quinta-feira, 10 de julho de 2025

Imagem e Semelhança de Deus


    Por poderoso efeito da Palavra de Deus, bem sabemos o Modelo do Qual fomos feitos. Está no livro de Gênesis, num colóquio da Santíssima Trindade: "Então Deus disse: 'Façamos o homem a Nossa imagem e semelhança.'" Gn 1,26
    Mas muito nos falta para reconhecermos que, depois do amor de Deus, esse é o bem que temos de mais precioso, e a prova disto é o quanto de Sua semelhança já perdemos. Nossa imagem, no entanto, ainda é uma lembrança, um visível e gritante apelo para que nossos olhos se abram. É para isso que Jesus nos alerta, no Evangelho Segundo São Mateus, quando falou do necessário retorno à dignidade de nossa verdadeira filiação, invocando o Livro de Levítico: "Portanto, sede Santos, assim como Vosso Pai Celeste é Santo (Lv 19,2)." Mt 5,48
    E é exatamente isso que Ele nos faz lembrar logo após ressuscitar, no Evangelho Segundo São João, quando diz a Santa Maria Madalena, enviando-a aos Apóstolos: "... mas vai a Meus irmãos e dize-lhes: 'Subo para Meu Pai e Vosso Pai, Meu Deus e Vosso Deus.'" Jo 20,17b
    Ao tirar o pecado do mundo, de fato, a Missão de Jesus é ajudar o ser humano a resgatar essa semelhança perdida. Ele veio restaurar o povo de Deus, precisamente como Lhe disseram Seus desenganados discípulos que iam para Emaús na tarde do Domingo da Páscoa, achando que tudo havia acabado na Cruz. Está no Evangelho Segundo São Lucas: "Nós esperávamos que fosse Ele Quem havia de redimir Israel..." Lc 24,21
    E foi igualmente isso que o Anjo da Guarda de São José lhe disse, quando explicou a gravidez de Nossa Senhora: "Ela dará à luz um Filho, a Quem porás o Nome de Jesus, porque Ele salvará Seu povo de seus pecados." Mt 1,21
    Esta é a restauração das coisas conforme eram 'no princípio', pelo aperfeiçoamento da consciência, como a Carta de São Paulo aos Colossenses pregou: "Vós despiste-vos do velho homem com seus vícios, e revestiste-vos do novo, que constantemente vai restaurando-se à imagem d'Aquele que o criou, até atingir o perfeito conhecimento." Cl 3,9-10
    A Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios exortava: "O primeiro homem, tirado da terra, é terreno. O Segundo veio do Céu. Qual o homem terreno, tais os homens terrenos, e qual o Homem Celestial, tais os homens celestiais. Assim como reproduzimos em nós as feições do homem terreno, precisamos reproduzir as feições do Homem Celestial." 1 Cor 15,47-49
    Entretanto, dada a onisciência de Deus, é evidente que nosso conhecimento sobre Ele continua incompleto: "Hoje vemos como por um espelho, confusamente, mas então veremos face a face. Hoje conheço em parte, mas então conhecerei totalmente, como eu sou conhecido." 1 Cor 13,12
    Pois através da Manifestação do Cristo, conforme a Segunda Carta de São Pedro, Deus nos franqueou tudo de que precisamos para viver a plena religiosidade, e assim chegarmos à Vida Eterna: "O divino poder deu-nos tudo que contribui para a Vida e a piedade, fazendo-nos conhecer Aquele que nos chamou por Sua Glória e Sua virtude." 2 Pd 1,3
    E por força da Comunhão, a Primeira Carta de São João garante: "Sabemos que o Filho de Deus veio e nos deu entendimento para conhecermos o Verdadeiro. E estamos no Verdadeiro, nós que estamos em Seu Filho Jesus Cristo." 1 Jo 5,20a
    Deste modo, não apenas nosso conhecimento, mas nossa imagem também avança gradativamente tendo como fonte de renovação o próprio Espírito Santo, a própria Luz de Cristo. A Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios diz: "Ora, o Senhor é o Espírito, e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade. Mas todos nós temos o rosto descoberto, refletimos como num espelho a Glória do Senhor e vemo-nos transformados nesta mesma imagem, sempre mais resplandecentes, pela ação do Espírito do Senhor." 2 Cor 3,17-18
