sexta-feira, 31 de maio de 2024

Nossa Senhora da Visitação


    Assim narra São Lucas a Visitação de Nossa Senhora a Santa Isabel:

    "No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem que se chamava José, da casa de Davi, e o nome da virgem era Maria. Entrando, o anjo disse-lhe:
    - Ave, cheia de Graça, o Senhor é contigo!
    Perturbou-se ela com estas palavras, e pôs-se a pensar o que significaria tal saudação. O anjo disse-lhe:
    - Não temas, Maria, pois encontraste Graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um Filho, e pô-Lhe-ás o Nome de Jesus. Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus dá-Lhe-á o trono de Seu pai Davi. Ele reinará eternamente na Casa de Jacó, e Seu Reino não terá fim.
    Maria perguntou ao anjo:
    - Como se fará isso, pois não conheço homem?
    Respondeu-lhe o anjo:
    - O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo envolvê-te-á com Sua sombra. Por isso, o Santo Ente que nascer de ti será chamado Filho de Deus. Isabel, tua parenta, também concebeu um filho em sua velhice. E já está no sexto mês aquela que é tida por estéril, porque a Deus nenhuma coisa é impossível.
    Então disse Maria:
    - Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo tua palavra.
    E o anjo afastou-se dela.
    Naqueles dias, Maria levantou-se e às pressas foi às montanhas, a uma cidade de Judá. Entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel.
    Ora, Isabel apenas ouviu a saudação de Maria e a criança estremeceu em seu seio. Isabel ficou cheia do Espírito Santo, e exclamou em alta voz:
    - Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto de teu ventre! Donde me vem esta honra? De vir a mim a Mãe de Meu Senhor? Pois assim que a voz de tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu-se de alegria em meu seio. Bem-aventurada és tu que creste, pois da parte do Senhor hão de cumprir-se as coisas que te foram ditas!
    E Maria disse:
    - Minha alma glorifica ao Senhor,
    meu espírito exulta de alegria em Deus, Meu Salvador,
    porque olhou para sua pobre serva.
    Por isto, desde agora todas gerações
    proclamá-me-ão bem-aventurada,
    porque em mim realizou maravilhas Aquele que é poderoso.
    Seu Nome é Santo,
    e Sua Misericórdia estende-se de geração em geração
    sobre os que O temem.
    Manifestou o poder de Seu braço,
    desconcertou os corações dos soberbos.
    Derrubou do trono os poderosos
    e exaltou os humildes.
    Saciou de bens os indigentes
    e despediu de mãos vazias os ricos.
    Acolheu a Israel, Seu servo,
    lembrado de Sua Misericórdia,
    conforme prometera a nossos pais,
    em favor de Abraão e sua posteridade, para sempre.

    Maria ficou com Isabel cerca de três meses. Depois voltou para casa." 
                                                 Lc 1,26-56


