terça-feira, 19 de novembro de 2024

A Encarnação do Cristo (II)


A DOUTRINA DE CRISTO

    Como não aceitar, então, a Doutrina da Comunhão, do amor de Cristo? De profunda espiritualidade, a Segunda Carta de São João pragmaticamente sentenciou: "Todo aquele que caminha sem rumo e não permanece na Doutrina de Cristo, não tem Deus. Quem permanece na Doutrina, este possui o Pai e o Filho." 2 Jo 1,9
    Por isso, em reflexões, a Carta de São Paulo aos Efésios também se encanta com Sua obra que é a Igreja: "Grande é este mistério, quero dizer, com referência a Cristo e à Igreja." Ef 5,32
     Como visto, classes de anjos vêm contemplar as coisas que só através da Igreja se realizam: "... coube-me a Graça de anunciar entre os pagãos a inexplorável riqueza de Cristo, e a todos manifestar o salvador desígnio de Deus, mistério desde a eternidade oculto em Deus, que tudo criou. Assim, de ora em diante, as celestes dominações e potestades podem conhecer, pela Igreja, a infinita diversidade da divina Sabedoria, de acordo com o eterno desígnio que Deus realizou em Jesus Cristo, Nosso Senhor. Pela que n'Ele depositamos, temos plena confiança de aproximarmo-nos de Deus." Ef 3,8-12
    Resta-nos, pois, estar bem informados das coisas de Deus para mantermos acesa a fé, como a Segunda Carta de São Paulo a São Timóteo diz sobre a chegada sua hora de testemunhar com a própria vida: "Combati o bom combate, terminei minha carreira, guardei a fé." 2 Tm 4,7
    Isso significa abraçar a Redentora Verdade, e assim guardar a fé da Unidade, a fé da Comunhão que nos faz participar do Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja, e espiritualmente amadurecer tendo Cristo como modelo. O Último Apóstolo diz desta que é a principal obra de Cristo: "A uns Ele constituiu Apóstolos, a outros, profetas, a outros, evangelistas, pastores, doutores, para o aperfeiçoamento dos cristãos, para o desempenho da tarefa que visa à construção do Corpo de Cristo, até que todos tenhamos chegado à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos o estado de homem feito, a estatura da maturidade de Cristo." Ef 4,13
    Esse amadurecimento espiritual é essencial, como os seguidores da tradição de São Paulo disseram na Carta aos Hebreus: "Ora, sem fé é impossível agradar a Deus, pois para achegar-se a Ele primeiro é necessário que se creia que Ele existe, e que recompensa aqueles que O procuram." Hb 11,6
    Pois, conforme a Carta de São Paulo aos Gálatas, "... pela fé recebemos o Prometido Espírito." Gl 3,14b
     A Primeira Carta de São João, de fato, usa a manifestação do Santo Paráclito como critério: "Quem observa Seus Mandamentos (de Deus), permanece em Deus e Deus nele. É nisto que reconhecemos que Ele permanece em nós: pelo Espírito que nos deu." 1 Jo 3,24
    E segundo a Carta de São Paulo aos Romanos, só por esta certeza chegamos à indizível Paz: "... pela fé temos a Paz com Deus, por meio de Nosso Senhor Jesus Cristo." Rm 5,1
    Seus seguidores exortam: "Desse modo, cercados como estamos de uma tal nuvem de testemunhas, desvencilhemo-nos das correntes de pecado. Corramos com perseverança ao proposto combate, com o olhar fixo no Autor e Consumador de nossa fé, Jesus." Hb 12,1
    Porque foi através deste ser humano, que desde então foi percebido como Deus, que se obtém a Graça da Salvação, a qual pelo arrependimento prevalece sobremaneira contra o pecado original: "Pois se a falta de um só (Adão) causou a morte de todos outros, com muito mais razão o dom de Deus e o benefício da Graça obtida por um só homem, Jesus Cristo, foram copiosamente concedidos a todos." Rm 5,15b
