sexta-feira, 11 de outubro de 2024

O Eterno Banquete


    Jesus refere-Se ao Céu, ou ao Reino de Deus, como a um feliz e eterno banquete, do qual participarão pessoas de todo mundo. Ainda em Cafarnaum, após o Sermão da Montanha, quando Se admirou da grande  de um centurião romano, Ele afirmou: "Eu digo-vos: muitos virão do Oriente e do Ocidente, e sentar-se-ão à mesa no Reino do Céu com Abraão, Isaac e Jacó..." Mt 8,11
     E Ele frequentemente usa dessa imagem em Suas parábolas, como nas Bodas do Filho do Rei, que anunciou perante os chefes dos sacerdotes e fariseus no Templo de Jerusalém em Seus últimos dias: "O Reino dos Céus é comparado a um Rei que celebrava as Bodas de Seu Filho. Enviou Seus servos para chamar os convidados, mas eles não quiseram vir. Ainda enviou outros, dizendo-lhes: 'Dizei aos convidados que já está preparado Meu banquete. Meus bois e Meus animais cevados estão mortos, tudo está preparado. Vinde às bodas!'" Mt 22,2-4
    Também fala de um Senhor que Se faz servo de Seus empregados, como um prêmio a ser dado àqueles que Lhe forem fiéis. Ele ensinou a todos Seus seguidores, alertando-os para Sua Volta Triunfal no fim dos tempos: "Bem-aventurados os servos a quem o Senhor achar vigiando, quando vier! Em Verdade, digo-vos: cingir-Se-á, fá-los-á sentar à mesa e servi-los-á." Lc 12,37
    Ou de uma grande ceia dada pelo Pai de família, em que, diante da recusa dos convidados, impreterivelmente vai encher Sua Casa, indicando a inviolabilidade da instauração do Reino de Deus. Foi na casa de um dos chefes dos fariseus, que Lhe ofereceu uma refeição entre outros convivas: "Um homem deu uma grande ceia e convidou muitas pessoas. O Senhor ordenou: 'Sai pelos caminhos e atalhos e obriga todos a entrar, para que se encha Minha Casa.'" Lc 14,16.23
    E na contramão das práticas da mera boa vizinhança, a esse chefe dos fariseus Ele recomendou que realizasse banquetes de caridade: "Quando deres alguma ceia, não convides teus amigos, nem teus irmãos, nem parentes, nem ricos vizinhos. Porque, por sua vez, eles te convidarão e assim te retribuirão. Mas quando deres uma ceia, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos. Serás feliz porque eles não têm com que te retribuir, mas sê-te-á retribuído na Ressurreição dos justos." Lc 14,12-14
    Pois foi isso que havia feito o inspirado rei Salomão após uma aparição de Deus em sonho, quando não Lhe pediu nem riqueza nem a morte de seus inimigos, apenas Sabedoria para reinar sobre o povo de Israel. Lê-se no Primeiro Livro de Reis: "Voltando a Jerusalém, apresentou-se diante da Arca da Aliança do Senhor e ofereceu holocaustos e sacrifícios pacíficos. E deu um banquete a todos seus servos." 1 Rs 3,15b
    Já aos convidados, o Livro do Eclesiastes recomenda contrição: "Melhor é ir para a casa onde há luto que para a casa onde há banquete. Porque aí se vê aparecer o fim de todo homem, e os vivos nele refletem." Ecl 7,2
    O Livro dos Provérbios, sabendo que o banquete não vale por si mesmo, recomendam comedimento, advertindo para uma das consequências da vaidade, da embriaguez e da gula: "O que ama os banquetes será um indigente, o que ama o vinho e o azeite não enriquecerá." Pr 21,17
    O Eclesiástico, ademais, fala da virtude da temperança e de seus reflexos na saúde: "Nunca sejas guloso em banquete algum. Não te lances sobre tudo que se serve, pois o excesso no alimento é causa de doença, e a intemperança leva à cólica. Muitos morreram por causa de sua intemperança. O sóbrio homem, porém, prolonga sua vida." Eclo 27,32-34
