: 'És Tu, acaso, o único forasteiro em Jerusalém que não sabe o que nela aconteceu estes dias?' Perguntou-lhes Ele: 'Que foi?' Disseram: 'A respeito de Jesus de Nazaré... Era um poderoso Profeta em obras e palavras, diante de Deus e de todo povo. Nossos sumos sacerdotes e nossos magistrados entregaram-nO para ser condenado à morte, e crucificaram-nO. Nós esperávamos que fosse Ele Quem havia de restaurar Israel, e agora, além de tudo isto, é hoje o terceiro dia que essas coisas sucederam. É verdade que algumas mulheres dentre nós nos alarmaram. Elas foram ao sepulcro, antes do nascer do sol, e não tendo achado Seu Corpo, voltaram dizendo que tiveram uma visão de anjos, os quais asseguravam que está vivo. Alguns dos nossos foram ao sepulcro e assim acharam, como as mulheres tinham dito, mas a Ele mesmo não viram.' Jesus disse-lhes: 'Ó gente sem inteligência! Como sois insensatos e tardos de coração para crerdes em tudo que anunciaram os Profetas! Porventura não era necessário que Cristo sofresse essas coisas e assim entrasse em Sua Glória?' E começando por Moisés, percorrendo todos Profetas, explicava-lhes o que d'Ele se achava dito em toda Escritura. Aproximaram-se da aldeia para onde iam, e Ele fez como se quisesse passar adiante. Mas eles forçaram-nO a parar: 'Fica conosco! É tarde e o dia já declina.' Então entrou com eles. Aconteceu que, estando sentado à mesa com eles, Ele tomou o pão, abençoou-o, partiu-O e serviu-lhO. Então se lhes abriram os olhos e O reconheceram... mas Ele desapareceu." Lc 24,13-31
     Enfim, Jesus apareceu ao Colégio dos Apóstolos em Jerusalém, no Cenáculo, ainda no Domingo da Ressurreição, e deu aos Dez presentes, pois São Tomé não estava, o poder de perdoar os pecados: "Na tarde do mesmo dia, que era o primeiro da semana, os discípulos tinham fechado as portas do lugar onde se achavam, por medo dos judeus. Jesus veio e pôs-Se em meio a eles. Disse-lhes Ele: 'A Paz esteja convosco!' Dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos alegraram-se ao ver o Senhor. Disse-lhes outra vez: 'A Paz esteja convosco! Como o Pai Me enviou, Eu também vos envio.' Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: 'Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, sê-lhes-ão perdoados. Àqueles a quem os retiverdes, sê-lhes-ão retidos.'" Jo 20,19-23
    São Lucas deu outros detalhes: "Enquanto ainda falavam dessas coisas, Jesus apresentou-Se em meio a eles e disse-lhes: 'A Paz esteja convosco!' Perturbados e espantados, pensaram estar vendo um espírito. Mas Ele disse-lhes: 'Por que estais perturbados, e por que essas dúvidas em vossos corações? Vede Minhas mãos e Meus pés, sou Eu mesmo. Apalpai e vede: um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que tenho.' E dizendo isso, mostrou-lhes as mãos e os pés. Mas ainda vacilando eles, e estando transportados de alegria, perguntou: 'Tendes aqui alguma coisa para comer?' Ofereceram-Lhe, então, um pedaço de peixe assado. Ele tomou e comeu à vista deles." Lc 24,36-43
    E São Tomé, como é bem sabido, não acreditaria nas aparições: "Os outros discípulos disseram-lhe: 'Vimos o Senhor!' Mas ele replicou-lhes: 'Se não vir em Suas mãos o sinal dos pregos, e não puser meu dedo no lugar dos pregos, e não introduzir minha mão em Seu lado, não acreditarei!'" Jo 20,25
