quarta-feira, 18 de junho de 2025

Textos para Celular

 
Anuário de Leituras Bíblicas

Acesso: dizemasescrituras.blogspot.com

Amar a Deus


    O que significa 'amar a Deus sobre todas coisas'? Como se cumpre esse Mandamento?
    Inicialmente, é importante notar que o primeiro dos 10 Mandamentos não fala de em Deus, mas de uma etapa bem mais avançada nessa relação com Ele. Fala de amor a Deus. Aliás, nenhum dos Mandamentos fala de fé. E é a mais pura Verdade: bem mais que fé, Deus quer ser amado. O que é muito fácil de entender: simplesmente porque Ele nos ama, e ama de inimaginável modo.
    Isso até pode parecer muito humano, mas só porque esquecemos que o amor é divino, mesmo quando vivido por nós. Ora, ele é a essência de todas coisas, a harmonia que perpassa todo cosmo. E é o melhor conceito para o próprio Deus, o qual nos é dado pela Primeira Carta de São João: "... Deus é amor." 1 Jo 4,8
    Por isso, ele assim explica a origem do amor que sentimos: "Nós conhecemos e cremos no amor que Deus tem para conosco. Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele. Mas amamos porque primeiro Deus nos amou." 1 Jo 4,16.19
    Com efeito, como Jesus rezou ao Pai, esse amor é-nos possível pelo conhecimento da Revelação, cujo ápice é o próprio Cristo. O Evangelho Segundo São João registrou: "Manifestei-lhes Teu Nome, e ainda hei de manifestá-Lo, para que o amor com que Me amaste esteja neles, e Eu neles." Jo 17,26
    E Carta de São Paulo aos Romanos revela que isso acontece por Graça do Santo Paráclito, no Sacramento do Batismo e no Sacramento da Crisma: "E a esperança não engana. Porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado." Rm 5,5
    Exaltando a maior de todas manifestações de Deus, portanto, a Segunda Carta de São Paulo a São Timóteo põe Jesus como foco desse amor, que deve expressar-se pelo zelo à Sã Doutrina: "Toma por modelo os salutares ensinamentos que de mim recebeste sobre a fé e o amor a Jesus Cristo. Guarda o Precioso Depósito, pela virtude do Espírito Santo que em nós habita." 2 Tm 1,13
    De fato, em resumo podemos afirmar que Jesus, enquanto ser humano, veio ensinar-nos a amar a Deus. Amor que Ele exemplarmente demonstrou, em absoluta obediência ao Pai, levando-o às últimas consequências. A Carta de São Paulo aos Filipenses recitou o Hino Cristológico: "Sendo Ele de condição divina, não Se prevaleceu de Sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-Se aos homens. E, sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-Se ainda mais, tornando-Se obediente até a morte, e morte de Cruz." Fl 2,6-8
    Pois ao pronunciar-Se sobre esse assunto, para valorizar a Sagrada Tradição e ser mais preciso, Nosso Salvador, ressaltando como mais importante Mandamento, mencionou essa passagem do Deuteronômio, como está no Evangelho Segundo São Mateus: "Amarás o Senhor, Teu Deus, de todo teu coração, de toda tua alma, de toda tua força e de todo teu entendimento...(Dt 6,5)" Mt 22,37
    Assim, vale examinar:

AMAR A DEUS COM TODO CORAÇÃO

    Isso diz de refinamento, moderação de instintos, sentimentos e emoções. E, cabe esclarecer, para Jesus o coração é a sede de toda consciência moral. Ele disse: "Porque a boca fala do que lhe transborda do coração." Mt 12,34
    Também disse, no Evangelho Segundo São Marcos: "Porque é do interior do coração dos homens que procedem os maus pensamentos: devassidões, roubos, assassinatos, adultérios, cobiças, perversidades, fraudes, desonestidade, inveja, difamação, orgulho e insensatez." Mc 7,21-22
    Revelou o que nos identifica: "Porque onde está teu tesouro, lá também está teu coração." Mc 6,21
    E assim concluiu: "O homem de bem tira boas coisas de seu bom tesouro. O mau, porém, tira más coisas de seu mau tesouro." Mt 12,35
    Por isso, Ele exigia-o de São Pedro, a quem fez líder de Sua Igreja (cf. Mt 16,18): 'Simão, filho de João, amas-Me mais que estes?' Ele respondeu-Lhe: "Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo.'" Jo 21,15
    De fato, Ele garantiu no Sermão da Montanha: "Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus!" Mt 5,8
    Pois conforme contou na parábola do Semeador, apontada no Evangelho Segundo São Lucas, é aí que se travam as grandes batalhas da fé: "... mas depois vem o Demônio e lhes tira a Palavra do coração..." Lc 8,12
    É onde se consuma todo pecado: "Eu, porém, digo-vos: todo aquele que lançar um olhar de cobiça para uma mulher, já adulterou com ela em seu coração." Mt 5,28
    É nele que assolarão as três grandes perversões do Fim dos Tempos: "Velai sobre vós mesmos, para que vossos corações não se tornem pesados com a devassidão, com a embriaguez e com as preocupações da vida, para que Aquele Dia não vos apanhe de improviso." Lc 21,34
    É nele, ainda segundo Jesus, que se instalam as vacilações da fé, como disse aos Apóstolos após Se apresentar ressuscitado: "Mas Ele lhes disse: 'Por que estais perturbados, e por que essas dúvidas em vossos corações?'" Lc 24,38
    É nele que se guarda a Palavra de Deus, como se lê na Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios: "Não há dúvida de que vós sois uma carta de Cristo, redigida por nosso Ministério e escrita, não com tinta, mas com o Espírito de Deus Vivo, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, em vossos corações." 2 Cor 3,3
    É nele que se manifesta a Paz, nas palavras da Carta de São Paulo aos Colossenses, que nos faz ser parte do Corpo Místico de Cristo: "Triunfe em vossos corações a Paz de Cristo, para a qual fostes chamados a fim de formar um único Corpo. E sede agradecidos." Cl 3,15
    Enfim, é nele que os filhos de Deus recebem o Paráclito, segundo a Carta de São Paulo aos Gálatas: "A prova de que sois filhos é que Deus enviou a vossos corações o Espírito de Seu Filho, que clama: Aba, Pai!" Gl 4,6
    O Livro do Profeta Joel já exortava: "Rasgai vossos corações e não vossas vestes. Voltai ao Senhor Vosso Deus, porque Ele é bom e compassivo, longânime e indulgente, pronto a arrepender-Se do castigo que inflige." Jl 2,13
    E Moisés havia pedido no Livro de Deuteronômio: "Aplicai vossos corações a todos preceitos que hoje vos dou. Prescrevei-os a vossos filhos, a fim de que cuidadosamente pratiquem todas palavras desta Lei." Dt 32,46