    Sem dúvida, em diálogo com Deus, o rei Davi perguntava-se no Livro de Salmos: "Que é o homem, digo-me então, para nele pensardes? Que são os filhos de Adão, para que vos ocupeis com eles?" Sl 8,5
    Mas, uma vez inspirado, ele mesmo responde: "Entretanto, Vós fizeste-lo pouco menos que um deus, de Glória e honra coroaste-lo. Deste-lhe poder sobre as obras de Vossas mãos, Vós submeteste-lhe todo universo." Sl 8,6-7
    Nesse sentido, o Apóstolo dos Gentios reconhece e atesta: "Por isso, daqui em diante a ninguém nós conhecemos de um humano modo. Muito embora tenhamos considerado Cristo dessa maneira, agora já não O julgamos assim. Todo aquele que está em Cristo é uma nova criatura. Passou o que era velho. Eis que tudo se fez novo!" 2 Cor 5,16-17
    De sua grande Comunhão com Deus, eis que a Carta de São Paulo aos Gálatas afirma: "Eu vivo, mas já não sou eu. É Cristo que vive em mim." Gl 2,20a
    E a Carta de São Paulo aos Filipenses assegura: "Nós, porém, somos cidadãos dos Céus. É de lá que ansiosamente esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará nosso mísero corpo, tornando-o semelhante a Seu Corpo glorioso..." Fl 3,20-21
    Porque, tomando por base a Beatífica VisãoSão João Evangelista afirma que só ao entrar na eternidade recuperaremos completamente a semelhança divina: "Caríssimos, desde agora somos filhos de Deus, mas ainda não se manifestou o que havemos de ser. Sabemos que, quando isto se manifestar, seremos semelhantes a Deus, porquanto O veremos como Ele é." 1 Jo 3,2


SOIS DEUSES

    Mas Nosso Senhor garantiu que algumas condições divinas já nos foram antecipadas: "Não está escrito em vossa Lei: 'Eu disse: Vós sois deuses' (Sl 81,6)? Se a Lei chama deuses àqueles a quem a Palavra de Deus foi dirigida (ora, a Escritura não pode ser desprezada)..." Jo 10,34-35
    E que podemos viver na carne a semelhança de Deus, Ele demonstrou com Sua vida. São Paulo recita o Hino Cristológico: "Sendo Ele de condição divina, não Se prevaleceu de Sua igualdade com Deus, mas aniquilou a Si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-Se aos homens." Fl 2,6-7
    Contudo, isso só nos é possível pela unção do Espírito Santo, como está na Carta de São Paulo aos Romanos, que contrasta o Novo com o Antigo Testamento: "A Lei do Espírito de Vida libertou-me, em Jesus Cristo, da Lei do pecado e da morte. O que era impossível à Lei, visto que a carne a tornava impotente, Deus fez. Enviando, por causa do pecado, Seu próprio Filho numa carne semelhante à do pecado, condenou o pecado na carne, a fim de que a justiça prescrita pela Lei fosse realizada em nós, que vivemos não segundo a carne, mas segundo o Espírito." Rm 8,2-4
    Ora, a perfeição que Jesus encarnou foi percebida pela gente de Cafarnaum ao presenciar um milagre: "Jesus, penetrando-lhes os pensamentos, perguntou-lhes: 'Por que pensais mal em vossos corações? Que é mais fácil dizer: 'Teus pecados são-te perdoados', ou: 'Levanta-te e anda?' Ora, para que saibais que na Terra o Filho do Homem tem o poder de perdoar os pecados: Levanta-te', disse Ele ao paralítico, 'toma tua maca e volta para tua casa.' Levantou-se aquele homem e foi para sua casa. Vendo isto, a multidão encheu-se de medo e glorificou a Deus, por ter dado tal poder aos homens." Mt 9,4-8
    Aos Apóstolos, Jesus explicava nestes termos Sua natureza divina em Sua natureza humana: "Não credes que estou no Pai, e que o Pai está em Mim? As Palavras que vos digo não as digo de Mim mesmo, mas o Pai, que permanece em Mim, é que realiza Suas próprias obras. Crede-Me: estou no Pai, e o Pai em Mim. Crede-o ao menos por causa destas obras." Jo 14,10-11
