sábado, 31 de maio de 2025

Nossa Senhora da Visitação


    Assim a Visitação de Maria Santíssima a Santa Isabel foi narrada o Evangelho Segundo São Lucas, no qual a Anunciação do Senhor é datada a partir do dia em que esta sua parenta concebeu São João Batista:

    "No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade de Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem que se chamava José, da casa de Davi, e o nome da virgem era Maria. Entrando, o anjo disse-lhe:
    - Ave, cheia de Graça, o Senhor é contigo!
    Perturbou-se ela com estas palavras, e pôs-se a pensar o que significaria tal saudação. O anjo disse-lhe:
    - Não temas, Maria, pois encontraste Graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um Filho, e Lhe porás o Nome de Jesus. Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus dá-Lhe-á o trono de Seu pai Davi. Ele reinará eternamente na Casa de Jacó, e Seu Reino não terá fim.
    Maria perguntou ao anjo:
    - Como se fará isso, pois não conheço homem?
    Respondeu-lhe o anjo:
    - O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo envolvê-te-á com Sua sombra. Por isso, o Santo Ente que nascer de ti será chamado Filho de Deus. Isabel, tua parenta, também concebeu um filho em sua velhice. E já está no sexto mês aquela que é tida por estéril, porque a Deus nenhuma coisa é impossível.
    Então disse Maria:
    - Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo tua palavra.
    E o anjo afastou-se dela.
    Naqueles dias, Maria levantou-se e às pressas foi às montanhas, a uma cidade de Judá. Entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel.
    Ora, Isabel apenas ouviu a saudação de Maria e a criança estremeceu em seu seio. Isabel ficou cheia do Espírito Santo, e exclamou em alta voz:
    - Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto de teu ventre! De onde me vem esta honra? De vir a mim a Mãe de Meu Senhor? Pois assim que a voz de tua saudação chegou a meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria em meu seio. Bem-aventurada és tu que creste, pois da parte do Senhor hão de cumprir-se as coisas que te foram ditas!
    E Maria disse:

    - Minha alma glorifica ao Senhor,
    meu espírito exulta de alegria em Deus, Meu Salvador,
    porque olhou para sua pobre serva.
    Por isto, desde agora todas gerações
    proclamá-me-ão bem-aventurada,
    porque em mim realizou maravilhas Aquele que é poderoso.
    Seu Nome é Santo,
    e Sua Misericórdia estende-se de geração em geração
    sobre os que O temem.
    Manifestou o poder de Seu braço,
    desconcertou os corações dos soberbos.
    Derrubou do trono os poderosos
    e exaltou os humildes.
    Saciou de bens os indigentes
    e despediu de mãos vazias os ricos.
    Acolheu a Israel, Seu servo,
    lembrado de Sua Misericórdia,
    conforme prometera a nossos pais,

    Maria ficou com Isabel cerca de três meses. Depois voltou para casa." 
                                                 Lc 1,26-56


NOSSA MÃE EM VISITAÇÃO POR MUNDO TODO

    Avisada pelo Arcanjo São Gabriel da gravidez de sua parenta, Maria viajou aproximadamente 100 quilômetros em companhia de São José para visitá-la, numa cidade das montanhas de Judá. Ou seja, além da radiante alegria que por tão grandes Graças partilhavam entre si, mesmo durante a gravidez que traria ao mundo o Salvador ela não poupou esforços para servir a quem precisava. Ciosa dos cuidados da casa de Santa Isabel em tão especial momento, Nossa Senhora aí ficou até o Nascimento de São João Batista e sua circuncisão.
    Mas as visitações de Nossa Senhora não parariam por aí. Nem seus primorosos auxílios. Recordando o casamento em Caná de Galileia, Maria estava lá com Jesus e Seus discípulos. E sempre muito atenciosa e prestativa, Nossa Mãe percebeu que o vinho tinha acabado e avisou a Jesus, o único que poderia evitar uma vexaminosa situação para a família dos noivos. Como Deus, Ele já sabia do embaraço, mas não planejava manifestar-Se publicamente ali, e chegou a alegar que Sua hora ainda não havia chegado.
    Maria, entretanto, por compaixão à família amiga não media esforços. E instou que Jesus usasse de Seus divinos dons, com os quais ela já estava bem acostumada. Nesses dias falava alto seu coração de Mãe, não somente do Messias, mas, em seus primeiros raios, Mãe de toda humanidade. Sem dúvida, após o Batismo por São João no rio Jordão, ela sabia que a vida pública de Seu Filho já havia iniciado, e por isso não se demoveu com a explicação dada por Ele: tratou de avisar os serviçais.
    Por tão especial que era a natureza humana de Jesus, os noivos e seus familiares deveriam ser Seus potenciais seguidores, pois fizeram questão de tê-Lo presente mesmo com quase todos Doze Apóstolos, a exceção de São Mateus. E como Maria, além de Perfeita Mãe, era a primeiríssima seguidora de Jesus, lá estava ela, silente, ouvindo cada palavra do Salvador, embora sempre igualmente atenta às alheias dificuldades.
    Ou se os noivos e familiares apenas eram íntimos amigos da Sagrada Família, pois Caná ficava a apenas 8 km de Nazaré, por certo fizeram questão da presença de Maria, atitude que é para todos nós um belo exemplo. Além da harmoniosa e santa interação ente ela e Seu Filho, eles já tinham uma razoável ideia de quem seria aquela flor, a Bem Aventurada, como dissera Santa Isabel.
    Na terceira, e mais provável, hipótese, o maior vínculo desta família seria mesmo com Nossa Senhora, por estar em Nazaré havia mais tempo, pela santa história e labuta de São José e por alguma reserva de Jesus antes de começar Sua vida pública. Isso explica porque o Evangelho Segundo São João a registrou como convidada antes de Jesus. Ele data a festa como do sexto dia após o Batismo do Senhor: "Três dias depois, celebravam-se bodas em Caná de Galileia, e achava-se ali a mãe de Jesus. Também foram convidados Jesus e Seus discípulos." Jo 2,1-2
    Nossa Mãe Celeste, contudo, foi muito além em suas visitações. Bem mais que as peregrinações junto a Seu Filho em Sua Missão (cf. Jo 2,12), ou junto aos Apóstolos, após Sua Ascensão (cf. At 1,14), que inicialmente se detiveram em Jerusalém.
    Ela já visitou todos continentes por meio de esplendorosas manifestações que são suas Aparições. Aonde pelo mundo foram seus laboriosos filhos, os Sacerdotes, lá ela aparecia para ajudá-los na conversão e Salvação das almas. Veio a México nos primeiros anos do descobrimento da América, pela Aparição de Guadalupe, estabelecer contato com os indígenas, assim como a Equador, pela Aparição de Quito, ainda nos anos de 1500, para alertar-nos dos difíceis séculos que se seguiriam.
    A Europa já é um privilegiado lugar com tantas visitas. Também apareceu em África, especialmente em Zeitoun, bairro de Cairo, Egito, e na Aparição de Ruanda, quando tentou evitar o recente e terrível genocídio. Esteve, da mesma forma, na Ásia e na Oceania.
    Seus constantes cuidados, porém, terminam por 'atordoar' os religiosos que precisam dar a palavra final da Santa Igreja Católica a respeito da veracidade das Aparições. Por todo mundo, são listadas mais de 400 só no século passado. Por isso, na década de 1960, diante de tão frequentes afagos da Mãe do Céu, as autoridades eclesiais viram-se na obrigação de simplesmente autorizar a peregrinação e o culto em todos locais onde houver relatos de Aparição, apenas bastando que as mensagens a ela atribuídas não estejam em discordância com a Revelação, com os ensinamentos da Santa Igreja.
    É muito séria e complexa a tarefa de confirmação das aparições, e de cada uma de suas mensagens. O certo é que temos muito especial e extremamente benevolente Mãe, correndo o mundo em socorro de seus filhos. E como se pode imaginar, nem todas aparições trazem novas revelações em suas mensagens, mas, mais frequentemente, trata-se de manifestações locais, com específicos objetivos para aquelas pessoas, história e época.
    Das mais recentes, entretanto, junto à Aparição de Medjugorje uma das mais importantes é Aparição de Akita, no Japão, em 1973, cuja mensagem teve aprovação da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo e é uma evidente continuação da Aparição de Fátima, como a vidente, Irmã Agnes Sasagawa, testemunhou:


