terça-feira, 25 de julho de 2023

São Tiago Maior, Apóstolo


    São Tiago foi dos primeiros Apóstolos. Também é chamado de São Tiago Maior, para diferenciar de São Tiago, chamado Menor, que era parente de Jesus, como o nomeou São Marcos ao relatar a crucificação: "Achavam-se ali também umas mulheres, observando de longe, entre as quais Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, o Menor, e de José, e Salomé..." Mc 15,40
    Foi o primeiro mártir entre os Apóstolos. Após viagem em missão para anunciar a Vinda do Cristo em terras da Espanha, onde havia várias comunidades judaicas, ele foi decapitado ao retornar a Jerusalém, pois, sereno e destemido, não mais admitia calar-se justamente na Cidade Santa, como o próprio Jesus não Se calou. É muito provável que suas ostensivas presença e pregação tenha perturbado as autoridades, que já se viam atormentadas pelo crescimento do que chamavam a 'seita dos nazarenos', como vemos na acusação feita a São Paulo pelo advogado do sumo sacerdote: "Encontramos este homem, uma peste, um indivíduo que fomenta discórdia entre os judeus no mundo inteiro. É um dos líderes da seita dos nazarenos." At 24,5
    Mas nosso Santo apenas seguia fielmente o exemplo de Jesus e de São João Batista, e bravamente enfrentou o martírio. São Lucas, que não chegou a conhecê-lo, registrou: "Por aquele tempo, o rei Herodes tomou medidas visando maltratar alguns membros da Igreja. Mandou matar à espada Tiago, irmão de João." At 12,1-2


    Por Jesus, nosso Santo foi chamado junto a seu irmão, São João Evangelista, logo após os chamados de São Pedro e de Santo André, que eram seus companheiros de profissão e de cooperativa: "Uns poucos passos mais adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam numa barca, consertando as redes. E logo os chamou." Mc 1,19
    Seu pai, aliás, era homem de posses naquela pobre região, tinha empregados, o que explica a boa formação que ele e seu irmãos teriam: "Eles deixaram seu pai Zebedeu na barca com os empregados, e partiram, seguindo Jesus." Mc 1,20
    E desde então não mais parou de seguir o Mestre. Esteve com Jesus na casa de São Pedro desde a primeira visita: "Assim que saíram da sinagoga, dirigiram-se com Tiago e João à casa de Simão e André." Mc 1,29
    Rigoroso e sério, filho de sacerdote, e portanto levita, mereceu de Jesus um significativo apelido: "Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, aos quais pôs o nome de Boanerges, que quer dizer Filhos do Trovão." Mc 3,17
    Isto deu-se por causa de um marcante episódio, quando Jesus e os Apóstolos não foram bem recebidos num povoado de samaritanos, e ele e seu irmão, enraivecidos, não se contiveram: "'Senhor, queres que mandemos que desça fogo do Céu e consuma-os?' Jesus voltou-Se e severamente repreendeu-os. 'Não sabeis de que espírito sois animados. O Filho do Homem não veio para perder as vidas dos homens, mas para salvá-las.'" Lc 9,54
    Nosso Santo fazia parte de um pequeno grupo mais íntimo de Jesus, junto a São Pedro e São João, seu irmão, e por isso foi testemunha ocular da ressurreição da filha do chefe da sinagoga de Cafarnaum: "Tendo Jesus outra vez navegado para a margem oposta, de novo acorreu a Ele uma grande multidão. Ele achava-Se à beira do mar, quando um dos chefes da sinagoga, chamado Jairo, apresentou-se e, à Sua vista, lançou-se-Lhe aos pés, rogando-Lhe com insistência: 'Minha filhinha está nas últimas. Vem, impõe-lhe as mãos para que se salve e viva.' Enquanto ainda falava, chegou alguém da casa do chefe da sinagoga, anunciando: 'Tua filha morreu. Para que ainda incomodas o Mestre?' Ouvindo Jesus a notícia que era transmitida, dirigiu-Se ao chefe da sinagoga: 'Não temas. Crê somente.' E não permitiu que ninguém O acompanhasse, senão Pedro, Tiago e João, irmão de Tiago." Mc 5,21-23.35-37
    Depois vemos Jesus levando esse pequeno e privilegiado grupo à montanha onde Se transfigurou, no último dia útil da semana em que foi reconhecido por São Pedro como o Messias: "Seis dias depois, Consigo Jesus tomou Pedro, Tiago e João, seu irmão, e conduziu-os à parte a uma alta montanha. Lá transfigurou-Se na presença deles: Seu rosto brilhou como o sol, Suas vestes tornaram-se resplandecentes de brancura. E eis que apareceram Moisés e Elias conversando com Ele." Mt 17,1-3