AMAR A DEUS COM TODA ALMA

    Isso requer sinceramente abraçar a vida espiritual e seus valores. O que só é possível pelo exercício da piedade em seu verdadeiro sentido, o das práticas religiosas. É o que a Primeira Carta de São Paulo a São Timóteo recomendou-lhe: "Exercita-te na piedade. Se o exercício corporal traz algum pequeno proveito, a piedade, esta sim, é útil para tudo, porque tem a promessa da presente e da futura Vida." 1 Tm 4,8
    Sem dúvida, amar com toda alma é o que sempre fez Nossa Senhora e por isso cantou no Magnificat, pois para isso ela está preparada desde que foi concebida: "Minha alma glorifica ao Senhor..." Lc 1,46
    Entregar-se à devoção, portanto, é elementar para que se alcance o verdadeiro amor a Deus. Porque, uma vez em Sua presença, não se pode esquivar dos compromissos da fé. Aquele que tinha sido cego de nascença vai dizer aos líderes judeus, que queriam saber como Jesus o teria curado: "Sabemos, porém, que Deus não ouve a pecadores, mas atende a quem Lhe presta culto e faz Sua vontade." Jo 9,31
    Os seguidores da tradição de São Paulo, ademais, deixaram-nos este estamento na Carta aos Hebreus, sobre como se colocar diante de Deus: "Ora, sem fé é impossível agradar a Deus, pois para achegar-se a Ele é necessário que primeiro se creia que Ele existe e que recompensa os que O procuram." Hb 11,6
    Pois crendo piamente que Ele existe, ou seja, respeitando Sua presença e praticando o culto que Lhe é devido, podemos melhor contemplar Suas obras e assim estaremos mais propensos a amá-Lo. O Apóstolo dos Gentios assegura: "Pois tudo que Deus criou é bom, e nada há de reprovável..." 1 Tm 4,4
    Assim, ele exorta à profunda conversão: "Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação de vosso espírito, para que possais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que Lhe agrada e o que é perfeito." Rm 12,2
    E como a maior reverência que podemos fazer a Deus, a Santa Missa foi instituída pelo próprio Cristo. Ora, como não O louvar, agradecer e adorar em Sua Paixão? "Durante a Ceia, Jesus tomou o pão e, depois de benzê-lo, partiu-O e deu-lhO, dizendo: 'Tomai, isto é o Meu Corpo.' Em seguida, tomou o Cálice, deu graças e apresentou-lhO, e todos dele beberam. E disse-lhes: 'Isto é Meu Sangue, o Sangue da Aliança, que é derramado por muitos.'" Mc 14,22-24
    Com efeito, além de oferecer Seu Corpo e Seu Sangue, como vimos, Ele expressamente pediu: "Fazei isto em memória de Mim." Lc 22,19b
    Para tanto, Ele pedia todo envolvimento espiritual: "Mas vem a hora, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai em espírito e Verdade, e são esses adoradores que o Pai deseja. Deus é Espírito, e Seus adoradores devem adorá-Lo em espírito e Verdade." Jo 4,23-24
    Essa é a razão da oração da Segunda Carta de São Paulo aos Tessalonicenses: "Nesta esperança incessantemente suplicamos por vós, para que Nosso Deus vos faça dignos de vossa vocação, e que eficazmente leve a bom termo todo vosso zelo pelo bem e a atividade de vossa fé." 2 Ts 1,11
    Ele exclama sobre nossa celebração: "Não relaxeis vosso zelo. Sede fervorosos de espírito. Servi ao Senhor." Rm 12,11
    Explica a real natureza da Santa Missa: "Eu exorto-vos, pois, irmãos, pelas Misericórdias de Deus, a oferecerdes vossos corpos em vivo, santo e agradável sacrifício a Deus: é este vosso culto espiritual." Rm 12,1
    Porque foi para isso que Jesus nos libertou, como o sacerdote Zacarias, pai de São João Batista, apregoou. Ou nossa celebração não seria digna de Deus: "... de conceder-nos que, sem temor, libertados da mão de nossos inimigos, possamos servi-Lo com santidade e justiça, em Sua presença, todos dias de nossa vida." Lc 1,73b-75
    E Jesus mesmo disse de nosso prêmio: "Se alguém quer servir-Me, siga-Me e, onde Eu estiver, ali também estará Meu servo. Se alguém Me serve, Meu Pai o honrará." Jo 12,26
    Alertava, portanto, para uma necessária e radical decisão: "Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará o outro, ou dedicar-se-á a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro." Mt 6,24
    A Segunda Carta de São Pedro, enfim, recomenda um expressivo exercício de ascese, essencial aos cristãos: "Por estes motivos, o quanto possível esforçai-vos por unir a vossa fé a virtude, à virtude a ciência, à ciência a temperança, à temperança a paciência, à paciência a piedade, à piedade o fraterno amor, e ao fraterno amor a caridade. Se estas virtudes se acharem abundantemente em vós, elas não vos deixarão inativos nem infrutuosos no conhecimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Porque quem não tiver estas coisas é míope, cego. Esqueceu-se da purificação de seus antigos pecados." 2 Pd 1,5-9


AMAR A DEUS COM TODA FORÇA

    É colocar nossos corpos a serviço das coisas que agradam a Deus. A caridade, seja doação de vida a Deus, seja partilha com os irmãos dos frutos de nosso trabalho, é o maior exemplo. Os discípulos de São Paulo exortavam as duas: "Não negligencieis a beneficência e a Comunhão. Estes são sacrifícios que agradam a Deus!" Hb 13,16
    O próprio São Paulo reconhecia a generosidade, tanto espiritual quanto material, das igrejas de Macedônia: "Em meio a tantas tribulações com que foram provadas, generosamente espalharam e com transbordante alegria, apesar de sua extrema pobreza, os tesouros de sua liberalidade. Sou testemunha de que, segundo suas forças, e até além dessas forças, espontaneamente contribuíram e pediam-nos com muita insistência o favor de poderem associar-se neste socorro destinado aos irmãos. E ultrapassaram nossas expectativas. Primeiro deram-se a si mesmos ao Senhor e, depois, a nós, pela vontade de Deus." 2 Cor 8,2-5
    E aplaudia seus louváveis feitos: "Com respeito ao auxílio a prestar aos irmãos, acho quase supérfluo continuar a escrever-vos. Porquanto estou ciente de vossa boa vontade, que enalteço, para vossa glória, ante os macedônios, dizendo-lhes que Acaia também está pronta desde o ano passado. O exemplo de vosso zelo tem estimulado a muitos. Cada um dê conforme o impulso de seu coração, sem tristeza nem constrangimento. Deus ama aquele que dá com alegria." 2 Cor 9,1-2.7
    Ele estimulava os cristãos de Roma: "Socorrei as necessidades dos fiéis. Esmerai-vos na prática da hospitalidade." Rm 12,11.13b
    Jesus mesmo, falando de caridade material e espiritual, deu um exemplo deste critério que usará no Juízo Final: "Então o Rei dirá aos que estão à direita: 'Vinde, benditos de Meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a Criação do mundo. Porque tive fome e Me deste de comer; tive sede e Me deste de beber; era peregrino e Me acolheste; nu e Me vestiste; enfermo e Me visitaste; estava na prisão e viestes a Mim. Em Verdade, Eu declaro-vos: todas vezes que fizestes isto a um destes Meus pequeninos irmãos, foi a Mim mesmo que o fizestes.'" Mt 25,34-36.40
    Carta de São Tiago também argumenta: "Por exemplo: um irmão ou irmã não têm o que vestir e falta-lhes o pão de cada dia. Então, se algum de vós lhes disser: 'Ide em Paz, aquecei-vos e comei bastante' e, no entanto, não lhes dá o necessário para o corpo, que adianta isso?" Tg 2,16-17
    E sob o aspecto espiritual, amar a Deus com toda a força também significa resistir fisicamente ao pecado e aos sofrimentos com que o mundo nos aflige, que é o exemplo do próprio Jesus: "Atentamente considerai, pois, Aquele que tantas contrariedades sofreu dos pecadores, e não vos deixeis abater pelo desânimo. Ainda não tendes resistido até o sangue na luta contra o pecado." Hb 12,4
    Nesse sentido, São Paulo pede: "Mortificai, pois, vossos membros no que têm de terreno: a devassidão, a impureza, as paixões, os maus desejos, a cobiça, que é uma idolatria. Dessas coisas provém a ira de Deus sobre os descrentes. Outrora vós assim também vivíeis, mergulhados como estáveis nesses vícios. Agora, porém, deixai de lado todas estas coisas: ira, animosidade, maledicência, maldade, torpes palavras de vossa boca, nem vos enganeis uns aos outros. Vós despiste-vos do velho homem com seus vícios e revestistes-vos do novo, que constantemente vai restaurando-se à imagem d'Aquele que o criou, até atingir o perfeito conhecimento." Cl 3,5-10
    E a Carta de São Paulo aos Efésios afirma que esse é nosso único Caminho: "... até que todos tenhamos chegado à Unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos o estado de homem feito, a estatura da maturidade de Cristo. ... pela sincera prática da caridade, cresçamos em todos sentidos..." Ef 4,13.15a