    É Ele Quem nos oferece os Céus pela invocação de Seu Nome, como se lê na Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios: "... aos fiéis santificados em Jesus Cristo, chamados à santidade, junto a todos que, em qualquer lugar que estejam, invocam o Nome de Nosso Senhor Jesus Cristo..." 1 Cor 1,2
    Este Apóstolo, portanto, exorta-nos a abraçar o Cristo e vencer a mundana vida: "Ao contrário, revesti-vos do Senhor Jesus Cristo, e não façais caso da carne nem lhe satisfaçais os apetites." Rm 13,14
    Revestir-se de Cristo significa deixar-nos envolver pelo mistério de Seu amor, por Seu Espírito: "... a fim de que possais, com todos cristãos, compreender qual seja a largura, o comprimento, a altura e a profundidade, isto é, conhecer a caridade de Cristo, que desafia todo conhecimento, e sejais cheios da plenitude de Deus." Ef 3,18-19
    Porque só se entregando a Ele, alcança-se a perfeição. É texto da Carta de São Paulo aos Filipenses: "... que vossa caridade cada vez mais se enriqueça de compreensão e critério, com que possais discernir o que é mais perfeito e torneis-vos puros e irrepreensíveis para o Dia de Cristo..." Fl 1,10
    Grande exemplo de santidade, o Apóstolo dos Gentios tudo trocou para aprofundar-se na Revelação do Cristo: "Na Verdade, julgo como perda todas coisas em comparação a esse supremo bem: o conhecimento de Jesus Cristo, Meu Senhor. Por Ele tudo desprezei... Anseio pelo conhecimento de Cristo..." Fl 3,8.10
    Sem dúvida, em Cristo todos têm a esperança de retornar à perfeição dos filhos de Deus, como a Carta de São Paulo aos Colossenses diz sobre os judeus: "A estes quis Deus dar a conhecer a riqueza e Glória deste mistério entre os gentios: Cristo em vós, esperança da Glória! A Ele é que anunciamos, admoestando todos homens e instruindo-os em toda Sabedoria, para tornar todo homem perfeito em Cristo." Cl 1,27-28
    Pois Sua Palavra, que nos ilumina e alegra, é simplesmente imprescindível: "A Palavra de Cristo permaneça entre vós em toda sua riqueza, de sorte que mutuamente possais instruir-vos e exortar-vos com toda Sabedoria. Sob a inspiração da Graça, de todo coração a Deus cantai salmos, hinos e cânticos espirituais." Cl 3,16
    E nós devemos buscar a plenitude de Seus ensinamentos: "Pelo que, transpondo os elementares ensinamentos da Doutrina de Cristo, procuremos alcançar-lhe a plenitude." Hb 6,1
    Quanto aos meramente terrenos bens, Jesus foi categórico desde o início de Suas pregações, como está no Evangelho segundo São Mateus: "Antes buscai o Reino de Deus e Sua justiça, e todas estas coisas sê-vos-ão dadas em acréscimo." Mt 6,33
     Porque abrir nosso entendimento ao Cristo é descobrir os Céus, a Vida Plena. A Segunda Carta de São Pedro assim resume a máxima realização do ser humano: "... Graça e Paz sejam-vos dadas em abundância por um profundo conhecimento de Deus e de Jesus, Nosso Senhor! O divino poder deu-nos tudo que contribui para a Vida e a piedade, fazendo-nos conhecer Aquele que nos chamou por Sua Glória e Sua Virtude. ... esforçai-vos quanto possível por unir à vossa fé a virtude, à virtude a ciência, à ciência a temperança, à temperança a paciência, à paciência a piedade, à piedade o fraterno amor, e ao fraterno amor à caridade. Se estas virtudes abundantemente em vós se acharem, não vos deixarão inativos nem infrutuosos no conhecimento de Nosso Senhor Jesus Cristo." 2 Pd 1,2-3.5-8