NOSSA MÃE EM VISITAÇÃO POR MUNDO TODO

    Avisada pelo Arcanjo São Gabriel da gravidez de sua parenta, Maria viajou aproximadamente 100 quilômetros em companhia de São José para visitá-la, numa cidade das montanhas de Judá. Ou seja, além da radiante alegria que por tão grandes Graças partilhavam entre si, mesmo durante a gravidez que traria ao mundo o Salvador ela não poupou esforços para servir a quem precisava. Ciosa dos cuidados da casa de Santa Isabel em tão especial momento, Nossa Senhora aí ficou até o Nascimento de São João Batista.
    Mas as visitações de Nossa Senhora não parariam por aí. Nem seus primorosos auxílios. Recordando o casamento em Caná da Galileia, Maria estava lá com Jesus e Seus discípulos. E sempre muito atenciosa e prestativa, Nossa Mãe percebeu que o vinho tinha acabado e avisou a Jesus, o único que poderia evitar uma vexaminosa situação para a família dos noivos. Como Deus, Ele já sabia do embaraço, mas não planejava manifestar-Se publicamente ali, e chegou a alegar que Sua hora ainda não havia chegado.
    Maria, entretanto, por compaixão à família amiga não media esforços. E instou que Jesus usasse de Seus divinos dons, com os quais ela já estava bem acostumada. Nesses dias falava alto seu coração de Mãe, não somente do Messias, mas, em seus primeiros raios, Mãe de toda humanidade. Sem dúvida, após Seu Batismo por São João no Jordão, ela sabia que a vida pública de Seu Filho já havia iniciado, e por isso não se contentou com a explicação que Ele lhe deu: tratou de avisar os serviçais.
    Dada a tão especial natureza de Jesus, os noivos e seus familiares deveriam ser Seus potenciais seguidores, pois fizeram questão de tê-Lo presente mesmo com quase todos Doze Apóstolos, a exceção de São Mateus. E como Maria, além de Perfeita Mãe, era a primeiríssima seguidora de Jesus, lá estava ela, silente, ouvindo cada palavra do Salvador, embora sempre igualmente atenta às alheias dificuldades.
    Ou se os noivos e familiares apenas eram íntimos amigos da Sagrada Família, pois Caná ficava a apenas 8 km de Nazaré, por certo fizeram questão da presença de Maria, atitude que é para todos nós um belo exemplo. Além da harmoniosa e santa interação ente ela e Seu Filho, eles já tinham uma razoável ideia de quem seria aquela flor, a Bem Aventurada, como dissera Santa Isabel.
    Nossa Mãe, contudo, foi muito além em suas visitações. Bem mais que as peregrinações junto a Seu Filho, enquanto Ele estava entre nós, ou junto aos Apóstolos, após Sua Ascensão, que inicialmente se detiveram em Jerusalém.
    Ela já visitou todos continentes por meio de esplendorosas manifestações que são suas Aparições. Aonde pelo mundo foram seus laboriosos filhos, os Sacerdotes, lá ela aparecia para ajudá-los na conversão e Salvação das almas. Veio ao México nos primeiros anos do descobrimento das Américas, em Guadalupe, estabelecer contato com os indígenas, assim como à América do Sul, a Quito, ainda nos anos de 1500, para alertar-nos dos difíceis séculos que se seguiriam.
    A Europa já é um privilegiado lugar com tantas visitas. Também apareceu na África, especialmente em Ruanda, quando tentou evitar o recente e terrível genocídio. Esteve, da mesma forma, na Ásia e na Oceania.
    Seus constantes cuidados, porém, terminam por 'atordoar' os religiosos que precisam dar a palavra final da Igreja a respeito da veracidade das Aparições. Por todo mundo, são listadas mais de 400 só no século passado. Por isso, na década de 1960, diante de tão frequentes afagos da Mãe do Céu, as autoridades eclesiais viram-se na obrigação de simplesmente autorizar a peregrinação e o culto em todos locais onde houver relatos de Aparição, apenas bastando que as mensagens a ela atribuídas não estejam em discordância com a Revelação, com os ensinamentos da Santa Igreja.
    É muito séria e complexa a tarefa de confirmação das aparições e de cada uma de suas mensagens. O certo é que temos muito especial e extremamente benevolente Mãe, correndo o mundo em socorro de seus filhos. E como se pode imaginar, nem todas aparições trazem novas revelações em suas mensagens, mas, mais frequentemente, trata-se de manifestações locais, com específicos objetivos para aquelas pessoas, história e época.
    Das mais recentes, entretanto, junto à Aparição de Medjugorje uma das mais importantes é Aparição de Akita, no Japão, em 1973, cuja mensagem teve aprovação da Igreja e é uma evidente continuação da Aparição de Fátima, como testemunhou a vidente, Irmã Agnes Sasagawa:


     O próprio Bispo de Niigata, antes de aposentar-se, viu-se obrigado a deixar seu relato, que pode ser visto neste sítio: https://www.adf.org.br/home/aparicoes-de-nossa-senhora-em-akita-i/
    Assim é Nossa Senhora da Visitação, Nossa Mãe sempre tão ativa e presente apesar de requisitada a cada instante por todos cantos do mundo. Esses fenômenos são muito mais que simples maternal carência de humildes pessoas, como pretendem alguns incrédulos. A gritante Verdade é que boa parte da humanidade claramente percebe seus sobrenaturais cuidados. A quantidade de relatos é praticamente infindável.
    Mas nós podemos e devemos adiantar-nos e poupar-lhe algum esforço. Basta que obedeçamos a Seu Amado Filho e ajudemos a cuidar de nossos mais necessitados irmãos, seus filhos, e que, em agradecimento por seus silenciosos e constantes cuidados, diariamente dirijamos a ela nossas preces para manifestar-lhe amor. Pois com tantos e tão carentes filhos para cuidar, é muito bom que ela não tenha que se preocupar também conosco.
    Ainda podemos, e também devemos, imitá-la em seu maior exemplo como Filha da Deus, oferecendo-nos para mais intensamente trabalhar nas obras do Reino de Seu Filho. Após o anjo ter-lhe anunciado a Concepção do Messias em Seu ventre, ela prontamente respondeu com seu obediente e prestativo amor: "Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo tua palavra." Lc 1,38