    O próprio Bispo de Niigata, Dom Johannes Shojiro Ito, antes de aposentar-se, viu-se obrigado a deixar seu relato, que pode ser visto neste sítio: https://www.adf.org.br/home/aparicoes-de-nossa-senhora-em-akita-i/
    Assim é Nossa Senhora da Visitação, Nossa Mãe sempre tão ativa e presente, requisitada a cada instante por todos cantos do mundo. Esses fenômenos são muito mais que simples maternal carência de humildes pessoas, como pretendem incrédulos. A gritante Verdade é que boa parte da humanidade claramente percebe seus sobrenaturais cuidados. A quantidade de relatos é praticamente infindável.
    Mas nós podemos e devemos adiantar-nos e poupar-lhe algum esforço. Basta que obedeçamos a Seu Amado Filho, como ela mesma pediu, dizendo aos servos das bodas de Caná: "Fazei tudo que Ele vos disser." Jo 2,5b
    E ajudemos a cuidar de nossos mais necessitados irmãos (cf. Mt 25,40), seus filhos, e que, em agradecimento por seus silenciosos e constantes cuidados, diariamente dirijamos a ela nossas preces para manifestar-lhe amor. Pois com tantos e tão carentes filhos para cuidar, é muito favorável que ela não tenha que se preocupar também conosco.
    Ainda podemos, e também devemos, imitá-la em seu maior exemplo como Filha de Deus, oferecendo-nos para mais intensamente trabalhar nas obras do Reino de Seu Filho. Após o anjo ter-lhe anunciado a Concepção do Messias em seu ventre, ela prontamente respondeu com seu obediente e prestativo amor, como visto acima: "Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo tua palavra." Lc 1,38

    Nossa Senhora da Visitação, rogai por nós!

sexta-feira, 30 de maio de 2025

Santa Joana d'Arc


    Nossa Santa viveu as últimas décadas da Guerra dos Cem Anos, dada entre França e Inglaterra. Filha de camponeses, era pastora e não foi alfabetizada. Nascida em 1412, na vila de Domrémy, região de Lorena, nordeste de França, seu pai, Jacques d'Arc, era agricultor e sua mãe, Isabelle Romée, ensinou-lhe domésticos afazeres, que à época incluíam fiar lã e costurar. Tinha três irmãos e uma irmã. Sempre foi muito religiosa: gostava de rezar e assiduamente ia à Santa Missa. Muitas vezes confiantemente entregava o rebanho à Divina Providência e ia à igreja da cidade, onde passava horas em orações.
    Ainda aos 13 anos começou a ter místicas experiências: de longe ouviu vozes que vinham da igreja que frequentava. Elas provocavam uma inexplicável claridade a sua volta, fenômeno que chegava a repetir-se até três vezes por semana. Mais tarde, ela identificou-as como as vozes de São Miguel Arcanjo, Santa Catarina de Alexandria e Santa Margarida de Antioquia, avisando da importância de firmemente perseverar na oração, pois Deus lhe reservava uma difícil missão: haveria de expulsar os ingleses da região da cidade de Orleans.


    Em 1428, aos 16 anos, recebeu mais específicas mensagens: deveria ir ao encontro do comandante do exército, Robert de Baudricourt, numa cidade vizinha, e pedir uma escolta que a conduzisse ao rei de França. Seu tio levou-a, mas o comandante riu de suas motivações e das previsões que fazia sobre uma batalha que ocorreria nas proximidades de Orleans, no seguinte ano. Quando elas se cumpriram, porém, e com exatidão como Santa Joana d'Arc havia previsto, o comandante pessoalmente encaminhou-a com toda segurança ao rei. Viajou disfarçada de escudeiro, vestida de armadura como os soldados franceses, por sugestão das vozes que ouvia, artifício que acabou adotando em todas batalhas que liderava.
    Em Chinon, ao sul de Paris, onde o rei estava refugiado, ela reconheceu-o entre vários nobres sem nunca o ter visto, pois ele se disfarçava por conta dos riscos que corria. Numa repleta sala, ela diretamente caminhou até ele e disse: "Senhor, vim conduzir seus exércitos à vitória!" Foi um grande sinal e muito impressionou o rei, mas ele foi convencido a entregá-la para ser examinada pelas autoridades eclesiásticas de Poitiers, que exaustivamente a interrogaram até convencerem-se de que suas mensagens, de fato, tinham origem divina.
    Ao retornar ao rei, mais uma vez causou-lhe profunda admiração ao demonstrar que conhecia segredos das forças armadas francesas. Absolutamente consciente que ela era inspirada por Deus, em suas mãos entregou um grupamento de 4 mil homens para que libertasse Orleans, conforme lhe pediam as vozes. E mesmo posicionando-se em meio à batalha, sempre presente onde era mais intenso o combate e com frequência permanecendo em linha de frente, comandando e incentivando os soldados franceses, os ingleses miraculosamente não a atacavam. Mas, enquanto segurava seu estandarte na trincheira, foi ferida por uma flecha entre o pescoço e o ombro, porém, realmente dotada de grande vigor físico e coragem, logo voltou ao fronte para encorajar os combatentes. Por fim, após dez dias de batalha, Orleans foi reconquistada. A despeito das pinturas que a retratam, como arma ela apenas empunhava uma branca bandeira em que ostentava a Cruz, o Nome de Jesus e o Nome de Maria.


    A vitória em Orleans, após tantas e frustradas tentativas, reergueu o moral das tropas e do povo francês, e foi o início da virada. A fama de Santa Joana correu toda França e muitos combatentes franceses, que até então lutavam a favor de Inglaterra, passaram a temê-la e mudaram de lado. Os ingleses estavam assombrados com os relatos a seu respeito.


    A cerimônia de coroação de Carlos VII, na cidade de Reims, após uma arriscada viagem praticamente circundando toda Paris, que estava dominada, passando por várias áreas do exército inimigo, é um exemplo de como os caminhos se abriram para ela e para o rei, que fielmente acatava suas instruções. Várias autoridades que viajaram até Reims também tiveram suas passagens liberadas.
    Grande estrategista graças à divina inspiração, pois seguia tendo visões de São Miguel Arcanjo, com as grandes vitórias nas batalhas das cidades de Orleans, Meung-sur-Loire, Beaugency, Jargeau, Patay, Gien, Auxerre, Troyes e Montépilloy, os ingleses esperavam que ela atacasse Paris, mas Santa Joana, sempre inspirada, convenceu o rei a firmar posição em Rouen, mais uma vez circundando Paris e cruzando com o exército francês algumas posições do invasor.


    Embora já tivesse cumprido sua missão, que era libertar Orleans, a pedido do rei e por própria vontade Santa Joana d'Arc também foi a campo na batalha pela reconquista de Paris, onde foi ferida na perna por um virote, espécie de dardo disparado por uma besta. Ela bravamente resistiu, escondendo-se em uma trincheira abaixo das muralhas da cidade até que o resgate chegasse, após o anoitecer. O rei, batendo em retirada, abandonou-a.
    Sozinha, mas ainda com o exército solícito a seu comando, ela mudou de estratégia e, depois de retomar a cidade de Saint-Pierre-le-Moûtier, não vencer em La-Charité-sur-Loire e conquistar Lagny-sur-Marne, atacou o acampamento inimigo em Margny, a nordeste de Compiègne, uma pequena cidade ao norte de Paris, porém fracassou e traiçoeiramente foi aprisionada por nobres da região, que se opunham ao rei de França.
    Como os soldados franceses não a esqueciam e iriam fazer de tudo para resgatá-la, pois ela corajosamente sempre tentava fugir, chegando a pular da janela da torre de um castelo, quando caiu num fosso seco e se feriu, os ingleses anteciparam-se e pagaram 10 000 libras tournois para obter sua guarda. Mas, como não podiam matá-la, porque era prisioneira de guerra, eles resolveram entregá-la a um bispo francês, traidor da pátria, que, simulando uma inquisição, a julgou como herege, movida por demoníacas visões. Em sua defesa, Santa Joana apenas dizia que suas visões a instruíam a derrotar os ingleses.
    'Desiludido' com a derrota na batalha de Paris, o rei Carlos VII, mesmo informado de tudo, sequer tentou salvá-la.
    Aos 19 anos, depois de receber a Comunhão Eucarística, Santa Joana d'Arc foi levada à fogueira, onde padeceu seu martírio murmurando os nomes de Jesus e Maria. Era 30 de maio de 1431, na Praça Vermelha, em Rouen, no noroeste de França.
    Enquanto alguns gritavam 'bruxa', 'feiticeira', uma multidão de pobre gente comovidamente acompanhou seu sacrifício, que ela enfrentou com impressionante . Suas cinzas foram jogadas no Rio Sena, para que não fossem veneradas.
 