    E por isso Ele prometia: "Em Verdade, em Verdade, digo-vos: aquele que crê em Mim também fará as obras que Eu faço, e fará ainda maiores que estas, porque vou para junto do Pai." Jo 14,12
    Assim, convidando à total entrega à Divina Providência, Nosso Salvador faz uma grandiosa proposta ao rico jovem, que se julgava cumpridor de todos Mandamentos: "Respondeu Jesus: 'Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no Céu. Depois, vem e segue-Me!'" Mt 19,21
    E disse o mesmo aos Apóstolos, discípulos e seguidores: "Assim, pois, qualquer um de vós que não renuncia a tudo que possui, não pode ser Meu discípulo." Lc 14,33
    Ora, enquanto Deus, Jesus exige ser amado sobre todas coisas e pessoas: "Quem ama seu pai ou sua mãe mais que a Mim, não é digno de Mim. Quem ama seu filho mais que a Mim, não é digno de Mim. Quem não toma sua cruz e não Me segue, não é digno de Mim." Mt 10,37-38
    É o Cristo, portanto, em Sua total submissão ao Pai, que devemos fielmente seguir. São Paulo pergunta: "Ou ignorais que todos que fomos batizados em Jesus Cristo, fomos batizados em Sua Morte? Fomos, pois, sepultados com Ele em Sua morte pelo Batismo para que, como Cristo ressurgiu dos mortos pela Glória do Pai, assim nós também vivamos uma Nova Vida. Se com Ele fomos feitos o mesmo Ser, por uma morte semelhante à Sua, sê-lo-emos igualmente por uma comum Ressurreição." Rm 6,3-5
    Pois só Ele, o Visível do Invisível, Aquele que em Si tem toda pureza do projeto original, pode restituir-nos a semelhança do Pai: "Ele é a imagem de Deus invisível, o Primogênito de toda Criação." Cl 1,15
    São João Apóstolo completa: "Tudo foi feito por Ele, e sem Ele nada foi feito." Jo 1,3
    Já a Carta de São Paulo aos Efésios diz que Ele é a medida de todas coisas: "Mas a cada um de nós foi dada a Graça, segundo a medida do dom de Cristo..." Ef 4,7
    E segundo seus seguidores, na Carta aos Hebreus, Ele é o "... Esplendor da Glória de Deus e imagem de Seu ser, sustenta o universo com o poder de Sua Palavra." Hb 1,3
    Ele trouxe-nos a imortalidade pela Ressurreição da Carne, segundo este próprio Apóstolo: "Assim como em Adão todos morrem, assim em Cristo todos reviverão." 1 Cor 15,12
    Trouxe-nos a plena Comunhão com Deus: "... Aquele que se une ao Senhor, com Ele torna-se um só Espírito." 1 Cor 6,17
    E concedeu a Divina Glória aos Apóstolos, assim como a nós, para que pudéssemos ser a Santa Igreja Católica, que é Una, e por isso é a prova de Seu Advento e do amor de Deus. Ele rezou ao Pai: "Dei-lhes a Glória que Me deste, para que sejam Um, como Nós somos Um: Eu neles e Tu em Mim, para que sejam perfeitos na Unidade e o mundo reconheça que Me enviaste e os amaste, como amaste a Mim." Jo 17,22-23
    Com efeito, Jesus representa a Recriação, o Novo Adão, como São Paulo diz: "Como está escrito: 'O primeiro homem, Adão, foi feito vivente alma (Gn 2,7); o segundo Adão é Vivificante Espírito." 1 Cor 15,45
    Quanto a nossa condição de mortal, Jesus mesmo assegura: "Eu sou a Ressurreição e a Vida. Aquele que crê em Mim, ainda que esteja morto, viverá." Jo 11,25
    E quanto ao destino, à realidade e à motivação de toda humanidade, Ele disse: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida..." Jo 14,6

IMITADORES DE DEUS

    Por Sua perfeita Comunhão com o Pai, pois, Jesus anuncia Sua vontade, que é pura transcendência: "... Seu Mandamento é Vida Eterna." Jo 12,50
    E a todos convidou a abandonar o pecado e a participar de Sua natureza divina, como o Príncipe dos Apóstolos ensina: "... temos entrado na posse das maiores e mais preciosas promessas, a fim de tornar-vos por este meio participantes da natureza divina, subtraindo-vos à corrupção que a concupiscência gerou no mundo." 2 Pd 1,4