    Nossa Senhora da Visitação, rogai por nós!

quinta-feira, 30 de maio de 2024

Corpus Christi


    Como é sabido, na Quinta-Feira Santa, durante a Santa Ceia, Jesus ofereceu Seu Corpo como o Pão da Vida. Bem antes, porém, por ocasião da multiplicação dos pães e dos peixeis, Ele havia afirmado na sinagoga de Cafarnaum: "Eu sou o Pão Vivo que desceu do Céu. Quem comer deste Pão viverá eternamente. E o Pão, que Eu hei de dar, é Minha Carne para a Salvação do mundo." Jo 6,51
    Em 1209, na Bélgica, Santa Juliana de Mont Cornellieu, freira agostiniana, começou a ter visões que pediam à Igreja uma festa para o Santíssimo Sacramento incluída no Calendário Litúrgico. No ano de 1230, por graça da Divina Providência, ela teve a oportunidade de confidenciar suas visões ao arquidiácono de Liège, que viria a ser o Papa Urbano IV. E a partir daí se iniciaram as Procissões de Corpus Christi.
    Na Itália, em Bolsena, no ano de 1263, o padre Pietro de Praga, que duvidava que na Eucaristia estivessem realmente transubstanciados o Corpo e o Sangue de Cristo, ao elevar a Hóstia Consagrada viu dela sair Sangue e cair sobre o linho litúrgico. Esse linho foi levado a Orvieto, residência de Urbano IV, que à época já era o Sumo Pontífice. Não restava mais dúvida para ele: Deus manifestamente pedia uma festa para o Santíssimo Sacramento. E em 11 de agosto de 1264, registrou em bula papal a Festa de Preceito para homenagear o Corpo de Cristo.
    O linho com as marcas do Preciosíssimo Sangue de Jesus está exposto na Catedral de Orvieto.


    Três das quatro pedras de mármore do altar, que fora banhado pelo Sangue que corria da Hóstia, são devidamente preservadas como relíquias no Tabernáculo da Basílica de Santa Cristina, em Bolsena, que remonta o século XI.


