domingo, 16 de julho de 2023

Nossa Senhora do Carmo


    A Montanha ou o Monte do Carmo, ou do Carmelo, foi onde Elias, o grande Profeta de Israel, desafiou os profetas dos falsos deuses e impôs-lhes fragorosa derrota. E desafiou não só a eles, mas também Acab, o rei de Israel, e Jezabel, sua esposa, que haviam abraçado heresias: "Ao vê-lo, Acab disse-lhe: 'Eis-te aqui, o perturbador de Israel!' 'Não sou eu o perturbador de Israel', respondeu Elias, 'mas tu, sim, e a casa de teu pai, porque abandonastes os preceitos do Senhor e tu seguiste aos baals. Convoca, pois, à Montanha do Carmelo, junto de mim, todo Israel com os quatrocentos e cinquenta profetas de Baal e os quatrocentos profetas de Asera, que comem à mesa de Jezabel.'" 1 Rs 18,18-19
    Foi lá, nesta mesma ocasião, que Javé, invocado por Elias, a todos presentes revelou-Se Deus Onipotente: "Javé então mandou um raio que consumiu a vítima, a lenha, as pedras e as cinzas, e secou a água que estava no rego. O povo viu tudo isso e prostrou-se no chão, exclamando: 'Javé é o Deus verdadeiro! Javé é o Deus verdadeiro!'" 1 Rs 18,38-39
    E após Elias ser arrebatado aos Céus, Eliseu, seu discípulo, nele continuou a fazer seus retiros, como após passar por Jericó e Betel realizando milagres: "Dali, retirou-se para o Monte Carmelo..." 2 Rs 2,25
    Ele chegou a morar lá, onde uma mãe foi pedir pela ressurreição de seu filho, e assim acabou atendida: "Chamou o marido e disse-lhe: 'Manda comigo um escravo e uma jumenta, para que eu vá à casa do homem de Deus e volte.' Ela partiu e chegou aonde estava o homem de Deus, no Monte Carmelo." 2 Rs 4,22.25


    Assim o Monte Carmelo tornou-se lugar sagrado para os judeus desde os tempos de Elias, e em especial porque os religiosos aguardavam sua volta, que se daria antes da vinda do Messias, como Deus havia prometido através do Profeta Malaquias: "Eis que vou enviar-vos o Profeta Elias, antes de chegar o grandioso e terrível Dia de Javé." Ml 3,23
    Essa profecia cumpriu-se na pessoa de São João Batista, como Jesus disse: "Porque os Profetas e a Lei tiveram a Palavra até João. E se quereis compreender, ele é o Elias que devia voltar." Mt 11,13-14
    Pois assim como aconteceu com Eliseu, não era exatamente a pessoa Elias que retornaria, mas o Espírito Santo que nele agia: "Os filhos dos Profetas que estavam em Jericó, vendo o que acontecera defronte deles, disseram: 'O Espírito de Elias repousa em Eliseu.'" 2 Rs 2,15a
    Foi isso que o Arcanjo Gabriel disse a Zacarias, pai de São João Batista: "... porque ele será grande diante do Senhor e não beberá vinho nem cerveja, e desde o ventre de sua mãe será cheio do Espírito Santo. Ele converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, Seu Deus, e irá adiante de Deus com o Espírito e o poder de Elias..." Lc 1,15-17a
    E como Deus prometeu, o Profeta do Altíssimo foi um ferrenho defensor do Matrimônio e da família, inclusive vindo a ser martirizado por isso, ao denunciar o adultério de Herodes: "... e ele converterá o coração dos pais aos filhos e o coração dos filhos aos pais, de sorte que não mais ferirei de interdito a terra." Ml 3,24
    Importante detalhe, pois acena para a Vida Eterna, é que Elias não morreu. Ele foi arrebatado aos Céus quando estava às margens do Jordão, após uma miraculosa travessia que lembra Moisés e o povo de Israel passando pelo Mar Vermelho: "... Elias e Eliseu detinham-se à beira do Jordão. Elias tomou seu manto, dobrou-o e com ele feriu as águas, que se separaram para as duas bandas, de modo que ambos atravessaram a pé enxuto. Continuando seu caminho, entretidos a conversar, eis que de repente um carro de fogo com cavalos de fogo separou-os um do outro, e Elias subiu ao Céu num turbilhão." 2 Rs 2,7-8.11
    Não por acaso, o local dos batismos realizados por São João Batista era exatamente às margens do rio Jordão: "Confessavam seus pecados e por ele eram batizados nas águas do Jordão." Mt 3,6
    O verdadeiro Elias, aliás, vai aparecer a Jesus no Dia de Sua Transfiguração, no último dia 'útil' da semana em que São Pedro O identificou como o Cristo: "Seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e conduziu-os à parte a uma alta montanha. Lá transfigurou-Se na presença deles: Seu rosto brilhou como o sol, Suas vestes tornaram-se resplandecentes de brancura. E eis que apareceram Moisés e Elias conversando com Ele." Mt 17,1-3
    E mesmo com o Advento do Cristo, as práticas religiosas no Carmelo não pararam. Eremitas e monges contemplativos cristãos continuaram a buscá-lo como um sagrado lugar. Muitos teriam vivido aí por toda vida, habitando em cavernas. Ainda hoje há uma delas à qual é atribuída o local de retiro de Elias, o que é bastante provável tanto pela veneração ao Profeta, cultuada através dos séculos, como por esta ter sido uma de suas práticas. De fato, há registro de que ele se tenha refugiado por uns tempos numa caverna no Horeb, outro monte sagrado. Diz o Primeiro Livro de Reis: "Elias levantou-se, comeu e bebeu e, com o vigor daquela comida, andou quarenta dias e quarenta noites, até Horeb, a montanha de Deus. Chegando ali, passou a noite numa caverna. Então a Palavra do Senhor foi-lhe dirigida: 'Que fazes aqui, Elias?'" 1 Rs 19,8-9


