Mesmo entre os mais superficialistas, é simplesmente injustificável o desprezo para com os ensinamentos de Jesus, e assim para com o conjunto da Revelação. A verdade é que fingem não perceber a profundidade de Suas Palavras, e não é por falta de contundência, pois Ele reclamou de Nicodemos, um dos principais dos fariseus: "Se vos tenho falado das terrenas coisas e não Me credes, como crereis se vos falar das celestiais?" Jo 3,12
E revelando o primeiro obstáculo da fé, acusou os religiosos de Jerusalém: "Como podeis crer, vós que recebeis a glória uns dos outros, e não buscais a Glória que é só de Deus?" Jo 5,44
O ponto central dessa dificuldade é que a realidade anunciada por Jesus deve ser experimentada no íntimo da alma, como Ele disse à samaritana no poço de Jacó: "Mas vem a hora, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai em espírito e Verdade, e são esses adoradores que o Pai deseja. Deus é espírito, e Seus adoradores devem adorá-Lo em espírito e Verdade." Jo 4,23-24
E tal realidade não é nem um pouco medíocre. Ele exorta: "Portanto, sede perfeitos, assim como Vosso Pai Celeste é perfeito." Mt 5,48
Fala de um renascer, como disse a Nicodemos: "Não te maravilhes de que Eu te tenha dito: 'Necessário é-vos nascer de novo.' O vento sopra onde quer. Ouve-lhe o ruído, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim acontece com aquele que nasceu do Espírito." Jo 3,7-8
De outra Vida: "Assim como vive o Pai que Me enviou, e Eu vivo pelo Pai, aquele que comer Minha Carne também viverá por Mim." Jo 6,57
De outro 'tempo': "Em Verdade, em Verdade, digo-vos: antes que Abraão fosse, EU SOU." Jo 8,58b
De outra condição: "Ora, Eu declaro-vos: aqui está Quem é maior que o Templo." Mt 12,6
De muito além da Sabedoria: "Ora, aqui está Quem é mais que Salomão." Lc 11,31b
Fazia uma clara distinção, em debate com os judeus: "Vós sois cá de baixo, Eu sou lá de cima. Vós sois deste mundo, Eu não sou deste mundo." Jo 8,23b
Exigia, pois, plena fidelidade a Deus: "Ai de vós, hipócritas escribas e fariseus! Pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e desprezais os mais importantes preceitos da Lei: a justiça, a Misericórdia, a fidelidade." Mt 23,23a
Ele também havia apontado a principal razão dessa incapacidade: falta ao mundo o Espírito da Promessa, que é derramado sobre a Igreja: "É o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber porque não O vê nem O conhece. Mas vós conhecê-Lo-eis, porque convosco permanecerá e em vós estará." Jo 14,17
São Paulo bem entendeu o grande diferencial que foi o Pentecostes: "Ora, nós não recebemos o espírito do mundo, mas sim o Espírito que vem de Deus, que nos dá a conhecer as Graças que Deus nos prodigalizou e que pregamos numa linguagem que nos foi ensinada não pela sabedoria humana, mas pelo Espírito, que exprime as coisas espirituais em termos espirituais. Mas o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, pois para ele são loucuras. Nem pode compreendê-las, porque é pelo Espírito que devem ponderá-las." 1 Cor 2,12-14
Ele explica: "A Lei do Espírito de Vida libertou-me, em Jesus Cristo... O que era impossível à Lei, visto que a carne a tornava impotente, Deus fez! Enviando, por causa do pecado, Seu próprio Filho numa carne semelhante à do pecado, condenou o pecado na carne a fim de que a justiça prescrita pela Lei fosse realizada em nós que vivemos não segundo a carne, mas segundo o espírito. Vós, porém, não viveis segundo a carne, mas segundo o espírito, se realmente o Espírito de Deus habita em vós. Se alguém não possui o Espírito de Cristo, este não é d'Ele." Rm 8,2a.3-4.9
E exulta com o Ministério do Santo Espírito, ou seja, da Igreja: "Ora, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, se revestiu de tal glória que os filhos de Israel não podiam fitar os olhos no rosto de Moisés, por causa do resplendor de sua face, embora transitório, quanto mais glorioso não será o Ministério do Espírito? Se o ministério da condenação já foi glorioso, muito mais há de sobrepujá-lo em Glória o Ministério da Justificação!" 2 Cor 3,7-9
Jesus deu detalhes da Missão do Espírito Santo, que é a mesma da Igreja, detentora de Seu Veredicto: "Porque se Eu não for, o Paráclito não virá a vós. Mas se Eu for, enviá-Lo-ei. E quando Ele vier, convencerá o mundo a respeito do pecado, da justiça e do Juízo. Convencerá o mundo a respeito do pecado, que consiste em não crer em Mim. Convencê-lo-á a respeito da justiça, porque Me vou para Meu Pai e vós já não Me vereis. Ele convencê-lo-á a respeito do Juízo, que consiste em que o príncipe deste mundo já está julgado e condenado." Jo 16,7b-11
De fato, respondendo a Seus parentes que O provocavam a manifestar-Se na Judeia, onde corria risco de ser assassinado pelos religiosos, Jesus sentenciou: "O mundo não vos pode odiar, mas odeia-Me, porque contra ele Eu testemunho que suas obras são más." Jo 7,7
E referindo-Se à Missão dos Apóstolos, e mais uma vez da Igreja, Ele rezou ao Pai: "Dei-lhes Tua Palavra, mas o mundo odeia-os, porque eles não são do mundo, como também Eu não sou do mundo." Jo 17,14
Eles, com efeito, ardorosamente abraçariam a tarefa de difundir a Verdade, como São Pedro pregou diante do Sinédrio, explicando como se recebe o Santo Paráclito: "O Deus de nossos pais ressuscitou Jesus, que vós matastes suspendendo-O num madeiro. Deus elevou-O pela mão direita como Príncipe e Salvador, a fim de dar a Israel o arrependimento e a remissão dos pecados. Deste fato nós somos testemunhas, nós e o Espírito Santo, que Deus deu a todos aqueles que Lhe obedecem." At 5,30-32
E é essa vida espiritual que os Apóstolos vão declarar durante a instituição do diaconato, quando os Apóstolos acolheram os primeiros sete auxiliadores: "Nós sem cessar atenderemos à oração e ao Ministério da Palavra." At 6,4
Contudo, ainda que antes do Pentecostes, Jesus vai reclamar de dois discípulos, que partiram de Jerusalém para Emaús no Domingo da Ressurreição: "Jesus disse-lhes: 'Ó gente sem inteligência! Como sois tardos de coração para crerdes em tudo que anunciaram os Profetas! Porventura não era necessário que Cristo sofresse essas coisas e assim entrasse em Sua Glória?'" Lc 24,25-26
Aliás, por vezes Ele teve que reclamar dos próprios Apóstolos, quando, por exemplo, de Sua Ressurreição: "Por fim apareceu aos Onze, quando estavam sentados à mesa, e censurou-lhes a incredulidade e dureza de coração, por não acreditarem naqueles que O tinham visto ressuscitado." Mc 16,14
Os seguidores da tradição de São Paulo, no mesmo sentido, reclamavam dos cristãos de origem hebreia: "Teríamos muita coisa a dizer sobre isso, e coisas bem difíceis de explicar, dada vossa lentidão em compreender... A julgar pelo tempo, já devíeis ser mestres! Contudo, ainda necessitais que vos ensinem os primeiros rudimentos da Palavra de Deus. E tornaste-vos tais, que precisais de leite em vez de sólido alimento! Mas o sólido alimento é para os adultos, para aqueles que a experiência já exercitou na distinção do bem e do mal." Hb 5,11-12.14
E assim também procedeu o próprio Apóstolo dos Gentios, quando reclamou dos coríntios: "A vós, irmãos, não vos pude falar como a homens espirituais, mas como a carnais, como a criancinhas em Cristo. Eu dei-vos leite a beber, e não sólido alimento que ainda não podíeis suportar. Nem ainda agora o podeis, porque ainda sois carnais. Com efeito, enquanto houver entre vós ciúmes e contendas, não será porque sois carnais e procedeis de um totalmente humano modo?" 1 Cor 3,1-3
Sem dúvida, ele havia alcançado a verdadeira concepção do ser humano: "Por isso, daqui em diante a ninguém conhecemos de um humano modo. Muito embora tenhamos considerado Cristo dessa maneira, agora já não O julgamos assim. Todo aquele que está em Cristo é uma nova criatura. Passou o que era velho. Eis que tudo se fez novo!" 2 Cor 5,16-17
Por isso, recomendava as religiosas práticas a São Timóteo: "Exercita-te na piedade. Se o exercício corporal traz algum pequeno proveito, a piedade, esta sim, é útil para tudo, porque tem a promessa da presente e da futura Vida. Eis uma Verdade absolutamente certa e digna de fé: se nos afadigamos e sofremos ultrajes, é porque pusemos nossa esperança em Deus Vivo, que é o Salvador de todos homens, sobretudo dos fiéis." 1 Tm 4,8-10
Não vacilava: "Sabemos que todo tempo que passamos no corpo é um exílio longe do Senhor." 2 Cor 5,6b
Dizia: "Porque não miramos as coisas que se vêem, mas sim as que não se vêem . Pois as coisas que se vêem são temporais, e as que não se vêem são eternas." 2 Cor 4,17b
E era incisivo: "Andamos na fé e não na visão." 2 Cor 5,7
Ele bem conhecia a fonte das Sagradas Escrituras: "É, porventura, o favor dos homens que eu procuro, ou o de Deus? Por acaso tenho interesse em agradar aos homens? Se ainda quisesse agradar aos homens, não seria servo de Cristo. Asseguro-vos, irmãos, que o Evangelho por mim pregado nada tem de humano. Não o recebi nem o aprendi de homem algum, mas mediante uma revelação de Jesus Cristo." Gl 1,10-12
Defendia a Sã Doutrina, da qual a Santa Igreja é depositária: "Pois Deus não nos chamou para a impureza, mas para a santidade. Por conseguinte, desprezar estes preceitos é desprezar não a um homem, mas a Deus, que nos infundiu Seu Santo Espírito." 1 Ts 4,7-8
Mas também tinha a exata medida das condições em que se dava sua transmissão: "Porém, temos este tesouro em vasos de barro, para que claramente transpareça que este extraordinário poder provém de Deus e não de nós." 2 Cor 4,7