    Findos os dias da Páscoa, no seguinte domingo deu-se a segunda aparição ao Colégios dos Apóstolos, também no Cenáculo, quando Jesus, logo após Sua memorável saudação, tratou de dirigir-Se a este renitente Apóstolo. Mas notemos: ele já estava pronto para chamá-Lo de Deus! "Oito dias depois, estavam Seus discípulos outra vez no mesmo lugar, e Tomé com eles. Estando trancadas as portas, veio Jesus, pôs-Se em meio a eles e disse: 'A Paz esteja convosco!' Depois disse a Tomé: 'Introduz aqui teu dedo, e vê Minhas mãos. Põe tua mão em Meu lado. Não sejas incrédulo, mas homem de .' Respondeu-Lhe Tomé: 'Meu Senhor e Meu Deus!'" Jo 20,26-28


    Já em Galileia, Jesus primeiro apareceu a São Pedro (é sempre ele!), São Tomé, São Bartolomeu, São Tiago Maior, São João Evangelista e mais dois discípulos, no episódio da pesca miraculosa: "Estavam juntos Simão Pedro, Tomé (chamado Dídimo), Natanael (que era de Caná de Galileia), os filhos de Zebedeu e dois outros de Seus discípulos. Disse-lhes Simão Pedro: 'Vou pescar.' Responderam-lhe eles: 'Nós também vamos contigo.' Partiram e entraram na barca. Naquela noite, porém, nada apanharam. Chegada a manhã, Jesus estava na praia. Porém, os discípulos não O reconheceram. Perguntou-lhes Jesus: 'Amigos, acaso não tendes alguma coisa para comer?' 'Não', responderam-Lhe. Disse-lhes Ele: 'Lançai a rede ao lado direito da barca e achareis.' Lançaram-na, e já não podiam arrastá-la por causa da grande quantidade de peixes. Aquele discípulo, que Jesus amava, então disse a Pedro: 'É o Senhor!' Quando Simão Pedro ouviu dizer que era o Senhor, cingiu-se com a túnica (porque estava nu) e lançou-se às águas. Os outros discípulos vieram na barca, arrastando a rede dos peixes (pois não estavam longe da terra, senão cerca de duzentos côvados). Ao saltarem em terra, viram umas brasas preparadas e um peixe em cima delas, e pão. Disse-lhes Jesus: 'Trazei aqui alguns dos peixes que agora apanhastes.' Subiu Simão Pedro, e para a terra puxou a rede, cheia de cento e cinqüenta e três grandes peixes. Apesar de serem tantos, a rede não se rompeu. Disse-lhes Jesus: 'Vinde, comei.' Nenhum dos discípulos ousou perguntar-Lhe: 'Quem és Tu?', pois bem sabiam que era o Senhor." Jo 21,2-12
    Em seguida, ainda em Galileia, Jesus apareceu a Seus discípulos e seguidores como havia prometido através de Santa Maria Madalena. São notas de São Paulo: "Depois apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma vez, dos quais a maior parte ainda vive, e alguns já são mortos..." 1 Cor 15,6
    Tempos depois, particularmente apareceu a São Tiago Menor, também segundo registro do Apóstolo dos Gentios. Certamente foi para tratar da liderança da igreja de Jerusalém que ele assumiria, depois da intensificação das missões de São Pedro (cf. At 9,32;12,17): "... depois apareceu a Tiago..." 1 Cor 15,7a
    A partir daí, em aparições mostrava-Se a todos Seus seguidores, que São Paulo aqui generalizou como 'Apóstolos': "... em seguida a todos Apóstolos." 1 Cor 15,7b
    Foram ao todo 40 dias de aparições até o dia de Sua Ascensão. No começo do Livro de Atos dos Apóstolos, São Lucas diz: "E a eles manifestou-Se vivo depois de Sua Paixão, com muitas provas, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando das coisas do Reino de Deus." At 1,3
    Mas não aparecia indiscriminadamente a qualquer pessoa, como São Paulo testemunhou perante os judeus de Antioquia da Pisídia, em sua primeira pregação: "Durante muitos dias, apareceu àqueles que com Ele subiram de Galileia a Jerusalém, os quais até agora são Suas testemunhas junto ao povo." At 13,31