    Exalta a modéstia, em contraste com o insensato deslumbramento: "Mais vale o que um pobre come sob um vigamento, que um magnífico banquete em casa alheia para quem não tem domicílio." Eclo 29,29
    E nos banquetes denuncia um típico poder de sedução do inimigo, que astutamente desvirtua os projetos de Deus em nossa alma, levando-nos pela escravidão à miséria moral: "Não te tornes amigo de um mais poderoso que tu. Que ligação pode haver entre um pote de barro e um pote de ferro? Quando houver choque, o de barro será quebrado. O rico comete uma injustiça e em seguida põe-se a gritar; o pobre, ofendido, guarda silêncio. Enquanto lhe servires, ele empregá-te-á. Quando nada mais tiveres, ele abandoná-te-á. Se tens haveres, contigo ele banquetear-se-á, explorá-te-á e não cuidará de tua sorte. Se lhe fores útil, ele dominá-te-á; com um sorriso dá-te-á esperanças, com belas palavras di-te-á: 'De que necessitas?' Confundi-te-á com seus banquetes até despojar-te duas ou três vezes, e, por fim, zombará de ti. Depois, vendo-te, abandoná-te-á e abanará a cabeça, escarnecendo de ti." Eclo 13,2b-8
    Ora, vai ser numa ocasião assim que Herodes, mesmo temendo São João Batista, será enganado: "Chegou, porém, um favorável dia em que Herodes, por ocasião de seu natalício, deu um banquete aos grandes de sua corte, aos seus oficiais e aos principais da Galileia. A filha de Herodíades apresentou-se e pôs-se a dançar, com grande satisfação de Herodes e de seus convivas. Disse o rei à moça: 'Pede-me o que quiseres, e eu dá-te-ei.' E jurou-lhe: 'Tudo que me pedires, dá-te-ei, ainda que seja a metade de meu reino.' Ela saiu e perguntou à sua mãe: 'Que hei de pedir?' E a mãe respondeu: 'A cabeça de João Batista.'" Mc 6,21-24
    Jesus também apontou o banquete como símbolo de orgulho e avareza: "Havia um rico homem que se vestia de púrpura e finíssimo linho, e todo dia banqueteava-se e regalava-se. Também havia um mendigo, por nome Lázaro, todo coberto de chagas, que vivia deitado à porta do rico, pois avidamente desejava matar a fome com as migalhas que caíam da mesa do rico... Até os cães iam lamber-lhe as chagas. Ora, aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos ao seio de Abraão. Também morreu o rico e foi sepultado. E estando ele nos tormentos do inferno, levantou os olhos e viu, ao longe, Abraão e Lázaro em seu seio." Lc 16,19-23
    Mas como Nosso Senhor mais usava essa imagem em positivo aspecto, como fez na casa do chefe dos fariseus, alguém entre eles passou a desejá-lo: "A estas palavras, disse a Jesus um dos convidados: 'Feliz daquele que se sentar à mesa no Reino de Deus!'" Lc 14,15
    Afirmativamente, Deus mesmo havia ordenado aos israelitas um banquete como ritual, tão logo tomassem posse da Terra Prometida: "É ali que fareis vossos sagrados banquetes em presença do Senhor, Vosso Deus, e gozareis, vós e vossas famílias, de todos bens que vossas mãos produzirem com a bênção do Senhor, Vosso Deus." Dt 12,8
    E com a ostensiva manifestação do Reino dos Céus, no fim dos tempos, ele será ofertado por Deus mesmo, como está no Livro do Profeta Isaías: "O Senhor dos Exércitos preparou para todos povos, nesse monte, um banquete de gordas carnes, um festim de velhos vinhos! De gordas e medulosas carnes, e de velhos e purificados vinhos! Nesse monte tirará o véu que vela todos povos, a cortina que recobre todas nações, e para sempre fará desaparecer a morte." Is 25,6-8a