AMAR A DEUS COM TODO ENTENDIMENTO

    É a necessidade de chegar a uma esclarecida fé, pelo pleno concurso da razão. Esse entendimento só é possível com o consciencioso exame da divina mensagem, feito de boa vontade, isto é, sem preguiça e de moralmente corajoso modo. É um exercício de conhecimento e que nos acompanha a vida inteira. Sempre teremos o que aprender. São Paulo vai dizer: "Portanto, eis o que digo e conjuro no Senhor: não persistais em viver como os pagãos, que andam à mercê de suas frívolas ideias. Eles têm o entendimento obscurecido. Sua ignorância e o endurecimento de seu coração mantêm-lhes afastados da Vida de Deus. Indolentes, entregaram-se à dissolução, à apaixonada prática de toda espécie de impureza. Vós, porém, não foi para isto que vos tornastes discípulos de Cristo, se é que O ouvistes e d'Ele aprendestes, como convém à Verdade em Jesus. Renunciai à passada vida, despojai-vos do velho homem, corrompido por enganadoras concupiscências. Renovai sem cessar o sentimento de vossa alma, e revesti-vos do novo homem, criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade." Ef 4,17-24
    A Primeira Carta de São Pedro, por sua vez, pedia plena consciência da vida espiritual cristã: "Estai sempre prontos a responder em vossa defesa a todo aquele que vos pedir a razão de vossa esperança, mas fazei-o com suavidade e respeito." 1 Pd 3,15
    Ele dizia que a boa consciência é a razão de nosso Batismo: "Esta água prefigurava o Batismo de agora, que também salva a vós, não pela purificação das impurezas do corpo, mas pela que consiste em pedir a Deus uma boa consciência, pela Ressurreição de Jesus Cristo." 1 Pd 3,21
    Nosso amor a Deus, portanto, carece de conhecimento de Sua Palavra e de Suas manifestações, sem que nos atrapalhe a dissimulação ou a mentira próprias da concupiscência. Ninguém pode fugir a esse exercício da razão. Sobre a devoção dos gregos, por exemplo, sempre colocada por São Paulo em oposição a dos judeus, ele escreveu: "Porquanto o que se pode conhecer de Deus, eles leem-no em si mesmos, pois Deus lho revelou com evidência. Desde a criação do mundo, as invisíveis perfeições de Deus, Seu sempiterno poder e divindade, tornam-se visíveis à inteligência por Suas obras, de modo que não podem escusar-se." Rm 1,19-20
    Sem dúvida, sem essa constante renovação do entendimento para com o Pai e Seu amor, facilmente cai-se em tentação, como ele diz sobre os que se esquivam da Verdade: "Como não se preocupassem em adquirir o conhecimento de Deus, Deus entregou-os a depravados sentimentos, e daí seu indigno procedimento." Rm 1,28
    O Livro de Salmos já cantava: "Feliz aquele que se compraz no serviço do Senhor, e dia e noite medita Sua Lei. Ele é como a árvore plantada na margem de águas correntes: dá fruto na própria época, sua folhagem jamais murchará. Tudo que empreende, prospera." Sl 1,2-3
    Porque conhecendo a Deus, não há como não O amar, e isso exprime-se pela gratidão. E por tudo: pela vida, pela família, pelas pessoas, pela natureza, pelos bens, pelos dons etc. Mas principalmente por Seu amor! Tendo essa percepção do mundo e da vida é que verdadeiramente começamos a amá-Lo, pois há um virtuoso ciclo entre o amor e Sabedoria. O Livro de Eclesiástico diz: "O Verbo de Deus nos Céus é a fonte da Sabedoria... Ele criou-a... e difundiu-a em todas Suas obras, em toda carne segundo Sua generosidade, e doou-a àqueles que O amam." Eclo 1,5a.9a.10
    São Paulo, aliás, foi bem específico ao condenar a falta de interesse da parte dos judeus pela Sã Doutrina manifestada por Jesus: "Pois lhes dou testemunho de que têm zelo por Deus, mas um zelo sem discernimento." Rm 10,2


VENCER A CONSCIÊNCIA PREGUIÇOSA

    Mas eis que surgem algumas questões. Jesus pareceu muito exigente quando falou: "Quem ama o pai ou a mãe mais do que a Mim não é digno de Mim. Quem ama o filho ou a filha mais do que a Mim não é digno de Mim." Mt 10,37
    Fez o mesmo quando questionou São Pedro, perante outros Apóstolos, após ressuscitar: "Simão, filho de João, amas-Me mais que a estes?" Jo 21,15b
    Primeiro, porém, precisamos ver nestas frases Jesus revelando-Se Deus. São uns dos momentos nos quais Ele Se declara! Se Ele Se colocou como Aquele que deve ser amado sobre todas pessoas e coisas, fica claro Quem Ele é. Segundo, não podemos apegar-nos demasiadamente nem mesmo às pessoas mais próximas nessa vida. Todos vamos morrer, e a ausência de alguém muito íntimo, sem a fé, pode torturar-nos. Correto, pois, é amar a Deus e crer na Vida Eterna. Lá teremos todos os Seus, e pela eternidade. Por isso, falando sobre a vida mundana e sem Deus, Jesus ensinou: "Quem ama sua vida, perdê-la-á. Mas quem odeia sua vida neste mundo, conservá-la-á para a Vida Eterna." Jo 12,25
    De fato, depois da Vinda do Messias, o amor pelas coisas do mundo significa estar nas trevas. É o que São João Evangelista apontou: "... a Luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas que a Luz, porque suas obras eram más." Jo 3,19
    E segundo as próprias palavras de Jesus, não há como amar a Deus sem amá-Lo: "Desse modo, todos honrarão o Filho, bem como honram o Pai. Aquele que não honra o Filho, não honra o Pai, que O enviou." Jo 5,23
    Por força do livre arbítrio, porém, Ele chega mesmo a propor uma experiência: "Se alguém quiser cumprir a vontade de Deus, distinguirá se Minha Doutrina é de Deus ou se falo de Mim mesmo." Jo 7,17
    Contudo, Ele é absolutamente restritivo: "... ninguém vem ao Pai senão por Mim." Jo 14,6b
    Exige empenhado estudo: "Jesus disse-lhes: 'Ó gente sem inteligência! Como sois tardos de coração para crerdes em tudo que os Profetas anunciaram! Porventura não era necessário que Cristo sofresse essas coisas e assim entrasse em Sua Glória?'" Lc 24,25-26
    Ele já havia dito abertamente: "Não espero Minha Glória dos homens." Jo 5,41
    Criticava os mundanos deslumbres: "Como podeis crer, vós que recebeis a glória uns dos outros, e não buscais a Glória que é só de Deus?" Jo 5,14
    Ele usou de toda contundência ao combater aqueles que resistiam diante de Suas obras: "Se Deus fosse vosso pai, vós amar-Me-íeis, porque Eu saí de Deus. É d'Ele que Eu provenho. Porque não vim de Mim mesmo, mas foi Ele Quem Me enviou. Por que não compreendeis Minha linguagem? É porque não podeis ouvir Minha Palavra. Vós tendes como pai o Demônio e quereis fazer os desejos de vosso pai. Ele era homicida desde o princípio e não permaneceu na Verdade, porque a Verdade não está nele. Quando diz a mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira." Jo 8,42-44
    E acusou: "... sei que não tendes em vós o amor de Deus." Jo 5,42