    São Pedro também atestou esta restrição em pregação que fez na casa do centurião Cornélio, quando se deu o 'Pentecostes dos não judeus': "Mas Deus ressuscitou-O no terceiro dia, concedendo-Lhe manifestar-Se não a todo o povo, mas às testemunhas que Deus havia escolhido..." At 10,40-41a
    E logo em seguida à Sua Ascensão aos Céus, deu-se outra vez uma aparição de anjos: "E comendo com eles, ordenou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem o cumprimento da promessa de Seu Pai, 'que ouvistes', disse Ele, 'da Minha boca. Porque João batizou na água, mas vós sereis batizados no Espírito Santo daqui a poucos dias.' Assim reunidos, eles interrogavam-nO: 'Senhor, porventura é agora que ides instaurar o reino de Israel?' Respondeu-lhes Ele: 'Não vos pertence saber os tempos nem os momentos que o Pai fixou em Seu poder. Mas descerá sobre vós o Espírito Santo e dá-vos-á força, e sereis Minhas Testemunhas em Jerusalém, em toda Judeia e Samaria e até os confins do mundo.' Dizendo isso, elevou-Se da Terra à vista deles e uma nuvem ocultou-O aos seus olhos. Enquanto O acompanhavam com seus olhares, vendo-O afastar-Se para o Céu, eis que lhes apareceram dois homens vestidos de branco, que lhes disseram: 'Homens de Galileia, por que ficais aí a olhar para o céu? Esse Jesus, que acaba de ser arrebatado ao Céu, voltará do mesmo modo que O vistes subir para o Céu.' Voltaram eles para Jerusalém, então, do Monte chamado das Oliveiras, que fica perto de Jerusalém, distante uma jornada de sábado." At 1,4-12
    Segundo o próprio São Lucas, mas ainda em seu Evangelho, isto teria acontecido em Betânia: "Depois, levou-os para Betânia e, levantando as mãos, abençoou-os. Enquanto os abençoava, separou-Se deles e foi arrebatado ao Céu." Lc 24,50-51
    Aconteceu, por fim, o Pentecostes, a vinda do Espírito Santo como prometido havia muito, nos longínquos tempos do Profeta Joel (cf. Jl 3,1): "Chegando o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um ruído, como se soprasse um impetuoso vento, e encheu toda casa onde estavam sentados. Então lhes apareceu uma espécie de línguas de fogo, que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Ficaram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar em línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem. Achavam-se em Jerusalém piedosos judeus de todas nações que há debaixo do céu, e, ouvindo aquele ruído, reuniu-se muita gente e maravilhava-se de que cada um os ouvia falar na sua própria língua. Profundamente impressionados, manifestavam sua admiração: 'Não são, porventura, galileus todos estes que falam? Como, então, todos nós os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna?' Partos, medos, elamitas; os que habitam a Macedônia, a Judeia, a Capadócia, o Ponto, a Ásia, a Frígia, a Panfília, o Egito e as províncias da Líbia próximas a Cirene, peregrinos romanos, judeus ou prosélitos, cretenses e árabes diziam: 'Ouvimo-los publicar em nossas línguas as maravilhas de Deus!'" At 2,1-11
    E é já nos tempos da Igreja que vemos um anjo do Senhor instruir as missões de São Filipe Diácono, quando ele vai batizar o eunuco, ministro da Rainha da Etiópia. Note-se: isso deu-se num lugar onde todos sabem que não há rio, senão córregos! "Um anjo do Senhor dirigiu-se a Filipe e disse: 'Levanta-te e vai para o sul, em direção ao caminho que desce de Jerusalém a Gaza, a Deserta.'" At 8,26