    O Milagre Eucarístico, no entanto, não aconteceu apenas em Bolsena. Já se havia dado em Lanciano, também na Itália, por volta do ano 700. E aí não apenas saiu Sangue da Hóstia Consagrada, mas toda ela tornou-se Carne e ainda resiste incorrupta através dos tempos.
    Foi analisada em 1971 e atestada como músculo cardíaco: contém, em seção, o miocárdio, endocárdio, o nervo vago e, no considerável espessor do miocárdio, o ventrículo cardíaco esquerdo. O sangue é humano do tipo AB, e, apesar de mais de 13 séculos, cuja conservação é outro milagre, ainda mantém fresca constituição, como se houvesse recém-saído de uma pessoa viva.
    Ela encontra-se exposta no Santuário Eucarístico de São Francisco, em Lanciano.
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    E esse determinante sinal de Deus também se deu em muitos outros lugares através dos séculos, em mais de uma centena deles. Ou seja, o mundo não pode dizer-se alheio à patente realidade do Corpo e o Sangue de Cristo no Santíssimo Sacramento.
    Citando os mais conhecidos, temos várias cidades da Itália, como Trani, Rimini, Alatri, Firenzi, Valvasone e Gruaro, Siena, Macerata, Bagno di Romagna, Torino, Veroli, Mogoro, Patierno e San Mauro La Bruca.
    Na França em Blanot, Faverney e Pressac, na Alemanha em Walldürn, na Holanda em Alkmaar e Amsterdam, na Polônia em Cracóvia e Poznań, em Portugal em Santarém, na Espanha em O Cebreiro e Ivorra, na Áustria em San Georgenberg-Fiecht, na Suíça em Ettiswil, na Bélgica em Bois-Seigneur-Isaac, e na atual Croácia em Ludbreg.
    O Milagre do Juazeiro, que popularmente consagrou o Padre Cícero, também foi um Milagre Eucarístico, que, aliás, se repetiu por várias vezes diante de muitas testemunhas, sempre na boca da beata Maria de Araújo.
    Quanto à Transubstanciação, pois, que em toda Santa Missa ocorre no momento da consagração da Hóstia, não há dúvida: o pão e o vinho oferecidos no altar realmente transformam-se em Corpo e Sangue de Cristo. O fato é que alguns ainda teimam em não acreditar na própria Palavra de Jesus, que expressamente havia dito: "Pois Minha Carne é verdadeiramente uma comida e Meu Sangue, verdadeiramente uma bebida." Jo 6,55
    Ora, é por Sua Carne e por Seu Sangue que nos é concedida a Graça da Comunhão com Deus: "Quem come Minha Carne e bebe Meu Sangue permanece em Mim e Eu nele." Jo 6,56
    E Ele havia advertido: "Disse-lhes então Jesus: 'Em Verdade, em Verdade, digo-vos: se não comerdes a Carne do Filho do Homem, e não beberdes Seu Sangue, não tereis a Vida em vós mesmos.'" Jo 6,53
    É o Pão de Céu, portanto, exclusivamente celebrado pela Igreja de Jesus, que devemos buscar como verdadeiro alimento. Foi isso que Ele disse à multidão, após a multiplicação dos pães e dos peixes: "Respondeu-lhes Jesus: 'Em Verdade, em Verdade, digo-vos: buscais-Me, não porque vistes os milagres, mas porque comestes dos pães e ficastes fartos. Trabalhai não pela comida que perece, mas pela que dura até a Vida Eterna, que o Filho do Homem vos dará. Pois n'Ele Deus Pai imprimiu Seu sinal.'" Jo 6,26-27
    São Paulo exorta: "Pois Nossa Páscoa, Cristo, foi imolada. Celebremos, então, a festa, não com o velho fermento nem com o fermento da malícia e da corrupção, mas com os pães sem fermento, de pureza e de Verdade." 1 Cor 5,8
    E nestes termos ele explica a celebração do Santíssimo Sacramento, invocando a Sagrada Tradição, ou seja, a fiel retransmissão dos ensinamentos de Jesus: "Eu recebi do Senhor o que vos transmiti: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão e, depois de ter dado graças, partiu-O e disse: 'Isto é Meu Corpo, que é entregue por vós. Fazei isto em memória de Mim.' Do mesmo modo, depois de haver ceado, tomou também o Cálice, dizendo: 'Este Cálice é a Nova Aliança no Meu Sangue. Todas vezes que O beberdes, fazei-o em memória de Mim.' Assim, todas vezes que comeis desse Pão e bebeis desse Cálice lembrais a morte do Senhor, até que Ele venha." 1 Cor 11,23-26
    Mas também adverte do necessário exame de consciência, que pode recomendar o Sacramento da Confissão: "Portanto, todo aquele que indignamente comer o Pão ou beber o Cálice do Senhor será culpável do Corpo e do Sangue do Senhor. Que cada um se examine a si mesmo, e assim coma desse Pão e beba desse Cálice. Aquele que O come e O bebe sem distinguir o Corpo do Senhor, come e bebe sua própria condenação. Esta é a razão porque entre vós há muitos adoentados e fracos, e muitos mortos." 1 Cor 11,27-30
    Sobre outras 'comunhões', ele dizia com toda clareza: "As coisas que os pagãos sacrificam, sacrificam-nas a demônios e não a Deus. E eu não quero que tenhais comunhão com os demônios. Não podeis beber ao mesmo tempo o Cálice do Senhor e o cálice dos demônios. Não podeis participar ao mesmo tempo da Mesa do Senhor e da mesa dos demônios. Ou queremos provocar a ira do Senhor? Acaso somos mais fortes que Ele?" 1 Cor 10,20-22
    Em muitos casos, pois, antes se deve cumprir o Sacramento da Confissão, como já era feito entre os judeus desde o sacrifício pela reparação dos pecados, que também exigia prévia purificação. Diz o Levítico: "Todo homem puro poderá comer da carne do pacífico sacrifício. Mas aquele que a comer em estado de impureza será cortado de seu povo." Lv 7,19b-20
    A própria família do levita deveria estar em estado de pureza, para comer das oferendas consagradas a Deus pelo povo: "Todo membro de tua família que estiver puro comerá dessas coisas." Nm 18,11b
    Assim como todo povo de Israel para comer a Páscoa, que era uma obrigação: "Mas se alguém, estando puro, não se encontrar em viagem, e todavia não fizer a Páscoa, será cortado do seu povo, porque não apresentou a oferta do Senhor no tempo estabelecido. Este levará a pena de seu pecado." Nm 9,13
    Ora, tão vital é o Santíssimo Sacramento que toda a Missão de Jesus foi orientada precisamente para esse momento: "Foram, pois, e acharam tudo como Jesus lhes dissera; e prepararam a Páscoa. Chegada que foi a hora, Jesus pôs-Se à mesa, e com Ele os Apóstolos. Disse-lhes: 'Ardentemente tenho desejado convosco comer esta Páscoa, antes de sofrer.'" Lc 22,13-15
    Além de ser o mais importante dos Sacramentos, ele ainda é a visível e material presença de Deus entre nós. Sem dúvida, a promessa de estar conosco 'até o fim do mundo' refere-se tanto ao Seu Santo Espírito, pela comunhão da Santíssima Trindade, quanto à Eucaristia, como Ele mesmo prometeu momentos antes de Sua Ascensão: "Eis que convosco estou todos dias, até o fim do mundo." Mt 28,20
    Que nos alegremos, então, com esse indizível privilégio de podermos sentar à mesa com Jesus e receber Seu Corpo e Seu Sangue como alimento. Aguardemos com Ele, à mesa do altar, pelo banquete celestial, como Ele prometeu: "Em Verdade, digo-vos: já não beberei do fruto da videira, até aquele dia em que o beberei de novo no Reino de Deus." Mc 14,25
    E que nossa verdadeira felicidade seja o altar do Senhor, agora e na eternidade, como disse o anjo na visão que teve São João Evangelista: "Felizes os convidados para a ceia das núpcias do Cordeiro." Ap 19,9