    Sem dúvida, por Jesus recebemos especiais dons para cooperarmos na construção do Reino de Deus, o que especialmente acontece com nossos Sacerdotes, leigos e ordenados. É leitura da Primeira Carta de São Pedro: "Como bons dispensadores das diversas Graças de Deus, cada um de vós ponha à disposição dos outros o dom que recebeu: a Palavra, para anunciar as mensagens de Deus; um Ministério, para exercê-lo com uma divina força, a fim de que em todas coisas Deus seja glorificado por Jesus Cristo." 1 Pd 4,10-11b
    E assim como Cristo, ele faz-nos recordar nossa real natureza: "À maneira de obedientes filhos, já não vos amoldeis aos desejos que antes tínheis, no tempo de vossa ignorância. À exemplo da santidade d'Aquele que vos chamou, também sede vós Santos em todas vossas ações, pois está escrito: 'Sede Santos, porque Eu sou Santo (Lv 11,44).'" 1 Pd 1,14-16
    Pois o Pai quer oferecer-nos Sua santidade, como os discípulos de São Paulo diziam: "Aliás, temos na Terra nossos pais que nos corrigem e, no entanto, os olhamos com respeito. Com quanto mais razão havemos de submeter-nos ao Pai de nossas almas, o Qual nos dará a Vida? Os primeiros educaram-nos para pouco tempo, segundo sua própria conveniência, ao passo que Este o faz para nosso bem, para comunicar-nos Sua Santidade." Hb 12,9-10
    São Paulo, no mesmo sentido, exorta-nos a uma verdadeira integridade de corpo e alma: "... a fim de serdes irrepreensíveis e inocentes, filhos de Deus, íntegros em meio a uma depravada e maliciosa sociedade..." Fl 2,15
    Indica o que devemos fazer: "Cumpre, somente, que em vosso proceder vos mostreis dignos do Evangelho de Cristo." Fl 1,27
    Diz: "Sede, pois, imitadores de Deus, como muito amados filhos." Ef 5,1
    Sugere: "Tornai-vos meus imitadores, como eu o sou de Cristo." 1 Cor 11,1
    E reconhece: "E vós fizeste-vos imitadores nossos e do Senhor ao receberdes a Palavra, apesar das muitas tribulações, com a alegria do Espírito Santo, de sorte que vos tornastes modelo para todos fiéis de Macedônia e de Acaia." 1 Ts 1,6-7
    Jesus, de fato, garantiu: "O discípulo não é superior ao Mestre. Mas todo perfeito discípulo será como Seu Mestre." Lc 6,40
    Por isso, pedia: "Tomai Meu jugo sobre vós e aprendei de Mim, porque Eu sou manso e humilde de Coração, e achareis repouso para vossas almas." Mt 11,29
    Deu luminosos exemplos: "Logo, se Eu, Vosso Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós também deveis lavar-vos os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo para que, como Eu vos fiz, assim façais vós." Jo 13,14-15
    E estabeleceu Seu amor como parâmetro: "Dou-vos um Novo Mandamento: amai-vos uns aos outros. Como Eu vos tenho amado, assim vós deveis amar-vos uns aos outros." Jo 13,34
    Ora, Ele apontava Sua fonte de inspiração: "Em Verdade, em Verdade, digo-vos: de Si mesmo o Filho não pode fazer coisa alguma. Ele só faz o que vê o Pai fazer. E tudo que o Pai faz, também faz o Filho." Jo 5,19b
    Já havia dito no Sermão da Montanha: "Eu, porém, digo-vos: amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, rezai pelos que vos maltratam e perseguem. Deste modo sereis os filhos de Vosso Pai do Céu, pois Ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos." Mt 5,44-45
    Falando como mero ser humano, Ele repetia: "De Mim mesmo, não posso fazer coisa alguma." Jo 5,30a
    E como poderíamos viver a sem assumirmos a Divina Paternidade que temos? São João Evangelista anima-nos: "Considerai com que amor nos amou o Pai, para que sejamos chamados filhos de Deus." 1 Jo 3,1