De toda forma, não permitia que os fiéis se acomodassem: "Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação de vosso espírito, para que possais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que Lhe agrada e o que é perfeito." Rm 12,2
E exortava: "Vivei como filhos da Luz. E o fruto da Luz chama-se: bondade, justiça, Verdade. Discerni o que agrada ao Senhor, e não tenhais cumplicidade nas infrutíferas obras das trevas. Pelo contrário, abertamente condenai-as." Ef 5,8b-11
Para ele, o sentido da vida era bem claro: "Deus fez, a partir de um só homem, todo gênero humano para habitar em toda face da Terra, e fixou a sequência dos tempos e os limites para sua habitação, a fim de que os homens procurem a Deus e esforcem-se por encontrá-Lo, mesmo tateando, embora não Se encontre longe de cada um de nós. Porque é n'Ele que temos a vida, o movimento e o ser..." At 17,26-28a
Em sua profunda Comunhão com Deus, dizia-se pronto para deixar essa vida: "Porque para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro. Mas se o viver no corpo é útil para meu trabalho, então não sei o que devo preferir. Sinto-me pressionado dos dois lados: por uma parte, desejaria desprender-me para estar com Cristo, o que seria imensamente melhor, mas, de outra parte, continuar a viver é mais necessário, por causa de vós..." Ef 1,21-24
E como testemunha da Ressurreição, afirma: "Se é só para esta vida que temos colocado nossa esperança em Cristo, somos, de todos os homens, os mais dignos de lástima." 1 Cor 15,19
Tinha plena ciência da efemeridade desta vida, assim como da 'garantia' da Vida Eterna: "Pois enquanto permanecemos nesta tenda, gememos oprimidos: desejamos ser não despojados, mas revestidos com uma nova veste por cima da outra, de modo que o que há de mortal em nós seja absorvido pela Vida. Aquele que nos formou para este destino é Deus mesmo, que por penhor nos deu Seu Espírito. Por isso, sempre estamos cheios de confiança." 2 Cor 5,4-6a
Assim explicou em que consistia a realidade espiritual vivida pelos Apóstolos, por ele mesmo e pelos reais seguidores do Messias: "Pois os que são de Jesus Cristo crucificaram a carne, com as más paixões e concupiscências." Gl 5,24
E explicou o que representa a Santa Missa: "Eu exorto-vos, pois, irmãos, pelas Misericórdias de Deus, a oferecerdes vossos corpos em vivo, santo e agradável sacrifício a Deus: é este vosso culto espiritual. Não relaxeis vosso zelo. Sede fervorosos de espírito. Servi ao Senhor." Rm 12,1.11
Como Jesus havia prescrito perante a samaritana, assim ele se apresentava, como se vê no início da Carta aos Romanos: "Deus, a Quem sirvo em meu espírito anunciando o Evangelho de Seu Filho..." Rm 1,9a
Também é o que diz São Pedro, ao descrever o único modo de ser Igreja: "Achegai-vos a Ele, Pedra Viva que os homens rejeitaram, mas escolhida e preciosa aos olhos de Deus. E quais outras pedras vivas, vós também vos tornais os materiais deste espiritual edifício, um Santo Sacerdócio para oferecer vítimas espirituais, agradáveis a Deus, por Jesus Cristo." 1 Pd 2,4-5
Com desassombro, ele fala das tentações: "Caríssimos, não vos perturbeis no fogo da provação, como se algo extraordinário vos acontecesse." 1 Pd 4,12
Apontando altas hierarquias angelicais, São Paulo diz contra quem se travam as verdadeiras e decisivas batalhas: "Pois não é contra homens de carne e sangue que temos de lutar, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes deste tenebroso mundo, contra as forças espirituais do mal espalhadas nos ares." Ef 6,12
Batalhas essas que duram por toda vida: "Irmãos, para que a extraordinária grandeza das revelações não me envaidecesse, em minha carne foi espetado um espinho, que é como um anjo de Satanás a esbofetear-me, a fim de que eu não me exalte demais. A esse propósito, roguei três vezes ao Senhor que o afastasse de mim. Mas Ele disse-me: 'Basta-te Minha Graça, pois é na fraqueza que Minha força se manifesta.' Por isso, de bom grado gloriar-me-ei de minhas fraquezas, para que a força de Cristo em mim habite. Eis porque me comprazo nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições e nas angústias sofridas por amor a Cristo, pois quando eu me sinto fraco, então é que sou forte." 2 Cor 12.7-10
E dava detalhes de como se armar, se defender e lutar: "Tomai, portanto, a armadura de Deus, para que possais resistir nos maus dias e vos manter inabaláveis no cumprimento de vosso dever. Ficai alerta, à cintura cingidos com a Verdade, o corpo vestido com a couraça da justiça, e os pés calçados de prontidão para anunciar o Evangelho da Paz. Sobretudo, embraçai o escudo da fé, com que possais apagar todos inflamados dardos do Maligno. Tomai, enfim, o capacete da Salvação e a espada do Espírito, isto é, a Palavra de Deus. Intensificai vossas invocações e súplicas. Orai em toda circunstância, pelo Espírito, no Qual perseverai em intensa vigília de súplica por todos cristãos." Ef 6,13-18
Valendo-se de seu próprio exemplo, ele recomendava: "Sustentais o mesmo combate que me tendes visto travar, e no qual sabeis que agora eu continuo." Fl 1,3
E fazia-o com frequência: "Realmente desejo que estejais informados do árduo combate que sustento por amor a vós e aos de Laodiceia, assim como a todos que pessoalmente ainda não me viram!" Cl 2,1
Ensinava o mesmo aos mais próximos: "Eis aqui uma recomendação que te dou, meu filho Timóteo, de acordo com aquelas profecias que foram feitas a teu respeito: amparado nelas, sustenta o bom combate, com fidelidade e boa consciência, pois alguns desprezaram e naufragaram na fé." 1 Tm 1,18-19
Pois o projeto de Deus vai muito além das visíveis criaturas: "N'Ele (Cristo) foram criadas todas coisas nos Céus e na terra, as visíveis e as invisíveis criaturas. Tronos, dominações, principados, potestades: tudo foi criado por Ele e para Ele." Cl 1,16
Seus seguidores iriam ainda mais longe ao falar em resistência, acenando para o próprio Sacrifício de Cristo: "Atentamente considerai, pois, Aquele que tantas contrariedades sofreu dos pecadores, e não vos deixeis abater pelo desânimo. Ainda não tendes resistido até o sangue, na luta contra o pecado." Hb 12,3-4
Nada era, porém, que o próprio Jesus não houvesse previsto: "Expulsá-vos-ão das sinagogas, e virá a hora em que todo aquele que vos tirar a vida julgará prestar culto a Deus." Jo 16,2
Mas Ele garantia que tudo está sob pleno o controle de Deus: "Não temais aqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Antes temei Aquele que pode precipitar a alma e o corpo na geena. Não se vendem dois passarinhos por um asse? No entanto, nenhum cai por terra sem a vontade de Vosso Pai. Até os cabelos de vossa cabeça estão todos contados. Não temais, pois! Bem mais que os pássaros valeis vós. Portanto, quem der testemunho de Mim diante dos homens, Eu também darei testemunho dele diante de Meu Pai, que está nos Céus." Mt 10,28-32
Acaso poderíamos esconder nossos talentos? Jesus ensinou: "Veio, por fim, o que recebeu só um talento: 'Senhor', disse-Lhe, 'sabia que és um duro homem, que colhes onde não semeaste e recolhes onde não espalhaste. Por isso, tive medo e fui esconder Teu talento na terra. Eis aqui, toma o que Te pertence.' Respondeu-lhe Seu Senhor: 'Mau e preguiçoso servo! Sabias que colho onde não semeei e que recolho onde não espalhei. Devias, pois, levar Meu dinheiro ao banco e, à Minha volta, com juros Eu receberia o que é Meu. Tirai-lhe este talento e dai-o ao que tem dez. Dá-se-á ao que tem, e terá em abundância. Mas, ao que não tem, tirá-se-á mesmo aquilo que julga ter. E a esse inútil servo, jogai-o nas trevas exteriores. Ali haverá choro e ranger de dentes.'" Mt 25,24-30
Poderia, sem estes talentos, prosperar a Igreja? São Paulo foi taxativo quanto à finalidade dos dons do Espírito Santo: "Assim, uma vez que aspirais aos dons espirituais, procurai tê-los em abundância para edificação da Igreja." 1 Cor 14,12
E afirma o êxtase espiritual: "De fato, se ficamos arrebatados, fora dos sentidos, é por Deus." 2 Cor 5,13a
Foi nessa peculiar condição que São João Evangelista recebeu as revelações do Apocalipse: "Num domingo, fui arrebatado em êxtase, e por trás de mim ouvi forte voz como de trombeta, que dizia: 'O que vês, escreve-o num livro e manda-o às sete igrejas: a Éfeso, a Esmirna, a Pérgamo, a Tiatira, a Sardes, a Filadélfia e a Laodiceia.'" Ap 1,10-11
Assim como aconteceu ao Príncipe dos Apóstolos, pouco antes do 'Pentecostes dos Gentios': "Mas Pedro fez-lhes uma exposição de tudo que acontecera, dizendo: 'Eu estava orando na cidade de Jope e, arrebatado em espírito, tive uma visão...'" At 11,4-5a
Tudo isso em nome de um claro sacrifício pela Salvação do próximo, pois, nosso dever é renegar toda e qualquer pessoal realização: "Em seguida, Jesus disse a Seus discípulos: 'Se alguém quiser vir Comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-Me.'" Mt 16,24
Esse é o maior exemplo do próprio Cristo, que pregou: "Ninguém tem maior amor que aquele que dá sua vida por seus amigos." Jo 15,13
Por isso, São João Evangelista replicava: "Nisto temos conhecido o amor: Jesus deu Sua vida por nós. Também devemos dar nossa vida pelos nossos irmãos." 1 Jo 3,16
E dizia: "No amor não há medo. Ao contrário, o perfeito amor lança fora o medo, pois o medo implica castigo, e aquele que tem medo não chegou à perfeição do amor." 1 Jo 4,18
ORAÇÕES E PENITÊNCIAS
Sob vários aspectos, a Vida de Jesus foi muito restritiva. Logo no início de Sua vida pública, após o Batismo por São João, deram-se as tentações do deserto: "Em seguida, Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto para ser tentado pelo Demônio. Jejuou quarenta dias e quarenta noites. Depois, teve fome." Mt 4,1-2