'O VERBO FEZ-SE CARNE'

    A Encarnação do Cristo assim foi descrita no Evangelho segundo São João: "E o Verbo fez-Se carne, e habitou entre nós. E vimos Sua Glória, a Glória que o Único Filho recebe de Seu Pai, cheio de Graça e de Verdade." Jo 1,14
    Como se vê, o Verbo, ou seja, a Palavra de Deus, é o próprio Jesus. E o mistério da Comunhão da Santíssima Trindade, aqui mencionados apenas o Pai e o Filho, existe 'desde o início dos tempos'. O Amado Discípulo tentou descrevê-lo: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto a Deus, e o Verbo era Deus. Tudo foi feito por Ele, e sem Ele nada foi feito." Jo 1,1.3
    Seu Nascimento, portanto, era o pleno cumprimento de mais uma profecia, pois Maria era da tribo de Davi: "Este Evangelho outrora prometera Deus por Seus Profetas, na Sagrada Escritura, acerca de Seu Filho Jesus Cristo, Nosso Senhor, descendente de Davi quanto à carne..." Rm 1,2-3
    E ainda que São José não fosse Seu pai biológico, igualmente tinha essa ascendência. É registro do Evangelho segundo São Lucas: "José também subiu da Galileia, da cidade de Nazaré, a Judeia, à cidade de Davi, chamada Belém, porque era da casa e família de Davi... " Lc 2,4
    Entretanto, do povo escolhido por Deus para ser mensageiro da Salvação, muitos não acolheram o Cristo, talvez por ser 'humano demais', ou ainda, haveria 'dois deuses'? Imaginem então a compreensão da Terceira Pessoa, o Espírito Santo? Mas, quanto ao Jesus humano, Deus não nos fez à Sua imagem e semelhança? São João Evangelista segue: "Estava no mundo e o mundo foi feito por Ele, e o mundo não O reconheceu. Veio para o que era Seu, mas os Seus não O receberam. Mas a todos aqueles que O receberam, aos que creem em Seu Nome, deu-lhes o poder de tornarem-se filhos de Deus, os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus." Jo 1,10-13
    De fato, apesar de atestarem Seus portentosos poderes, n'Ele viam apenas um homem, como na ocasião em que demonstrou a suma importância da remissão dos pecados, pois antes de tudo veio para a Salvação de nossas almas: "Eis que Lhe apresentaram um paralítico estendido numa padiola. Jesus, vendo a fé daquela gente, disse ao paralítico: 'Meu filho, coragem! Teus pecados são-te perdoados.' Ouvindo isto, alguns escribas murmuraram entre si: 'Este homem blasfema.' Jesus, penetrando-lhes os pensamentos, perguntou-lhes: 'Por que pensais mal em vossos corações? Que é mais fácil dizer: Teus pecados são-te perdoados, ou: Levanta-te e anda? Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem na Terra o poder de perdoar os pecados: Levanta-te', disse Ele ao paralítico, 'toma tua maca e volta para tua casa.' Levantou-se aquele homem e foi para sua casa. Vendo isto, a multidão encheu-se de medo e glorificou a Deus por ter dado tal poder aos homens." Mt 9,2-8
    Os imundos espíritos, contudo, prontamente reconheciam-nO e tentavam revelar Sua identidade, como se viu em seu primeiro dia em Cafarnaum, á frente da casa de São Pedro: "De muitos saíam demônios, dizendo aos gritos: 'Tu és o Filho de Deus.' Mas Ele severamente repreendia-os, não lhes permitindo falar, porque sabiam que Ele era o Cristo." Lc 4,41