    Ora, ser acolhido por Deus como filhos é nossa maior realização. São Paulo diz: "Por isso, a criação ansiosamente aguarda a manifestação dos filhos de Deus. Pois a criação foi sujeita à vaidade... todavia com a esperança de ser ela também libertada do cativeiro da corrupção, para participar da gloriosa liberdade dos filhos de Deus." Rm 8,19-20a.21
    O Amado Discípulo aponta a verdadeira e divina filiação, e assim a santidade, pela perfeita ação do Espirito Santo em nós: "Todo aquele que é nascido de Deus não peca, porque nele reside o divino germe..." 1 Jo 3,9a
    Mas igualmente, como contrapartida nossa, pela virtude da prudência: "... o que é gerado de Deus se acautela, e o Maligno não o toca." 1 Jo 5,18b
    E afirma o dom da fé: "... porque todo aquele que nasceu de Deus, vence o mundo. E esta é a Vitória que vence o mundo: nossa fé." 1 Jo 5,4
    São Paulo, porém, adverte dos diferentes graus de fé que recebemos: "Em virtude da Graça que me foi dada, recomendo a todos e a cada um: não façam de si próprios uma opinião maior que convém, mas um razoavelmente modesto conceito, de acordo com o grau de fé que Deus lhes distribuiu." Rm 12,3
    Faz-nos lembrar o poder da Graça, em oposição ao Antigo Testamento: "O pecado já não vos dominará, porque agora não estais mais sob a Lei, e sim sob a Graça." Rm 6,14
    
E a Segunda Carta de São Paulo aos Tessalonicenses dela fala como a força de Deus: "Mas o Senhor é fiel, e Ele há de dar-vos forças e preservar-vos do Mal." 2 Ts 3,3
    A Carta de São Tiago, por sua vez, garante-nos a plena liberdade pela obediência ao Pai: "Sede submissos a Deus. Resisti ao Demônio, e ele fugirá para longe de vós." Tg 4,7


A MOÇÃO DO ESPÍRITO SANTO

    Pois como vimos São Paulo dizer, para nossa definitiva libertação Deus enviou-nos Seu Espírito. Ele repete este argumento: "Porquanto não recebestes um espírito de escravidão para viverdes ainda no temor, mas recebestes o Espírito de Adoção pelo qual clamamos: 'Aba! Pai!'" Rm 8,15
    Ele é a garantia da filiação: "... pois todos que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus." Rm 8,14
    Propriamente, é o selo e o penhor: "Ora, Quem nos confirma a nós e a vós em Cristo, e nos consagrou, é Deus. Ele marcou-nos com Seu selo e deu a nossos corações o penhor do Espírito." 2 Cor 1,21-22
    Assim, a divulgação dos ensinamentos de Jesus é o caminho para que a humanidade alcance a fé em Sua divina manifestação, pois, segundo São João Evangelista, "... a todos aqueles que O receberam, àqueles que creem em Seu Nome, deu-lhes o poder de tornarem-se filhos de Deus..." Jo 1,12
    Todo empenho missionário, portanto, é para que possamos viver nossa vocação espiritual que é a Paz de Cristo, como Ele mesmo pregou no Sermão da Montanha: "Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus!" Mt 5,9
    E, enfim, para que vivamos a Verdade, como o Amado Discípulo ensina: "É nisto que se conhece quais são os filhos de Deus e quais os do Demônio: todo aquele que não pratica a justiça não é de Deus, como também aquele que não ama seu irmão." 1 Jo 3,10
    Pois só assim podemos perceber a grandeza do Pai, como os próprios pagãos já faziam, nas palavras de São Paulo: "Desde a Criação do mundo, as invisíveis perfeições de Deus, Seu sempiterno poder e divindade, tornam-se visíveis à inteligência por Suas obras, de modo que não podem escusar-se." Rm 1,20
    E é por Sua vontade, e exclusivamente por ela, que Deus realiza Seus planos, inclusive em nós: "Porque é Deus, segundo Seu beneplácito, Quem realiza em vós o querer e o executar." Fl 2,13