Sua fonte de Vida, de fato, era sobrenatural: "Entretanto, os discípulos pediam-Lhe: 'Mestre, come.' Disse-lhes Jesus: 'Meu alimento é fazer a vontade d'Aquele que Me enviou, e cumprir Sua obra.'" Jo 4,31.34
Suas orações eram muito intensas, como vimos na noite que antecedeu a escolha dos Doze Apóstolos: "Naqueles dias, Jesus retirou-Se a uma montanha para rezar, e aí passou toda noite orando a Deus." Lc 6,12
Ou na noite em que foi entregue por Judas, no Horto das Oliveiras: "Ele entrou em agonia e orava com ainda mais instância, e Seu suor tornou-se como gotas de Sangue a escorrer pela terra." Lc 22,44
Por isso, recomendava constante vigilância: "Vigiai e orai para que não entreis em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca." Mt 26,41
E de vários modos usou para demonstrá-lo: "Propôs-lhes Jesus uma parábola para mostrar que sempre é necessário orar, sem jamais deixar de fazê-lo." Lc 18,1
Em muitos momentos, Sua vida lembrava mesmo a de um permanente penitente: "Respondeu Jesus: 'As raposas têm suas tocas e as aves do céu, seus ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça.'" Mt 8,20
Embora, entre tantas adversidades, nem sempre Ele e os Apóstolos pudessem conduzir-Se de tal modo: "Ora, os discípulos de João e os fariseus jejuavam. Por isso, foram-Lhe perguntar: 'Por que jejuam os discípulos de João e os dos fariseus, mas Teus discípulos não?' Jesus respondeu-lhes: 'Podem porventura jejuar os convidados das núpcias, enquanto com eles está o Esposo? Enquanto consigo têm o Esposo, não lhes é possível jejuar. Dias virão, porém, em que o Esposo lhes será tirado, então jejuarão." Mc 2,18-20
Mas não viviam de banquetes, como demonstra a situação em que Jesus foi informado da morte de São João Batista: "Ele disse-lhes: 'Vinde à parte, a algum deserto lugar, e descansai um pouco.' Porque eram muitos aqueles que iam e vinham, e nem tinham tempo para comer.'" Mc 6,31
E assim foi desde o princípio: "Em dia de sábado, Jesus atravessava umas plantações. Seus discípulos iam colhendo espigas de trigo, debulhavam-nas na mão e comiam." Lc 6,1
O Batista, sim, o Último dos Profetas, era um exemplar penitente: "João andava vestido de pelo de camelo e trazia um cinto de couro em volta dos rins, e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre." Mc 1,6
Aliás, como filho de pais idosos, assim foi desde a infância: "O menino foi crescendo e fortificava-se em espírito, e nos desertos viveu até o dia em que se apresentou diante de Israel." Lc 1,80
Entre outros dons, tal condição conferia-lhe grande autoridade, obrigando toda gente à Confissão e às penitências: "Pessoas de Jerusalém, de toda Judeia e de toda circunvizinhança do Jordão vinham a ele. Confessavam seus pecados e por ele eram batizados nas águas do Jordão. Ao ver, porém, que muitos dos fariseus e dos saduceus vinham a seu batismo, disse-lhes: 'Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da vindoura cólera? Dai frutos, pois, de verdadeira penitência.'" Mt 3,5-8
Jesus atestou sua santidade, acusando os principais dos judeus: "João veio a vós no Caminho da justiça e não crestes nele. Os coletores e as prostitutas, porém, creram nele. E vós, vendo isto, nem fostes tocados de arrependimento para crerdes nele." Mt 21,32
Há outros exemplos de perfeita ascese nos Evangelhos, como a viúva do Templo de Jerusalém, vista no dia da Apresentação de Jesus: "Também havia uma Profetisa chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Era de avançada idade. Depois de ter vivido sete anos com seu marido desde sua virgindade, ficara viúva, e agora com oitenta e quatro anos não se apartava do Templo, noite-e-dia servindo a Deus em jejuns e orações. Chegando ela à mesma hora, louvava a Deus e falava de Jesus a todos aqueles que em Jerusalém esperavam a libertação." Lc 2,36-38
Também assim vivia a pobre viúva observada por Jesus, que por completo se abandonava à Divina Providência: "Levantando os olhos, Jesus viu os ricos que deitavam suas ofertas no cofre do Templo. Também viu uma pobrezinha viúva deitar duas pequeninas moedas, e disse: 'Em Verdade, digo-vos: esta pobre viúva pôs mais que os outros. Pois todos aqueles lançaram nas ofertas de Deus o que lhes sobra. Esta, porém, de sua indigência, deu tudo que lhe restava para o sustento.'" Lc 21,1-4
Grande penitente, porém, e do qual pouco lembramos, era o próprio São Paulo. Seus registros são de grande contundência: "O que falta às tribulações de Cristo, completo em minha carne, por Seu Corpo que é a Igreja." Cl 1,24
Ele explicava: "... porque a vós é dado não somente crer em Cristo, mas também sofrer por Ele." Fl 1,29
Escreveu aos coríntios: "Ao contrário, castigo meu corpo e mantenho-o em servidão, de medo de vir eu mesmo a ser excluído depois de eu ter pregado aos outros." 1 Cor 9,27
Essa prática ele trazia do judaísmo, e usou-a logo após a aparição de Jesus, quando de sua conversão: "Saulo levantou-se do chão. Abrindo, porém, os olhos, nada via. Tomaram-no pela mão e introduziram-no em Damasco, onde esteve três dias sem ver, sem comer nem beber." At 9,8-9
Ele ensinava aos colossenses: "Mortificai vossos membros, pois, no que têm de terreno: a devassidão, a impureza, as paixões, os maus desejos, a cobiça, que é uma idolatria." Cl 3,5
E exortou: "Se, portanto, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas lá de cima, e não às da terra. Porque estais mortos e vossa vida está escondida com Cristo em Deus." Cl 3,1-3
Pois Jesus garantia: "Não vos inquieteis com o que haveis de comer ou beber, e não andeis com vãs preocupações. Porque os homens do mundo é que se preocupam com todas estas coisas. Mas Vosso Pai bem sabe que precisais de tudo isso. Antes buscai o Reino de Deus e Sua justiça, e todas estas coisas ser-vos-ão dadas por acréscimo." Lc 12,29-31
Em que consistiria ser cristão, pois, senão em participar de Seu Sacrifício, como nos oferecemos na Santa Missa? São Paulo rezava: "Anseio pelo conhecimento de Cristo e do poder da Sua Ressurreição, pela participação em Seus sofrimentos, tornando-me semelhante a Ele na morte com a esperança de conseguir a Ressurreição dentre os mortos." Fl 3,10-11
Dessas agruras, ele tratou em quase todas suas cartas: "Em nosso corpo sempre trazemos os traços da morte de Jesus, para que a Vida de Jesus também se manifeste em nosso corpo. Embora estando vivos, a toda hora somos entregues à morte por causa de Jesus, para que a Vida de Jesus também apareça em nossa carne mortal." 2 Cor 4,10-11
Viveu situações realmente difíceis, de grandes flagelações, como aconteceu em Éfeso: "Ali desmedidamente fomos maltratados, além de nossas forças, a ponto de termos perdido a esperança de sair com vida. Dentro de nós mesmos sentíamos a sentença de morte, para que aprendêssemos a pôr nossa confiança não em nós, mas em Deus, que ressuscita os mortos." 2 Cor 1,8b-9
Chegou a listar: "Mas em todas coisas apresentamo-nos como Ministros de Deus, por uma grande constância nas tribulações, nas misérias, nas angústias, nos açoites, nos cárceres, nos tumultos populares, nos trabalhos, nas vigílias, nas privações..." 2 Cor 6,4-5
E contou: "Muitas vezes vi a morte de perto. Cinco vezes recebi dos judeus os quarenta açoites menos um. Três vezes fui flagelado com varas. Uma vez apedrejado. Três vezes naufraguei, uma noite e um dia passei no abismo. Viagens sem conta, exposto a perigos nos rios, perigos de salteadores, perigos da parte de meus concidadãos, perigos da parte dos pagãos, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos entre falsos irmãos! Trabalhos e fadigas, repetidas vigílias, com fome e sede, frequentes jejuns, frio e nudez! Além de outras coisas, minha cotidiana preocupação, a solicitude por todas igrejas!" 2 Cor 11,23b-28
O Profeta Sofonias ainda era mais rigoroso, pois nem na pobreza via garantida a completa indulgência dada por Deus: "Procurai Javé, todos pobres da terra. Vós que obedeceis a Seus Mandamentos, procurai a justiça, procurai a pobreza. Assim talvez acheis refúgio no Dia da ira de Javé." Sf 2,3
Foi essa condição, entretanto, que Jesus propôs ao rico jovem, que se julgava Santo: "Respondeu Jesus: 'Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no Céu. Depois vem e segue-Me!'" Mt 19,21
E os vocacionados a seguir Jesus não tinham direito sequer a certas obras de fé, ou a familiares apegos: "A outro disse: 'Segue-Me.' Mas ele pediu: 'Senhor, primeiro permite-me ir enterrar meu pai.' Mas Jesus disse-lhe: 'Deixa que os mortos enterrem seus mortos. Tu, porém, vai e anuncia o Reino de Deus.'" Lc 9,59-60
Resolutamente, o Mestre não deixava dúvida: "Quem ama seu pai ou sua mãe mais que a Mim, não é digno de Mim. Quem ama seu filho mais que a Mim, não é digno de Mim. Quem não toma sua cruz e não Me segue, não é digno de Mim. Aquele que tentar salvar sua vida, perdê-la-á. Aquele que a perder, por Minha causa, reencontrá-la-á." Mt 10,37-39
Proclamando-Se Deus, ainda que indiretamente, nestes termos Ele apenas exigia o cumprimento do primeiro Mandamento, que fala de amor a Deus sobre todas coisas: "Amarás o Senhor, Teu Deus, de todo teu coração e com toda tua alma, com toda tua força e com todo teu entendimento..." Mt 22,37
Tal desapego, porém, não ficaria sem a devida recompensa. Jesus assegurou: "E todo aquele que por Minha causa deixar irmãos, irmãs, pai, mãe, mulher, filhos, terras ou casa, receberá o cêntuplo e possuirá a Vida Eterna." Mt 19,29
PERTO DE DEUS
A Doutrina de Jesus, portanto, prima pelo mais prudente comedimento espiritual. Ele recomenda: "Entrai pela estreita porta, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduzem à perdição, e numerosos são aqueles que por aí entram." Mt 7,13