    Com efeito, Jesus literalmente descreve Seu Reino como um banquete, como prometeu aos Apóstolos logo após a Santa Ceia: "... Eu, pois, disponho do Reino a vosso favor, assim como Meu Pai o dispôs a Meu favor, para que comais e bebais à Minha mesa no Meu Reino..." Lc 22,29-30
    Pois como aconteceu no milagre da multiplicação dos pães e dos peixes, podemos ter certeza que lá não faltará o alimento. E isso deu-se num deserto lugar: "Mandou, então, a multidão assentar-se na relva, tomou os cinco pães e os dois peixes e, elevando os olhos ao Céu, abençoou-os. Partindo em seguida os pães, deu-os a Seus discípulos, que os distribuíram ao povo. Todos comeram e ficaram fartos, e, dos pedaços que sobraram, recolheram doze cheios cestos. Ora, os convivas foram aproximadamente cinco mil homens, sem contar as mulheres e crianças." Mt 14,19-21
     E certos da presença de Nossa Senhora na assembleia dos justos, também podemos afirmar que não faltará as melhores bebidas, como aconteceu nas Bodas de Caná: "Ora, achavam-se ali seis talhas de pedra para as purificações dos judeus, que continham cada qual duas ou três medidas. Jesus ordena-lhes: 'Enchei as talhas de água.' Eles encheram-nas até em cima. 'Tirai agora' , disse-lhes Jesus, 'e levai ao chefe dos serventes.' E levaram. Logo que o chefe dos serventes provou da água tornada vinho... chamou o noivo e disse-lhe: 'É costume servir primeiro o bom vinho e, depois, quando os convidados já estão quase embriagados, servir o menos bom. Mas tu guardaste o melhor vinho até agora.'" Jo 2,6-9a.10
    Sem exagero, Jesus, por Seus milagres, induz-nos a imaginar uma surpreendente fartura, como também se deu na miraculosa pesca, após Sua Ressurreição: "Disse-lhes Ele: 'Lançai a rede ao lado direito da barca e achareis.' Lançaram-na, e já não podiam arrastá-la por causa da grande quantidade de peixes." Jo 21,6
    Contudo, enquanto ainda estamos na Terra, Ele avisou-nos de um Pão Especial, mesmo após multiplicar pães e peixes: "Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que dura até a Vida Eterna, que o Filho do Homem vos dará." Jo 6,27
    Ele falava do Pão da Vida Eterna, Seu próprio Corpo oferecido como alimento da Salvação, que definitivamente sacia todos que a Ele se achegam: "Eu sou o Pão da Vida! Aquele que vem a Mim não terá fome, e aquele que crê em Mim jamais terá sede." Jo 6,35
    Bem como da Água Viva, como explicou à samaritana no poço de Jacó: "Respondeu-lhe Jesus: 'Todo aquele que beber desta água tornará a ter sede, mas o que beber da Água que Eu lhe der jamais terá sede. A Água que Eu lhe der virá a ser nele fonte de Água, que jorrará até a Vida Eterna.'" Jo 4,13-14
    São Rafael Arcanjo, de fato, falou do especial alimento dos anjos: "Parecia-vos que eu comia e bebia convosco, mas meu alimento é um invisível manjar e minha bebida não pode ser vista pelos homens." Tb 12,19
    Pois para que bem assimilássemos a importância do rito do Santíssimo Sacramento, Jesus ofereceu-nos o Pão do Céu na mesa da Ceia Pascal, momentos antes de ser preso: "Ao declinar da tarde, pôs-Se Jesus à mesa com os Doze discípulos. Durante a refeição, Jesus tomou o pão, benzeu-o, partiu-O e deu-O aos discípulos, dizendo: 'Tomai e comei, isto é Meu Corpo.' Depois tomou o cálice, rendeu graças e deu-lhO, dizendo: 'Bebei dele todos, porque isto é Meu Sangue, o Sangue da Nova Aliança, derramado em favor de muitos homens para a remissão dos pecados.'" Mt 26,20.26-28