JESUS: PARÂMETRO DE AMOR

    Para que melhor se compreenda o que significa amar a Deus, Jesus faz uma radical simplificação: põe o amor ao próximo na mesma importância que o amor a Deus. Ele literalmente diz que este Mandamento, que está no Livro de Levítico, é semelhante ao primeiro: "'Amarás o Senhor, Teu Deus, de todo teu coração, de toda tua alma e de todo teu espírito (Dt 6,5).' Este é o maior e o primeiro Mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: 'Amarás teu próximo como a ti mesmo (Lv 19,18).' Nesses dois Mandamentos resumem-se toda a Lei e os Profetas." Mt 22,37-40
    E pouco antes de partir para o Horto das Oliveiras, onde seria preso, Ele vai determinar: "O mundo, porém, deve saber que amo o Pai e procedo como o Pai Me ordenou." Jo 14,31a
    São João vai no mesmo sentido: "Se alguém disser: 'Amo a Deus', mas odeia seu irmão, é mentiroso. Porque aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não vê. Temos de Deus este Mandamento: aquele que amar a Deus, ame também a seu irmão." 1 Jo 4,20-21
    Ele resume: "Eis Seu Mandamento: que creiamos no Nome de Seu Filho Jesus Cristo e nos amemos uns aos outros, como Ele nos mandou." 1 Jo 3,23
    E foi bem mais contundente: "Quem odeia seu irmão é assassino. E sabeis que a Vida Eterna não permanece em nenhum assassino." 1 Jo 3,15
    Porque, nestes termos, Jesus estava deixando um Novo Mandamento, que era ainda mais simples: "Dou-vos um Novo Mandamento: Amai-vos uns aos outros. Como Eu vos tenho amado, assim vós também deveis amar-vos uns aos outros. Nisto todos conhecerão que sois Meus discípulos, se vos amardes uns aos outros." Jo 13,34-35
    E note-se que Ele estabelecia um parâmetro para esse amor, que é Seu próprio amor por nós: "Como Eu vos tenho amado..." Idem
    Aliás, para ser bem claro, vai mencioná-lo outra vez, na mesma noite da Santa Ceia, e chamá-lo de Seu Mandamento: "Este é Meu Mandamento: amai-vos uns aos outros, como Eu vos amo." Jo 15,12
    Ele quer dizer, como visto, que devemos amar ao próximo como Deus nos ama. Esse foi um dos pedidos que Ele fez ao Pai por nós na Oração da Unidade: "Manifestei-lhes Teu Nome, e ainda hei de manifestá-Lo, para que o amor com que Me amaste esteja neles, e Eu neles." Jo 17,26
    Por isso, São Tiago Menor adverte: "Adúlteros, não sabeis que o amor ao mundo é abominado por Deus? Todo aquele que quer ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus. Ou imaginais que em vão diz a Escritura: 'Sois amados até o ciúme pelo Espírito que em vós habita?'" Tg 4,4-5
    No mesmo sentido vai o Amado Discípulo: "Não ameis o mundo nem as coisas do mundo. Se alguém ama o mundo, nele não está o amor do Pai." 1 Jo 2,15
    E diz da Comunhão que assim preservamos: "Se mutuamente nos amarmos, Deus permanece em nós e Seu amor em nós é perfeito." 1 Jo 4,12b
    São Paulo garante: "Mas se alguém ama a Deus, esse é conhecido por Ele." 1 Cor 8,3
    Ele sabia, porém, que mais amar o próximo quase sempre significa ser menos amado: "Não vos serei oneroso porque não busco vossos bens, mas sim a vós mesmos. Com efeito, não são os filhos que devem entesourar para os pais, mas os pais para os filhos. De muito boa vontade darei do que é meu, e dar-me-ei a mim mesmo por vossas almas, ainda que, amando-vos mais, seja menos amado por vós." 2 Cor 12,14b-15
    Jesus, pois, deixou claro como podemos demonstrar amor a Ele: "Aquele que tem e guarda Meus Mandamentos, esse é que Me ama. E aquele que Me ama será amado por Meu Pai, e Eu amá-lo-ei e manifestar-Me-ei a ele." Jo 14,21
    Ou seja, conhecer e praticar Sua Palavra é o verdadeiro sinal de nosso amor a Deus. Agora falando de Comunhão, Ele disse também do Pai, em complemento: "Se alguém Me ama, guardará Minha Palavra e Meu Pai amá-lo-á. E Nós viremos a ele e nele faremos Nossa morada." Jo 14,23
    São João Evangelista replica tal ensinamento, lembrando o amar a Deus 'com todo entendimento': "Eis o amor a Deus: que guardemos Seus Mandamentos. E Seus Mandamentos não são penosos..." 1 Jo 5,3
    Sem dúvida, de tanto nos amar, Deus quer viver em nossa alma. E é o que de fato acontece, como São Paulo atestou: "Vós, porém, não viveis segundo a carne, mas segundo o espírito, se o Espírito de Deus realmente habita em vós. Se alguém não possui o Espírito de Cristo, este não é d'Ele." Rm 8,9
    Ele pergunta: "Não sabeis que sois o Templo de Deus, e que o Espírito de Deus em vós habita?" 1 Cor 3,16
    E ficam estas palavras de sua inspiração: "... sabemos que todas coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus..." Rm 8,28

    "Nosso coração está em Deus."

terça-feira, 17 de junho de 2025

O Evangelho


    A palavra Evangelho, do grego, significa Boa Notícia, a que Jesus nos trouxe, mais conhecida como Boa Nova. Exatamente por isso, o Evangelho Segundo São Marcos, o mais antigo escrito em grego, antecedido apenas pelo Evangelho Segundo São Mateus em aramaico, assim apresenta seu texto na primeira linha, embasando-o no Livro do Profeta Malaquias e no Livro do Profeta Isaías que também prediziam São João Batista: "Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus. Conforme está escrito no Profeta Isaías: 'Eis que envio Meu mensageiro diante de Ti. Ele preparará Teu caminho, voz no deserto que clama: 'Preparai o caminho do Senhor, tornai retas Suas veredas (Ml 3,1 Is 40,3).'" Mc 1,1-3
    Esta Boa Notícia é o próprio anúncio da Vida Eterna que Jesus veio oferecer-nos, como é o testemunho dado na Primeira Carta de São João: "Eis a promessa que Ele nos fez: a Vida Eterna." 1 Jo 2,25
    Em debate com os religiosos de Jerusalém, no Evangelho Segundo São João, Nosso Salvador assegurou: "Minhas ovelhas ouvem Minha voz. Eu conheço-as e elas seguem-Me! Eu dou-lhes a Vida Eterna. Elas jamais hão de perecer, e ninguém as roubará de Minha Mão." Jo 10,27-28
    E ao iniciar Sua vida pública, na sinagoga de Nazaré leu o que seria o 'discurso inaugural' de Sua Missão, o anúncio da chegada do Salvador feita através de Isaías, que 700 anos antes profeticamente falou por Nosso Senhor. Essas palavras com perfeição detalha o que Ele veio realizar entre nós, desde o Advento até Sua Gloriosa Volta:

