Foi eleito sucessor de São Pedro aos 82 anos, fato que dá uma ideia de seu vigor espiritual e de sua importância para a Igreja Católica Apostólica Romana. Conduziu a 'Barca de Pedro' (cf, Lc 5,3) por apenas 4 anos, entre os anos de 492 e 496, mas os cardeais, plenamente iluminados pelo Espírito de Deus, bem sabiam o que estavam fazendo: em tão pouco tempo realizou grandes obras que ainda hoje vigoram na Liturgia, no Direito Canônico e na hierarquia da Santa Igreja Católica.
Na Epístola 'Duo sunt' (Há dois), endereçada ao imperador Anastácio I, que estava queixoso por sua eleição não lhe ter sido comunicada, nosso Santo declarou a autonomia da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo diante de todo e qualquer poder terreno ou autoridade política: "Há dois poderes, Augusto Imperador, através dos quais se governa o mundo: a sagrada autoridade dos Pontífices e o poder real. Destes dois, é mais grave o peso dos Sacerdotes, pois estes deverão prestar contas por ocasião do Divino Julgamento (cf. Hb 13,17), inclusive pelos próprios reis da humanidade. Na verdade, tu sabes, clementíssimo filho, que em razão de tua dignidade és o primeiro de todos homens e o Imperador do mundo. Todavia, sê submisso aos representantes da religião e suplica-lhes o que é indispensável para tua Salvação."
Ele defendeu que os bispos são autoridades superiores aos poderes temporais, e que a autoridade espiritual do Papa é absoluta na Terra. Ele é a ponte entre Deus e os seres humanos, entre o Céu e a Terra, e suas atitudes, portanto, não podem ser julgadas por ninguém. Tal afirmação foi a primeira a oficializar a autoridade do Bispo de Roma, sucessor da Sé de São Pedro, sobre toda Igreja Católica, o que de fato já era praticado desde os tempos do Príncipe dos Apóstolos, quando os Doze responderam no Sinédrio, o conselho dos religiosos judeus, quando foram presos em Jerusalém pela segunda vez, conforme o Livro de Atos dos Apóstolos: "Pedro e os Apóstolos replicaram: 'Importa obedecer antes a Deus que aos homens.'" At 5,29
Ele defendeu que os bispos são autoridades superiores aos poderes temporais, e que a autoridade espiritual do Papa é absoluta na Terra. Ele é a ponte entre Deus e os seres humanos, entre o Céu e a Terra, e suas atitudes, portanto, não podem ser julgadas por ninguém. Tal afirmação foi a primeira a oficializar a autoridade do Bispo de Roma, sucessor da Sé de São Pedro, sobre toda Igreja Católica, o que de fato já era praticado desde os tempos do Príncipe dos Apóstolos, quando os Doze responderam no Sinédrio, o conselho dos religiosos judeus, quando foram presos em Jerusalém pela segunda vez, conforme o Livro de Atos dos Apóstolos: "Pedro e os Apóstolos replicaram: 'Importa obedecer antes a Deus que aos homens.'" At 5,29
Pois nas palavras do Evangelho Segundo São Mateus, o próprio Jesus, enquanto preparava os Apóstolos, discípulos e seguidores, firmou: "Portanto, quem der testemunho de Mim diante dos homens, Eu também darei testemunho dele diante de Meu Pai, que está nos Céus." Mt 10,32
Também garantiu especialíssima assistência, como se lê no Evangelho Segundo São Lucas: "Quando, porém, vos levarem às sinagogas, perante os magistrados e as autoridades, não vos preocupeis com o que haveis de falar em vossa defesa, porque o Espírito Santo vos inspirará naquela hora o que deveis dizer." Lc 12,11-12
Também garantiu especialíssima assistência, como se lê no Evangelho Segundo São Lucas: "Quando, porém, vos levarem às sinagogas, perante os magistrados e as autoridades, não vos preocupeis com o que haveis de falar em vossa defesa, porque o Espírito Santo vos inspirará naquela hora o que deveis dizer." Lc 12,11-12
A Carta de São Paulo aos Romanos, por outro lado e em complemento, explicava sobre mundanos poderes, ou seja, que necessariamente não dizem respeito à Santa Igreja: "Cada qual seja submisso às autoridades constituídas, porque não há autoridade que não venha de Deus; as que existem foram instituídas por Deus. Assim, aquele que resiste à autoridade, se opõe à ordem estabelecida por Deus; e aqueles que a ela se opõem, sobre si atraem a condenação." Rm 13,1-2