    Em seguida, este Diácono vai ser arrebatado pelo Espírito Santo: "Mal saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou Filipe dos olhares do eunuco, que, cheio de alegria, continuou seu caminho. Filipe, entretanto, foi transportado a Azoto. Passando além, pregava o Evangelho em todas cidades, até que chegou a Cesareia." At 8,39-40
     Ademais, é um anjo (seu Anjo da Guarda?) que vai aparecer a Cornélio para que ele convide São Pedro a sua casa e o ouça: "Havia em Cesareia um homem, por nome Cornélio, centurião da coorte que se chamava Itálica. Era religioso: ele e todos de sua casa eram tementes a Deus. Dava muitas esmolas ao povo e constantemente orava. Este homem viu claramente numa visão, pela hora nona do dia, dele aproximar-se um anjo de Deus e chamá-lo: 'Cornélio!' Cornélio fixou nele os olhos e, possuído de temor, perguntou: 'Que há, Senhor?' O anjo replicou: 'Tuas orações e tuas esmolas subiram à presença de Deus como uma oferta de lembrança. Agora envia homens a Jope e faze vir aqui um certo Simão, que tem por sobrenome Pedro. Ele acha-se hospedado em casa de Simão, um curtidor, cuja casa fica junto ao mar.' Quando se retirou o anjo que lhe falara, chamou dois de seus criados e um soldado temente ao Senhor, daqueles que estavam às suas ordens. Contou-lhes tudo e enviou-os a Jope." At 10,1-8


    Depois o Anjo da Guarda de São Pedro apareceu para livrá-lo da morte, quando por perseguição de Herodes ele foi preso: "Ora, quando Herodes estava para apresentá-lo, naquela mesma noite dormia Pedro entre dois soldados, preso por duas correntes. Os guardas, à porta, vigiavam o cárcere. De repente, apresentou-se um anjo do Senhor, e uma luz brilhou no recinto. Tocando no lado de Pedro, o anjo despertou-o: 'Levanta-te depressa', disse ele. Caíram-lhe as cadeias das mãos. O anjo ordenou: 'Cinge-te e calça tuas sandálias.' Ele assim fez. O anjo acrescentou: 'Cobre-te com tua capa e segue-me.' Pedro saiu e seguiu-o, sem saber se era real o que se fazia por meio do anjo. Julgava estar sonhando. Passaram o primeiro e o segundo postos da guarda. Chegaram ao portão de ferro, que dá para a cidade, o qual se lhes abriu por si mesmo. Saíram e tomaram juntos uma rua. Em seguida, de súbito, o anjo desapareceu. Então Pedro tornou a si e disse: 'Agora verdadeiramente vejo que o Senhor mandou Seu anjo, e livrou-me da mão de Herodes e de tudo que esperava o povo dos judeus.'" At 12,6-11
    No caminho de Damasco, tempos depois de Sua Ascensão, Jesus apareceu a São Paulo, à época chamado Saulo, um fariseu que perseguia cristãos. O próprio Apóstolo dos Gentios apontou: "E por último de todos, também apareceu a mim, como a um abortivo. Porque eu sou o menor dos Apóstolos, e não sou digno de ser chamado Apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus." 1 Cor 15,8-9