    A secular procissão de Corpus Christi, portanto, faz-nos recordar o caminho que Jesus fez do Cenáculo, onde ofereceu Seu Corpo e Seu Sangue, até o Monte das Oliveiras, onde livremente Se entregou para ser crucificado. E neste difícil momento, sentindo que chegava Sua hora, Ele convidou-nos à vigília: "Minha alma está triste até a morte. Ficai aqui e vigiai Comigo." Mt 26,38

    "Todas vezes que comemos deste Pão e bebemos deste Cálice, anunciamos, Senhor, Vossa morte, enquanto esperamos Vossa Vinda!"

Santa Joana d'Arc


    Nossa Santa viveu as últimas décadas da Guerra dos Cem Anos, dada entre França e Inglaterra. Filha de humildes camponeses, era pastora e não foi alfabetizada. Nascida em 1412, em Domrémy, região de Lorena, nordeste da França, seu pai era agricultor e sua mãe ensinou-lhe domésticos afazeres, que incluíam fiar e costurar. Sempre foi muito religiosa: gostava de rezar e assiduamente ia à Santa Missa. Muitas vezes confiantemente entregava o rebanho à Divina Providência e ia à igreja da cidade, onde passava horas em orações.
    Ainda aos 13 anos começou a ter experiências místicas: de longe ouviu vozes que vinham da igreja que frequentava. Elas provocavam uma inexplicável claridade à sua volta, fenômeno que chegava a repetir-se até três vezes por semana. Mais tarde, ela identificou-as como as vozes de São Gabriel Arcanjo, Santa Catarina de Alexandria e Santa Margarida de Antioquia, avisando da importância de firmemente perseverar na oração, pois Deus lhe reservava uma difícil missão: haveria de expulsar os ingleses da região da cidade de Orleans. 