A Carta de São Paulo a São Tito também lhe recomenda para com os fiéis: "Admoesta-os a que sejam submissos aos magistrados e às autoridades, sejam obedientes, estejam prontos para qualquer obra boa..." Tt 3,1 Ademais, a Primeira Carta de São Pedro não deixou de afirmar a postura de humildade do Papa, como era bem a seu modo, dirigindo-se aos presbíteros de então, nossos atuais padres: "Velai sobre o rebanho de Deus, que vos é confiado. Dele tende cuidado, não constrangidos, mas espontaneamente; não por amor de sórdido interesse, mas com dedicação; não como absolutos dominadores sobre as comunidades que vos são confiadas, mas como modelos para vosso rebanho." 1 Pd 5,2-3
Através daquele que ficou conhecido como o Decretum Gelasianum, nosso Santo oficialmente ratificou quais livros bíblicos eram canônicos e quais os apócrifos, talvez assim já reconhecidos por São Damásio I, como bem antes de Santo Irineu, que viveu no século II, já era de uso da Igreja Católica. Sábio e resoluto, defendendo as decisões do Concílio de Calcedônia (cf. At 16,4), com seus escritos combateu as heresias daquele tempo, que foram:
- o monofisismo e o arianismo, que negavam as duas naturezas de Cristo, humana e divina. Após ressuscitar, Jesus disse na primeira aparição aos Apóstolos: "Vede Minhas mãos e Meus pés, sou Eu mesmo. Apalpai e vede: um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que tenho." Lc 24,39
- o pelagianismo, que negava o pecado original e a corrupção da natureza humana. São Paulo escreveu aos cristãos de Roma: "Com efeito, todos pecaram e todos estão privados da Glória de Deus." Rm 3,23
- o maniqueísmo, que dividia todas coisas entre o bem e o mal, e via todo mundo material como essencialmente mau. A Primeira Carta de São Paulo a São Timóteo expressamente diz: "Pois tudo que Deus criou é bom e nada há de reprovável, quando se usa com ação de graças." 1 Tm 4,4"
Com a morte deste Papa, a eleição de São Gelásio foi por natural aclamação. O Cisma em curso, porém, mostrou-se ainda mais complicado com a insurgência do imperador Anastácio I contra a Santa Igreja. Mesmo usando de muita compreensão e paciência, nosso Santo não conseguiu sanar essas diferenças através das tratativas que estabeleceu com o patriarca Eufêmio, sucessor de Acácio, e elas terminaram perdurando por 34 anos até as "Aclamações de Constantinopla", em 519, seis dias após o fim do reinado de Anastácio I, quando na famosa Catedral de Santa Sofia a população exigiu de Justino I, seu sucessor, e de João II, novo patriarca, a expulsão e o anátema de Severo, o maniqueísta, que havia substituído Eufêmio de 512 até 518. De toda forma, por sua grande habilidade e sinceras demonstrações de amor à Igreja Universal, nosso Papa já havia conseguido de Eufêmio, ainda que relutante, algumas concessões, mas exatamente por isso ele terminou sendo deposto pelo imperador.
São Gelásio convocou e presidiu o Sínodo de Roma de 494, quando foi aprovada uma grande renovação litúrgica. Aí foi instituído um código, depois conhecido como o Sacramentário Gelasiano, que uniformizou os ritos e as funções realizadas nas igrejas do mundo todo. Ele contém 50 prefácios de Liturgia e muitas orações coletivas para serem usadas na Santa Missa. Realmente zeloso de toda celebração da Santa Eucaristia, também lhe compôs muitos hinos.
Enfrentando o senado, em 494 conseguiu pôr fim a um festival pastoral pagão, chamado de Lupercália, comemorado em fevereiro, que persistia em Roma mesmo entre cristãos, apesar das proibições de 391, pois promoveria a fertilidade e a purificação da Cidade Eterna. Como argumentação, e provocação, ele escreveu ao senador Andrômaco: "Se vós afirmais que este rito tem força salutar, celebrai-no da maneira ancestral: correi nus para que possais realizar a zombaria de maneira adequada." Em substituição, foi estabelecida uma festa em honra à Santíssima Virgem.