    Vinte anos mais tarde, por falta dos mais elementares fundamentos, o Papa Calisto III considerou inválido o processo de seu julgamento e reabilitou-a como perfeita cristã. No século XVI, contra a 'reforma protestante' sua memória foi invocada como símbolo pela Liga Católica, e em 1803 foi declarada símbolo de França pelo infame Napoleão Bonaparte. Enfim, foi beatificada em 1909 por nosso amado São Pio X, como havia muito já pedia o simples e devoto povo de seu país e de tantos outros lugares, pois sua história varreu o planeta. E em 1920, o Papa Bento XV canonizou-a e deu-lhe o título de Padroeira de França, que já tinha outros sete. E apesar de ter combatido os ingleses, ela também é venerada como Santa pela igreja anglicana.
    O nome da vila em que nasceu passou a ser Domrémy-la-Pucelle, por causa do famoso título que lhe deram ainda a seu tempo: 'la pucelle d'Orléans', a donzela de Orleans. E pela grande gratidão que lhe tem o bom povo francês, sua casa desde sempre foi preservada, atualmente com ligeiras e essenciais reformas.


    No lugar onde nossa Santa ouvia as primeiras vozes, enquanto pastoreava em Domrémy, foi erguida a partir de 1881 a Basílica de Bois-Chenu, nome do lugar, originalmente dedicada a São Miguel Arcanjo, mas que ficou conhecida como Basílica de Santa Joana d'Arc desde sua beatificação. Aí se tem uma imagem de Notre-Dame de Bermont, invocação à qual nossa Santa costumava rezar, e as imagens de São Gabriel Arcanjo no domo e no pátio, onde é ladeado por Santa Catarina de Alexandria e Santa Margarida de Antioquia.


    Santa Joana d'Arc tem imagens e estátuas nas principais catedrais do país, bem como em ruas de muitas cidades. Representada de muitas formas, abaixo temos sua mais antiga gravura, num manuscrito de 1429, ou seja, dois anos antes de seu martírio. Nossa Santa é uma das pessoas mais estudadas da Idade Média.


    Além de muitas igrejas e monumentos por toda França, o local de seu martírio, em Rouen, foi preservado e uma moderna igreja, dessas mórbidas inovações, foi construída em sua homenagem.    


    Santa Joana d'Arc, rogai por nós!

quinta-feira, 29 de maio de 2025

A Igreja Católica


    A Santa Igreja Católica, assembleia reunida por Cristo, em Cristo e com Cristo, tem sua primeiríssima menção nas Escrituras logo após a declaração de São Pedro, quando ele afirma a divina identidade de Jesus no Evangelho Segundo São Mateus: "Tu és o Cristo, o Filho de Deus Vivo!" Mt 16,16
    Enquanto pedra fundamental da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Príncipe dos Apóstolos fez-se notar por ser portador da Revelação, que é exatamente o primeiro atributo do Reino de Sacerdotes que ele representa: "Jesus então lhe disse: 'Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas Meu Pai que está nos Céus.'" Mt 16,17
    E é imediatamente depois que Nosso Salvador fala da Igreja que chama de Sua, prometendo que Ele mesmo a edifica na pessoa de São Pedro, e que ela jamais será vencida: "E Eu declaro-te: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei Minha Igreja. As portas do inferno não prevalecerão contra ela." Mt 16,18
    De fato, é São Pedro que vai confirmar todos demais Apóstolos, pois nele Jesus concentrou toda Suas preces ao Pai. É leitura do Evangelho Segundo São Lucas, de Sua última noite entre eles: "Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para peneirar-vos como o trigo. Mas Eu roguei por ti, para que tua não desfaleça. E tu, por tua vez, confirma teus irmãos." Lc 22,31-32
    Sem dúvida, só de São Pedro Ele exigiu uma profissão de fidelidade, e, não por acaso, perante os outros dois que eram Seus mais íntimos Apóstolos: São Tiago Maior, São João. O próprio Evangelho Segundo São João narrou: "Simão, filho de João, amas-Me mais que a estes?" Jo 21,15b
    E só a ele, nessa mesma ocasião, entregou todo Seu rebanho, de cordeiros a ovelhas, ou seja, de fiéis a Sacerdotes: "Apascenta Meus cordeiros. Apascenta Minhas ovelhas." Jo 21,16b.17c
    Também por uma sentença de Jesus, São Pedro é o único a receber, e de Suas próprias mãos, as chaves do Reino de Deus, que significam as definitivas revelações sobre Sua Sã Doutrina, e assim confirmar, ou não, quem vive a fidelidade da fé: "Eu dá-te-ei as chaves do Reino dos Céus: tudo que ligares na Terra será ligado nos Céus, e tudo que desligares na Terra será desligado nos Céus." Mt 16,17-19
    Em outras palavras, essas chaves representam a autoridade para decidir entre perdão e condenação, entre Comunhão e excomunhão, logo, o mais importante, entre o certo e o errado: é a Luz do pleno conhecimento da vontade de Deus, expresso na correta interpretação das Escrituras, isto é, sob a inspiração do Espírito Santo, bem como de Suas próprias manifestações. Aliás, esta era uma das mais graves admoestações de Jesus: "Por isso, Eu digo-vos: todo pecado e toda blasfêmia serão perdoados aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito não lhes será perdoada." Mt 12,31
    E da correta interpretação das Escrituras, Ele disse contra os doutores da Lei, que a manipulavam em função de seus interesses: "Ai de vós, doutores da Lei, que tomastes a chave da ciência. Vós mesmos não entrastes, e impedistes aos que vinham para entrar." Lc 11,52
    Fica evidente, portanto, que Jesus nos deixou o dever de ouvir os Apóstolos: "Quem vos ouve, a Mim ouve, e quem vos rejeita, a Mim rejeita. E quem Me rejeita, rejeita Aquele que Me enviou." Lc 10,16
    Isso significa ouvir a Igreja, como Ele explicou nos casos em que, por uma ofensa à Verdade, temos o dever de corrigir nossos irmãos, que podem incorrer em punição de excomunhão: "Se se recusa a ouvi-los, dize-o à Igreja. E se se recusar a ouvir também a Igreja, seja ele para ti como um pagão e um publicano." Mt 18,17
    Com efeito, a Doutrina de Jesus, dos Apóstolos e da Igreja é uma só, e isso garantiu o sucesso da primeira comunidade logo após o Pentecostes, pois, conforme o Livro de Atos dos Apóstolos, os fiéis "Eram perseverantes em ouvir a Doutrina dos Apóstolos..." At 2,42
    E assim o sucesso da própria Igreja por suas dioceses, pois São Paulo e São Timóteo pregavam obediência à sua sede, que era Cidade Santa, desde o Primeiro Concílio: "Nas cidades pelas quais passavam, ensinavam que observassem as decisões que haviam sido tomadas pelos Apóstolos e anciãos em Jerusalém. Assim as igrejas eram confirmadas na fé, e dia a dia cresciam em número." At 16,4-5
    Jesus havia dito: "Tomai Meu jugo sobre vós e recebei Minha Doutrina, porque Eu sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para vossas almas." Mt 11,29
    E se Ele não esclareceu plenamente todas coisas, enviou Seu Espírito para que sempre ilumine a Igreja Católica, por todo futuro, sobre todos assuntos que ela deve saber: "Muitas coisas ainda tenho a dizer-vos, mas agora não podeis suportá-las. Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensiná-vos-á toda Verdade, porque não falará por Si mesmo, mas dirá o que ouvir, e anunciá-vos-á as coisas que virão." Jo 16,12-13
    Porque também havia afirmado que, através do Santo Paráclito, a memória de Sua Palavra estaria garantida: "Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em Meu Nome, ensiná-vos-á todas coisas e recordá-vos-á tudo que vos tenho dito." Jo 14,26
    De fato, antes de Sua Ascensão, Ele pediu que pregássemos a integridade de tudo que ensinou, e não fragmentos: "Ensinai-as (nações) a observar tudo que vos prescrevi." Mt 28,20a
    Enfim, Jesus rezou ao Pai pelos Apóstolos para que eles permanecessem em Perfeita União: "Pai Santo, guarda-os em Teu Nome, que Me encarregaste de fazer conhecer, a fim de que sejam Um como Nós." Jo 17,11b
    Nessa ocasião também rezou para que nós, que ouviríamos os Apóstolos, vivêssemos em Perfeita Unidade com eles, ou seja, em total Comunhão, que é prova de que Ele é o Messias: "Não rogo somente por eles, mas também por aqueles que por sua palavra hão de crer em Mim. Para que todos sejam Um, assim como Tu, Pai, estás em Mim e Eu em Ti, para que eles também estejam em Nós e o mundo creia que Tu Me enviaste." Jo 17,20-21
    E para a efetivação de tal União, que também é prova do amor de Deus, além de grande marca da Igreja, Ele derramou Sua Glória sobre ela: "Dei-lhes a Glória que Me deste, para que sejam Um, como Nós somos Um: Eu neles e Tu em Mim. Para que sejam Perfeitos na Unidade e o mundo reconheça que Me enviaste e os amaste como amaste a Mim." Jo 17,22-23
    Ora, falando de outra forma sobre essa União, Ele já havia determinado o amor entre os fiéis como grande sinal para o mundo: "Nisto todos conhecerão que sois Meus discípulos, se vos amardes uns aos outros." Jo 13,35
    Mas tal Unidade não é possível sem a santificação, que é realizada pela própria ação de Deus sobre aqueles que fielmente guardam Sua Palavra. Está nesta mesma oração ao Pai: "Dei-lhes Tua Palavra, mas o mundo odeia-os porque eles não são do mundo, como Eu também não sou do mundo. Não peço que os tires do mundo, mas sim que os preserves do Mal. Santifica-os pela Verdade. Tua Palavra é a Verdade. Como Tu Me enviaste ao mundo, Eu também os enviei ao mundo. Santifico-Me por eles para que eles também sejam santificados pela Verdade." Jo 17,14-15.17-19
    E foi exatamente assim que os Apóstolos perseveraram. Aliás, chegando às consequências do martírio. São João Evangelista, o único deles que morreu de velho, mas nem por isso padeceu menos, vai atestar essa Comunhão. A Primeira Carta de São João diz: "... damos testemunho e anunciamo-vos a Vida Eterna, que estava no Pai e que a nós Se manifestou. O que vimos e ouvimos nós anunciamo-vos, para que vós também tenhais Comunhão conosco. Ora, nossa Comunhão é com o Pai e com Seu Filho Jesus Cristo." 1 Jo 1,2-3