     Ao rei da Judeia, Herodes Agripa I, ele assim a narrou os detalhes, após ser preso em Jerusalém e enquanto aguardava, detido em Cesareia de Filipe, o julgamento. Diz claramente, pois, que Jesus o acusou de perseguir não a Igreja, mas a Ele mesmo: "Nesse intuito, fui a Damasco, com poder e comissão dos sumos sacerdotes. Era meio-dia, ó rei. Eu estava a caminho quando uma Luz do céu, mais fulgurante que o sol, brilhou em torno de mim e de meus companheiros. Caímos todos nós por terra, e ouvi uma voz que me dizia em língua hebraica: 'Saulo, Saulo, por que Me persegues? Duro é debater-te contra os esporões.' Eu então disse: 'Quem és, Senhor?' O Senhor respondeu: 'Eu sou Jesus, a Quem persegues. Mas levanta-te e põe-te em pé, pois apareci para fazer-te ministro e testemunha das coisas que viste, e de outras para as quais ainda hei de manifestar-Me a ti. Escolhi-te do meio do povo e dos pagãos, aos quais agora te envio para abrir-lhes os olhos, a fim de que se convertam das trevas à Luz, e do poder de Satanás a Deus, para que, pela fé em Mim, recebam perdão dos pecados e herança entre os que foram santificados.' Desde então, ó rei, não fui desobediente à celestial visão." At 26,12-19
    Apareceu-lhe mais uma vez no Templo de Jerusalém, em seu primeiro retorno à Cidade Santa após sua conversão: "Voltei para Jerusalém e, orando no Templo, fui arrebatado em êxtase. E vi Jesus que me dizia: 'Apressa-te e sai logo de Jerusalém, porque não receberão teu testemunho a Meu respeito.' Eu repliquei: 'Senhor, eles sabem que eu encarcerava e açoitava com varas, de sinagoga em sinagoga, os que creem em Ti. E quando se derramou o sangue de Estêvão, Tua testemunha, eu estava presente, nisso consentia e guardava os mantos dos que o matavam.' Mas Ele respondeu-me: 'Vai, porque Eu te enviarei para longe, às nações...'" At 22,17-21
    E ainda lhe apareceu outra vez em Jerusalém anos depois, antes de ser preso e levado a Roma: "Na noite seguinte, apareceu-lhe o Senhor e disse-lhe: 'Coragem! Deste testemunho de Mim em Jerusalém, importa que também o dês em Roma.'" At 23,11
    Um anjo também apareceu a São Paulo, certamente seu Anjo da Guarda, durante o maremoto que levou a embarcação, destinada a Roma, à ilha de Malta: "Desde muito tempo, ninguém havia comido nada. Paulo levantou-se em meio a eles e disse: 'Amigos, deveras devíeis ter-me atendido e não ter saído de Creta, e assim evitar esse perigo e essas perdas. Agora, porém, admoesto-vos a que tenhais coragem, pois não perecerá nenhum de vós, mas somente o navio. Esta noite apareceu-me um anjo de Deus, a Quem pertenço e a Quem sirvo, o qual me disse: 'Não temas, Paulo. É necessário que compareças diante de César. Deus deu-te todos que navegam contigo.' Por isso, amigos, coragem! Eu confio em Deus que há de acontecer como me foi dito. Vamos dar a uma ilha.'" At 27,21-26
    Ora, ele não fala como de uma ou outra visão, mas de visões, bem como revelações que teve. Está na Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios: "Importa que me glorie? Na verdade, não convém! Passarei, entretanto, às visões e revelações do Senhor." 2 Cor 12,1b
    Tinha-nas, porém, como uma grande responsabilidade: "Ademais, para que a grandeza das revelações não me levasse ao orgulho, foi-me dado um espinho na carne, um anjo de Satanás para esbofetear-me e livrar-me do perigo da vaidade. Três vezes roguei ao Senhor que o apartasse de mim. Mas Ele disse-me: 'Basta-te Minha Graça, porque é na fraqueza que se revela totalmente Minha força.'" 2 Cor 12,7-9a