E enquanto perfeito exemplo, aponta para Si mesmo: "Jesus tornou a dizer-lhes: 'Em Verdade, em Verdade, digo-vos: Eu sou a Porta das ovelhas.'" Jo 10,7
Alertou para o perigo da escravidão do pecado, e deixou claro que só Ele pode conceder-nos a verdadeira liberdade: "Respondeu Jesus: 'Em Verdade, em Verdade, digo-vos: todo homem que se entrega ao pecado é seu escravo. Se o Filho vos libertar, pois, verdadeiramente sereis livres.'" Jo 8,34-36
São Paulo explica: "Não sabeis que, quando vos ofereceis a alguém para obedecer-lhe, sois escravos daquele a quem obedeceis, quer seja do pecado para a morte, quer da obediência para a justiça? Graças a Deus, porém, que, depois de terdes sido escravos do pecado, obedecestes de coração à regra da Doutrina na qual tendes sido instruídos. E, libertados do pecado, tornaste-vos servos da justiça." Rm 6,16-18
E mesmo depois de anos de sua conversão, e de toda sua fortaleza espiritual, em si mesmo ele seguia reconhecendo a concupiscência, isto é, a propensão ao pecado, cujo enfrentamento requer nossa perene vigília e os frequentes auxílios da Graça de Deus: "Eu sei que em mim, isto é, em minha carne, não habita o bem, porque o querer o bem está em mim, mas não sou capaz de efetuá-lo. Não faço o bem que quereria, mas faço o mal que não quero. Ora, se faço o que não quero, já não sou eu que faço, mas sim o pecado que em mim habita. Homem infeliz que sou! Quem me livrará deste corpo que me acarreta a morte?... " Rm 7,18-20.24
Até reconhecia as primícias da verdadeira alegria, mas ao fim era sincero: "Deleito-me na Lei de Deus, no íntimo de meu ser. Sinto em meus membros, porém, outra lei, que luta contra a lei de meu espírito e prende-me à lei do pecado, que está em meus membros." Rm 7,22-23
Por isso, dizia: "Pois sabemos que toda criação geme e sofre como que dores de parto até o presente dia. Não só ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, gememos em nós mesmos aguardando a adoção, a redenção de nosso corpo, porque pela esperança é que fomos salvos. Ora, ver o objeto da esperança já não é esperança, porque o que alguém vê, como é que ainda o espera? Nós que esperamos o que não vemos, é em paciência que o aguardamos. Outrossim, o Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza, porque não sabemos o que devemos pedir, nem orar como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com inefáveis gemidos. E Aquele que perscruta os corações sabe o que deseja o Espírito, o Qual intercede pelos santos, segundo Deus. Aliás, sabemos que todas coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são os eleitos, segundo Seus desígnios." Rm 8,22-28
E assim lutou até o fim, quando avisou da proximidade de sua definitiva libertação: "Quanto a mim, estou a ponto de ser imolado e o instante de minha libertação aproxima-se. Combati o bom combate, terminei minha carreira, guardei a fé." 2 Tm 4,6-7
O salmista já cantava: "Eu reconheço toda minha iniquidade, diante de mim está sempre meu pecado." Sl 50,5
Porque os pecados são muitos, como Jesus recomendava nossos compromissos: "Dizei somente: Sim, se é sim, e não, se é não. Tudo que disto passa vem do Maligno." Mt 5,37
De fato, ao passo que dissuadia certas vocações, São Tiago Menor reconhecia: "Meus irmãos, não haja muitos entre vós a arvorar-se em mestres. Sabeis que seremos mais severamente julgados, porque todos nós caímos em muitos pontos." Tg 3,1-2a
Temos, contudo, a assistência de Deus Espírito Santo. Jesus afirma: "... não premediteis o que haveis de dizer, mas dizei o que vos for inspirado naquela hora. Porque não sois vós que falais, mas sim o Espírito Santo." Mc 13,11b
Mas muitas também são nossas responsabilidades, principalmente para com os mais novos: "Guardai-vos de menosprezar um só destes pequenos, pois digo-vos que seus anjos no Céu contemplam sem cessar a face de Meu Pai, que está nos Céus." Mt 18,10
Ora, há horríveis possessões: "De longe vendo Jesus, correu e diante d'Ele prostrou-se, gritando em alta voz: 'Que queres de mim, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Conjuro-Te por Deus, que não me atormentes.' É que Jesus lhe dizia: 'Imundo espírito, sai deste homem!' Perguntou-lhe Jesus: 'Qual é teu nome?' Respondeu-Lhe: 'Legião é meu nome, porque somos muitos.'" Mc 5,6-9
A escravidão pode demorar anos, décadas: "Ouvistes que foi dito aos antigos: 'Não cometerás adultério.' Eu, porém, digo-vos: todo aquele que lançar um olhar de cobiça para uma mulher, com ela já adulterou em seu coração." Mt 5,27-28
Ou representar, ainda nessa vida, as próprias trevas: "Se teu olho estiver em mau estado, todo teu corpo estará em trevas. E se a luz que está em ti são trevas, quão espessas deverão ser as trevas!" Mt 6,23
E mais uma vez a 'solução' oferecida por Jesus parece radical: "Se teu olho direito é para ti causa de queda, arranca-o e lança-o longe de ti, porque é preferível perder um só de teus membros que todo teu corpo seja lançado na geena. E se tua mão direita é para ti causa de queda, corta-a e lança-a longe de ti, porque é preferível perder um só de teus membros, que teu corpo inteiro seja atirado na geena." Mt 5,29-30
Pois sem o socorro do Cordeiro de Deus, o verme do pecado sobreviverá mesmo no inferno: "Se teu pé for para ti ocasião de queda, corta-o fora, porque é preferível entrares coxo na Vida Eterna que, tendo dois pés, seres lançado à geena do inextinguível fogo, onde seu verme não morre e o fogo não se apaga." Mc 9,45-46
São Paulo, por sinal, chegou a desistir de um fiel da igreja de Corinto, guardando suas esperanças para as penas do Purgatório. É a excomunhão: "Em Nome do Senhor Jesus, reunidos vós e meu espírito, com o poder de Nosso Senhor Jesus, seja esse homem entregue a Satanás para mortificação de seu corpo, a fim de que sua alma seja salva no Dia do Senhor Jesus." 1 Cor 5,4-5
Quem for agraciado com a cura da alma, portanto, melhor que não torne a pecar. Jesus assim advertiu o cego de nascença que Ele havia curado: "Mais tarde, Jesus achou-o no Templo e disse-lhe: 'Eis que ficaste são. Já não peques, para não te acontecer pior coisa.'" Jo 5,14
Pois, antes de tudo, o seguimento do Cristo é um profundo exercício de antecipação para a Paz. Ele pregou: "Se estás, portanto, para fazer tua oferta diante do altar e te lembrares que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa diante do altar tua oferta e primeiro vai reconciliar-te com teu irmão. Só então vem fazer tua oferta." Mt 5,23-24
Tal resignação, porém, nada tem de meramente humano. Ao contrário, só é possível com os divinos auxílios, quando Deus mesmo assume todo comando sobre nós. Os seguidores de São Paulo rezavam: "E o Deus da Paz... queira dispor-vos ao bem e conceder-vos que cumprais Sua Vontade, realizando Ele próprio em vós o que é agradável a Seus olhos, por Jesus Cristo..." Hb 13,20a.21a
São Paulo, de fato, sustentava esse argumento: "Porque é Deus, segundo Seu beneplácito, Quem realiza em vós o querer e o executar." Fl 2,13
E convidava a contemplar as coisas do alto: "Sede contentes e agradecidos ao Pai, que vos fez dignos de participar da herança dos Santos na Luz. Ele arrancou-nos do poder das trevas e introduziu-nos no Reino de Seu amado Filho, no Qual temos a Redenção, a remissão dos pecados. Ele é a imagem de Deus invisível, o Primogênito de toda Criação. E também a vós, que há bem pouco tempo eram alheios a Deus e inimigos por vossos pensamentos e más obras, eis que agora Ele vos reconciliou pela morte de Seu Corpo humano, para que possais apresentar-vos Santos, imaculados, irrepreensíveis aos olhos do Pai. Para isto, é necessário que permaneçais fundados e firmes na fé, inabaláveis na esperança do Evangelho que ouvistes, que foi pregado a toda criatura que há debaixo do Céu, e do qual eu, Paulo, fui constituído Ministro." Cl 1,12-15.21-23
Ora, não foi assim que se deixou conduzir Nossa Senhora diante da Anunciação de São Gabriel Arcanjo? Não deveríamos viver esta mesma entrega? "Então disse Maria: 'Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo tua palavra.'" Lc 1,38a
Uma das mostras de sua espiritualidade é a reação que ela teve nesta aparição, pois não a estranhou: "Entrando, o anjo disse-lhe: 'Ave, cheia de Graça, o Senhor é contigo.' Perturbou-se ela com estas palavras, e pôs-se a pensar no significado de semelhante saudação." Lc 1,28-29
Quando, enfim, iremos entender a profundidade do silêncio de Nossa Mãe Celeste, diante de tudo que Jesus representa? "Maria conservava todas estas palavras, meditando-as em seu coração." Lc 2,19
Pois como São Paulo ensinava, Nosso Salvador afirmou que a partir de um determinado momento é Deus Quem assume o comando de nosso crescimento espiritual: "... e todo ramo que dá fruto, Ele limpa-o, para que dê ainda mais frutos." Jo 15,2b
Pedia Comunhão Consigo, pois também disse: "... porque sem Mim nada podeis fazer." Jo 15,5b
E havendo real compromisso com Sua Palavra, prometeu Sua presença entre os membros da Igreja: "Porque onde dois ou três estão reunidos em Meu Nome, aí Eu estou entre eles." Mt 18,20
Assim sabemos que muitos de nós já vivem uma especial proximidade a Deus: "Vendo Jesus que ele sabiamente falara, disse-lhe: 'Não estás longe do Reino de Deus.'" Mt 12,34a
São Paulo afirma: "... quem se une ao Senhor, com Ele torna-se um só Espírito." 1 Cor 6,17
E diz: "Consequentemente, já não sois hóspedes nem peregrinos, mas sois concidadãos dos Santos e membros da família de Deus." Ef 2,19
Mais: "... somos cidadãos dos Céus." Fl 3,20a
"Santificai e reuni Vosso povo!"