    "O Espírito do Senhor repousa sobre Mim, porque o Senhor Me ungiu. Enviou-Me para levar a Boa Nova aos pobres, curar os doloridos corações, anunciar aos cativos a Redenção e aos prisioneiros a liberdade; proclamar o ano da Graça da parte do Senhor e o dia de vingança de Nosso Deus; consolar todos aflitos, dar-lhes um diadema em vez de cinzas, o óleo da alegria em vez de vestidos de luto, cânticos de Glória em lugar de desespero.
    Então os chamarão as azinheiras da justiça, plantadas pelo Senhor para Sua Glória. Reconstruirão as antigas ruínas, reerguerão as relíquias do passado, restaurarão as destruídas cidades, repararão as seculares devastações; virão estrangeiros apascentar vosso miúdo gado, gente de fora servi-vos-á de lavradores e vinhateiros; a vós chamá-vos-ão Sacerdotes do Senhor, de Ministros de Nosso Deus sereis qualificados.
    Vós alimentar-vos-eis com as riquezas das nações, e brilhareis com sua opulência. Já que tiveram dupla parte de vergonha e tiveram como quinhão opróbrios e escarros, receberão em sua terra dupla parte de herança, e a alegria deles será eterna. Porque Eu, o Senhor, amo a equidade e detesto o fruto da rapina. Por isso, fielmente vou dar-lhes sua recompensa, e com eles concluir uma Eterna Aliança."
                                                  Is 61,1-9