    Segundo um antigo livro carmelita, a pequena nuvem vista pelo servo de Elias, que, como ele havia profetizado, acabaria com os anos de seca, é uma prefigura da Santíssima Virgem, aquela que traria a Salvação à humanidade: Jesus, definitivo saciador de toda sede de justiça. De fato, de sua humilde pequenez nasceu o Cristo: "E Maria disse: 'Minha alma glorifica ao Senhor, meu espírito exulta de alegria em Deus, Meu Salvador, porque olhou para sua pobre serva. Por isto, desde agora, todas gerações irão proclamar-me bem-aventurada, porque em mim realizou maravilhas Aquele que é poderoso, e Cujo Nome é Santo.'" Lc 1,46-49
    Diz a passagem que cita esta nuvem: "... Elias subiu ao cimo do monte Carmelo, onde se encurvou por terra, pondo a cabeça entre os joelhos. Disse ao seu servo: 'Sobe um pouco, e olha para as bandas do mar.' Na sétima vez, o servo respondeu: 'Eis que sobe do mar uma pequena nuvem, do tamanho da palma da mão.' Elias disse-lhe: 'Vai dizer a Acab que prepare seu carro e desça, para que a chuva não o detenha.'" 1 Rs 18,42b.43a.44
    Também há relatos de que, no ano de 93 de nossa era, sobre o Monte Carmelo foi erigido um oratório a Maria. Tal informação encaixa-se perfeitamente com a situação dos cristãos na região, pois, por volta do ano de 70, Jerusalém foi destruída pelos romanos. Certamente, tal oratório foi levantado por eremitas que já tinham conhecimento da Assunção e da Coroação de Nossa Senhora, e eram cultores da devoção à Santíssima Virgem, como a comunidade com a qual São Lucas teve contato para escrever o início de seu Evangelho.
    Sem dúvida, Maria é a Verdadeira Arca da Aliança como São João Evangelista descreveu no Apocalipse: "Abriu-se o Templo de Deus no Céu e apareceu, no Seu Templo, a Arca de Seu Testamento. Houve relâmpagos, vozes, trovões, terremotos e forte saraiva. Apareceu, em seguida, um grande sinal no Céu: uma Mulher revestida do sol, tendo a lua debaixo de seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas." Ap 11,19;12,1
    Mas só com o constante fluxo de peregrinação de europeus à Terra Santa, manifestação religiosa que maldosamente foi generalizada como sendo Cruzadas, alguns monges, em específico no século XI, resolveram estabelecer aí uma construção mais sólida para servir-lhes de convento. Eram as primícias do Mosteiro Stella Maris. Apesar das frequentes batalhas que se deram por estas terras, tal obra só foi possível porque o Carmelo fica à margem do Mar Mediterrâneo, perto do porto da atual Haifa, antiga Porfiria. E são desses séculos as informações mais concretas e precisas dos costumes Carmelitas.