    E São Lucas, que de longo convívio muito aprendeu de São Paulo, registrou mais estas palavras, deixando bem clara a instituição deste Sacramento, que é a razão de ser da Igreja: "Fazei isto em memória de Mim." Lc 22,19b
    Enquanto alimento da Vida Eterna, portanto, a instituição da Santa Ceia era o principal objetivo de Sua Missão, símbolo maior do Eterno Banquete: "Chegada que foi a hora, Jesus pôs-Se à mesa e com Ele os Apóstolos. Disse-lhes: 'Ardentemente tenho desejado convosco comer esta Páscoa, antes de sofrer. Pois vos digo: não tornarei a comê-la até que ela se cumpra no Reino de Deus.'" Lc 22,14-16
    Porque, além da Salvação que é oferecida através de Seu Sacrifício, Ele só participará de uma nova ceia conosco quando o Reino de Deus for ostensivamente instaurado: "Digo-vos: doravante não beberei mais desse fruto da vinha, até o Dia em que de novo o beberei convosco no Reino de Meu Pai." Mt 26,29
    Ou seja, vivemos um tempo de jejum e de penitências, que é a marca dos tempos da Igreja, como Jesus mesmo explicou aos seguidores de São João Batista, que já se abalançavam a segui-Lo: "Então os discípulos de João, dirigindo-se a Ele, perguntaram: 'Por que jejuamos nós e os fariseus, e Teus discípulos não?' Jesus respondeu: 'Podem os amigos do Esposo afligir-se enquanto o Esposo está com eles? Dias virão em que lhes será tirado o Esposo. Então eles jejuarão.'" Mt 9,14-15
    E em sinal da importância do culto da Memória Pascal, celebrado na Santa Missa, já na tardinha do Domingo da Ressurreição o próprio Jesus realizou a primeira celebração da Eucaristia, diante dos discípulos que partiram para Emaús: "Aconteceu que, estando sentado conjuntamente à mesa, Ele tomou o pão, abençoou-O, partiu-O e serviu-lhO. Então se lhes abriram os olhos e reconheceram-nO... mas Ele desapareceu." Lc 24,30-31


A ALEGRIA MAIOR

    Usar um banquete como imagem do Reino de Deus, pois, não é nenhuma fantasia. Em Seus últimos ensinamentos, Jesus realmente prometeu muita felicidade aos que guardassem Sua Palavra: "Disse-vos essas coisas para que a Minha alegria esteja em vós, e vossa alegria seja completa." Jo 15,11
    A Ressurreição de Jesus, por si só, já seria motivo de euforia para os Apóstolos, bem como para todos aqueles que n'Ele creem. Ele mesmo garantiu: "Assim vós, sem dúvida, agora também estais tristes, mas hei de ver-vos outra vez e vosso coração alegrar-se-á. E ninguém vos tirará vossa alegria." Jo 16,22
    As Graças alcançadas através de Seu Nome também são momentos de júbilo, como Ele afirmou ainda que estivesse encaminhando-Se para Sua Paixão: "Até agora não pedistes nada em Meu Nome. Pedi e recebereis, para que vossa alegria seja perfeita." Jo 16,24
    E nesta hora pediu ao Pai que a alegria, que Ele estava por experimentar em Sua Glória, pudesse ser igualmente sentida por nós: "Mas agora vou para junto de Ti. Dirijo-Te esta oração enquanto estou no mundo, para que eles tenham a plenitude de Minha alegria." Jo 17,13
    Foi essa satisfação que animou a fé de Abraão quando ele teve a visão do Dia da Glória de Jesus, como Nosso Salvador havia declarado aos judeus em pleno Templo: "Abraão, vosso pai, exultou com o pensamento de ver Meu dia. Viu-o e ficou cheio de alegria." Jo 8,56
    São João Batista, enfim, exultou tão somente ao ter notícia do início do ministério do Messias, pois assim ele via cumprir-se sua missão. Foi seu último testemunho sobre Jesus: "Não sou o Cristo, mas fui enviado diante d'Ele. Nisso consiste minha alegria, que agora se completa." Jo 3,28b.29b