    E não foi a única vez que a expressão Boa Nova foi usada em vínculo com o anúncio do Messias por este Profeta. Ele já havia exortado: "Subi a uma alta montanha, para anunciar a Boa Nova a Sião. Elevai com força a voz, para anunciar a Boa Nova a Jerusalém. Elevai-a voz sem receio, dizei às cidades de Judá: 'Eis Vosso Deus! Eis o Senhor Deus que vem com poder, soberanamente estendendo os braços. Eis com Ele o preço de Sua Vitória, faz-se preceder pelos frutos de Sua conquista. Como um Pastor, vai apascentar Seu rebanho, reunir os animais dispersos, carregar os cordeiros nas dobras de Seu manto, lentamente conduzir as ovelhas que amamentam." Is 40,9-11
    Também havia dito estas sonoras palavras, tão frequentemente cantadas: "Como são belos, sobre as montanhas, os pés do Mensageiro que anuncia a Paz, que traz as Boas Novas e anuncia a Salvação, que diz a Sião: 'Teu Deus reina!' Ouve! Tuas sentinelas elevam a voz, e juntas soltam alegres gritos, porque com seus próprios olhos vêem o Senhor voltar a Sião." Is 52,7-8
    Mas, depois do anúncio feito pelo próprio Jesus, como se deu a divulgação dessa Boa Notícia? Por incrível que pareça, foi pessoa a pessoa. Aliás, como ainda é hoje e não vai mudar. Ele rezou ao Pai pela perfeita união entre os Apóstolos, pela santidade deles, e assim Sua Palavra permaneceu inviolável: "Manifestei Teu Nome aos homens que do mundo Me deste. Eram Teus e deste-Mos, e guardaram Tua Palavra. Pai Santo, guarda-os em Teu Nome, que Me encarregaste de fazer conhecer, a fim de que sejam Um como Nós. Santifica-os pela Verdade. Tua Palavra é a Verdade. Como Tu Me enviaste ao mundo, Eu também os enviei ao mundo." Jo 17,6.11b.17-18
    De fato, referindo-Se a Seu rebanho, Ele garantiu aos Onze na noite da Santa Ceia: "Se guardaram Minha Palavra, também hão de guardar a vossa." Jo 15,20b
    Porque também rezou pela Comunhão entre nós, fiéis seguidores dos Apóstolos, e assim a Santa Igreja Católica se tornou portadora de Sua Glória: "Não rogo somente por eles, mas também por aqueles que por sua palavra hão de crer em Mim. Para que todos sejam Um, assim como Tu, Pai, estás em Mim e Eu em Ti, para que eles também estejam em Nós e o mundo creia que Tu Me enviaste. Dei-lhes a Glória que Me deste, para que sejam Um, como Nós somos Um: Eu neles e Tu em Mim. Para que sejam perfeitos na Unidade e o mundo reconheça que Me enviaste e os amaste, como amaste a Mim." Jo 17,20-23
    Por isso, São João Evangelista defende a autoridade das testemunhas de Cristo: "Aceitamos o testemunho dos homens." 1 Jo 5,9a
    Jesus mesmo defendeu este recurso de evangelização, e ainda no Domingo da Ressurreição: "Por fim, apareceu aos Onze, quando estavam sentados à mesa, e censurou-lhes a incredulidade e dureza de coração, por não acreditarem naqueles que O tinham visto ressuscitado." Mc 16,14
    Ainda vai repreender São Tomé, oito dias depois, pelo mesmo motivo: "Não sejas incrédulo, mas homem de ." Jo 20,27b
    E disse-lhe algo que vale para todos que continuam exigindo um sinal só para si, desprezando o testemunho dos outros: "Creste porque Me viste. Felizes aqueles que creem sem ter visto!" Jo 20,29
    Sem dúvida, a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiro pedaço do Céu, representa o Reino de Deus, Seu Reino de Sacerdotes. Contudo, de tão maravilhoso, ele é simplesmente indizível, como a Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios admite: "Nossa ciência é parcial, nossa profecia é imperfeita. Quando chegar o que é perfeito, o imperfeito desaparecerá." 1 Cor 13,9-10
    E à parte o que faz o Espírito Santo, por nós a Boa Nova só é comunicável na inteireza das capacidades humanas: com palavras, raciocínios, emoções, tons de voz, gestos, expressões faciais, olhares, comportamento... Mas principalmente com o testemunho de vida, como Jesus ensinou: "Ninguém tem maior amor que aquele que dá sua vida por seus amigos." Jo 15,13
    No Evangelho Segundo São Lucas, cioso de nossa fidelidade, Ele reclamava: "Por que Me chamais: Senhor, Senhor... Mas não fazeis o que Eu digo?" Lc 6,46
    Quando questionado, era bem objetivo: "Perguntaram-Lhe: 'Que faremos para praticar as obras de Deus?' Respondeu-lhes Jesus: 'A obra de Deus é esta: que creiais n'Aquele que Ele enviou.'" Jo 6,28-29
    Foi isso que Nosso Senhor pregou desde o início, ao fim do ministério do Batista: "Depois que João foi preso, Jesus dirigiu-Se para Galileia. Pregava o Evangelho de Deus, e dizia: 'Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Fazei penitência e crede no Evangelho.'" Mc 1,14-15
    E assim Se entregou por completo a Sua Missão. São Mateus, para não usar em demasia a palavra 'Deus', em obediência ao Mandamento de "não pronunciar em vão o Nome do Senhor (cf. Dt 5,11)", chama esse anúncio de 'Evangelho do Reino': "Jesus percorria toda Galileia, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino, curando todas doenças e enfermidades entre o povo." Mt 4,23
    Ele mesmo iria afirmá-lo, após pernoitar na casa de São Pedro pela primeira vez: "Ao amanhecer, Ele saiu e retirou-Se para um lugar afastado. As multidões procuravam-nO, e foram até onde Ele estava e queriam detê-Lo, para que não as deixasse. Mas Ele disse-lhes: 'É necessário que Eu anuncie a Boa Nova do Reino de Deus também às outras cidades, pois essa é Minha Missão." Lc 4,42-43
    Como consta no 'discurso inaugural', essa Boa Notícia tem especiais destinatários. Quando São João Batista pediu de Jesus uma confirmação de que era realmente o Messias, usando essa mesma leitura de Isaías como sinal Ele mandou dizer-lhe que "... o Evangelho é anunciado aos pobres..." Mt 11,5
    Aliás, o Profeta do Altíssimo (cf. Lc 1,76), além de anunciar o Salvador, também anunciou a Boa Nova. Ele é o 'mensageiro' acima citado por Malaquias: "Eu batizo-vos com água, mas eis que vem Outro mais poderoso que eu, de Quem não sou digno de Lhe desatar a correia das sandálias. Ele batizá-vos-á com o Espírito Santo e com o fogo. Ele tem a pá na mão e limpará Sua eira, e recolherá o trigo a Seu celeiro, mas queimará as palhas num inextinguível fogo.' É assim que ele anunciava ao povo a Boa Nova, e ainda lhe dirigia muitas outras exortações." Lc 3,16b-18
    E como marco de um projeto absolutamente inigualável, este anúncio por todo globo terrestre também será o sinal do fim dos tempos. São palavras de Jesus: "Este Evangelho do Reino será pregado pelo mundo inteiro para servir de testemunho a todas nações, e então chegará o fim." Mt 24,14
    São Marcos faz esse mesmo registro, embora dito com outras palavras. Após falar sobre o fim do mundo, Jesus arrematou: "Mas primeiro é necessário que o Evangelho seja pregado a todas nações." Mc 13,10
    Disse mais: atestando a perenidade de Sua divina manifestação, Ele garantiu que, mesmo com a renovação do céu e da Terra, o Evangelho permaneceria para a eternidade: "O céu e a Terra passarão, mas Minhas palavras não passarão." Mt 24,35
    Avisava, portanto, que seu anúncio era uma obra que excede os cuidados dessa vida: "Porque aquele que quiser salvar sua vida, perdê-la-á. Mas aquele que perder sua vida por amor a Mim e ao Evangelho, salvá-la-á." Mc 8,5
    Mas tal qual Isaías, que fala de uma especial dádiva, também prometia recompensas ainda neste mundo: "Em Verdade, digo-vos: ninguém há que tenha deixado casa ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou terras, por causa de Mim e por causa do Evangelho, que não receba, já neste século, cem vezes mais casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras, mesmo com perseguições, e no vindouro século a Vida Eterna." Mc 10,29-30
    E assim Ele cumpriu Sua Ministério até Sua última Páscoa, sempre questionado por religiosos judeus: "Num daqueles dias, Jesus ensinava no Templo e ao povo anunciava a Boa Nova. Chegaram os príncipes dos sacerdotes e os escribas com os anciãos, e falaram-lhe: 'Dize-nos: com que direito fazes essas coisas, ou quem é que Te deu essa autoridade?'" Lc 20,1-2
    Por isso, Ele envia-nos para dar esse testemunho em toda parte: "Ide por todo mundo e pregai o Evangelho a toda criatura." Mc 16,15
    E foi isso que fizeram os Apóstolos logo após o nascimento da Igreja Católica, que se deu no Pentecostes. É da leitura do Livro de Atos dos Apóstolos: "E todos dias não cessavam de ensinar e de pregar o Evangelho de Jesus Cristo, no Templo e pelas casas." At 5,42
    Cumprindo-se a profecia de Isaías, pois, eles também foram aos estrangeiros, ou seja, aos não judeus: "... também se dirigiram aos gregos, anunciando-lhes o Evangelho do Senhor Jesus." At 11,20
    Era o que tinha sido iniciado por São Pedro, que disse no Concílio de Jerusalém: "Irmãos, vós sabeis que já há muito tempo Deus me escolheu dentre vós, para que da minha boca os não judeus ouvissem a Palavra do Evangelho e cressem." At 15,7
    Sem dúvida, ele presenciou o 'Pentecostes dos Gentios', quando batizou o primeiro grupo de não judeus. Antes desta grande Graça do Divino Paráclito, ele pregou ao centurião romano, a sua família, parentes e amigos, dizendo do Evangelho 'da Paz': "Deus enviou Sua Palavra aos filhos de Israel, anunciando-lhes a Boa Nova da Paz por meio de Jesus Cristo. Este é o Senhor de todos." At 10,36
    Isso foi levado adiante pelo Apóstolo dos Gentios, aqui por convite do anjo de Macedônia: "De noite, Paulo teve uma visão: um macedônio, em pé diante dele, rogava-lhe: 'Passa à Macedônia, e vem em nosso auxílio!' Assim que teve essa visão, procuramos partir para Macedônia, certos de que Deus nos chamava a pregar-lhes o Evangelho." At 16,9-10
    Tal direcionamento tinha sido adotado desde sua segunda pregação na sinagoga de Antioquia de Pisídia, quando os judeus protestaram contra ele: "Então Paulo e Barnabé disseram-lhes resolutamente: Era a vós que em primeiro lugar se devia anunciar a Palavra de Deus. Mas, porque a rejeitais e vos julgais indignos da Vida Eterna, eis que nos voltamos para os pagãos." At 13,46
    Decisão que foi referendada em Jerusalém por São Tiago Menor, São Pedro e São João Apóstolo, como está na Carta de São Paulo aos Gálatas. Registro, aliás, onde claramente se vê que sempre houve uma sede da Igreja e que São Pedro estava á frente dos Onze demais: "Ao contrário, viram que a evangelização dos incircuncisos me era confiada, como a dos circuncisos a Pedro, porque Aquele cuja ação fez de Pedro o Apóstolo dos circuncisos, também fez de mim o dos pagãos. Tiago, Cefas e João, que são considerados as colunas, reconhecendo a Graça que me foi dada, deram as mãos a mim e a Barnabé em sinal de pleno acordo..." Gl 2,7-9
    E para este Apóstolo, pródigo em renomear a Palavra da Salvação, o que anunciavam eram a própria 'Graça de Deus': "Mas nada disso temo, nem faço caso de minha vida, contanto que termine minha carreira e o Ministério da Palavra que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho ao Evangelho da Graça de Deus." At 20,24
    Ou, repetindo São Marcos, o 'Evangelho de Deus', apontando-o como divina promessa. É da Carta de São Paulo aos Romanos: "Paulo, servo de Jesus Cristo, escolhido para ser Apóstolo, reservado para anunciar o Evangelho de Deus. Este Evangelho, Deus outrora prometera por Seus Profetas, na Sagrada Escritura..." Rm 1,1
    Ou o 'Evangelho do Filho de Deus': "Pois Deus, a Quem sirvo em meu espírito, anunciando o Evangelho de Seu Filho, me é testemunha de como vos menciono incessantemente em minhas orações." Rm 1,9
    Ou o 'Evangelho de Cristo': "De maneira que tenho divulgado o Evangelho de Cristo, desde Jerusalém e suas terras vizinhas até Ilíria." Rm 15,19
    Ou ainda num título de uma especial dádiva de Cristo, como na Carta de São Paulo aos Efésios: "... e os pés calçados de prontidão para anunciar o Evangelho da Paz." Ef 6,15
    Ou até mesmo o 'seu' Evangelho, referindo-se às revelações particulares que teve: "Isso claramente aparecerá no Dia em que, segundo meu Evangelho, Deus julgar as secretas ações dos homens, por Jesus Cristo." Rm 2,16
    Ou, por fim, na Primeira Carta de São Paulo a São Timóteo, o belo título de "... Glorioso Evangelho de Deus Bendito..." 1 Tm 1,11
    Pois esse anúncio não era só palavras, mas uma manifestação do próprio poder de Deus: "Com efeito, não me envergonho do Evangelho, pois ele é uma força vinda de Deus para a Salvação de todo aquele que crê..." Rm 1,16
    Ele garantia: "Asseguro-vos, irmãos, que o Evangelho pregado por mim nada tem de humano." Gl 1,11
    E a Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios completa, evocando a queda das muralhas de Jericó (cf. Js 6,20): "Não são carnais as armas com que lutamos. São poderosas, em Deus, capazes de arrasar fortificações. Nós aniquilamos todo raciocínio e todo orgulho que se levanta contra o conhecimento de Deus, e cativamos todo pensamento e reduzimo-lo à obediência a Cristo." 2 Cor 10,4-5