E revelando o primeiro obstáculo da fé, acusou os religiosos de Jerusalém: "Como podeis crer, vós que recebeis a glória uns dos outros, e não buscais a Glória que é só de Deus?" Jo 5,44
O ponto central dessa dificuldade é que a realidade anunciada por Jesus deve ser experimentada no íntimo da alma, como Ele disse à samaritana no poço de Jacó: "Mas vem a hora, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai em espírito e Verdade, e são esses adoradores que o Pai deseja. Deus é espírito, e Seus adoradores devem adorá-Lo em espírito e Verdade." Jo 4,23-24
E tal realidade não é nem um pouco medíocre. Ele exorta: "Portanto, sede perfeitos, assim como Vosso Pai Celeste é perfeito." Mt 5,48
Fala de um renascer, como disse a Nicodemos: "Não te maravilhes de que Eu te tenha dito: 'Necessário é-vos nascer de novo.' O vento sopra onde quer. Ouve-lhe o ruído, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim acontece com aquele que nasceu do Espírito." Jo 3,7-8
De outra Vida: "Assim como vive o Pai que Me enviou, e Eu vivo pelo Pai, aquele que comer Minha Carne também viverá por Mim." Jo 6,57
De outro 'tempo': "Em Verdade, em Verdade, digo-vos: antes que Abraão fosse, EU SOU." Jo 8,58b
De outra condição: "Ora, Eu declaro-vos: aqui está Quem é maior que o Templo." Mt 12,6
De muito além da Sabedoria: "Ora, aqui está Quem é mais que Salomão." Lc 11,31b
Fazia uma clara distinção, em debate com os judeus: "Vós sois cá de baixo, Eu sou lá de cima. Vós sois deste mundo, Eu não sou deste mundo." Jo 8,23b
Exigia, pois, plena fidelidade a Deus: "Ai de vós, hipócritas escribas e fariseus! Pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e desprezais os mais importantes preceitos da Lei: a justiça, a Misericórdia, a fidelidade." Mt 23,23a
Ele também havia apontado a principal razão dessa incapacidade: falta ao mundo o Espírito da Promessa, que é derramado sobre a Igreja: "É o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber porque não O vê nem O conhece. Mas vós conhecê-Lo-eis, porque convosco permanecerá e em vós estará." Jo 14,17
São Paulo bem entendeu o grande diferencial que foi o Pentecostes: "Ora, nós não recebemos o espírito do mundo, mas sim o Espírito que vem de Deus, que nos dá a conhecer as Graças que Deus nos prodigalizou e que pregamos numa linguagem que nos foi ensinada não pela sabedoria humana, mas pelo Espírito, que exprime as coisas espirituais em termos espirituais. Mas o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, pois para ele são loucuras. Nem pode compreendê-las, porque é pelo Espírito que devem ponderá-las." 1 Cor 2,12-14
Ele explica: "A Lei do Espírito de Vida libertou-me, em Jesus Cristo... O que era impossível à Lei, visto que a carne a tornava impotente, Deus fez! Enviando, por causa do pecado, Seu próprio Filho numa carne semelhante à do pecado, condenou o pecado na carne a fim de que a justiça prescrita pela Lei fosse realizada em nós que vivemos não segundo a carne, mas segundo o espírito. Vós, porém, não viveis segundo a carne, mas segundo o espírito, se realmente o Espírito de Deus habita em vós. Se alguém não possui o Espírito de Cristo, este não é d'Ele." Rm 8,2a.3-4.9
E exulta com o Ministério do Santo Espírito, ou seja, da Igreja: "Ora, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, se revestiu de tal glória que os filhos de Israel não podiam fitar os olhos no rosto de Moisés, por causa do resplendor de sua face, embora transitório, quanto mais glorioso não será o Ministério do Espírito? Se o ministério da condenação já foi glorioso, muito mais há de sobrepujá-lo em Glória o Ministério da Justificação!" 2 Cor 3,7-9
Jesus deu detalhes da Missão do Espírito Santo, que é a mesma da Igreja, detentora de Seu Veredicto: "Porque se Eu não for, o Paráclito não virá a vós. Mas se Eu for, enviá-Lo-ei. E quando Ele vier, convencerá o mundo a respeito do pecado, da justiça e do Juízo. Convencerá o mundo a respeito do pecado, que consiste em não crer em Mim. Convencê-lo-á a respeito da justiça, porque Me vou para Meu Pai e vós já não Me vereis. Ele convencê-lo-á a respeito do Juízo, que consiste em que o príncipe deste mundo já está julgado e condenado." Jo 16,7b-11
De fato, respondendo a Seus parentes que O provocavam a manifestar-Se na Judeia, onde corria risco de ser assassinado pelos religiosos, Jesus sentenciou: "O mundo não vos pode odiar, mas odeia-Me, porque contra ele Eu testemunho que suas obras são más." Jo 7,7
E referindo-Se à Missão dos Apóstolos, e mais uma vez da Igreja, Ele rezou ao Pai: "Dei-lhes Tua Palavra, mas o mundo odeia-os, porque eles não são do mundo, como também Eu não sou do mundo." Jo 17,14
Eles, com efeito, ardorosamente abraçariam a tarefa de difundir a Verdade, como São Pedro pregou diante do Sinédrio, explicando como se recebe o Santo Paráclito: "O Deus de nossos pais ressuscitou Jesus, que vós matastes suspendendo-O num madeiro. Deus elevou-O pela mão direita como Príncipe e Salvador, a fim de dar a Israel o arrependimento e a remissão dos pecados. Deste fato nós somos testemunhas, nós e o Espírito Santo, que Deus deu a todos aqueles que Lhe obedecem." At 5,30-32
E é essa vida espiritual que os Apóstolos vão declarar durante a instituição do diaconato, quando os Apóstolos acolheram os primeiros sete auxiliadores: "Nós sem cessar atenderemos à oração e ao Ministério da Palavra." At 6,4
Contudo, ainda que antes do Pentecostes, Jesus vai reclamar de dois discípulos, que partiram de Jerusalém para Emaús no Domingo da Ressurreição: "Jesus disse-lhes: 'Ó gente sem inteligência! Como sois tardos de coração para crerdes em tudo que anunciaram os Profetas! Porventura não era necessário que Cristo sofresse essas coisas e assim entrasse em Sua Glória?'" Lc 24,25-26
Aliás, por vezes Ele teve que reclamar dos próprios Apóstolos, quando, por exemplo, de Sua Ressurreição: "Por fim apareceu aos Onze, quando estavam sentados à mesa, e censurou-lhes a incredulidade e dureza de coração, por não acreditarem naqueles que O tinham visto ressuscitado." Mc 16,14
Os seguidores da tradição de São Paulo, no mesmo sentido, reclamavam dos cristãos de origem hebreia: "Teríamos muita coisa a dizer sobre isso, e coisas bem difíceis de explicar, dada vossa lentidão em compreender... A julgar pelo tempo, já devíeis ser mestres! Contudo, ainda necessitais que vos ensinem os primeiros rudimentos da Palavra de Deus. E tornaste-vos tais, que precisais de leite em vez de sólido alimento! Mas o sólido alimento é para os adultos, para aqueles que a experiência já exercitou na distinção do bem e do mal." Hb 5,11-12.14
E assim também procedeu o próprio Apóstolo dos Gentios, quando reclamou dos coríntios: "A vós, irmãos, não vos pude falar como a homens espirituais, mas como a carnais, como a criancinhas em Cristo. Eu dei-vos leite a beber, e não sólido alimento que ainda não podíeis suportar. Nem ainda agora o podeis, porque ainda sois carnais. Com efeito, enquanto houver entre vós ciúmes e contendas, não será porque sois carnais e procedeis de um totalmente humano modo?" 1 Cor 3,1-3
Sem dúvida, ele havia alcançado a verdadeira concepção do ser humano: "Por isso, daqui em diante a ninguém conhecemos de um humano modo. Muito embora tenhamos considerado Cristo dessa maneira, agora já não O julgamos assim. Todo aquele que está em Cristo é uma nova criatura. Passou o que era velho. Eis que tudo se fez novo!" 2 Cor 5,16-17
Por isso, recomendava as religiosas práticas a São Timóteo: "Exercita-te na piedade. Se o exercício corporal traz algum pequeno proveito, a piedade, esta sim, é útil para tudo, porque tem a promessa da presente e da futura Vida. Eis uma Verdade absolutamente certa e digna de fé: se nos afadigamos e sofremos ultrajes, é porque pusemos nossa esperança em Deus Vivo, que é o Salvador de todos homens, sobretudo dos fiéis." 1 Tm 4,8-10
Não vacilava: "Sabemos que todo tempo que passamos no corpo é um exílio longe do Senhor." 2 Cor 5,6b
Dizia: "Porque não miramos as coisas que se vêem, mas sim as que não se vêem . Pois as coisas que se vêem são temporais, e as que não se vêem são eternas." 2 Cor 4,17b
E era incisivo: "Andamos na fé e não na visão." 2 Cor 5,7
Ele bem conhecia a fonte das Sagradas Escrituras: "É, porventura, o favor dos homens que eu procuro, ou o de Deus? Por acaso tenho interesse em agradar aos homens? Se ainda quisesse agradar aos homens, não seria servo de Cristo. Asseguro-vos, irmãos, que o Evangelho por mim pregado nada tem de humano. Não o recebi nem o aprendi de homem algum, mas mediante uma revelação de Jesus Cristo." Gl 1,10-12
Defendia a Sã Doutrina, da qual a Santa Igreja é depositária: "Pois Deus não nos chamou para a impureza, mas para a santidade. Por conseguinte, desprezar estes preceitos é desprezar não a um homem, mas a Deus, que nos infundiu Seu Santo Espírito." 1 Ts 4,7-8
Mas também tinha a exata medida das condições em que se dava sua transmissão: "Porém, temos este tesouro em vasos de barro, para que claramente transpareça que este extraordinário poder provém de Deus e não de nós." 2 Cor 4,7
De toda forma, não permitia que os fiéis se acomodassem: "Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação de vosso espírito, para que possais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que Lhe agrada e o que é perfeito." Rm 12,2
E exortava: "Vivei como filhos da Luz. E o fruto da Luz chama-se: bondade, justiça, Verdade. Discerni o que agrada ao Senhor, e não tenhais cumplicidade nas infrutíferas obras das trevas. Pelo contrário, abertamente condenai-as." Ef 5,8b-11
Para ele, o sentido da vida era bem claro: "Deus fez, a partir de um só homem, todo gênero humano para habitar em toda face da Terra, e fixou a sequência dos tempos e os limites para sua habitação, a fim de que os homens procurem a Deus e esforcem-se por encontrá-Lo, mesmo tateando, embora não Se encontre longe de cada um de nós. Porque é n'Ele que temos a vida, o movimento e o ser..." At 17,26-28a
Em sua profunda Comunhão com Deus, dizia-se pronto para deixar essa vida: "Porque para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro. Mas se o viver no corpo é útil para meu trabalho, então não sei o que devo preferir. Sinto-me pressionado dos dois lados: por uma parte, desejaria desprender-me para estar com Cristo, o que seria imensamente melhor, mas, de outra parte, continuar a viver é mais necessário, por causa de vós..." Ef 1,21-24