    Pois Sua Missão era muito específica, nas palavras de São João Apóstolo: "Eis porque o Filho de Deus Se manifestou: para destruir as obras do Demônio." 1 Jo 3,8b
    Mas mesmo tentando 'retardar' Sua Revelação, Jesus não tinha, por força dos milagres que realizava, como viver no anonimato. O Evangelho segundo São Marcos apontou logo após Sua partida de Cafarnaum: "Aproximou-se d'Ele um leproso, suplicando-Lhe de joelhos: 'Se queres, podes limpar-me.' Jesus compadeceu-Se dele, estendeu a mão, tocou-o e disse-lhe: 'Eu quero. Sê curado!' E imediatamente dele desapareceu a lepra e foi purificado. Jesus logo o despediu com esta severa admoestação: 'Vê que não o digas a ninguém. Mas vai, mostra-te ao sacerdote e apresenta, por tua purificação, a oferenda prescrita por Moisés para servir de testemunho.' Este homem, porém, assim que se foi, começou a propagar e divulgar o acontecido, de modo que publicamente Jesus não podia entrar numa cidade. Conservava-Se fora, em despovoados lugares, e de toda parte vinham ter com Ele." Mc 1,40-45
    Em Sicar, a samaritana que tirava água do poço de Jacó, assim como todo povo judeu, bem sabia da eminente Vinda do Salvador. Ela disse a Jesus, ainda sem saber com Quem falava: "Sei que deve vir o Messias (que se chama Cristo). Pois, quando vier, Ele nos fará conhecer todas coisas." Jo 4,25
    Mas ela logo percebeu Sua onisciência, e foi chamar seu povo: "Vinde e vede um homem que me contou tudo que tenho feito. Não seria Ele, porventura, o Cristo?" Jo 4,29
    Essa comunidade concluiu-o, porém, por próprias experiências: "Assim, quando os samaritanos foram ter com Ele, pediram que com eles ficasse. Ele ali permaneceu dois dias. Ainda muitos outros creram n'Ele por causa das Suas Palavras. E diziam à mulher: 'Já não é por causa de tua declaração que cremos, mas nós mesmos ouvimos e verdadeiramente sabemos ser Este o Salvador do mundo.'" Jo 4,40-42
    O povo de Jerusalém, vendo Seus milagres e como Ele deixava sem palavras os religiosos, também começou a desconfiar de Sua verdadeira identidade. Foi durante a Festa das Tendas: "Algumas das pessoas de Jerusalém diziam: 'Não é Este Aquele a Quem procuram tirar a vida? Todavia, ei-Lo que fala em público e não Lhe dizem coisa alguma. Porventura reconheceram as autoridades que Ele é o Cristo?'" Jo 7,26
    Alguns, entretanto, mesmo atestando Suas obras, ficavam em dúvida: "Muitos do povo, porém, creram n'Ele e perguntavam: 'Quando vier o Cristo, fará mais milagres que Este faz?'" Jo 7,31
    E os debates avolumavam-se: "Outros diziam: 'Este é o Cristo.' Mas outros protestavam: 'É acaso da Galileia que há de vir o Cristo? Não diz a Escritura: O Cristo há de vir da família de Davi, e da aldeia de Belém, onde vivia Davi?'" Jo 7,41-42
    Quanto aos pais do cego de nascença, a quem Jesus curou, temeram testemunhar Quem Ele era: "Seus pais disseram isso porque temiam os judeus, pois os judeus tinham ameaçado expulsar da sinagoga todo aquele que reconhecesse Jesus como o Cristo." Jo 9,22
    Sua Revelação, porém, tinha que ser completa, e, em Sua última Páscoa em Jerusalém, Ele mesmo começou a interrogar os fariseus sobre o Messias: "Que pensais vós do Cristo?" Mt 22,42
    Mas já havia perguntado aos Apóstolos o que eles pensavam sobre Sua Pessoa, seis dias antes de Sua Transfiguração (cf. Mt 17,1): "E vós, quem dizeis que Eu sou?" Lc 9,20a
    E São Pedro, sempre o primeiro e inspirado por Deus Pai (cf. Mt 16,17), respondeu: "O Cristo de Deus." Lc 9,20b