UMA SÓ IGREJA

    Só pode haver, portanto, uma única Igreja, pois a Primeira Carta de São Paulo a São Timóteo afirma que ela é a própria "... Casa de Deus, que é a Igreja de Deus Vivo, coluna e sustentáculo da Verdade." 1 Tm 3,15
    A Segunda Carta de São João assim se refere a uma diocese de seu tempo, que por cuidado omite o nome: "O ancião à eleita senhora e a seus filhos, que amo na Verdade. Não somente eu, mas também todos que conheceram a Verdade, por causa da Verdade que em nós permanece e conosco ficará eternamente." 2 Jo 1,1-2
    Ora, a Verdade, que é uma só, é o próprio Jesus, único Caminho para Deus e em Quem está a verdadeira Vida, pois afirmou: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai senão por Mim." Jo 14,6b
    Essa universal Unidade, isto é, entre todos povos da Terra, que é o sentido da palavra 'católica', foi prevista desde o Livro do Profeta Daniel, que bem distinguiu o Cristo: "Sempre olhando a noturna visão, vi um Ser, semelhante ao Filho do Homem, vir sobre as nuvens do Céu: dirigiu-Se para o lado do Ancião, diante de Quem foi conduzido. A Ele foram dados império, Glória e realeza, e todos povos, todas nações e todas línguas serviram-nO. Seu domínio será eterno, nunca cessará, e Seu Reino jamais será destruído." Dn 7,13-14
    E mesmo levando em conta tantas tradições e culturas, de tantos povos não-judeus, Jesus garantiu, dizendo dos Seus entre todos eles: "... ouvirão Minha voz e haverá um só rebanho e um só Pastor." Jo 10,16
    Não por acaso, o Pentecostes, que marcou o nascimento da Igreja, deu-se com a capacitação, dada pelo Espírito Santo, para que ela fale a todos povos: "Chegando o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente veio do céu um ruído, como se soprasse um impetuoso vento, e encheu toda casa onde estavam sentados. Apareceu-lhes, então, uma espécie de línguas de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Ficaram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar em línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem. Achavam-se em Jerusalém piedosos judeus de todas nações que há debaixo do céu. Ouvindo aquele ruído, reuniu-se muita gente e maravilhava-se de que cada um os ouvia falar em sua própria língua." At 2,1-6
    A própria terra de origem dos Apóstolos, e onde Jesus viveu até o início de Sua vida pública, era chamada Galileia das nações, dada a mistura de povos que aí se estabeleceu. Isso foi previsto no Livro do Profeta Isaías, que disse de Deus: "No passado, Ele humilhou a terra de Zabulon e de Neftali, mas no futuro cobrirá de honras o Caminho do Mar, o Além do Jordão e o distrito das nações. O povo que andava nas trevas viu uma Grande Luz, uma Luz raiou sobre aqueles que habitavam uma tenebrosa região como a da morte." Is 8,23;9,1
    E assim, tão zeloso do povo que conquistara, o Apóstolo dos Gentios, ou seja, dos não-judeus, sequer admitia que pessoas de fora da Igreja fossem consultadas pelos fiéis. Consta na Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios: "No entanto, quando tendes contendas desse gênero, escolheis para juízes pessoas cuja opinião é tida em nada pela Igreja." 1 Cor 6,4
    Na Carta aos Hebreus, vemos que os seguidores da tradição de São Paulo também eram muito atenciosos para com os Sacerdotes da Igreja, e a toda comunidade recomendavam total apreço por seus trabalhos: "Sede submissos e obedecei aos que vos guiam, pois eles velam por vossas almas e delas devem dar conta." Hb 13,17
    Na Primeira Carta de São Paulo aos Tessalonicenses, ele próprio encarecidamente pedia por eles: "Suplicamo-vos, irmãos, que reconheçais aqueles que arduamente trabalham entre vós para dirigir-vos no Senhor e admoestar-vos. Tende para com eles singular amor, em vista do cargo que exercem. Conservai a Paz entre vós." 1 Ts 5,12-13
    E quanto aos que se pretendem mestres, a Carta de São Tiago dava um sério conselho: "Meus irmãos, entre vós não haja muitos a arvorar-se em mestres. Sabeis que mais severamente seremos julgados..." Tg 3,1
    Pois os verdadeiros Sacerdotes são aqueles que vêm sendo instituídos pela Sagrada Tradição desde o tempo dos Apóstolos, como a Segunda Carta de São Paulo a São Timóteo lhe disse: "O que de mim ouviste em presença de muitas testemunhas, confia-o a homens fiéis que, por sua vez, sejam capazes de instruir a outros." 2 Tm 2,2
    A Carta de São Paulo a São Tito vai dizer-lhe o mesmo, deixando muito claro que as condições de ordenação eram bem restritas: "Eu deixei-te em Creta para acabares de organizar tudo e estabeleceres anciãos em cada cidade, de acordo com as normas que te tracei." Tt 1,5
    E os discípulos de São Paulo questionam em favor dessa perene tradição: "Como, então, escaparemos nós se agora desprezarmos a mensagem da Salvação, tão sublime, primeiramente anunciada pelo Senhor e depois confirmada por aqueles que a ouviram...?" Hb 2,3
    Quanto ao entendimento das Escrituras, especificamente, São Pedro, ele mesmo que recebeu as chaves do Reino de Deus, avisa que a Palavra de Deus não pode ser interpretada de modo pessoal. Ao contrário, devemos acatar as revelações do Espírito Santo desde sempre feitas à Igreja. Está na Segunda Carta de São Pedro: "Antes de tudo, sabei que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque jamais uma profecia foi proferida por efeito de uma humana vontade. Homens inspirados pelo Espírito Santo falaram da parte de Deus." 2 Pd 1,20-21
    E assim a Primeira Carta de São Pedro exortava a Igreja: "Vós, porém, sois uma escolhida raça, um régio sacerdócio, uma santa nação, um povo adquirido para Deus, a fim de que publiqueis as virtudes d'Aquele que vos chamou das trevas a Sua Maravilhosa Luz." 1 Pd 2,9
    Ora, o Divino Paráclito, Verdadeiro Guia da Igreja, mostrou-Se presente desde a primeira tentativa de defraudá-la: "Então Pedro disse: 'Ananias, por que Satanás tomou conta de teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo e enganasses acerca do valor do campo? Não foi aos homens que mentiste, mas a Deus!" At 5,3-4b
    Isto deu-se inclusive na conversão do primeiro grupo de não-judeus, o chamado 'Pentecostes dos Gentios', quando Ele mesmo instruiu São Pedro: "Enquanto Pedro refletia sobre a visão, disse-lhe o Espírito: 'Eis aí três homens que te procuram. Levanta-te! Desce e vai com eles sem hesitar, porque sou Eu Quem os enviou.'" At 10,19-20
    E especificamente sobre os assuntos da Doutrina da , desde o Primeiro Concílio, como São Tiago Menor registrou na carta escrita aos cristãos da cidade de Antioquia, quando a circuncisão, secular prática dos judeus, foi abolida após o decisivo voto de São Pedro (cf. At 15,11): "Com efeito, bem pareceu ao Espírito Santo e a nós não vos impor outro peso além do indispensável seguinte..." At 15,28