E como testemunha da Ressurreição, afirma: "Se é só para esta vida que temos colocado nossa esperança em Cristo, somos, de todos os homens, os mais dignos de lástima." 1 Cor 15,19
Tinha plena ciência da efemeridade desta vida, assim como da 'garantia' da Vida Eterna: "Pois enquanto permanecemos nesta tenda, gememos oprimidos: desejamos ser não despojados, mas revestidos com uma nova veste por cima da outra, de modo que o que há de mortal em nós seja absorvido pela Vida. Aquele que nos formou para este destino é Deus mesmo, que por penhor nos deu Seu Espírito. Por isso, sempre estamos cheios de confiança." 2 Cor 5,4-6a
Assim explicou em que consistia a realidade espiritual vivida pelos Apóstolos, por ele mesmo e pelos reais seguidores do Messias: "Pois os que são de Jesus Cristo crucificaram a carne, com as más paixões e concupiscências." Gl 5,24
E explicou o que representa a Santa Missa: "Eu exorto-vos, pois, irmãos, pelas Misericórdias de Deus, a oferecerdes vossos corpos em vivo, santo e agradável sacrifício a Deus: é este vosso culto espiritual. Não relaxeis vosso zelo. Sede fervorosos de espírito. Servi ao Senhor." Rm 12,1.11
Como Jesus havia prescrito perante a samaritana, assim ele se apresentava, como se vê no início da Carta aos Romanos: "Deus, a Quem sirvo em meu espírito anunciando o Evangelho de Seu Filho..." Rm 1,9a
Também é o que diz São Pedro, ao descrever o único modo de ser Igreja: "Achegai-vos a Ele, Pedra Viva que os homens rejeitaram, mas escolhida e preciosa aos olhos de Deus. E quais outras pedras vivas, vós também vos tornais os materiais deste espiritual edifício, um Santo Sacerdócio para oferecer vítimas espirituais, agradáveis a Deus, por Jesus Cristo." 1 Pd 2,4-5
Com desassombro, ele fala das tentações: "Caríssimos, não vos perturbeis no fogo da provação, como se algo extraordinário vos acontecesse." 1 Pd 4,12
Apontando altas hierarquias angelicais, São Paulo diz contra quem se travam as verdadeiras e decisivas batalhas: "Pois não é contra homens de carne e sangue que temos de lutar, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes deste tenebroso mundo, contra as forças espirituais do mal espalhadas nos ares." Ef 6,12
Batalhas essas que duram por toda vida: "Irmãos, para que a extraordinária grandeza das revelações não me envaidecesse, em minha carne foi espetado um espinho, que é como um anjo de Satanás a esbofetear-me, a fim de que eu não me exalte demais. A esse propósito, roguei três vezes ao Senhor que o afastasse de mim. Mas Ele disse-me: 'Basta-te Minha Graça, pois é na fraqueza que Minha força se manifesta.' Por isso, de bom grado gloriar-me-ei de minhas fraquezas, para que a força de Cristo em mim habite. Eis porque me comprazo nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições e nas angústias sofridas por amor a Cristo, pois quando eu me sinto fraco, então é que sou forte." 2 Cor 12.7-10
E dava detalhes de como se armar, se defender e lutar: "Tomai, portanto, a armadura de Deus, para que possais resistir nos maus dias e vos manter inabaláveis no cumprimento de vosso dever. Ficai alerta, à cintura cingidos com a Verdade, o corpo vestido com a couraça da justiça, e os pés calçados de prontidão para anunciar o Evangelho da Paz. Sobretudo, embraçai o escudo da fé, com que possais apagar todos inflamados dardos do Maligno. Tomai, enfim, o capacete da Salvação e a espada do Espírito, isto é, a Palavra de Deus. Intensificai vossas invocações e súplicas. Orai em toda circunstância, pelo Espírito, no Qual perseverai em intensa vigília de súplica por todos cristãos." Ef 6,13-18
Valendo-se de seu próprio exemplo, ele recomendava: "Sustentais o mesmo combate que me tendes visto travar, e no qual sabeis que agora eu continuo." Fl 1,3
E fazia-o com frequência: "Realmente desejo que estejais informados do árduo combate que sustento por amor a vós e aos de Laodiceia, assim como a todos que pessoalmente ainda não me viram!" Cl 2,1
Ensinava o mesmo aos mais próximos: "Eis aqui uma recomendação que te dou, meu filho Timóteo, de acordo com aquelas profecias que foram feitas a teu respeito: amparado nelas, sustenta o bom combate, com fidelidade e boa consciência, pois alguns desprezaram e naufragaram na fé." 1 Tm 1,18-19
Pois o projeto de Deus vai muito além das visíveis criaturas: "N'Ele (Cristo) foram criadas todas coisas nos Céus e na terra, as visíveis e as invisíveis criaturas. Tronos, dominações, principados, potestades: tudo foi criado por Ele e para Ele." Cl 1,16
Seus seguidores iriam ainda mais longe ao falar em resistência, acenando para o próprio Sacrifício de Cristo: "Atentamente considerai, pois, Aquele que tantas contrariedades sofreu dos pecadores, e não vos deixeis abater pelo desânimo. Ainda não tendes resistido até o sangue, na luta contra o pecado." Hb 12,3-4
Nada era, porém, que o próprio Jesus não houvesse previsto: "Expulsá-vos-ão das sinagogas, e virá a hora em que todo aquele que vos tirar a vida julgará prestar culto a Deus." Jo 16,2
Mas Ele garantia que tudo está sob pleno o controle de Deus: "Não temais aqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Antes temei Aquele que pode precipitar a alma e o corpo na geena. Não se vendem dois passarinhos por um asse? No entanto, nenhum cai por terra sem a vontade de Vosso Pai. Até os cabelos de vossa cabeça estão todos contados. Não temais, pois! Bem mais que os pássaros valeis vós. Portanto, quem der testemunho de Mim diante dos homens, Eu também darei testemunho dele diante de Meu Pai, que está nos Céus." Mt 10,28-32
Acaso poderíamos esconder nossos talentos? Jesus ensinou: "Veio, por fim, o que recebeu só um talento: 'Senhor', disse-Lhe, 'sabia que és um duro homem, que colhes onde não semeaste e recolhes onde não espalhaste. Por isso, tive medo e fui esconder Teu talento na terra. Eis aqui, toma o que Te pertence.' Respondeu-lhe Seu Senhor: 'Mau e preguiçoso servo! Sabias que colho onde não semeei e que recolho onde não espalhei. Devias, pois, levar Meu dinheiro ao banco e, à Minha volta, com juros Eu receberia o que é Meu. Tirai-lhe este talento e dai-o ao que tem dez. Dá-se-á ao que tem, e terá em abundância. Mas, ao que não tem, tirá-se-á mesmo aquilo que julga ter. E a esse inútil servo, jogai-o nas trevas exteriores. Ali haverá choro e ranger de dentes.'" Mt 25,24-30
Poderia, sem estes talentos, prosperar a Igreja? São Paulo foi taxativo quanto à finalidade dos dons do Espírito Santo: "Assim, uma vez que aspirais aos dons espirituais, procurai tê-los em abundância para edificação da Igreja." 1 Cor 14,12
E afirma o êxtase espiritual: "De fato, se ficamos arrebatados, fora dos sentidos, é por Deus." 2 Cor 5,13a
Foi nessa peculiar condição que São João Evangelista recebeu as revelações do Apocalipse: "Num domingo, fui arrebatado em êxtase, e por trás de mim ouvi forte voz como de trombeta, que dizia: 'O que vês, escreve-o num livro e manda-o às sete igrejas: a Éfeso, a Esmirna, a Pérgamo, a Tiatira, a Sardes, a Filadélfia e a Laodiceia.'" Ap 1,10-11
Assim como aconteceu ao Príncipe dos Apóstolos, pouco antes do 'Pentecostes dos Gentios': "Mas Pedro fez-lhes uma exposição de tudo que acontecera, dizendo: 'Eu estava orando na cidade de Jope e, arrebatado em espírito, tive uma visão...'" At 11,4-5a
Tudo isso em nome de um claro sacrifício pela Salvação do próximo, pois, nosso dever é renegar toda e qualquer pessoal realização: "Em seguida, Jesus disse a Seus discípulos: 'Se alguém quiser vir Comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-Me.'" Mt 16,24
Esse é o maior exemplo do próprio Cristo, que pregou: "Ninguém tem maior amor que aquele que dá sua vida por seus amigos." Jo 15,13
Por isso, São João Evangelista replicava: "Nisto temos conhecido o amor: Jesus deu Sua vida por nós. Também devemos dar nossa vida pelos nossos irmãos." 1 Jo 3,16
E dizia: "No amor não há medo. Ao contrário, o perfeito amor lança fora o medo, pois o medo implica castigo, e aquele que tem medo não chegou à perfeição do amor." 1 Jo 4,18
ORAÇÕES E PENITÊNCIAS
Sob vários aspectos, a Vida de Jesus foi muito restritiva. Logo no início de Sua vida pública, após o Batismo por São João, deram-se as tentações do deserto: "Em seguida, Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto para ser tentado pelo Demônio. Jejuou quarenta dias e quarenta noites. Depois, teve fome." Mt 4,1-2
Sua fonte de Vida, de fato, era sobrenatural: "Entretanto, os discípulos pediam-Lhe: 'Mestre, come.' Disse-lhes Jesus: 'Meu alimento é fazer a vontade d'Aquele que Me enviou, e cumprir Sua obra.'" Jo 4,31.34
Suas orações eram muito intensas, como vimos na noite que antecedeu a escolha dos Doze Apóstolos: "Naqueles dias, Jesus retirou-Se a uma montanha para rezar, e aí passou toda noite orando a Deus." Lc 6,12
Ou na noite em que foi entregue por Judas, no Horto das Oliveiras: "Ele entrou em agonia e orava com ainda mais instância, e Seu suor tornou-se como gotas de Sangue a escorrer pela terra." Lc 22,44
Por isso, recomendava constante vigilância: "Vigiai e orai para que não entreis em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca." Mt 26,41
E de vários modos usou para demonstrá-lo: "Propôs-lhes Jesus uma parábola para mostrar que sempre é necessário orar, sem jamais deixar de fazê-lo." Lc 18,1
Em muitos momentos, Sua vida lembrava mesmo a de um permanente penitente: "Respondeu Jesus: 'As raposas têm suas tocas e as aves do céu, seus ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça.'" Mt 8,20
Embora, entre tantas adversidades, nem sempre Ele e os Apóstolos pudessem conduzir-Se de tal modo: "Ora, os discípulos de João e os fariseus jejuavam. Por isso, foram-Lhe perguntar: 'Por que jejuam os discípulos de João e os dos fariseus, mas Teus discípulos não?' Jesus respondeu-lhes: 'Podem porventura jejuar os convidados das núpcias, enquanto com eles está o Esposo? Enquanto consigo têm o Esposo, não lhes é possível jejuar. Dias virão, porém, em que o Esposo lhes será tirado, então jejuarão." Mc 2,18-20
Mas não viviam de banquetes, como demonstra a situação em que Jesus foi informado da morte de São João Batista: "Ele disse-lhes: 'Vinde à parte, a algum deserto lugar, e descansai um pouco.' Porque eram muitos aqueles que iam e vinham, e nem tinham tempo para comer.'" Mc 6,31