    Cabe a nós, portanto, a Ele docilmente obedecer, tal qual o exemplo de Cristo Crucificado, nosso Modelo: "Embora fosse Filho de Deus, aprendeu a obediência por meio dos sofrimentos que teve." Hb 5,8
    Pois para tanto recebemos Seu Espírito, como São Pedro disse. Porque estamos entre aqueles que foram "... eleitos segundo a presciência de Deus Pai, e santificados pelo Espírito, para obedecer a Jesus Cristo e receber sua parte da aspersão de Seu Sangue." 1 Pd 1,2
    Na verdade, só temos três formas de realizar-nos plenamente como filhos de Deus. A primeira é pelo "... amor, que é o vínculo da perfeição." Cl 3,14
     A segunda é pela Verdade, como o próprio Jesus revelou: "É para dar testemunho da Verdade que nasci e vim ao mundo. Todo aquele que é da Verdade ouve Minha voz." Jo 18,37
    E a terceira é pela prática do bem, como se vê na Carta de São Paulo a Filemon: "... faça conhecer todo bem que se realiza entre nós por causa de Cristo." Fm 6
    Mas, como se sabe, a natureza humana vive um combate. Pouco antes de ser preso, o próprio Jesus atestou, em contraponto à preparação que deu aos Apóstolos: "Vigiai e orai, para que não entreis em tentação. Pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca." Jo 14,38
    Afirmativamente, mesmo do alto de sua de forte religiosidade, São Paulo reconhece: "Eu sei que em mim, isto é, em minha carne, não habita o bem, porque o querer o bem está em mim, mas não sou capaz de efetuá-lo. Não faço o bem que quereria, mas sim o mal que não quero." Rm 7,18-19
    Por isso, a Missão de Jesus é ajudar a todos na luta do bem contra o Mal, pessoalmente e enviando Seus Ministros ao mundo como determinou a São Paulo. É do Livro de Atos dos Apóstolos: "... para abrir-lhes os olhos, a fim de que se convertam das trevas à Luz e do poder de Satanás a Deus..." At 26,18
    Porque o verdadeiro inimigo, como São Paulo diz citando duas classes de anjos decaídos, não é nossos corpos: "Pois não é contra homens de carne e sangue que temos de lutar, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes deste tenebroso mundo, contra as forças espirituais do mal espalhadas nos ares." Ef 6,12
    E é através dos Sacramentos, exclusivamente ministrados por Sua Igreja, que Jesus nos encaminha para o Pai. A Carta de São Paulo a São Tito apontou: "... Ele salvou-nos mediante o Batismo da regeneração e renovação, que vem pelo Espírito Santo..." Tt 3,5
    Pois só pelo Sacramento da Confissão temos a perfeita Reconciliação com Deus, como o Príncipe dos Apóstolos pregou no dia do Pentecostes: "Pedro respondeu-lhes: 'Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em Nome de Jesus Cristo para remissão de vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo.'" At 2,38
    E só assim teremos a marca do Espírito de Deus, porque era por Sua presença que São João Evangelista reconhecia os verdadeiros cristãos: "Quem observa Seus Mandamentos (de Jesus), permanece em Deus e Deus nele. É nisto que reconhecemos que Ele permanece em nós: pelo Espírito que nos deu." 1 Jo 3,24
    Devemos, portanto, colaborar com a obra de Salvação levada adiante pela Igreja Católica, pois somos "... santificados pelo Espírito, para obedecer a Jesus Cristo..." 1 Pd 1,2
    São Paulo insiste: "... revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não façais caso da carne nem lhe satisfaçais aos apetites." Rm 13,14
    Questiona: "Ou não sabeis que vosso corpo é Templo do Espírito Santo, que habita em vós, o Qual recebestes de Deus e que, por isso mesmo, já não vos pertenceis?" 1 Cor 6,19
    E lembra nossa indelével imagem, assim como nossa real identidade: "... revesti-vos do novo homem, criado à imagem de Deus, em verdadeiras justiça e santidade." Ef 4,24

    "Santificai-nos pelo dom de Vosso Espírito!"