    De fato, dentre as revelações que tinha, procurava confirmá-las com São Pedro, se estavam em conformidade com a Sã Doutrina. Lemos na Carta de São Paulo aos Gálatas, quando ele usa como referência o primeiro encontro com o Príncipe dos Apóstolos, sempre citando-o pelo nome de ofício, três anos após sua conversão (cf. Gl 1,18): "Catorze anos mais tarde, subi outra vez a Jerusalém com Barnabé, comigo também levando Tito. E subi em conseqüência de uma revelação. Expus-lhes o Evangelho que prego entre os pagãos, e isso particularmente aos que eram de maior consideração, a fim de não correr ou de não ter corrido em vão. Tiago, Cefas e João, que são considerados as colunas, reconhecendo a Graça que me foi dada, deram as mãos a mim e a Barnabé em sinal de pleno acordo: iríamos aos pagãos, e eles aos circuncidados. Apenas recomendaram-nos que nos lembrássemos dos pobres, o que era precisamente minha intenção." Gl 2,1-2.9-10
    Porque não parece que todas aparições, que ele viu, foram do bem: "Pois, se o próprio Satanás se transfigura em anjo de Luz, parece bem normal que seus ministros se disfarcem em Ministros de Justiça, cujo fim, no entanto, será segundo suas obras." 2 Cor 11,14b-15
    Por isso, convictamente falava de visíveis e invisíveis criaturas, como consta na Carta de São Paulo aos Colossenses: "N'Ele (Cristo) foram criadas todas coisas nos Céus e na Terra, as visíveis e as invisíveis criaturas. Tronos, dominações, principados, potestades: tudo foi criado por Ele e para Ele." Cl 1,16
    Ele dizia de sua pregação: "Asseguro-vos, irmãos, que o Evangelho por mim pregado não tem nada de humano. Não o recebi nem o aprendi de homem algum, mas mediante uma revelação de Jesus Cristo." Gl 1,11-12
    E da concepção de que, só por obra do Espírito Santo, podemos realmente ser Corpo de Cristo, isto é, ser Igreja. É da leitura da Carta de São Paulo aos Efésios: "Foi por revelação que me foi manifestado o Mistério que acabo de esboçar." Ef 3,3
    Na Segunda Carta de São Pedro, vemos que o Primeiro Apóstolos também mantinha estreito contato com Jesus, mesmo após a Ascensão: "Tenho por meu dever, enquanto estiver neste tabernáculo, de manter-vos vigilantes com minhas admoestações. Porque sei que em breve terei que deixá-lo, assim como Nosso Senhor Jesus Cristo me fez conhecer." 2 Pd 1,13-14
    Por fim, e encerrando a Revelação, o Livro de Apocalipse de São João registrou que o anjo de Jesus o arrebatou, concedendo-lhe as visões e revelações: "Revelação de Jesus Cristo, que Lhe foi confiada por Deus para manifestar a Seus servos o que deve acontecer em breve. Ele, por Sua vez, por intermédio de Seu anjo, comunicou a Seu servo João, o qual atesta, como Palavra de Deus, o testemunho de Jesus Cristo e tudo que viu." Ap 1,1-2
    De início, foi-lhe concedido ver o próprio Jesus em Sua Divina Natureza, que dizia das sete dioceses da Ásia: "Num domingo, fui arrebatado em êxtase, e por trás de mim ouvi uma forte voz como de trombeta, que dizia: 'O que vês, escreve-o num Livro e manda-o às sete igrejas: a Éfeso, a Esmirna, a Pérgamo, a Tiatira, a Sardes, a Filadélfia e a Laodiceia.' Voltei-me para saber que voz falava comigo. Tendo-me voltado, vi sete candelabros de ouro e, no meio dos candelabros, alguém semelhante ao Filho do Homem, vestindo longa túnica até os pés, o peito cingido por um cinto de ouro. Tinha Ele brancos cabeça e cabelos, como lã cor de neve. Seus olhos eram como chamas de fogo. Seus pés pareciam-se ao bronze fino incandescido na fornalha. Sua voz era como o ruído de muitas águas. Segurava na mão direita sete estrelas. De Sua boca saía uma afiada espada, de dois gumes. Seu rosto assemelhava-se ao sol, quando brilha com toda força. Ao vê-Lo, caí como