    Contudo, Jesus ainda não queria que o povo o soubesse: "Energicamente ordenou-lhes que não o dissessem a ninguém." Lc 9,21
    Príncipe dos Apóstolos, porém, de sua profunda inspiração vai usar termos ainda mais fortes, quando Jesus ofereceu Sua Carne e Seu Sangue como o Pão do Céu: "Desde então, muitos dos Seus discípulos retiraram-se e já não andavam com Ele. Então Jesus perguntou aos Doze: 'Também quereis vós retirar-vos?' Respondeu-Lhe Simão Pedro: 'Senhor, a quem iríamos nós? Tu tens as palavras da Vida Eterna. E nós cremos e sabemos que Tu és o Santo de Deus!" Jo 6,66-69
    Entretanto, a maioria dos religiosos de Jerusalém continuavam vacilantes, mesmo em Sua última Festa da Dedicação, quando O abordaram no Templo: "Os judeus rodearam-nO e perguntaram-Lhe: 'Até quando nos deixarás na incerteza? Se Tu és o Cristo, dize-nos claramente.'" Jo 10,24
    E a resposta de Jesus, por falta de amor à Verdade da parte deles, era mais uma acusação: "Eu digo-o, mas não credes. As obras que faço em Nome de Meu Pai, estas dão testemunho de Mim. Entretanto, não credes, porque não sois das Minhas ovelhas. Minhas ovelhas ouvem Minha voz, Eu conheço-as e elas seguem-Me." Jo 10,25-27
    Mas desde o segundo anúncio de Sua Paixão, Ele já teria importantes assuntos para tratar com os Apóstolos: "Naquele tempo, Jesus e Seus discípulos atravessavam a Galileia. Ele não queria que ninguém soubesse disso, pois estava ensinando a Seus discípulos. E dizia-lhes: 'O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens, e eles matá-Lo-ão. Mas três dias após Sua morte, Ele ressuscitará.' Os discípulos, porém, não compreendiam estas palavras e tinham medo de perguntar." Mc 9,30-32
    Já o povo de Jerusalém, ao ouvi-Lo na semana de Sua Páscoa, tentava entender porque Ele teria que ser crucificado: "A multidão respondeu: 'Nós temos ouvido da Lei que o Cristo permanece para sempre. Como dizes Tu: Importa que o Filho do Homem seja levantado?'" Jo 12,34
    Mais tarde, a Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios até tentou explicar a passagem de Deus que Se fez homem: "É verdade que Ele foi crucificado por fraqueza, mas está vivo pelo poder de Deus." 2 Cor 13,4a
    A Primeira Carta de São Pedro também: "Padeceu a morte em Sua carne, mas foi vivificado quanto ao Espírito." 1 Pd 3,18b
    Os discípulos de São Paulo, enfim, fazem esta distinção entre os antigos sacrifícios dos judeus e o impreterível surgimento da Igreja pelo Sacrifício Pascal: "Eis porque, ao entrar no mundo, Cristo diz: 'Não quiseste sacrifício nem oblação, mas um Corpo formaste-Me (Sl 39,7).'" Hb 10,5
    São João Evangelista assim justifica a Vida em Comunhão: "Se, porém, andamos na Luz como Ele mesmo está na Luz, temos recíproca Comunhão uns com os outros, e o Sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, purifica-nos de todo pecado." 1 Jo 1,7
    E São Paulo recomenda o mesmo a São Timóteo: "Foge das paixões da mocidade, com empenho busca a justiça, a fé, a caridade, a Paz, em companhia daqueles que invocam o Senhor com pureza de coração." 2 Tm 2,22
    Mas a Verdade é que, para melhor interpretação dos fatos e das Escrituras, acolher Sua Revelação essencialmente passa pela Vontade de Deus, como Nosso Senhor mesmo ensinou em Cafarnaum, na sinagoga, dias depois de multiplicar pães e peixes: "Ninguém pode vir a Mim, se o Pai, que Me enviou, não o atrair..." Jo 6,44