    E qual não deve ter sido a felicidade de Maria Santíssima ao saber que Ela seria a Mãe do Salvador da humanidade? Em seu cântico, ela suspirou: "... meu espírito exulta de alegria em Deus, Meu Salvador..." Lc 1,47
    O próprio Jesus alegrou-Se com o sucesso dos Apóstolos contra as forças do Mal, ao serem enviados na primeiríssima de suas missões. Era o início das vitórias da Igreja, ainda em fase embrionária: "Naquele mesma hora, Jesus exultou de alegria no Espírito Santo e disse: 'Pai, Senhor do Céu e da Terra, Eu dou-Te graças porque escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos." Lc 10,21a
    Pois a verdadeira vitória só se obtém pela humildade, como Ele ensinou da postura que devemos adotar nos banquetes deste mundo: "Quando fores convidado às bodas, não te sentes no primeiro lugar, pois pode ser que seja convidada outra pessoa de mais consideração que tu, e vindo o que te convidou, diga-te: 'Cede o lugar a este.' Então terias o constrangimento de dever ocupar o último lugar. Mas quando fores convidado, vai tomar o último lugar, para que, quando vier o que te convidou, diga-te: 'Amigo, passa mais para cima!' Então serás honrado na presença de todos convivas. Porque todo aquele que se exaltar será humilhado, e todo aquele que se humilhar será exaltado." Lc 14,8-11
    Também foi o que disse São João Batista, quando seus discípulos lhe disseram que os discípulos de Jesus estavam batizando: "Ninguém pode atribuir-se a si mesmo senão o que lhe foi dado do Céu." Jo 3,27
    Jesus, aliás, condenava a vaidade e a gula entre os religiosos. Perante todo povo, Ele disse aos discípulos dias depois de Sua entrada messiânica em Jerusalém, que ficou conhecida como o Domingo de Ramos: "Guardai-vos dos escribas, que querem andar de compridas roupas e gostam de saudações nas praças públicas, das primeiras cadeiras nas sinagogas e dos primeiros lugares dos banquetes. Que devoram as casas das viúvas, fingindo fazer longas orações. Eles receberão mais rigoroso castigo." Lc 20,46-47
    Assim como o falso puritanismo! Nosso Senhor aceitou um banquete oferecido por São Mateus, o último dos Doze, que era cobrador de impostos, mas sinalizou para a presença de Deus à mesa, e assim para o Eterno Banquete onde certamente haverá convertidos e reconvertidos: "Levi deu-Lhe um grande banquete em sua casa. Vários desses fiscais e outras pessoas estavam sentados à mesa com eles. Os fariseus e seus escribas puseram-se a criticar e a perguntar aos discípulos: 'Por que comeis e bebeis com os publicanos e pessoas de má vida?' Respondeu-lhes Jesus: 'Não são os homens de boa saúde que necessitam de médico, mas sim os enfermos. Não vim chamar à conversão os justos, mas sim os pecadores.'" Lc 5,29-32
    Pois o dia-a-dia de Jesus e dos Apóstolos, sem ter 'onde recostar a cabeça (Lc 9,58)', era bem diferente: "Em dia de sábado, Jesus atravessava umas plantações. Seus discípulos iam colhendo espigas de trigo, debulhavam-nas na mão e comiam." Lc 6,1
    E se tinham alimento, não podiam comê-lo, tendo Jesus que intervir: "Ele disse-lhes: 'Vinde à parte, para algum deserto lugar, e descansai um pouco.' Porque eram muitos os que iam e vinham, e nem tinham tempo para comer. Partiram na barca para um solitário lugar, à parte." Mc 6,31-32
    Isso já havia acontecido logo após a escolha dos Doze Apóstolos, quando com eles Jesus voltou a Cafarnaum, pois a esse tempo já tinha com base a casa de São Pedro (cf. Mt 4,13 e Jo 2,12): "Dirigiram-se em seguida à Sua casa. Aí afluiu de novo tanta gente, que nem podiam tomar alimento." Mc 3,20