PELO PODER DO ESPÍRITO SANTO

    Já a Primeira Carta de São Paulo aos Tessalonicenses especificamente atribuía a força do Evangelho ao Divino Paráclito: "Nosso Evangelho foi-vos pregado não somente por palavra, mas também com poder, com o Espírito Santo..." 1 Ts 1,5
    Também fez relembrar aos cristãos da cidade de Corinto: "Minha palavra e minha pregação longe estavam da persuasiva eloquência da Sabedoria. Antes, eram uma demonstração do Espírito e do poder divino, para que vossa fé não se baseasse na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus." 1 Cor 2,4-5
    Ele explicava: "Ora, nós não recebemos o espírito do mundo, mas sim o Espírito que vem de Deus, que nos dá a conhecer as Graças que Deus nos prodigalizou e que pregamos numa linguagem que nos foi ensinada não pela sabedoria humana, mas pelo Espírito, que exprime coisas espirituais em termos espirituais." 1 Cor 2,12-13
    E exultava com Ministério do Santo Paráclito em oposição ao Antigo Testamento: "Ora, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, se revestiu de tal glória que os filhos de Israel não podiam fitar os olhos no rosto de Moisés, por causa do resplendor de sua face, embora transitório, quanto mais glorioso não será o Ministério do Espírito?" 2 Cor 3,7-8
    Ele descreve a Nova Aliança nestes termos: "A Lei do Espírito de Vida libertou-me, em Jesus Cristo, da Lei do pecado e da morte. O que era impossível à Lei, visto que a carne a tornava impotente, Deus fez. Enviando, por causa do pecado, Seu próprio Filho numa carne semelhante à do pecado, condenou o pecado na carne, a fim de que a justiça prescrita pela Lei fosse realizada em nós, que vivemos não segundo a carne, mas segundo o espírito. Se alguém não possui o Espírito de Cristo, este não é d'Ele." Rm 8,2-4.9b
    A Primeira Carta de São Pedro também dizia: "... revelações que agora vos têm sido anunciadas por aqueles que vos pregaram o Evangelho da parte do Espírito Santo, enviado do Céu. Revelações estas, que os próprios anjos desejam contemplar." 1 Pd 1,12
    E por revelar a índole das pessoas, como São Paulo se referia aos judeus, a Boa Nova é um divisor de águas: "... quanto ao Evangelho, eles são inimigos de Deus... " Rm 11,28
    Detalhe que ele expôs com contundência, dizendo de todos em geral: "Se nosso Evangelho ainda estiver encoberto, está encoberto para aqueles que se perdem..." 2 Cor 4,3
    Porque nele está Cristo em Sua plenitude, só oculto "... para os incrédulos, cujas inteligências o deus deste mundo obcecou a tal ponto que não percebem a Luz do Evangelho, onde resplandece a Glória de Cristo, que é a imagem de Deus." 2 Cor 4,4
    Ele é a própria Verdade: "N'Ele (Cristo) vós, depois de terdes ouvido a Palavra da Verdade, o Evangelho de vossa Salvação no qual tendes crido, também fostes selados com o Espírito Santo que fora prometido..." Ef 1,13
    É a fonte de fé: "Porque nele (Evangelho) se revela a justiça de Deus, que se obtém pela fé e conduz à fé..." Rm 1,17a
    É a própria fonte da esperança, como está na Carta de São Paulo aos Colossenses, que fala da Sagrada Tradição a despeito das Escrituras: "... em vista da esperança que vos está reservada nos Céus. Esperança que vos foi transmitida pela pregação da Verdade do Evangelho... Para isto, é necessário que permaneçais fundados e firmes na fé, inabaláveis na esperança do Evangelho que ouvistes..." Cl 1,5.23
    É também o poder que transforma Sacerdotes em pais, geradores de filhos de Deus segundo suas palavras: "... fui eu que vos gerei em Cristo Jesus, pelo Evangelho." 1 Cor 4,15
    E para concluir com chave de ouro, a Segunda Carta de São Paulo a São Timóteo ensina que a Boa Notícia é o instrumento do Salvador para levar-nos à eternidade: "... Jesus Cristo, que destruiu a morte e suscitou a Vida e a imortalidade pelo Evangelho..." 2 Tm 1,10
    Por isso, coberto de motivos, ele cobrava fidelidade dos cristãos de Galácia, mais uma vez defendendo a Sagrada Tradição: "Estou admirado de que tão depressa passeis daquele que vos chamou à Graça de Cristo para um diferente evangelho. De fato, não há dois evangelhos: há apenas pessoas que semeiam a confusão entre vós, e querem perturbar o Evangelho de Cristo. Pois bem, mesmo que nós ou um anjo vindo do Céu vos pregasse um evangelho diferente daquele que vos pregamos, seja anátema!" Gl 1,6-8
    Sem dúvida, ele mesmo dava e pedia exemplo de fidelidade, ainda que nenhum dos Evangelhos tivesse sido escrito, como vemos quando se dirigiu aos coríntios: "Eu lembro-vos, irmãos, o Evangelho que vos preguei, e que tendes acolhido, no qual estais firmes. Por ele sereis salvos, se o conservardes como vo-lo preguei. De outra forma, em vão teríeis abraçado a fé. Transmiti-vos, primeiramente, o que eu mesmo havia recebido..." 1 Cor 15,1-3a
    A Segunda Carta de São Pedro também vai denunciar esta ofensa à Verdade que leva à difamação da Igreja: "Assim como entre o povo houve falsos profetas, entre vós também haverá falsos doutores, que disfarçadamente introduzirão perniciosas seitas. Muitos segui-los-ão em suas desordens, e deste modo serão a causa de o Caminho da Verdade ser caluniado. Movidos por cobiça, eles hão de explorar-vos por palavras cheias de astúcia." 2 Pd 2,1a.2-3a
    Ao contrário desses, São Paulo punha sua vida em risco para que nada o impedisse: "... tudo sofremos para não pôr obstáculo algum ao Evangelho de Cristo." 1 Cor 9,12b
    E fala das concessões que fez, mesmo diante de invasões de privacidade, para preservá-lo em sua plenitude: "... fomos, por esta vez, condescendentes, para que o Evangelho permanecesse em sua integridade." Gl 2,5
    Afoito na juventude, chegou a reclamar da tolerância de São Pedro para com as fraquezas de judeus convertidos: "Quando vi que seu procedimento não era segundo a Verdade do Evangelho..." Gl 2,14
    Pois pouco mais tarde ele mesmo vai usar dessa 'dissimulação' para evangelizar: "Para aqueles que não têm lei, fiz-me como se eu não tivesse lei, ainda que eu não esteja isento da Lei de Deus, porquanto estou sob a Lei de Cristo, a fim de ganhar aqueles que não têm lei. Fiz-me fraco com os fracos, a fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, a fim de salvar a todos." 1 Cor 9,21-22
    Guiado pela Sabedoria, e ciente da falibilidade humana, ele via o Ministério da Igreja como gesto de bondade de Deus, a Quem deveria prestar contas: "Mas, como Deus nos julgou dignos de confiar-nos o Evangelho, falamos, não para agradar aos homens, e sim a Deus, que sonda nossos corações." 1 Ts 2,4
    Ele bem via: tudo se dá pela Graça de Deus: "Eu tornei-me servo deste Evangelho em virtude da Graça que me foi dada, pela onipotente ação divina." Ef 3,7
    E ciente de suas limitações, procurava não assumir todas funções dentre os Sacramentos da Igreja: "Cristo não me enviou para batizar, mas para pregar o Evangelho. E isso sem recorrer à habilidade da arte oratória, para que não se desvirtue a Cruz de Cristo." 1 Cor 1,17
    Ora, a Carta de São Paulo aos Filipenses zelosamente cuidava para que a Igreja mantivesse a Unidade e a dignidade: "Cumpre, somente, que em vosso proceder vos mostreis dignos do Evangelho de Cristo. Quer eu vá ter convosco quer permaneça ausente, desejo ouvir que estais firmes em um só espírito, unanimemente lutando pela fé do Evangelho..." Fl 1,27
    Tinha presente que o Ministério da Palavra é sagrado: "... ser o Ministro de Jesus Cristo entre os pagãos, exercendo a sagrada função do Evangelho de Deus." Rm 15,16
    De fato, seu compromisso com as coisas de Deus tornou-se exemplar: "Anunciar o Evangelho não é glória para mim. É uma obrigação que se me impõe! Ai de mim, se eu não anunciar o Evangelho!" 1 Cor 9,16
    E assim como era reconhecido, também estimulava seus pares. Aqui ele diz a São Timóteo: "Tu, porém, sê prudente em tudo, paciente nos sofrimentos. Cumpre a missão de pregador do Evangelho, consagra-te a teu Ministério." 2 Tm 4,5
    Com razão, ele via no acolhimento da Boa Nova uma questão de sensatez, como escreveu aos coríntios dizendo dos demais cristãos: "... eles glorificam a Deus pela obediência que vós professais relativamente ao Evangelho de Cristo..." 2 Cor 9,13
    Humildemente, porém, pedia por orações, pois sabia que anunciava um mistério: "E também orai por mim, para que me seja dado corajosamente anunciar o mistério do Evangelho..." Ef 6,19
    O Livro de Apocalipse de São João ainda fala de 'um Eterno Evangelho', mas é apenas um sinal do momento da Gloriosa Volta de Jesus, o 'início' da eternidade: "Vi, então, outro anjo que voava pelo meio do Céu, tendo um Eterno Evangelho para anunciar aos habitantes da Terra, e a toda nação, tribo, língua e povo. '... é chegada a hora de Seu Julgamento.'" Ap 14,6-7