    Com efeito, quando São Pedro O identificou como o Cristo, Ele declarou: "Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas Meu Pai que está nos Céus." Mt 16,17
     E sempre Se referindo a revelações pessoais, Jesus rezou ao Pai em Sua última noite entre os Apóstolos: "Manifestei Teu Nome aos homens que do mundo Me deste. Eram Teus e deste-Mos, e guardaram Tua palavra." Jo 17,6
    Segundo São Paulo, isso dá-se por obra do Autor da Graça: "... ninguém pode dizer: Jesus é o Senhor, senão sob a ação do Espírito Santo." 1 Cor 12,3
    São João Apóstolo afirma algo semelhante: "Nisto é que conhecemos que n'Ele estamos e Ele em nós: por Ele ter-nos dado Seu Espírito. E nós vimos e testemunhamos que o Pai enviou Seu Filho como Salvador do mundo. Todo aquele que proclama que Jesus é o Filho de Deus, nele permanece Deus e ele em Deus." 1 Jo 4,13-15
    Santa Marta, porém, atestando sua intimidade com Jesus, pouco antes da Ressurreição de São Lázaro, seu irmão, já não tinha mais dúvida: "Sim, Senhor. Eu creio que Tu és o Cristo, o Filho de Deus, Aquele que devia vir ao mundo." Jo 11,27
    E antes de partir para o Horto das Oliveiras, lugar de Sua prisão pelos guardas do sumo sacerdote, na Oração da Unidade Jesus já não escondia Sua perfeita unidade com o Pai: "Agora, pois, Pai, glorifica-Me junto de ti, concedendo-Me a Glória que tive junto a Ti antes que o mundo fosse criado." Jo 17,5
    Ele já havia declarado aos próprios judeus no Templo, durante a Festa das Tendas: "Ele disse-lhes: Vós sois cá de baixo, Eu sou lá de cima. Vós sois deste mundo, Eu não sou deste mundo. Por isso, disse-vos: morrereis em vosso pecado. Porque se não crerdes o que EU SOU, morrereis em vosso pecado." Jo 8,23-24
    Mas mesmo quando foi preso e julgado pelo sumo sacerdote, embora também buscassem ouvir 'uma blasfêmia' para acusá-Lo, os judeus ainda estavam em grande dúvida. Segundo Jesus, Deus não lhes havia concedido tal Graça: "Perguntaram-Lhe: 'Dize-nos se és o Cristo!' Respondeu-lhes Ele: 'Se Eu disser, não Me acreditareis...'" Lc 22,67
    Foi o mesmo que Ele disse a Pilatos: "Todo aquele que é da Verdade ouve Minha voz." Jo 18,37
    E nas aparições aos discípulos que iam a Emaús e aos Apóstolos, Ele, cobrando-lhes compromisso, falou de Sua Paixão e Ressurreição como essenciais para provocar arrependimento e conversão: "Como sois tardos de coração para crerdes em tudo que anunciaram os Profetas! Assim é que está escrito, e assim era necessário que Cristo padecesse, mas que ao terceiro dia ressurgisse dos mortos. E que em Seu Nome se pregasse a penitência e a remissão dos pecados a todas nações, começando por Jerusalém. Vós sois as testemunhas de tudo isso." Lc 24,25.46-48
    Por isso, ao fim de seu Evangelho, São João diz porque registrara Seus milagres: "Mas estes foram escritos, para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a Vida em Seu Nome." Jo 20,31
    E nos apontamentos do Livro dos Atos dos Apóstolos, no dia da Vinda do Espírito Santo, que São Paulo chamou de Espírito da Adoção, à Igreja que ali nascia São Pedro declarou Quem realmente é Jesus: "Que toda casa de Israel saiba, portanto, com a maior certeza de que este Jesus, que vós crucificastes, Deus O constituiu Senhor e Cristo." At 2,36
    Ora, já no dia da Apresentação do Menino Jesus no Templo de Jerusalém, Simeão, um justo homem, havia dito: "Eis que este Menino está destinado a ser causa de queda e de soerguimento para muitos homens em Israel, e a ser um sinal que provocará contradições, a fim de serem revelados os pensamentos de muitos corações." Lc 2,34-35