morto a Seus pés. Ele, porém, pôs sobre mim Sua mão direita e disse: 'Não temas! Eu sou o Primeiro e o Último, e Aquele que vive. Pois estive morto, e eis-Me de novo vivo pelos séculos dos séculos: tenho as chaves da morte e da região dos mortos. Escreve, pois, o que viste, tanto as atuais coisas como as futuras. Eis o simbolismo das sete estrelas que viste na Minha mão direita e dos sete candelabros de ouro: as sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete candelabros, as sete igrejas." Ap 1,10-20
    Também viu Nossa Senhora, em esplendorosa aparição que a confirma como a definitiva Arca da Aliança e a Rainha dos Céus. Isso deu-se com o início do Reino de Cristo sobre o mundo: "O sétimo anjo tocou a trombeta. Então ressoaram no Céu altas vozes que diziam: 'O Império de Nosso Senhor e de Seu Cristo estabeleceu-se sobre o mundo, e Ele reinará pelos séculos dos séculos. Os vinte e quatro anciãos (anjos!), que se assentam em seus tronos diante de Deus, prostraram-se de rosto em terra e adoraram a Deus, dizendo: 'Graças damo-Te, Senhor, Deus Dominador, que és e que eras, porque assumiste a plenitude de Teu real poder.' Abriu-se o Templo de Deus no Céu e apareceu, em Seu Templo, a Arca de Seu Testamento. Houve relâmpagos, vozes, trovões, terremotos e forte saraiva. Em seguida, apareceu um grande sinal no Céu: uma Mulher revestida do sol, tendo a lua debaixo de seus pés e, na cabeça, uma coroa de doze estrelas." Ap 11,15-17.19 ;12,1
    E ele teve essa perspectiva de Jesus na Final Batalha: "Vi o Céu ainda aberto: eis que aparece um branco cavalo. Seu Cavaleiro chama-se Fiel e Verdadeiro, e é com justiça que Ele julga e guerreia. Tem flamejantes olhos. Há em Sua cabeça muitos diademas, e traz escrito um Nome que ninguém conhece, senão Ele. Está vestido com um manto tinto de sangue, e Seu Nome é Verbo de Deus. Seguiam-nO, em brancos cavalos, os Celestes Exércitos, vestidos de fino linho, de imaculada brancura. De Sua boca sai uma afiada espada, para com ela ferir as pagãs nações, porque Ele deve governá-las com cetro de ferro e pisar o lagar do vinho da ardente ira do Deus Dominador. Ele traz escrito no manto e na coxa: 'Rei dos reis e Senhor dos senhores!'" Ap 19,11-16
    Contudo, no Sermão da Montanha, ou seja, no início de Seu ministério, Nosso Senhor já havia prometido: "Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus!" Mt 5,8
    E das revelações que teve, o Amado Discípulo afirma sobre aqueles que forem fiel a Jesus, o Cordeiro de Deus: "Verão Sua face, e Seu Nome estará em suas frontes." Ap 22,4
    Quanto às aparições e visões que se têm pelo mundo, muitas delas de Nossa Senhora, desde que respeitada a devida compatibilidade com a Sã Doutrina, devemos sempre ter presente a defesa que Jesus fazia de Suas testemunhas, como vemos na primeira aparição ao Colégio dos Apóstolos registrada no Evangelho Segundo São Marcos: "Por fim, apareceu aos Onze quando estavam sentados à mesa, e censurou-lhes a incredulidade e dureza de coração, por não acreditarem nos que O tinham visto ressuscitado." Mc 16,14
    Ou, como vimos acima, o que São Tomé ouviu de Jesus por egocentricamente exigir 'ver para crer': "Não sejas incrédulo, mas homem de fé.'" Jo 20,27
    Em específico, por força destas palavras: "Creste, porque Me viste. Felizes aqueles que creem sem ter visto!" Jo 20,29

    "Em comunhão com toda a Igreja aqui estamos!"