    Em 1428, aos 16 anos, recebeu mais específicas mensagens: deveria ir ao encontro do comandante do exército, numa cidade vizinha, e pedir uma escolta que a conduzisse ao rei da França. Seu tio levou-a, mas o comandante riu de suas motivações e das previsões que fazia sobre uma batalha que ocorreria nas proximidades de Orleans, no seguinte ano. Quando elas se cumpriram, porém, e com exatidão como Santa Joana d'Arc havia previsto, o comandante pessoalmente encaminhou-a com toda segurança ao rei. Viajou disfarçada de escudeiro, vestida de armadura como os soldados franceses, por sugestão das vozes que ouvia, artifício que acabou adotando em todas batalhas que liderava.
    Em Chinon, ao sul de Paris, onde o rei estava refugiado, ela reconheceu-o entre vários nobres sem nunca o ter visto, pois ele se disfarçava por conta dos riscos que corria. Numa sala repleta, ela caminhou diretamente até ele e disse: "Senhor, vim conduzir seus exércitos à vitória!" Foi um grande sinal e muito impressionou o rei, mas ele foi convencido a entregá-la para ser examinada pelas autoridades eclesiásticas de Poitiers, que exaustivamente a interrogaram até convencerem-se de que suas mensagens, de fato, tinham origem divina.
    Ao retornar ao rei, mais uma vez causou-lhe profunda admiração ao demonstrar que conhecia segredos das forças armadas francesas. Absolutamente consciente que ela era inspirada por Deus, em suas mãos entregou um grupamento de 4 mil homens para que libertasse Orleans, conforme lhe pediam as vozes. E mesmo posicionando-se em meio à batalha, comandando e incentivando os soldados franceses, os ingleses miraculosamente não a atacavam. Por fim, após dez dias de batalha, Orleans foi reconquistada. A despeito das pinturas que a retratam, como arma ela apenas empunhava uma branca bandeira em que ostentava a Cruz, o Nome de Jesus e o Nome de Maria.


    A vitória em Orleans, após tantas e frustradas tentativas, reergueu o moral das tropas e do povo francês, e foi o início da virada. Sob seu comando, os franceses também impuseram fragorosas derrotas ao inimigo nas cidades vizinhas: Jargeau, Meung-sur-Loire e Beaugency. A fama de Santa Joana correu toda França e muitos combatentes franceses, que até então lutavam a favor da Inglaterra, passaram a temê-la e mudaram de lado. Os ingleses estavam assombrados com os relatos a seu respeito.


    A cerimônia de coroação de Carlos VII, na cidade de Reims, após uma arriscada viagem praticamente circundando toda Paris, que estava dominada, passando por várias áreas do exército inimigo, é um exemplo de como os caminhos se abriram para ela e para o rei, que fielmente acatava suas instruções. Várias autoridades que viajaram até Reims também tiveram suas passagens liberadas.
    Com a vitória em Orleans, os ingleses esperavam que ela atacasse Paris, mas Santa Joana, inspirada pelas vozes, convenceu o rei a firmar posição em Rouen, mais uma vez circundando Paris e cruzando com o exército francês algumas posições do invasor.


    Embora já tivesse cumprido sua missão, a pedido do rei e por própria vontade Santa Joana d'Arc também foi a campo na batalha pela reconquista de Paris, onde foi ferida por uma flecha. O rei, batendo em retirada, abandonou-a. Sozinha, mas ainda com o exército absolutamente solícito ao seu comando, ela mudou de estratégia e atacou Compiègne, uma pequena cidade ao norte de Paris, porém traiçoeiramente foi aprisionada por nobres da região, que se opunham ao rei da França. Como os soldados franceses não a esqueciam e iriam fazer de tudo para resgatá-la, os ingleses anteciparam-se e pagaram para obter sua guarda. Na verdade, como não podiam matá-la, pois era prisioneira de guerra, eles julgaram-na como feiticeira num processo pretensamente religioso, simulando uma inquisição.
    Aos 19 anos, depois de receber a Comunhão Eucarística, Santa Joana d'Arc foi levada à fogueira, onde padeceu martírio murmurando os nomes de Jesus e Maria. Era 30 de maio de 1431, na Praça Vermelha, em Rouen, no noroeste da França.
    Enquanto alguns gritavam 'bruxa', 'feiticeira', uma multidão de humilde gente comovidamente acompanhou seu sacrifício, que ela enfrentou com muita coragem e . Suas cinzas foram jogadas no Rio Sena, para que não fossem veneradas.
 