    Ademais, desde o início, Nosso Salvador falava de outro 'alimento'. Quando voltavam da primeira visita a Jerusalém em Sua vida pública, de passagem pela Samaria, eles pararam no poço de Jacó: "Entretanto, os discípulos pediam-Lhe: 'Mestre, come.' Mas Ele disse-lhes: 'Tenho um alimento para comer que vós não conheceis.' Os discípulos perguntavam uns aos outros: 'Alguém tê-Lhe-ia trazido de comer?' Disse-lhes Jesus: 'Meu alimento é fazer a vontade d'Aquele que Me enviou e cumprir Sua obra.'" Jo 4,31-34
    Por isso, depois de anunciar Sua Paixão pela segunda vez aos Apóstolos, tratou de preparar todos Seus discípulos: "Não vos inquieteis com o que haveis de comer ou beber, e não andeis com vãs preocupações. Porque os homens do mundo é que se preocupam com todas estas coisas. Mas Vosso Pai bem sabe que precisais de tudo isso. Antes buscai o Reino de Deus e Sua justiça, e todas estas coisas sê-vos-ão dadas por acréscimo." Lc 12,29-31
    Até evocou, antes do início de Sua Missão, uma expressiva passagem do Antigo Testamento, ao ser tentado pelo Demônio no deserto: "O tentador aproximou-se d'Ele e disse-Lhe: 'Se és Filho de Deus, ordena que estas pedras se tornem pães.' Jesus respondeu: 'Está escrito: Nem só de pão vive o homem, mas de toda Palavra que procede da boca de Deus (Dt 8,3).'" Mt 4,3-4
    E no Pai Nosso ensinou-nos a pedir, além do diário Pão da Vida Eterna, alimento bastante tão somente para o presente dia, ou seja, com total frugalidade: "O Pão Nosso de cada dia dai-nos hoje..." Mt 6,11
    Mas é realmente entre 'maus e bons' que Ele finaliza, diante da insensata e até criminosa recusa dos convites, a parábola das Bodas do Filho do Rei: "Mas sem se importarem com aquele convite, foram-se, um a seu campo e outro para seu negócio. Outros lançaram mãos de Seus servos, insultaram-nos e mataram-nos. O Rei soube e indignou-Se em extremo. Enviou Suas tropas, matou aqueles assassinos e incendiou-lhes a cidade. Depois disse a Seus servos: 'O festim está pronto, mas os convidados não foram dignos. Ide às encruzilhadas e convidai para as Bodas todos quantos achardes.' Espalharam-se eles pelos caminhos e reuniram todos quantos acharam, maus e bons, de modo que a sala do Banquete ficou repleta de convidados." Mt 22,5-10
    Por isso, sabendo que não seria acolhido pelos principais dos judeus, como as profecias diziam, referindo-Se à Igreja Jesus sentenciou contra eles em geral: "Pois vos digo: nenhum daqueles homens que foram convidados, provará Minha Ceia." Lc 14,24
    E se dentro da Igreja há pessoas indignas da Comunhão, elas não passam despercebidas: a excomunhão existe. a Segunda Carta de São Pedro vaticina: "... é porque o Senhor sabe livrar das provações os piedosos homens e reservar os ímpios para serem castigados no Dia do Juízo, principalmente aqueles que correm com impuros desejos atrás dos prazeres da carne e desprezam a autoridade. Audaciosos, arrogantes, não temem falar injuriosamente das Glórias... Mas estes, quais brutos destinados pela lei natural para a presa e para a perdição, injuriam o que ignoram, e assim da mesma forma perecerão. Este será o salário de sua iniquidade. Encontram suas delícias em entregar-se em pleno dia às suas libertinagens. Pervertidos e imundos homens, sentem prazer em enganar enquanto se banqueteiam convosco. Têm os olhos cheios de adultério e são insaciáveis no pecar. Seduzem pelos seus atrativos as inconstantes almas, têm o coração acostumado à cobiça, são filhos da maldição." 2 Pd 2,9-10.12-14