E assim foi desde o princípio: "Em dia de sábado, Jesus atravessava umas plantações. Seus discípulos iam colhendo espigas de trigo, debulhavam-nas na mão e comiam." Lc 6,1
O Batista, sim, o Último dos Profetas, era um exemplar penitente: "João andava vestido de pelo de camelo e trazia um cinto de couro em volta dos rins, e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre." Mc 1,6
Aliás, como filho de pais idosos, assim foi desde a infância: "O menino foi crescendo e fortificava-se em espírito, e nos desertos viveu até o dia em que se apresentou diante de Israel." Lc 1,80
Entre outros dons, tal condição conferia-lhe grande autoridade, obrigando toda gente à Confissão e às penitências: "Pessoas de Jerusalém, de toda Judeia e de toda circunvizinhança do Jordão vinham a ele. Confessavam seus pecados e por ele eram batizados nas águas do Jordão. Ao ver, porém, que muitos dos fariseus e dos saduceus vinham a seu batismo, disse-lhes: 'Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da vindoura cólera? Dai frutos, pois, de verdadeira penitência.'" Mt 3,5-8
Jesus atestou sua santidade, acusando os principais dos judeus: "João veio a vós no Caminho da justiça e não crestes nele. Os coletores e as prostitutas, porém, creram nele. E vós, vendo isto, nem fostes tocados de arrependimento para crerdes nele." Mt 21,32
Há outros exemplos de perfeita ascese nos Evangelhos, como a viúva do Templo de Jerusalém, vista no dia da Apresentação de Jesus: "Também havia uma Profetisa chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Era de avançada idade. Depois de ter vivido sete anos com seu marido desde sua virgindade, ficara viúva, e agora com oitenta e quatro anos não se apartava do Templo, noite-e-dia servindo a Deus em jejuns e orações. Chegando ela à mesma hora, louvava a Deus e falava de Jesus a todos aqueles que em Jerusalém esperavam a libertação." Lc 2,36-38
Também assim vivia a pobre viúva observada por Jesus, que por completo se abandonava à Divina Providência: "Levantando os olhos, Jesus viu os ricos que deitavam suas ofertas no cofre do Templo. Também viu uma pobrezinha viúva deitar duas pequeninas moedas, e disse: 'Em Verdade, digo-vos: esta pobre viúva pôs mais que os outros. Pois todos aqueles lançaram nas ofertas de Deus o que lhes sobra. Esta, porém, de sua indigência, deu tudo que lhe restava para o sustento.'" Lc 21,1-4
Grande penitente, porém, e do qual pouco lembramos, era o próprio São Paulo. Seus registros são de grande contundência: "O que falta às tribulações de Cristo, completo em minha carne, por Seu Corpo que é a Igreja." Cl 1,24
Ele explicava: "... porque a vós é dado não somente crer em Cristo, mas também sofrer por Ele." Fl 1,29
Escreveu aos coríntios: "Ao contrário, castigo meu corpo e mantenho-o em servidão, de medo de vir eu mesmo a ser excluído depois de eu ter pregado aos outros." 1 Cor 9,27
Essa prática ele trazia do judaísmo, e usou-a logo após a aparição de Jesus, quando de sua conversão: "Saulo levantou-se do chão. Abrindo, porém, os olhos, nada via. Tomaram-no pela mão e introduziram-no em Damasco, onde esteve três dias sem ver, sem comer nem beber." At 9,8-9
Ele ensinava aos colossenses: "Mortificai vossos membros, pois, no que têm de terreno: a devassidão, a impureza, as paixões, os maus desejos, a cobiça, que é uma idolatria." Cl 3,5
E exortou: "Se, portanto, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas lá de cima, e não às da terra. Porque estais mortos e vossa vida está escondida com Cristo em Deus." Cl 3,1-3
Pois Jesus garantia: "Não vos inquieteis com o que haveis de comer ou beber, e não andeis com vãs preocupações. Porque os homens do mundo é que se preocupam com todas estas coisas. Mas Vosso Pai bem sabe que precisais de tudo isso. Antes buscai o Reino de Deus e Sua justiça, e todas estas coisas ser-vos-ão dadas por acréscimo." Lc 12,29-31
Em que consistiria ser cristão, pois, senão em participar de Seu Sacrifício, como nos oferecemos na Santa Missa? São Paulo rezava: "Anseio pelo conhecimento de Cristo e do poder da Sua Ressurreição, pela participação em Seus sofrimentos, tornando-me semelhante a Ele na morte com a esperança de conseguir a Ressurreição dentre os mortos." Fl 3,10-11
Dessas agruras, ele tratou em quase todas suas cartas: "Em nosso corpo sempre trazemos os traços da morte de Jesus, para que a Vida de Jesus também se manifeste em nosso corpo. Embora estando vivos, a toda hora somos entregues à morte por causa de Jesus, para que a Vida de Jesus também apareça em nossa carne mortal." 2 Cor 4,10-11
Viveu situações realmente difíceis, de grandes flagelações, como aconteceu em Éfeso: "Ali desmedidamente fomos maltratados, além de nossas forças, a ponto de termos perdido a esperança de sair com vida. Dentro de nós mesmos sentíamos a sentença de morte, para que aprendêssemos a pôr nossa confiança não em nós, mas em Deus, que ressuscita os mortos." 2 Cor 1,8b-9
Chegou a listar: "Mas em todas coisas apresentamo-nos como Ministros de Deus, por uma grande constância nas tribulações, nas misérias, nas angústias, nos açoites, nos cárceres, nos tumultos populares, nos trabalhos, nas vigílias, nas privações..." 2 Cor 6,4-5
E contou: "Muitas vezes vi a morte de perto. Cinco vezes recebi dos judeus os quarenta açoites menos um. Três vezes fui flagelado com varas. Uma vez apedrejado. Três vezes naufraguei, uma noite e um dia passei no abismo. Viagens sem conta, exposto a perigos nos rios, perigos de salteadores, perigos da parte de meus concidadãos, perigos da parte dos pagãos, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos entre falsos irmãos! Trabalhos e fadigas, repetidas vigílias, com fome e sede, frequentes jejuns, frio e nudez! Além de outras coisas, minha cotidiana preocupação, a solicitude por todas igrejas!" 2 Cor 11,23b-28
O Profeta Sofonias ainda era mais rigoroso, pois nem na pobreza via garantida a completa indulgência dada por Deus: "Procurai Javé, todos pobres da terra. Vós que obedeceis a Seus Mandamentos, procurai a justiça, procurai a pobreza. Assim talvez acheis refúgio no Dia da ira de Javé." Sf 2,3
Foi essa condição, entretanto, que Jesus propôs ao rico jovem, que se julgava Santo: "Respondeu Jesus: 'Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no Céu. Depois vem e segue-Me!'" Mt 19,21
E os vocacionados a seguir Jesus não tinham direito sequer a certas obras de fé, ou a familiares apegos: "A outro disse: 'Segue-Me.' Mas ele pediu: 'Senhor, primeiro permite-me ir enterrar meu pai.' Mas Jesus disse-lhe: 'Deixa que os mortos enterrem seus mortos. Tu, porém, vai e anuncia o Reino de Deus.'" Lc 9,59-60
Resolutamente, o Mestre não deixava dúvida: "Quem ama seu pai ou sua mãe mais que a Mim, não é digno de Mim. Quem ama seu filho mais que a Mim, não é digno de Mim. Quem não toma sua cruz e não Me segue, não é digno de Mim. Aquele que tentar salvar sua vida, perdê-la-á. Aquele que a perder, por Minha causa, reencontrá-la-á." Mt 10,37-39
Proclamando-Se Deus, ainda que indiretamente, nestes termos Ele apenas exigia o cumprimento do primeiro Mandamento, que fala de amor a Deus sobre todas coisas: "Amarás o Senhor, Teu Deus, de todo teu coração e com toda tua alma, com toda tua força e com todo teu entendimento..." Mt 22,37
Tal desapego, porém, não ficaria sem a devida recompensa. Jesus assegurou: "E todo aquele que por Minha causa deixar irmãos, irmãs, pai, mãe, mulher, filhos, terras ou casa, receberá o cêntuplo e possuirá a Vida Eterna." Mt 19,29
A Doutrina de Jesus, portanto, prima pelo mais prudente comedimento espiritual. Ele recomenda: "Entrai pela estreita porta, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduzem à perdição, e numerosos são aqueles que por aí entram." Mt 7,13
E enquanto perfeito exemplo, aponta para Si mesmo: "Jesus tornou a dizer-lhes: 'Em Verdade, em Verdade, digo-vos: Eu sou a Porta das ovelhas.'" Jo 10,7
Alertou para o perigo da escravidão do pecado, e deixou claro que só Ele pode conceder-nos a verdadeira liberdade: "Respondeu Jesus: 'Em Verdade, em Verdade, digo-vos: todo homem que se entrega ao pecado é seu escravo. Se o Filho vos libertar, pois, verdadeiramente sereis livres.'" Jo 8,34-36
São Paulo explica: "Não sabeis que, quando vos ofereceis a alguém para obedecer-lhe, sois escravos daquele a quem obedeceis, quer seja do pecado para a morte, quer da obediência para a justiça? Graças a Deus, porém, que, depois de terdes sido escravos do pecado, obedecestes de coração à regra da Doutrina na qual tendes sido instruídos. E, libertados do pecado, tornaste-vos servos da justiça." Rm 6,16-18
E mesmo depois de anos de sua conversão, e de toda sua fortaleza espiritual, em si mesmo ele seguia reconhecendo a concupiscência, isto é, a propensão ao pecado, cujo enfrentamento requer nossa perene vigília e os frequentes auxílios da Graça de Deus: "Eu sei que em mim, isto é, em minha carne, não habita o bem, porque o querer o bem está em mim, mas não sou capaz de efetuá-lo. Não faço o bem que quereria, mas faço o mal que não quero. Ora, se faço o que não quero, já não sou eu que faço, mas sim o pecado que em mim habita. Homem infeliz que sou! Quem me livrará deste corpo que me acarreta a morte?... " Rm 7,18-20.24
Até reconhecia as primícias da verdadeira alegria, mas ao fim era sincero: "Deleito-me na Lei de Deus, no íntimo de meu ser. Sinto em meus membros, porém, outra lei, que luta contra a lei de meu espírito e prende-me à lei do pecado, que está em meus membros." Rm 7,22-23
Por isso, dizia: "Pois sabemos que toda criação geme e sofre como que dores de parto até o presente dia. Não só ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, gememos em nós mesmos aguardando a adoção, a redenção de nosso corpo, porque pela esperança é que fomos salvos. Ora, ver o objeto da esperança já não é esperança, porque o que alguém vê, como é que ainda o espera? Nós que esperamos o que não vemos, é em paciência que o aguardamos. Outrossim, o Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza, porque não sabemos o que devemos pedir, nem orar como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com inefáveis gemidos. E Aquele que perscruta os corações sabe o que deseja o Espírito, o Qual intercede pelos santos, segundo Deus. Aliás, sabemos que todas coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são os eleitos, segundo Seus desígnios." Rm 8,22-28