    Pois apegada a mundanos prazeres e materiais valores, a humanidade ainda reluta em aceitar Cristo enquanto Servo Sofredor, como profetizado por Isaías. O Príncipe dos Apóstolos, no entanto, viu na Crucificação apenas o cumprimento das Escrituras, ainda que essencial ao projeto da Salvação: "Deus, porém, assim cumpriu o que já antes anunciara pela boca de todos Profetas: que Seu Cristo devia padecer. ... a fim de que cada um se aparte de sua iniquidade." At 3,18.26b


"A REALIDADE É O CORPO DE CRISTO"

    E são exatamente os mais poderosos que sempre perseguem Jesus, como o Livro dos Salmos anteviu: "Levantam-se os reis da Terra, e os príncipes reúnem-se em conselho contra o Senhor e contra Seu Cristo." Sl 2,2
    Ora, conforme as visões anotadas no Livro do Apocalipse de São João, essa tresloucada insanidade vai continuar e ensejar a própria Batalha Final, quando se dará o fim do mundo: "Eu vi a Fera e os reis da Terra com seus exércitos reunidos para fazer guerra ao Cavaleiro e ao Seu Exército." Ap 1,19
    Mas logo Sua manifestação foi plenamente identificada com a Cruz, tornando-Se o elemento central da pregação dos Apóstolos e Diáconos. É o que se nota, por exemplo, após o martírio de Santo Estevão: "Assim Filipe desceu à cidade de Samaria, pregando-lhes o Cristo." At 8,5
    E apesar de ter sido um fervoroso fariseu, após uma aparição de Nosso Senhor, o jovem São Paulo rapidamente percebeu onde estava a Verdade, entrando em ação lá mesmo no lugar de sua conversão: "Saulo, porém, sentia crescer seu poder e confundia os judeus de Damasco, demonstrando que Jesus é o Cristo." At 9,22
    Pois como grande conhecedor do Antigo Testamento, deu-se conta que Nosso Salvador já havia encarnado e ressuscitado, como pregou em primeira visita aos judeus da cidade de Tessalônica, na Grécia: "Explicava e demonstrava, à base das Escrituras, que era necessário que Cristo padecesse e ressurgisse dos mortos. 'E este Cristo é Jesus que eu vos anuncio.'" At 17,3
    Mas a Encarnação de Cristo, enquanto capítulo da Revelação da Santíssima Trindade, vai muito além do que as palavras dizemDeus é muito maior do que podemos expressar. Este Apóstolo ensina aos fiéis da cidade de Corinto: "Ele (Deus) é que nos fez aptos para ser Ministros da Nova Aliança, não a da letra, e sim a do Espírito. Porque a letra mata, mas o Espírito vivifica." 2 Cor 3,6
    E nem todos têm a Graça da presença do Espírito de Deus em si, como vimos nas palavras de São João Evangelista. Dentre estes, ele aponta os falsos mestres: "Muitos sedutores têm saído pelo mundo afora, os quais não proclamam Jesus Cristo encarnado." 2 Jo 1,7
    Contudo, quem recebeu o Espírito Santo sabe Quem é Jesus, e também sabe que nasceu de novo: "Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo, nasceu de Deus..." 1 Jo 5,1
    Por isso, na Primeira Carta de São Pedro, privilegiada testemunha da Transfiguração, ele afirma, citando classes de anjos, a absoluta Majestade de Jesus: "Esse Jesus Cristo, tendo subido ao Céu, está assentado à direita de Deus, depois de ter recebido a submissão dos anjos, dos principados e das potestades." 1 Pd 3,22