    É em 1209 que Santo Alberto, Bispo de Jerusalém, grande pacificador de vários conflitos internacionais, escreve a Regra do Carmo, também chamada de Regra Albertina. Em 1226 Papa Honório III dá sua aprovação, mas, após algumas relevantes questões canônicas, só com o Papa Inocêncio IV, em 1252, sai a definitiva aprovação. Assim nascia a Ordem do Carmo.
    No final do século XIII, porém, com a disseminação das invasões muçulmanas na região, em grande parte insufladas por guerreiros que perderam dominações para o Império de Gengis Khan, a Ordem vê-se obrigada a migrar para a Europa após o assassinato de alguns monges carmelitas junto à fonte de Elias, local que ficou conhecido como o Vale dos Mártires.


    Contudo, em 1213 a Ordem já havia chegado à longínqua Inglaterra, pois como iria confirmar um capítulo realizado em 1237, a maior parte dos monges decidiu deixar o Monte Carmelo por conta destas frequentes hostilidades.
    Lá entre os ingleses, no condado de Kent, havia quase vinte anos um eremita morava num tronco de carvalho. E ao ouvir falar da recém-chegada Ordem Carmelita, e da devoção por Nossa Senhora, ele pediu para ingressar como noviço. Por suas tão intensas práticas espirituais, já em 1215 ele foi eleito Coadjutor Geral da Ordem. É nessa condição que São Simão Stock vai a Roma e do Papa Honório III consegue a primeira aprovação da Ordem, e em 1245 é eleito Superior Geral.
    Mas a Ordem Carmelitana não tinha descanso. Sofria virulentos ataques de fora e de dentro da Igreja, que tinham a declarada intenção de anular a aprovação do Papa. A solução de que São Simão dispunha era fervorosamente rezar a Nossa Senhora, implorando-lhe intercessão.
    Foi quando em 16 de julho de 1251 ele teve uma esplendorosa visão: Maria apareceu-lhe com o Menino Jesus no braço, entregou-lhe um Escapulário e disse: "Filho diletíssimo, recebe o Escapulário de tua Ordem, especial sinal de minha fraterna amizade, privilégio para ti e todos carmelitas. Aqueles que morrerem com este Escapulário não padecerão o fogo do inferno. É sinal de Salvação, amparo e proteção nos perigos, e aliança de Paz para sempre."


    Outro muito expressivo sinal, que demonstra a perfeita coerência das mensagens, e assim a veracidade de suas aparições, é o fato de Nossa Senhora ter-se apresentado precisamente como essa mesma imagem na última e mais importante Aparição de Fátima, na Aparição de Garabandal e ainda na Aparição de Cimbres, quando veio ao Brasil pedir penitência e conversão. Aliás, a última Aparição de Lourdes também foi num dia 16 de julho.
    A palavra escapulário vem de escápula, ou omoplata. É uma longa vestimenta de tecido, aberta dos lados e que recobre as costas, os ombros e o peito, como usam os carmelitas. Mas, como sacramental, ele foi simplificado na forma de dois colares: um com a imagem de Nossa Senhora com o Menino Jesus no braço e outra com a imagem do Sagrado Coração de Jesus. Ou ainda, como foi autorizada pelo Papa São Pio X, na forma de uma medalha, com as mesmas imagens, uma em cada lado. Lembra-se, porém, de um detalhe de suma importância para a obtenção da promessa: além do fiel precisar estar em dia com os Sacramentos, o escapulário deve ser benzido por um Sacerdote.
    Essa simples e especial devoção também assegura-nos o 'Privilégio Sabatino', que consiste noutra promessa feita por Nossa Senhora, em aparição ao Papa João XXII, garantindo que quem usasse o Escapulário, e estivesse sob a Graça de todos Sacramentos, caso tivesse algum pecado a ser depurado no Purgatório, não importando a gravidade, de lá seria por ela resgatado já no primeiro sábado após a morte.


    Só podemos agradecer a Nossa Santíssima Mãe por sua intercessão de tamanha Graça. Com tão singelo instrumento, ela vem livrar-nos não só do inferno, mas também de um período maior que uma semana nos sofrimentos do Purgatório. É muito amor em troca de tão pequeno esforço. Sem dúvida, Maria é o maior reflexo de Deus, e o mais claro sinal de Sua bondade.

    Nossa Senhora do Carmo, rogai por nós!