E assim lutou até o fim, quando avisou da proximidade de sua definitiva libertação: "Quanto a mim, estou a ponto de ser imolado e o instante de minha libertação aproxima-se. Combati o bom combate, terminei minha carreira, guardei a fé." 2 Tm 4,6-7
O salmista já cantava: "Eu reconheço toda minha iniquidade, diante de mim está sempre meu pecado." Sl 50,5
Porque os pecados são muitos, como Jesus recomendava nossos compromissos: "Dizei somente: Sim, se é sim, e não, se é não. Tudo que disto passa vem do Maligno." Mt 5,37
De fato, ao passo que dissuadia certas vocações, São Tiago Menor reconhecia: "Meus irmãos, não haja muitos entre vós a arvorar-se em mestres. Sabeis que seremos mais severamente julgados, porque todos nós caímos em muitos pontos." Tg 3,1-2a
Temos, contudo, a assistência de Deus Espírito Santo. Jesus afirma: "... não premediteis o que haveis de dizer, mas dizei o que vos for inspirado naquela hora. Porque não sois vós que falais, mas sim o Espírito Santo." Mc 13,11b
Mas muitas também são nossas responsabilidades, principalmente para com os mais novos: "Guardai-vos de menosprezar um só destes pequenos, pois digo-vos que seus anjos no Céu contemplam sem cessar a face de Meu Pai, que está nos Céus." Mt 18,10
Ora, há horríveis possessões: "De longe vendo Jesus, correu e diante d'Ele prostrou-se, gritando em alta voz: 'Que queres de mim, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Conjuro-Te por Deus, que não me atormentes.' É que Jesus lhe dizia: 'Imundo espírito, sai deste homem!' Perguntou-lhe Jesus: 'Qual é teu nome?' Respondeu-Lhe: 'Legião é meu nome, porque somos muitos.'" Mc 5,6-9
A escravidão pode demorar anos, décadas: "Ouvistes que foi dito aos antigos: 'Não cometerás adultério.' Eu, porém, digo-vos: todo aquele que lançar um olhar de cobiça para uma mulher, com ela já adulterou em seu coração." Mt 5,27-28
Ou representar, ainda nessa vida, as próprias trevas: "Se teu olho estiver em mau estado, todo teu corpo estará em trevas. E se a luz que está em ti são trevas, quão espessas deverão ser as trevas!" Mt 6,23
E mais uma vez a 'solução' oferecida por Jesus parece radical: "Se teu olho direito é para ti causa de queda, arranca-o e lança-o longe de ti, porque é preferível perder um só de teus membros que todo teu corpo seja lançado na geena. E se tua mão direita é para ti causa de queda, corta-a e lança-a longe de ti, porque é preferível perder um só de teus membros, que teu corpo inteiro seja atirado na geena." Mt 5,29-30
Pois sem o socorro do Cordeiro de Deus, o verme do pecado sobreviverá mesmo no inferno: "Se teu pé for para ti ocasião de queda, corta-o fora, porque é preferível entrares coxo na Vida Eterna que, tendo dois pés, seres lançado à geena do inextinguível fogo, onde seu verme não morre e o fogo não se apaga." Mc 9,45-46
São Paulo, por sinal, chegou a desistir de um fiel da igreja de Corinto, guardando suas esperanças para as penas do Purgatório. É a excomunhão: "Em Nome do Senhor Jesus, reunidos vós e meu espírito, com o poder de Nosso Senhor Jesus, seja esse homem entregue a Satanás para mortificação de seu corpo, a fim de que sua alma seja salva no Dia do Senhor Jesus." 1 Cor 5,4-5
Quem for agraciado com a cura da alma, portanto, melhor que não torne a pecar. Jesus assim advertiu o cego de nascença que Ele havia curado: "Mais tarde, Jesus achou-o no Templo e disse-lhe: 'Eis que ficaste são. Já não peques, para não te acontecer pior coisa.'" Jo 5,14
Quem registrou as graves consequências de uma recaída em pecado foi São Mateus, anotando as Palavras de Jesus: "Quando o espírito impuro sai de um homem, ei-lo errante por áridos lugares à procura de um repouso que não acha. Diz ele, enfim: 'Voltarei à casa donde saí.' E, voltando, encontra-a vazia, limpa e enfeitada. Então vai buscar sete outros espíritos piores que ele, e entram nessa casa e aí estabelecem-se. E o último estado daquele homem torna-se pior que o primeiro." Mt 12,43-45a
Certos exorcismos, então, não são nada fáceis. Requerem vida de verdadeira piedade, como Jesus ensinou aos Apóstolos: "Quanto a esta espécie de demônio, só se pode expulsar à força de oração e de jejum." Mt 17,20b
Por isso, São Paulo alertou sobre o pleno respeito aos Sacramentos: "Na qualidade de colaboradores de Deus, exortamo-vos a que não recebais Sua Graça em vão." 2 Cor 6,1
Certos exorcismos, então, não são nada fáceis. Requerem vida de verdadeira piedade, como Jesus ensinou aos Apóstolos: "Quanto a esta espécie de demônio, só se pode expulsar à força de oração e de jejum." Mt 17,20b
Por isso, São Paulo alertou sobre o pleno respeito aos Sacramentos: "Na qualidade de colaboradores de Deus, exortamo-vos a que não recebais Sua Graça em vão." 2 Cor 6,1
Ele zelosamente cuidava do rebanho de Cristo, e dizia porquê: "Não quero que sejamos vencidos por Satanás, pois não ignoramos suas maquinações." 2 Cor 2,11
Esse também era o empenho de São Pedro, que escreveu aso fiéis: "Sede sóbrios e vigiai. Vosso adversário, o Demônio, anda ao redor de vós como o leão que ruge, buscando a quem devorar. Resisti-lhe fortes na fé." 1 Pd 5,8-9a
Ele ensina: "Portanto, irmãos, cada vez mais cuidai em assegurar vossa vocação e eleição. Procedendo deste modo, jamais tropeçareis. Eis porque não cessarei de trazer-vos à memória essas coisas, embora estejais instruídos e confirmados na presente Verdade. Tenho por meu dever, enquanto estiver neste tabernáculo, manter-vos vigilantes com minhas admoestações." 2 Pd 1,10.12-13
Como grande trunfo nessa batalha, Jesus exalta a obediência diante dos religiosos judeus: "Quem é de Deus ouve as Palavras de Deus, e se vós não as ouvis é porque não sois de Deus." Jo 8,47
Como grande trunfo nessa batalha, Jesus exalta a obediência diante dos religiosos judeus: "Quem é de Deus ouve as Palavras de Deus, e se vós não as ouvis é porque não sois de Deus." Jo 8,47
E denunciava: "Vós tendes como pai o Demônio e quereis fazer os desejos de vosso pai. Ele era homicida desde o princípio e não permaneceu na Verdade, porque a Verdade nele não está. Quando diz a mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira." Jo 8,44
A postura dos cristãos diante do Mal, todavia, exige força espiritual. Disse o Divino Mestre: "Eu, porém, digo-vos: não resistais ao mau. Se alguém te ferir a face direita, oferece-lhe também a outra. Se alguém te citar em justiça para tirar-te a túnica, cede-lhe também a capa. Se alguém vem obrigar-te a andar mil passos com ele, anda dois mil. Dá a quem te pede e não te desvies daquele que quer pedir-te emprestado. Tendes ouvido o que foi dito: 'Amarás teu próximo e poderás odiar teu inimigo.' Eu, porém, digo-vos: amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos maltratam e perseguem. Deste modo sereis os filhos de Vosso Pai do Céu, pois Ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos." Mt 5,39-45Pois, antes de tudo, o seguimento do Cristo é um profundo exercício de antecipação para a Paz. Ele pregou: "Se estás, portanto, para fazer tua oferta diante do altar e te lembrares que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa diante do altar tua oferta e primeiro vai reconciliar-te com teu irmão. Só então vem fazer tua oferta." Mt 5,23-24
Tal resignação, porém, nada tem de meramente humano. Ao contrário, só é possível com os divinos auxílios, quando Deus mesmo assume todo comando sobre nós. Os seguidores de São Paulo rezavam: "E o Deus da Paz... queira dispor-vos ao bem e conceder-vos que cumprais Sua Vontade, realizando Ele próprio em vós o que é agradável a Seus olhos, por Jesus Cristo..." Hb 13,20a.21a
São Paulo, de fato, sustentava esse argumento: "Porque é Deus, segundo Seu beneplácito, Quem realiza em vós o querer e o executar." Fl 2,13
E convidava a contemplar as coisas do alto: "Sede contentes e agradecidos ao Pai, que vos fez dignos de participar da herança dos Santos na Luz. Ele arrancou-nos do poder das trevas e introduziu-nos no Reino de Seu amado Filho, no Qual temos a Redenção, a remissão dos pecados. Ele é a imagem de Deus invisível, o Primogênito de toda Criação. E também a vós, que há bem pouco tempo eram alheios a Deus e inimigos por vossos pensamentos e más obras, eis que agora Ele vos reconciliou pela morte de Seu Corpo humano, para que possais apresentar-vos Santos, imaculados, irrepreensíveis aos olhos do Pai. Para isto, é necessário que permaneçais fundados e firmes na fé, inabaláveis na esperança do Evangelho que ouvistes, que foi pregado a toda criatura que há debaixo do Céu, e do qual eu, Paulo, fui constituído Ministro." Cl 1,12-15.21-23
Ora, não foi assim que se deixou conduzir Nossa Senhora diante da Anunciação de São Gabriel Arcanjo? Não deveríamos viver esta mesma entrega? "Então disse Maria: 'Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo tua palavra.'" Lc 1,38a
Uma das mostras de sua espiritualidade é a reação que ela teve nesta aparição, pois não a estranhou: "Entrando, o anjo disse-lhe: 'Ave, cheia de Graça, o Senhor é contigo.' Perturbou-se ela com estas palavras, e pôs-se a pensar no significado de semelhante saudação." Lc 1,28-29
Quando, enfim, iremos entender a profundidade do silêncio de Nossa Mãe Celeste, diante de tudo que Jesus representa? "Maria conservava todas estas palavras, meditando-as em seu coração." Lc 2,19
Pois como São Paulo ensinava, Nosso Salvador afirmou que a partir de um determinado momento é Deus Quem assume o comando de nosso crescimento espiritual: "... e todo ramo que dá fruto, Ele limpa-o, para que dê ainda mais frutos." Jo 15,2b
Pedia Comunhão Consigo, pois também disse: "... porque sem Mim nada podeis fazer." Jo 15,5b
E havendo real compromisso com Sua Palavra, prometeu Sua presença entre os membros da Igreja: "Porque onde dois ou três estão reunidos em Meu Nome, aí Eu estou entre eles." Mt 18,20
Assim sabemos que muitos de nós já vivem uma especial proximidade a Deus: "Vendo Jesus que ele sabiamente falara, disse-lhe: 'Não estás longe do Reino de Deus.'" Mt 12,34a
São Paulo afirma: "... quem se une ao Senhor, com Ele torna-se um só Espírito." 1 Cor 6,17
E diz: "Consequentemente, já não sois hóspedes nem peregrinos, mas sois concidadãos dos Santos e membros da família de Deus." Ef 2,19
Mais: "... somos cidadãos dos Céus." Fl 3,20a
"Santificai e reuni Vosso povo!"