    20 anos mais tarde, por falta dos mais elementares fundamentos, o Papa Calisto III considerou inválido o processo de seu julgamento e reabilitou-a como perfeita cristã. Em 1920, como havia muito já pedia o simples e devoto povo do país e de outros lugares, o Papa Bento XV canonizou-a e deu-lhe o título de Padroeira da França.
    Além de muitas igrejas e monumentos por toda França, assim como imagens e estátuas nas principais catedrais, o local de seu martírio, em Rouen, foi preservado e uma moderna igreja, dessas mórbidas inovações, foi construída em sua homenagem.


    Santa Joana d'Arc, rogai por nós!

quarta-feira, 29 de maio de 2024

Testemunhar Jesus


    Todos que cremos em Jesus temos uma premente missão: ser Suas testemunhas. Está claro, Deus quer-nos ativos participantes na construção de Seu Reino, o que devemos fazer dando exemplo por atitudes e sendo capazes de explicar a razão de nossa . São Pedro dava essa recomendação: "Antes santificai em vossos corações Cristo, o Senhor. Estai sempre prontos para dar a razão de vossa esperança a todo aquele que vos pedir, mas fazei-o com suavidade e respeito." 1 Pd 3,15b
    Sacerdotes e fiéis, pois, estamos incumbidos desse serviço em defesa da Verdade, o que inclui a caridade material para com nossos irmãos. E tudo começou com os Apóstolos, pois exatamente para isso foram chamados. Antes de subir aos Céus, Jesus disse-lhes: "... mas descerá sobre vós o Espírito Santo e dá-vos-á força. E sereis Minhas testemunhas em Jerusalém, em toda Judeia e Samaria, e até os confins do mundo." At 1,8
    Por isso, diante da primeira leva de pagãos a serem convertidos ao Cristianismo, São Pedro abertamente declarava qual a missão dos Doze: "E nós somos testemunhas de tudo que Ele fez na terra dos judeus e em Jerusalém." At 10,39
    Mas, como visto, os Apóstolos não estavam sós: tinham o Divino Auxílio. Logo após iniciarem suas pregações, o Príncipe dos Apóstolos alegou perante o Sinédrio: "O Deus de nossos pais ressuscitou Jesus, que vós matastes, suspendendo-O num madeiro. Deus elevou-O pela mão direita como Príncipe e Salvador, a fim de dar a Israel o arrependimento e a remissão dos pecados. Deste fato nós somos testemunhas! Nós e o Espírito Santo, que Deus deu a todos aqueles que Lhe obedecem." At 5,30-32
    Pois assim acontece a verdadeira pregação da Palavra, como ele disse em carta apostólica: "... estas revelações que agora vos têm sido anunciadas por aqueles que vos pregaram o Evangelho da parte do Espírito Santo, enviado do Céu." 1 Pd 1,12b
    São Paulo diz o mesmo: "Nosso Evangelho foi-vos pregado não somente por palavra, mas também com poder, com o Espírito Santo e com plena convicção." 1 Ts 1,5a
    E São Tiago Menor diz das decisões da Igreja, como se deu no primeiro Concílio de Jerusalém: "Com efeito, pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor outro peso além do indispensável seguinte..." At 15,28
    Ora, essa era uma promessa de Jesus, que fala em permanente auxílio: "E Eu rogarei ao Pai, e Ele dá-vos-á outro Paráclito, para que convosco fique eternamente." Jo 14,16
    Como não poderia deixar de ser, o Antigo Testamento e os Evangelhos foram escritos sob Sua inspiração. São Pedro atesta: "Porque jamais uma profecia foi proferida por efeito de uma vontade humana. Homens inspirados pelo Espírito Santo falaram da parte de Deus." 2 Pd 1,21
    E foram fundamentados nos testemunhos dos Apóstolos, como São Lucas garantiu: "... como nos transmitiram aqueles que desde o princípio foram testemunhas oculares, e que se tornaram Ministros da Palavra." Lc 1,2
    Jesus havia-lhes garantido: "Se guardaram Minha Palavra, também hão de guardar a vossa." Jo 15,20b
    E também prometeu Sua constante presença entre os membros da Igreja: "Eis que convosco estou todos dias, até o fim do mundo." Mt 28,20b
    Claro, porém, desde que realmente estejamos reunidos em Seu Nome: "Porque onde dois ou três estão reunidos em Meu Nome, aí estou Eu em meio a eles." Mt 18,20