    Ademais, São João Evangelista diz sobre o poder do Sacramento da Crisma, no tocante à fidelidade à Sagrada Tradição: "Vós, porém, tendes a Unção do Santo e sabeis todas coisas. Que permaneça em vós o que tendes ouvido desde o princípio. Se o que ouvistes desde o princípio permanecer em vós, vós também permanecereis no Filho e no Pai. E não tendes necessidade de que alguém vos ensine, mas, como Sua Unção vos ensina todas coisas, e ela é verdadeira e não mentirosa, n'Ele permanecei como ela vos ensinou." 1 Jo 2,20.24.27b
    Como não poderia deixar de ser, e São Paulo confirma aos anciãos da igreja de Éfeso, é Ele, e só Ele Quem unge os Bispos e Sacerdotes da Igreja: "Cuidai de vós mesmos e de todo rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastorear a Igreja de Deus, que Ele adquiriu com Seu próprio Sangue." At 20,28
    Sobre os Sacramentos, São Tiago Menor era absolutamente restritivo quanto a quem devemos recorrer: "Está alguém enfermo? Chame os Sacerdotes da Igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo em Nome do Senhor." Tg 5,14
    E sobre nossa reconciliação com Deus, conforme o poder dado pelo próprio Jesus, somente a Igreja pode conceder-nos o perdão dos pecados, agindo através de seus Sacerdotes pelo poder do Espírito de Deus. Porque Jesus assim incumbiu os Apóstolos logo após Sua Ressurreição, em Sua primeira aparição ao Colégio deles, então formado por Dez: "Disse-lhes outra vez: 'A Paz esteja convosco! Como o Pai Me enviou, Eu também vos envio.' Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: 'Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, sê-lhes-ão perdoados. Àqueles a quem os retiverdes, sê-lhes-ão retidos.'" Jo 20,21-23


A IGREJA SANTA

    Antes, pois, que se pense que a Igreja pode ser qualquer uma, é importante recordar o que a Carta de São Paulo aos Efésios disse a respeito de sua luminosa santidade, ainda que eventualmente possa não estar expressa em algum de seus representantes: "... Cristo amou a Igreja e Se entregou por ela, para santificá-la, purificando-a pela Água do Batismo com a Palavra, para a Si mesmo apresentá-la toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito, mas santa e irrepreensível." Ef 5,25-27
    Ou seja, a Igreja não é santa porque ela assim se pretende, mas porque Jesus assim a constituiu, para nossa Salvação. Por isso, todos nossos dons, dados pelo Espírito Santo, são orientados para sua dignidade, jamais para sua divisão ou sua ruína. Este mesmo Apóstolo diz: "Assim, uma vez que aspirais aos dons espirituais, procurai tê-los em abundância para edificação da Igreja." 1 Cor 14,12
    O próprio Jesus tinha avisado: "... toda casa dividida contra si mesma não pode subsistir." Mt 12,25
    E completou: "Quem Comigo não está, está contra Mim. E quem Comigo não ajunta, espalha." Mt 12,30
    Nesse sentido, e por ser absolutamente essencial a nossa vitória, a Carta de São Paulo aos Colossenses afirma que Jesus "... é a Cabeça do Corpo, da Igreja." Cl 1,18
    E assim a Igreja, que é o próprio Corpo Místico de Cristo, não tem como ser mais de uma nem como ser separada da Cabeça, como a Carta de São Paulo aos Romanos prega: "Pois, como em um só corpo temos muitos membros, e cada um dos nossos membros tem diferente função, assim nós, embora sejamos muitos, formamos um só Corpo em Cristo, e cada um de nós é membro um do outro." Rm 12,4,5
    Por isso, dizendo que a Igreja é conduzida por Deus, ele afirma sobre falsos mestres: "Desencaminham-se estas pessoas em suas próprias visões e, cheias do vão orgulho de seu materialista espírito, não se mantêm unidas à Cabeça, da qual todo o Corpo, pela união das junturas e articulações, se alimenta e cresce conforme um crescimento disposto por Deus." Cl 2,18b-19
    Da mesma forma, e por óbvio, só há uma Unção pelo Divino Paráclito. Ele segue: "Em um só Espírito fomos batizados todos nós, para formar um só Corpo..." 1 Cor 12,13
    E é taxativo: "Se alguém não possui o Espírito de Cristo, este não é d'Ele." Rm 8,16
    Essa é a razão pela qual São João Evangelista ditou esse critério para atestar quem é cristão: "Quem observa Seus Mandamentos (de Jesus), permanece em Deus e Deus nele. E é nisto que reconhecemos que Ele permanece em nós: pelo Espírito que nos deu." 1 Jo 3,24
    São Paulo também invocou esse fundamento para exigir respeito à Palavra difundida pelos Sacerdotes da Igreja: "Por conseguinte, desprezar estes preceitos é desprezar não a um homem, mas a Deus, que nos infundiu Seu Santo Espírito." 1 Ts 4,8
    Ora, como Corpo de Cristo, a Igreja é, pela Graça de Jesus Eucarístico, a continuação da Encarnação do Nosso Salvador, a principal manifestação material de Deus aqui na Terra. Por isso, o Apóstolo dos Gentios diz da: "... Igreja, que é Seu Corpo, o receptáculo d'Aquele que enche todas coisas sob todos aspectos." Ef 1,22-23
    Assim também ele justifica nossas impreteríveis penitências: "O que falta às tribulações de Cristo, completo em minha carne, por Seu Corpo que é a Igreja." Cl 1,24b
    Ensina contra a vida vã: "Ao contrário, castigo meu corpo e mantenho-o em servidão, de medo de vir eu mesmo a ser excluído depois de eu ter pregado aos outros." 1 Cor 9,27
    E como Jesus havia prometido edificar Sua Igreja, ele vê-O 'preenchendo todas coisas', como disse de Deus acima, e instituindo a hierarquia clerical para nosso pleno amadurecimento: "Aquele que desceu é também Aquele que subiu acima de todos Céus, para encher todas coisas. A uns Ele constituiu Apóstolos; a outros, profetas; a outros, evangelistas, pastores, doutores, para o aperfeiçoamento dos cristãos, para o desempenho da tarefa que visa à construção do Corpo de Cristo, até que todos tenhamos chegado à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos o estado de homem feito, a estatura da maturidade de Cristo." Ef 4,10-13
    Assegura, pois, aos cristãos da cidade de Éfeso: "É n'Ele (Cristo) que todo o edifício, harmonicamente disposto, se levanta até formar um Santo Templo no Senhor. É n'Ele que vós também entrais, pelo Espírito, na estrutura do edifício que se torna a habitação de Deus." Ef 2,21-22
    Ele explica que tais providências visam afastar os fiéis de tantas perniciosas heresias, criadas pela malícia humana, certamente por inspiração do inimigo: "Para que não continuemos crianças ao sabor das ondas, agitados por qualquer sopro de doutrina, ao capricho da malignidade dos homens e de seus enganadores artifícios." Ef 4,14
    De fato, muitos até amam a Deus com alguma sinceridade, mas não se submetem nem conhecem a Sã Doutrina, como São Paulo diz sobre a recusa dos judeus para com Jesus: "Pois lhes dou testemunho de que eles têm zelo por Deus, mas não com entendimento." Rm 10,2
    Por fim, temos a Palavra do próprio Deus ainda no Antigo Testamento, falando sobre Seu Filho e Seu Espírito, noticiando o que a Igreja representaria para o mundo: "Eis Meu Servo que Eu amparo, Meu Eleito ao Qual dou toda Minha afeição! Sobre Ele faço repousar Meu Espírito, para que leve o Direito às nações." Is 42,1
    E o Profeta Isaías completa: "Naquele tempo, o Rebento de Jessé, que Se ergue como um sinal para os povos, será procurado pelas nações e gloriosa será Sua morada." Is 11,10