    Ora, é exclusivamente d'Ele que falam as Escrituras, como São Paulo defendia e o próprio Jesus havia dito aos religiosos judeus: "Vós perscrutais as Escrituras, nelas julgando encontrar a Vida Eterna. Pois bem! São elas mesmas que dão testemunho de Mim." Jo 5,39
    Ele provocou-os: "Pois se crêsseis em Moisés, certamente creríeis em Mim, porque ele escreveu a Meu respeito." Jo 5,46
    São Pedro, após curar um aleijado no Templo, pregando à multidão que se juntou também se mostrava irredutível: "Todos Profetas, que sucessivamente têm falado desde Samuel, anunciaram estes dias." At 3,24
    Sua Vida é nosso parâmetro, portanto, e representa o pleno cumprimento da Lei. Foi o que São Paulo concluiu, escrevendo aos cristãos da igreja de Roma: "Porque a finalidade da Lei é Cristo..." Rm 10,4
    Ele viu-O na rocha que acompanhava Moisés, enquanto guiava o povo de Deus pelo deserto: "... todos beberam da mesma bebida espiritual, pois todos bebiam da pedra espiritual que os seguia. E essa pedra era Cristo." 1 Cor 10,4
    Pois como ele afirma aos da cidade de Colossos, por Jesus temos a definitiva purificação: "Há bem pouco tempo éreis vós alheios a Deus e inimigos por vossos pensamentos e más obras, mas eis que agora Ele vos reconciliou pela morte de Seu Corpo humano, para que vos possais apresentar Santos, imaculados, irrepreensíveis aos olhos do Pai." Cl 1,21-22
    E assim sabemos que, como Sua Doutrina, Jesus é eterno, é Deus: "Jesus Cristo sempre é o mesmo: ontem, hoje e por toda eternidade." Hb 13,8
    De fato, em resposta a Santa Marta enquanto passava por Betânia e subia a Jerusalém para Sua Páscoa, Ele afirmou ser a própria Vida: "Eu sou a Ressurreição e a Vida." Jo 11,25
    Ora, não nos confunda o fato de que, mesmo sendo a Segunda Pessoa através da Qual Deus Se deu a conhecer, Ele tenha vivido a humildade: "Assim Cristo também não atribuiu a Si mesmo a Glória de ser Pontífice." Hb 5,5
    São Paulo recita o Hino Cristológico: "Tende em vós o mesmo sentimento de Cristo Jesus. Sendo Ele de divina condição, não Se prevaleceu de Sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-Se aos homens. E sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-Se ainda mais, tornando-Se obediente até a morte, e morte de Cruz. Por isso, Deus soberanamente exaltou-O e outorgou-Lhe o Nome que está acima de todos nomes, para que ao Nome de Jesus se dobre todo joelho no Céu, na Terra e nos infernos. E toda língua confesse, para a Glória de Deus Pai, que Jesus Cristo é Senhor." Fl 2,5-11
    Este Santo bem compreendeu o que significa ser cristão neste mundo, ou seja, ser Igreja: "O que falta às tribulações de Cristo, completo em minha carne, por Seu Corpo que é a Igreja." Cl 1,24b
    E aferindo Sua grandeza em comparação às tradições religiosas dos judeus, ele vai dizer: "Tudo isto não é mais que sombra d'Aquele que devia vir. A realidade é o Corpo de Cristo." Cl 2,17
    Por fim, tempos essa luminosa revelação feita pelo próprio Jesus a Santa Brígida: "O Pai enviou-Me através d'Ele mesmo, juntamente com o Espírito Santo, para o útero da Virgem, embora não de forma que os anjos ficassem sem a visão e a presença de Deus. Eu, o Filho, que estava com o Pai e o Espírito Santo no ventre da Virgem, permaneci o mesmo Deus na visão dos anjos no Céu juntamente com o Pai e o Espírito Santo, governando e sustentando todas coisas. Entretanto, a natureza humana assumida pelo Único Filho ficou no útero de Maria." (Livro II, Capítulo XIII)

    "Jesus Cristo deu-nos Vida por Sua morte!"