    Porém, também é certo que a Igreja é duramente atingida por estes escândalos. Desde então profetizando a vinda de falsos mestres, segue o Príncipe dos Apóstolos: "Muitos segui-los-ão em suas desordens e, por causa deles, o Caminho da Verdade será caluniado." 2 Pd 2,2
    Por isso, na Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios, de sua mais severa verve, o Último Apóstolo não permitia nenhuma liberalidade para com falsos cristãos: "Porém, não me referia de um modo absoluto a todos impudicos deste mundo, os avarentos, os ladrões ou os idólatras, pois neste caso deveríeis sair deste mundo. Mas eu simplesmente quis dizer-vos que não tenhais comunicação com aquele que, chamando-se irmão, é impuro, avarento, idólatra, difamador, beberrão, ladrão. Com tais indivíduos nem sequer deveis comer." 1 Cor 5,10-11
    A obra de Deus, entretanto, é indestrutível, como Jesus disse quando o modesto pecador da Galileia, inspirado pelo Pai, O reconheceu como o Messias: "E Eu declaro-te: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei Minha Igreja. As portas do inferno não prevalecerão contra ela." Mt 16,8
    E todos aqueles que se insurgirem contra Deus na Grande e Final Batalha, serão parte de outro 'banquete', segundo as últimas visões de São João Evangelista, que inscreveu no Livro do Apocalipse: "Então vi um anjo de pé sobre o sol, em alta voz a chamar todas aves que voam pelos céus: 'Vinde, reuni-vos para o grande banquete de Deus, para comerdes carnes de reis, carnes de generais e carnes de poderosos, carnes de cavalos e cavaleiros, carnes de homens, livres e escravos, pequenos e grandes.' E todas aves fartaram-se de suas carnes." Ap 19,17-18.21b
    Quanto aos humildes, como vimos, Ele 'chama mais para cima', prepara um lugar no Céu, como em despedida garantiu aos discípulos antes de retirarem-se para o Horto das Oliveiras: "Na Casa de Meu Pai há muitas moradas. Se não fosse assim, e Eu tê-vos-ia dito. Pois vou preparar-vos um lugar." Jo 14,2
    Aludindo à realidade da vitória sobre o pecado, já em tardias revelações ao Amado Discípulo, Ele prometeu a constante locução do Divino Paráclito ás dioceses e assim um manjar: "Quem tiver ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: 'Ao vencedor darei de comer do fruto da Árvore da Vida, que se acha no Paraíso de Deus.'" Ap 2,7
    Porque mesmo nos sabendo pecadores, temos em Cristo nossa grande oportunidade através do arrependimento, ou seja, do Sacramento da Confissão. A volta do filho pródigo, por exemplo, foi comemorada por seu pai de festivo modo, com um banquete, como Nosso Senhor mesmo narrou: "Também trazei um novilho gordo e matai-o. Comamos e façamos uma festa! Este meu filho estava morto, e reviveu. Tinha-se perdido, e foi achado." Lc 15,23-24
    E a euforia toma conta dos Céus quando pecadores se submetem à penitência. Numa parábola sobre a Divina Misericórdia, Jesus disse: "Digo-vos que assim haverá maior júbilo no Céu por um só pecador, que fizer penitência, que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento." Lc 15,7
    São Paulo, entretanto, falando do Sacramento da Eucaristia, dá-nos um gravíssimo recado: "Não podeis participar ao mesmo tempo da mesa do Senhor e da mesa dos demônios." 1 Cor 10,21
    E para mais animar-nos, na revelações que teve dos Céus, um anjo anunciou a São João Evangelista a grande festa que está para acontecer: "Escreve: 'Felizes os convidados para a Ceia das Núpcias do Cordeiro.'" Ap 19,9

    "Esperamos entrar na Vida Eterna!"