    "Em Comunhão com toda a Igreja aqui estamos!"

quarta-feira, 28 de maio de 2025

Do Pecado à Reconciliação com Deus


    Citando o Livro de Salmos e o Livro de Gênesis, o Catecismo da Igreja Católica ensina: "O pecado é ofensa a Deus: 'Pequei contra Ti, somente contra Ti. Pratiquei o que é mau a Teus olhos (Sl 51,6).' O pecado ergue-se contra o amor de Deus por nós, e dele desvia nossos corações. Tal qual o primeiro pecado, é uma desobediência, uma rebelião contra Deus, por vontade de tornar-se "como deuses", conhecendo e determinando o bem e o mal (Gn 3,5). O pecado é, portanto, "amor a si mesmo até o desprezo de Deus (Santo Agostinho)." Por essa orgulhosa exaltação de si, o pecado é diametralmente contrário à obediência de Jesus, que realiza a Salvação." CIC § 1850
    Com efeito, a tradição cultuada pelo grupo que seguia São Paulo afirma que Jesus, enquanto ser humano, viveu a Comunhão com o Pai através da obediência que Lhe tinha. Está na Carta aos Hebreus: "Embora fosse Filho de Deus, aprendeu a obediência por meio dos sofrimentos que teve." Hb 5,8
    Isso não era exatamente uma novidade, pois Jesus mesmo atestou, no Evangelho Segundo São João, que era dessa fidelidade que Suas obras e Sua Palavra vinham: "... nada faço por Mim mesmo. Eu só digo aquilo que o Pai Me ensinou." Jo 8,28
    Ora, Ele mostrou-Se perfeitamente obediente desde Sua relação com Maria Santíssima e São José, como vemos na Páscoa em que ficou em Jerusalém, quando tinha doze anos. O Evangelho Segundo São Lucas aponta: "Em seguida, desceu com eles a Nazaré e era-lhes submisso." Lc 2,51
    A Carta de São Paulo aos Gálatas diz de Sua relação com o Antigo Testamento: "Mas quando veio a plenitude dos tempos, Deus enviou Seu Filho, que nasceu de uma mulher e nasceu submetido a uma lei..." Gl 4,4
    Falando sobre Sua Paixão que se aproximava, o mais difícil e doloroso momento de Sua vida, Jesus mesmo disse: "Foi isto que Meu Pai Me mandou fazer." Jo 10,18
    Por isso, não iludia ninguém: "Se alguém quer vir após Mim, renegue a si mesmo..." Lc 9,23
    O Hino Cristológico, então já consagrado entre os cristãos, foi recitado Carta de São Paulo aos Filipenses: "Sendo Ele de divina condição, não Se prevaleceu de Sua igualdade com Deus, mas aniquilou a Si mesmo assumindo a condição de escravo e assemelhando-Se aos homens. E sendo exteriormente reconhecido como homem, ainda mais Se humilhou tornando-Se obediente até a morte, e morte de cruz. Por isso, Deus soberanamente exaltou-O e outorgou-Lhe o Nome que está acima de todos nomes, para que ao Nome de Jesus se dobre todo joelho no Céu, na Terra e nos infernos." Fl 2,6-10
    E por mais invasivo que pareça, a Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios explica nestes termos o que representa a evangelização: "Nós aniquilamos todo raciocínio e todo orgulho que se levanta contra o conhecimento de Deus, e cativamos todo pensamento e reduzimo-lo à obediência a Cristo." 2 Cor 10,5
    Como a Carta de São Paulo aos Romanos registrou, portanto, o Ministério da Igreja é levar o povo à obediência da , seguindo o exemplo dado pelo próprio Jesus, que "... segundo o Espírito de Santidade, foi estabelecido Filho de Deus em poder pela Sua Ressurreição dos mortos. E do Qual temos recebido a Graça e o apostolado, a fim de levar, em Seu Nome, todas pagãs nações à obediência da fé... " Rm 1,4-5
    Afinal, a Primeira Carta de São Pedro aponta-a como o caminho que nos purifica do pecado: "Em obediência à Verdade, tendes purificado vossas almas para com sinceridade praticardes fraterno amor." 1 Pd 1,22
    E diz que a Unção do Espírito de Deus tem por fim exatamente a obediência a Jesus, Cujo Sacrifício Pascal nos purifica. O Príncipe dos Apóstolos reza para que os fiéis sejam: "... santificados pelo Espírito para obedecer a Jesus Cristo, e receber sua parte da aspersão de Seu Sangue." 1 Pd 2b
    Contudo, mesmo após algumas décadas de pleno exercício da obediência, São Paulo era humilde em admitir: "Sinto, porém, em meus membros outra lei, que luta contra a lei de meu espírito e me prende à lei do pecado, que está em meus membros. Assim, pois, de um lado, pelo meu espírito, sou submisso à Lei de Deus. De outro lado, por minha carne, sou escravo da lei do pecado. " Jo 7,23.26
    Argumentando no mesmo sentido, a Carta de São Tiago também admite, e precisamente por isso adverte: "Meus irmãos, entre vós não haja muitos a arvorar-se em mestres. Sabeis que mais severamente seremos julgados, porque todos nós caímos em muitos pontos." Tg 3,1-2
    O Apóstolo dos Gentios, pois, claramente percebia nossa radical fragilidade: "... o pecado entrou no mundo, e pelo pecado, a morte. Assim a morte passou a todo gênero humano, porque todos pecaram..." Rm 5,12
    Mas não esquecia a grandeza da promessa do amor de Deus: "Porque o salário do pecado é a morte, enquanto o dom de Deus é a Vida Eterna..." Rm 6,23
    Por isso, com grande fervor a Carta de São Paulo aos Efésios propagava a Divina Graça que se derramou por Cristo, sem a qual é quase vão o mero esforço humano para obedecê-Lo: "Porque é pela Graça que sois salvos, mediante a fé. Isso não vem de vossos méritos, mas é puro dom de Deus." Ef 2,8
    De fato, apenas conhecer as Escrituras não basta, "... porque a Lei se limita a dar o conhecimento do pecado." Rm 3,20
    É preciso deixar-se embalar por Deus mesmo: "Assim, meus caríssimos, vós que sempre fostes obedientes, trabalhai em vossa Salvação com temor e tremor, não só como quando eu estava entre vós, mas muito mais agora em minha ausência. Porque é Deus, segundo Seu beneplácito, Quem realiza em vós o querer e o executar." Fl 2,12-13
    Seus discípulos rezavam: "E o Deus da Paz... queira dispor-vos ao bem e conceder-vos que cumprais Sua Vontade, realizando Ele próprio em vós o que é agradável a Seus olhos, por Jesus Cristo..." Hb 13,20a.21a
    O próprio Jesus, falando enquanto ser humano, assim explicava o prático efeito de Sua Comunhão com o Pai: "... o Pai, que permanece em Mim, é que realiza Suas próprias obras." Jo 14,10c
    E dizia do intenso trabalho do Pai em nós: "Eu sou a Verdadeira Videira, e Meu Pai é o Agricultor. Todo ramo que não der fruto em Mim, Ele cortá-lo-á. E podará todo que der fruto, para que produza mais fruto." Jo 15,2
    Ele assim age por Seu Espírito, como São Paulo afirma: "De fato, se viverdes segundo a carne, haveis de morrer. Mas se pelo espírito mortificardes as obras da carne, vivereis, pois todos que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Porquanto não recebestes um espírito de escravidão para ainda viverdes no temor, mas recebestes o Espírito de Adoção, pelo Qual clamamos: Aba! Pai! O Espírito mesmo dá testemunho a nosso espírito de que somos filhos de Deus." Rm 8,13-16
    Por isso, para que consigamos pôr em prática a Palavra de Deus, ele insiste: "Digo, pois: deixai-vos conduzir pelo Espírito, e não satisfareis os apetites da carne. Porque os desejos da carne se opõem aos do espírito, e estes aos da carne, pois são contrários uns aos outros. É por isso que não fazeis o que quereríeis." Gl 5,16-17
    E exalta a Nova Aliança: "Não que por nós mesmos sejamos capazes de algum pensamento, como de nós mesmos. Nossa capacidade vem de Deus. Ele é que nos fez aptos para sermos Ministros da Nova Aliança, não a da letra, e sim a do Espírito. Porque a letra mata, mas o Espírito vivifica. Ora, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, se revestiu de tal Glória que os filhos de Israel não podiam fitar os olhos no rosto de Moisés, por causa do resplendor de sua face, embora transitório, quanto mais glorioso não será o Ministério do Espírito?" 2 Cor 3,5-8
    A Primeira Carta de São João igualmente ressalta este sinal dos membros da Igreja: "Quem observa Seus Mandamentos permanece em Deus e Deus nele. É nisto que reconhecemos que Ele permanece em nós: pelo Espírito que nos deu." 1 Jo 3,24
    Assim o amor de Deus nos concede a Comunhão dos Santos, que nos permite verdadeiramente exultar com São Paulo: "Mas eis aqui uma brilhante prova de amor de Deus por nós: quando ainda éramos pecadores, Cristo morreu por nós. Se quando ainda éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus pela Morte de Seu Filho, com muito mais razão, já estando reconciliados, seremos salvos por Sua Vida." Rm 5,8-10