    Tamanha intimidade tinham eles com Jesus que, num gesto de descabida pretensão, terminaram causando uma grande discussão entre os Apóstolos. É o que São Marcos relata: "Aproximaram-se de Jesus Tiago e João, filhos de Zebedeu, e disseram-Lhe: 'Mestre, queremos que nos concedas tudo que Te pedirmos. Concede-nos que nos sentemos na Tua Glória, um à Tua direita e outro à Tua esquerda.' Ouvindo isto, os outros dez começaram a indignar-se contra Tiago e João." Mc 10,35.37.41
    O mestre, no entanto, apenas prometeu que eles amargariam um 'batismo' igual ao Seu, referindo-Se ao testemunho de vida que eles dariam: "Jesus prosseguiu: 'Vós bebereis o cálice que Eu devo beber, e sereis batizados no batismo em que Eu devo ser batizado." Mc 10.39b
    Segundo São Mateus, porém, a mãe deles é que teria feito tal pedido, embora com a anuência deles: "Então aproximou-se a mãe dos filhos de Zebedeu com seus filhos, e prostrou-se diante de Jesus para fazer-Lhe uma súplica. Perguntou-lhe Ele: 'Que queres?' Ela respondeu: 'Ordena que estes meus dois filhos se sentem no Teu Reino, um à Tua direita e outro à Tua esquerda.'" Mt 20,20-21
    Esta senhora também era fiel seguidora de Jesus, como se vê durante a crucificação: "Havia ali também algumas mulheres que de longe olhavam. Tinham seguido Jesus desde a Galileia para servi-Lo. Entre elas achavam-se Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu." Mt 27,55-56
    Ela chamava-se Salomé, por informação que se obtém comparando esta narrativa de São Mateus com a de São Marcos, como vimos: "Achavam-se ali também umas mulheres, observando de longe, entre as quais Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, o Menor, e de José, e Salomé, que O tinham seguido e haviam-nO assistido, quando Ele estava na Galileia. E muitas outras que haviam subido juntamente com Ele a Jerusalém." Mc 15,40-41
    E também estava entre aquelas que foram ao sepulcro, no Domingo da Ressurreição, para ungir o Corpo de Jesus conforme os rituais judaicos: "Passado o sábado, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé compraram aromas para ungir Jesus. E no primeiro dia da semana, foram muito cedo ao sepulcro, mal o sol havia despontado." Mc 16,1-2
    Junto a São Pedro, esses altivos irmãos sempre achavam que podiam saber um pouco mais que os outros Apóstolos. Quiseram, por exemplo, saber quando se daria a destruição de Jerusalém e o fim dos tempos: "E estando sentado no monte das Oliveiras, defronte do Templo, perguntaram-Lhe à parte Pedro, Tiago, João e André: 'Dize-nos, quando hão de suceder essas coisas? E por que sinal se saberá que tudo isso vai realizar-se?'" Mc 13,3-4
    E no jardim do Getsêmani, na angústia da proximidade de Sua Paixão, mais uma vez Jesus tinha São Tiago junto a Si, sempre com São Pedro e São João: "Retirou-Se Jesus com eles para um lugar chamado Getsêmani e disse-lhes: 'Assentai-vos aqui, enquanto Eu vou ali orar.' E Consigo tomando Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-Se e a angustiar-Se. Disse-lhes, então: 'Minha alma está triste até a morte. Ficai aqui, e vigiai Comigo.'" Mt 26,36-38
    Por fim, junto a São Tomé, São Bartolomeu e São João, seu irmão, este inteligente Apóstolo foi testemunha da investidura do pontificado de São Pedro, ou seja, da entrega de todo rebanho de Cristo ao pescador galileu. Eles obedientemente acataram esta indicação do Mestre, postura que explica a reverência que os Onze tinham diante do Príncipe dos Apóstolos. São João Evangelista, seu irmão, narrou:

    "Depois disso, Jesus tornou a manifestar-Se a Seus discípulos junto ao lago de Tiberíades. Manifestou-Se deste modo: estavam juntos Simão Pedro, Tomé (chamado Dídimo), Natanael (que era de Caná da Galileia), os filhos de Zebedeu e outros dois de Seus discípulos. Disse-lhes Simão Pedro:
    - Vou pescar.
    Responderam-lhe eles:
    - Nós também vamos contigo.
    Partiram e entraram na barca.
    Chegada a manhã, Jesus estava na praia. Esta já era a terceira vez que Jesus Se manifestava a Seus discípulos, depois de ter ressuscitado. Tendo eles comido, Jesus perguntou a Simão Pedro:
    - Simão, filho de João, amas-Me mais do que estes?
    Respondeu ele:
    - Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo.
    Disse-lhe Jesus:
    - Apascenta Meus cordeiros. Apascenta Minhas ovelhas.'"
                                    Jo 21,1-3a.4a.14-15.17b

    Quanto ao retorno de São Tiago Maior à Cidade Santa depois da passagem pela Espanha, e a respeito do 'batismo' que padeceria, Jesus havia afirmado: "... não é admissível que um Profeta morra fora de Jerusalém." Lc 13,33
    Outro importante detalhe a respeito de sua passagem pela Espanha, é que, antes de retornar a Israel para sofrer seu martírio, São Tiago teve na cidade de Saragoça uma visão da Virgem Maria, que à época ainda era viva, chamando-o a Éfeso. Tal fato encaixa-se perfeitamente com a 'História dos últimos anos de Nossa Senhora', conforme as visões da Beata Anna Catarina Emmerich, que relata um último encontro dos Doze Apóstolos com a Santa Mãe de Deus nos dias que antecederam sua morte e a Assunção aos Céus.


    Como essa aparição deu-se em cima de um pilar, aí nasceu a mais antiga das devoções à Santíssima Virgem: Nossa Senhora do Pilar.
    Também há relatos de que, antes de chegar a Espanha, São Tiago Maior tenha passado por algumas cidades de Portugal, entre elas a milenar Braga, o que é muito provável pois foi viajando por mar que ele chegou a estas terras e voltou a Israel.
    E a Espanha sempre esteve entre os objetivos dos Apóstolos. Tanto que, a após a morte de São Tiago, São Paulo manifestou na Carta aos Romanos a intenção de evangelizar esta então colônia romana: "... espero ver-vos de passagem, quando eu for a Espanha. Também espero ser por vós até lá conduzido, depois que tiver satisfeito, ao menos em parte, meu desejo de estar convosco." Rm 15,24
    Como São Tiago Maior havia expresso o desejo de retornar a Espanha, a tradição diz-nos que seus restos mortais foram levados para lá por seus seguidores com a anuência do próprio São Pedro, de quem, como vimos, era muito próximo. Com efeito, há uma urna na cripta da Catedral de Compostela cujas relíquias são reconhecidas como suas. Notavelmente, e dando maior credibilidade a essa tradição, dos lados há dois túmulos, com muito antigas de nomes inscrições de dois de seus conhecidos seguidores.
    O povoado romano do século I em terras espanholas, provavelmente por nome de Aseconia, onde seus restos foram sepultados, veio a desaparecer com o fim do Império Romano na Europa, no século V. Mas como sinal de significativo respeito ao longo dos séculos, o que é um indicativo da presença das relíquias desse seguidor de Cristo, seu cemitério permaneceu ativo. Por revelação, em sonho, seu túmulo aí foi reencontrado em 814 por um eremita cristão. A partir de então, o lugarejo ressurgiu vigoroso, levando seu nome, e sobre seu túmulo ergueu-se a famosa Catedral.


    São Tiago Maior, rogai por nós!