Ainda neste ano, aproveitando a excomunhão de Acácio por Félix III, tratou de eliminar os poderes políticos do imperador sobre a Igreja. Usando argumentos de Santo Ambrósio e Santo Agostinho, e uma distinção de poderes constante no Direito Romano, auctoritas e potestas, separadamente prescreveu os poderes da Igreja e do Estado, o que caracterizou a cultura ocidental desde então. São Gelásio I firmou que Roma não devia sua primazia eclesiástica a nenhum poder temporal, nem mesmo a um concílio, mas à divina instituição feita pelo próprio Cristo, que conferiu a São Pedro e seus sucessores autoridade sobre toda a Igreja. Perante o imperador, portanto, ele já se posicionava como os grandes pontífices da Idade Média. Na tradição bíblica, em argumentação apontava figuras que eram ao mesmo tempo reis e sacerdotes, como Melquisedeque.Enfrentando o senado, em 494 conseguiu pôr fim a um festival pastoral pagão, chamado de Lupercália, comemorado em fevereiro, que persistia em Roma mesmo entre cristãos, apesar das proibições de 391, pois promoveria a fertilidade e a purificação da Cidade Eterna. Como argumentação, e provocação, ele escreveu ao senador Andrômaco: "Se vós afirmais que este rito tem força salutar, celebrai-no da maneira ancestral: correi nus para que possais realizar a zombaria de maneira adequada." Em substituição, foi estabelecida uma festa em honra à Santíssima Virgem.
Para afastar os maniqueus que seguiam como dissimulados fiéis na Igreja Católica, determinou que o Santíssimo Sacramento fosse celebrado na forma de pão e vinho, pois este último era considerado impuro pelo maniqueísmo. De fato, eles ainda eram de expressivo número em Roma, e por recusarem o cálice, eram identificados e banidos, se não se convertessem.
A norma eclesiástica da infalibilidade papal, que defende a correção das decisões papais, sob específicas condições, em assuntos de fé e moral, discutida desde o século I e tornada dogma em 1870 pelo Concílio Vaticano I, expressamente havia sido manifesta por São Gelásio, quando escreveu: "... o que a Sede Apostólica afirma em um sínodo, adquire valor jurídico. O que ela há rechaçado, não tem força de lei."
E como os padres também tinham poderes temporais a seu tempo, deu-lhes este recado: "Se, na ordem dos assuntos públicos, os bispos reconhecem o poder que Deus vos deu e obedecem a vossas leis sem querer contrariar vossas decisões em assuntos mundanos, com que afeição devereis obedecer àqueles que são encarregados de administrar os sagrados mistérios?"
Grande prova do caráter histórico da vida de São Jorge, foi este nosso Papa que o canonizou no ano de 494, o que em definitivo afasta a deletéria tese de que nosso Santo Guerreio tenha sido um mito.
No Sínodo de Roma de 495, invocou para o Bispo de Roma o título de Vicarius Christi, Vigário de Cristo, um conceito expresso por Santo Inácio de Antioquia, mas que havia sido solicitado pelo próprio São Pedro. Assim fez para deixar claro às igrejas pelo mundo que o Sucessor de São Pedro age como representante de Nosso Salvador, e também para lembrar ao Patriarca de Constantinopla a eterna sede da Santa Igreja, e assim sua ascendência sobre ele. Aliás, seu pontificado também foi de defesa dos direitos eclesiais da igreja Alexandria, em Egito, e de Antioquia, em Síria, que dimensões e antiguidade eram a segunda e a terceira sede, das pretensões de Constantinopla.
Mais ativo escritor entre os primeiros Papas, boa parte de sua correspondência venceu o tempo: 42 cartas e fragmentos de outras 49. Além do decreto sobre os Livros Canônicos e apócrifos, escreveu 6 tratados. O mais conhecido é 'De Anathematis Vinculo'. Com efeito, além de respeitado por sua santidade, era considerado um grande erudito.
Viveu uma vida de frequentes e intensas orações, e sempre insistia com todo clero para que fizesse o mesmo. O diácono e historiador grego Dionísio, o pequeno, que viveu no seguinte século, registrou que São Gelásio mais servia que dominava, e que, não obstante tenha sido Papa, viveu em tocante humildade. Fazia caridade com extrema facilidade, e quando Roma passou por uma grande fome sob seu pontificado, não hesitou em disponibilizar os bens da Santa Igreja para salvar a cidade, e salvou. Nosso Santo definia a propriedade da Igreja como 'patrimônio dos pobres', e os registros são de que faleceu na mais extrema pobreza. Dionísio disse: "Ele morreu pobre depois de enriquecer os pobres."
Ora, foi de São Simplício, pontífice de 468 a 483, e dele a instituição da 'quarta pauperum', princípio do Direito Canônico que destinava um quarto da renda de todos benefícios eclesiásticos, incluindo doações, aos pobres.
Deram-lhe a alcunha de 'o Papa dos pobres'!
Por grande homenagem do povo de Roma, teve um longo funeral de dois dias, e foi sepultado no pórtico da Basílica de São Pedro.
São Gelásio, rogai por nós!