O IMPRETERÍVEL AUXÍLIO DA GRAÇA

    Cheio do Espírito Santo, São Paulo bem sabia discernir as várias etapas em que se deram as manifestações de Deus. E apontando a superioridade da Graça manifestada através de Jesus, deixou-nos essa pérola em que compara o Antigo e o Novo Testamento: "Sobreveio a Lei para que abundasse o pecado. Mas onde abundou o pecado, superabundou a Graça." Rm 5,20
    São João Evangelista também dava testemunho da celestial atmosfera em volta de Deus Jesus: "De Sua plenitude, todos nós recebemos Graça sobre Graça." Jo 1,16
    Ele também contrastou a Antiga e a Nova Aliança: "Pois a Lei foi dada por Moisés, mas a Graça e a Verdade vieram por Jesus Cristo." Jo 1,17
    Isso deixa São Paulo confiante no absoluto sucesso do projeto da Salvação, concretizado na Cruz do Calvário: "O pecado já não vos dominará, porque agora não estais mais sob a Lei, e sim sob a Graça." Rm 6,14
    E completa: "Assim como o pecado reinou para a morte, a Graça também reinaria pela justiça para a Vida Eterna, por meio de Jesus Cristo, Nosso Senhor." Rm 5,12
     Eis que São Pedro diz da missão dos Sacerdotes da Igreja, seja ordenado, seja leigo: "Como bons administradores das diversas Graças de Deus, cada um de vós ponha à disposição dos outros o dom que recebeu: a Palavra, para anunciar as mensagens de Deus; um ministério, para exercê-lo com divina força, a fim de que em todas coisas Deus seja glorificado por Jesus Cristo." 1 Pd 4,10-11a
    E garante à Santa Igreja Católica: "O Deus de toda Graça, que em Cristo vos chamou à Sua Eterna Glória, depois que tiverdes padecido um pouco, aperfeiçoá-vos-á, torná-vos-á inabaláveis, fortificá-vos-á." 1 Pd 5,10
    É exatamente essa a efetiva e cabal Redenção que São João Batista apontou em Jesus: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo." Jo 1,29
    Por isso, devemos prestar muita atenção à Palavra de Nosso Salvador, que disse: "... todo homem que se entrega ao pecado, é seu escravo." Jo 8,34
    Por vivê-las com fervor, e assim plenamente usufruir da Graça, São Paulo flerta com a santidade e com a Vida Eterna: "Não sabeis que, quando vos ofereceis a alguém para obedecer-lhe, sois escravos daquele a quem obedeceis, quer seja do pecado para a morte, quer da obediência para a justiça? Mas agora, libertados do pecado e feitos servos de Deus, tendes por fruto a santidade. E o desfecho é a Vida Eterna." Rm 6,16.22
    Para que efetivamente resistamos ao pecado, portanto, Jesus convidou-nos a enfrentar as tribulações da carne e as perseguições que sofrem todos cristãos, encorajando-nos e evidenciando Sua vitória, que serve de modelo para nossa: "No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo." Jo 16,33
    São Pedro usa o mesmo argumento: "Assim, pois, como Cristo padeceu na carne, armai-vos deste mesmo pensamento: quem padeceu na carne, rompeu com o pecado..." 1 Pd 4,1
    E evocando o Sacrifício Pascal, os seguidores de São Paulo propõem que levemos essa batalha às últimas consequências: "Com perseverança corramos ao proposto combate, com o olhar fixo no Autor e Consumador de nossa fé, Jesus. Atentamente considerai, pois, Aquele que tantas contrariedades sofreu dos pecadores, e não vos deixeis abater pelo desânimo. Ainda não tendes resistido até o sangue na luta contra o pecado." Hb 12,1b.3-4
    Porque tal libertação só pode ser alcançada pela plena observância da Palavra da Salvação: "E Jesus dizia aos judeus que n'Ele creram: 'Se permanecerdes na Minha Palavra, sereis Meus verdadeiros discípulos. Conhecereis a Verdade, e a Verdade libertá-vos-á.'" Jo 8,31-32
    Ora, Jesus é a própria Verdade, o único Caminho que nos leva a Deus: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai senão por Mim." Jo 14,6
    Diante da teimosia de petrificados corações, Ele até propôs um teste: "Se alguém quiser cumprir a vontade de Deus, distinguirá se Minha Doutrina é de Deus ou se falo de Mim mesmo." Jo 7,17
    Sentenciou, por fim, o exclusivo meio pelo qual podemos ser libertos do pecado: Seus gloriosos auxílios, isto é, Sua Graça, a Qual derrama sobre quem Lhe obedece: "Portanto, se o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres." Jo 8,36
    E foi bem explícito ao falar sobre Sua divina condição, assim como de nossas fraquezas: "Vós sois cá de baixo, Eu sou lá de cima. Vós sois deste mundo, Eu não sou deste mundo. Por isso, disse-vos: morrereis em vosso pecado. Porque se não crerdes que EU SOU, morrereis em vosso pecado." Jo 8,23-24
    Desta forma, por pior que seja nosso estado de pecado, devemos ter como exemplo a conclusão a que chegou o filho pródigo, e com a mesma humildade retornar ao Pai: "Levantar-me-ei e irei a meu pai, e di-lhe-ei: 'Meu pai, pequei contra o Céu e contra ti. Já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me como um de teus empregados.'" Lc 15,18-19