OS QUATRO SÍMBOLOS

    Os evangelistas, segundo a visão do Profeta Ezequiel, foram previamente representados pelas faces dos querubins, os anjos do Verbo. São João, cuja perspectiva demonstra a natureza divina de Jesus, foi associado à águia. São Lucas é representado pelo touro, que era um animal sacrificado no Templo. São Marcos tem como símbolo o leão, pois mostra Jesus como o Rei. E São Mateus é representado pelo anjo, porque tratou da natureza humana de Jesus.
    De fato, são quatro narrativas, mas um só Evangelho. O Livro do Profeta Ezequiel testifica: "Tive, então, uma visão... Distinguia-se no centro a imagem de quatro seres que aparentavam possuir forma humana. Cada um tinha quatro faces e quatro asas. De seus quatro lados saíam mãos humanas por debaixo de suas asas. Quanto ao aspecto de seus rostos, todos eles tinham figura humana, todos quatro, uma face de leão pela direita, todos quatro, uma face de touro pela esquerda, e todos quatro, uma face de águia. Cada qual caminhava para a frente: iam para o lado aonde os impelia o Espírito. Não se voltavam, enquanto iam andando." Ez 1,4a.5-6.8a.10.12
    E esses seres encontram-se imediatamente abaixo do trono de Deus: "Pairando acima desses seres, havia algo que se assemelhava a uma abóbada, límpida como cristal, estendida sobre suas cabeças. Sob essa abóbada, alongavam-se suas asas até tocarem-se, tendo cada um (sempre) duas que lhe cobriam o corpo. Acima dessa abóbada havia uma espécie de trono, semelhante a uma pedra de safira, e, bem no alto dessa espécie de trono, uma Humana Silhueta. Vi que Ela possuía um vermelho fulgor, como se houvesse sido banhada no fogo, desde o que parecia ser Sua cintura, para cima. Enquanto que, para baixo, vi algo como fogo que esparzia clarões por todos lados. Como o arco-íris que aparece nas nuvens em dias de chuva, assim era o resplendor que A envolvia. Esta era visão a imagem da Glória do Senhor." Ez 1,22-23.26-28
    Ora, como uma confirmação desta revelação, o Amado Discípulo também os viu perante Deus, e registrou: "Diante do trono e ao redor, estavam quatro animais vivos, cheios de olhos na frente e atrás. O primeiro animal vivo assemelhava-se a um leão, o segundo a um touro, o terceiro tinha um rosto como o de um homem, e o quarto era semelhante a uma águia em pleno voo. Estes animais tinham cada um seis asas cobertas de olhos por dentro e por fora. Não cessavam de clamar dia e noite: 'Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Dominador, Aquele que é, que era e o que deve voltar.' E cada vez que aqueles animais rendiam glória, honra e ação de graças Àquele que vive pelos séculos dos séculos, os vinte e quatro anciãos profundamente inclinavam-se diante d'Aquele que estava no trono e prostravam-se diante d'Aquele que vive pelos séculos dos séculos. E depunham suas coroas diante do trono, dizendo: 'Tu és digno Senhor, Nosso Deus, de receber a honra, a Glória e a majestade, porque criaste todas coisas, e por Tua vontade é que existem e foram criadas.'" Ap 4,6b-11

    "Esperamos entrar na Vida Eterna!"