A OBRA DO ESPÍRITO SANTO

    É necessário, pois, através da unidade promovida na Igreja pela Santíssima Trindade, que clamemos ao "... Espírito Santo, Autor da Graça!" Hb 10,29
    São Paulo expressamente recomenda o uso da oração: "Intensificai vossas invocações e súplicas. Orai em toda circunstância, pelo Espírito, no Qual perseverai em intensa vigília de súplica por todos cristãos." Ef 6.18
    A Carta de São Judas centra no foco deste pedido: "Orai no Espírito Santo." Jd 20b
    Jesus, de fato, prometeu que não ficaríamos sós, e assim Sua Igreja tem vencido os séculos: "É o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não O vê nem O conhece. Mas vós conhecê-Lo-eis, porque convosco permanecerá e em vós estará." Jo 14,17
    A Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios fala mesmo da união para a Vida Eterna: "... quem se une ao Senhor, com Ele torna-se um só Espírito." 1 Cor 6,17b
    Nosso Salvador bem descreveu a missão de Seu Espírito, que Se manifestaria logo após Sua Ascensão: "Ele convencerá o mundo a respeito do pecado, que consiste em não crer em Mim. Convencê-lo-á a respeito da justiça, porque Eu vou para junto de Meu Pai e vós já não Me vereis
Convencê-lo-á a respeito do Juízo, que consiste em que o príncipe deste mundo já está julgado e condenado." Jo 16,9-11
    Por isso, derramou-O sobre os Apóstolos, que são os fundamentos da Igreja Católica, para que ela nos conceda a remissão dos pecados mediante o Sacramento da Confissão: "Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, sê-lhes-ão perdoados. Àqueles a quem os retiverdes, sê-lhes-ão retidos." Jo 20,22-23
    É, pois, investido da autoridade deste Ministério que São Paulo exorta: "Portanto, desempenhamos o encargo de embaixadores em Nome de Cristo, e é Deus mesmo que exorta por nosso intermédio. Em Nome de Cristo, rogamo-vos: reconciliai-vos com Deus!" 2 Cor 5,20
    E referindo-se aos Sacramentos, em geral, assim ele reza: "Nós somos operários com Deus. Vós, o campo de Deus, o edifício de Deus. Que os homens nos considerem, pois, como simples operários de Cristo e administradores dos mistérios de Deus." 1 Cor 3,9; 4,1
    Pois o Santo Paráclito, presente em todos Sacramentos, é o Espírito da Comunhão com Deus, como ele diz: "... e a Comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós!" 2 Cor 13,13
    Só através d'Ele realmente podemos amar: "E a esperança não engana. Porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado." Rm 5,5
    De fato, o Amado Discípulo aponta nossa fonte de amor: "Nós conhecemos e cremos no amor que Deus tem para conosco. Mas amamos, porque primeiro Deus nos amou." 1 Jo 4,16.19
    É o Espírito Santo, enfim, que para sempre caminha com a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, confortando-nos no bom combate da fé, tal qual Ele prometeu: "E Eu rogarei ao Pai, e Ele dá-vos-á outro Consolador, para que convosco fique eternamente." Jo 14,16
    Assim, para um perfeito entendimento da Comunhão da Santíssima Trindade, Deus Pai confirma-nos pela Palavra de Seu Filho e marca-nos pelo fogo de Seu Espírito, o Qual é o selo, a garantia de nossa Salvação. São Paulo ensina: "Ora, Quem nos confirma a nós e a vós em Cristo, e nos consagrou, é Deus. Ele marcou-nos com Seu selo e a nossos corações deu o penhor do Espírito." 2 Cor 1,21-22
    Ele repete essa afirmação escrevendo aos cristãos da cidade de Éfeso: "... fostes selados com o Espírito Santo que fora prometido, o Qual é o penhor de nossa herança... " Ef 1,13-14
    Como vimos, São João Evangelista diz da Comunhão dos Santos: "É nisto que reconhecemos que Ele (Deus) permanece em nós: pelo Espírito que nos deu." 1 Jo 3,24b
    E São Paulo comemora a ação do Divino Paráclito iniciada no Pentecostes: "A Lei do Espírito de Vida libertou-me, em Jesus Cristo, da Lei do pecado e da morte. O que era impossível à Lei, visto que a carne a tornava impotente, Deus fez. Enviando, por causa do pecado, Seu próprio Filho numa carne semelhante à do pecado, condenou o pecado na carne a fim de que a justiça prescrita pela Lei fosse realizada em nós, que vivemos não segundo a carne, mas segundo o Espírito." Rm 8,2-4
    Confirma o poder da Comunhão: "Ora, se Cristo está em vós, o corpo, em verdade, está morto pelo pecado..." Rm 8,10
    Mas também adverte: "Se alguém não possui o Espírito de Cristo, este não é d'Ele." Rm 8,9b
    De fato, Jesus havia prometido que viveria naquele que guardasse Seus Mandamentos: "Se alguém Me ama, guardará Minha palavra e Meu Pai amá-lo-á. E Nós viremos a ele e nele faremos Nossa morada." Jo 14,23
    São Paulo confirmava: "Eu vivo, mas já não sou eu. É Cristo que vive em mim!" Gl 2,20a
    Questionava os cristãos da cidade de Corinto: "Examinai a vós mesmos, se estais na fé. Provai a vós mesmos. Acaso não reconheceis que Cristo Jesus está em vós?" 2 Cor 13,5a
    Pois a despeito da gravidade de nossos pecados, Deus já havia prometido maravilhas no Livro do Profeta Isaías: "Ainda que seus pecados sejam vermelhos como púrpura, ficarão brancos como a neve. Ainda que sejam vermelhos como escarlate, ficarão como a lã." Is 1,18
    O próprio Jesus afirmou: "Digo-vos que assim haverá maior júbilo no Céu por um só pecador que fizer penitência, que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento." Lc 15,7
    Quanto ao Juízo Final, ou mesmo o Particular, a Segunda Carta de São Pedro diz do amor de Deus: "O Senhor não retarda o cumprimento de Sua promessa, como alguns pensam, mas usa de paciência para convosco. Não quer que alguém pereça. Ao contrário, quer que todos se arrependam." 2 Pd 3,9
    E numa luminosa síntese do projeto da Salvação, a Carta de São Paulo aos Colossenses explica nossa Reconciliação com os Céus: "Ele (Deus) arrancou-nos do poder das trevas e introduziu-nos no Reino de Seu Amado Filho, no Qual temos a Redenção, a remissão dos pecados. Porque a Deus aprouve n'Ele fazer habitar toda plenitude, e por Seu intermédio reconciliar Consigo todas criaturas. Por intermédio d'Aquele que, ao preço do próprio Sangue na Cruz, restabeleceu a Paz a tudo quanto existe na Terra e nos Céus. ... eis que agora Ele vos reconciliou pela morte de Seu Corpo humano, para que possais apresentar-vos Santos, imaculados, irrepreensíveis aos olhos do Pai." Cl 1,13-14.19-20.22

    "Glória e louvor ao Pai, que em Cristo nos reconciliou!"