    São Lucas narra a cena em que Jesus, logo em Sua primeira Aparição aos Apóstolos no Domingo da Ressurreição, explica-lhes as profecias que se cumpriram por Sua Paixão e Ressurreição e diz-lhes: "Vós sois as testemunhas de tudo isso." Lc 24,48
    Sem dúvida, nos primeiros anos da anunciação do Evangelho, a principal prova da Vinda do Messias era o testemunho ocular de Sua Ressurreição. Tanto que, ao escolher o substituto para o lugar de Judas Iscariotes, um dos indicados foi São Matias porque já estava com os Apóstolos e com Jesus desde o início, de Seu Batismo por São João Batista até a Ascensão. E foi São Pedro, inspirado pelo Espírito Santo, que tomou essa decisão: "Convém que destes homens que têm estado em nossa companhia todo tempo em que o Senhor Jesus viveu entre nós, a começar do Batismo de João até o dia em que de nosso meio foi arrebatado, um deles torne-se conosco testemunha de Sua Ressurreição." At 1,21-22
    Assim, representados pela figura de São Pedro, os Apóstolos fielmente vão cumprir essa missão, como ele afirma diante do povo no Templo de Jerusalém, após haver curado um aleijado: "Mas Deus ressuscitou-O dentre os mortos: disso nós somos testemunhas." At 3,15b
    E faziam-no com todo empenho: "Com grande coragem os Apóstolos davam testemunho da Ressurreição do Senhor Jesus. Em todos eles, era grande a Graça." At 4,33
    Essas testemunhas, entre as quais São Matias, foram agraciadas por Deus para cumprir outra muito especial missão: fazer parte da nascente Igreja, pois o Ministério da Palavra só foi entregue a um específico grupo, que tem por mister manter-se unido. À ela São Paulo assim se refere: "... quero que saibas como deves portar-te na Casa de Deus, que é a Igreja de Deus Vivo, coluna e sustentáculo da Verdade." 1 Tm 3,15
    São Pedro, de fato, vai resguardar a missão dos Doze Apóstolos, antes da escolha dos sete diáconos: "Portanto, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de Sabedoria, aos quais encarregaremos este ofício. Nós atenderemos sem cessar à oração e ao Ministério da Palavra." At 6,3-4
    É isso que ele vai pregar na casa de Cornélio, centurião da corte Itálica: "Mas Deus ressuscitou-O no terceiro dia, concedendo-Lhe manifestar-Se não a todo o povo, mas às testemunhas que Deus havia escolhido, a nós que com Ele comemos e bebemos, depois que ressuscitou." At 10,40-41
    Com efeito, Jesus havia assegurado a vitória aos Onze: "Não fostes vós que Me escolhestes, mas Eu escolhi-vos e constituí para que vades e produzais fruto, e vosso fruto permaneça" Jo 15,16a
    Por isso, eles são chamados de fundamentos da Igreja por São Paulo: "Consequentemente, já não sois hóspedes nem peregrinos, mas sois concidadãos dos Santos e membros da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos Apóstolos e Profetas, tendo por pedra angular o próprio Cristo Jesus." Ef 2,19-20
    Ele diz que só através do Divino Paráclito podemos ser Igreja: "É n'Ele (Cristo) que vós também entrais, pelo Espírito, na estrutura do edifício que se torna a habitação de Deus." Ef 2,22
    Ora, sequer podemos perceber que Jesus é Deus sem Sua ajuda, como o Último Apóstolo afirma: "... ninguém pode dizer: Jesus é o Senhor, senão sob a ação do Espírito Santo." 1 Cor 12,3b
    Quanto a essa indizível Graça dada aos Apóstolos, que certamente inclui muitas responsabilidades, Jesus comentou: "Ditosos os olhos que vêem o que vós vedes, pois vos digo que muitos Profetas e reis desejaram ver o que vós vedes, e não o viram; e ouvir o que vós ouvis, e não o ouviram." Lc 10,23-24
    São Paulo, da mesma forma, fazia específica menção à Ressurreição, exaltando o feito que foi e que se comprovou por Suas aparições: "Durante muitos dias apareceu àqueles que com Ele subiram da Galileia a Jerusalém, os quais até agora d'Ele são testemunhas junto ao povo." At 13,31
    Pois ele também foi testemunha da Ressurreição por meio da Aparição que provocou sua conversão, quando Jesus lhe falou: "Mas levanta-te e põe-te em pé, pois Eu apareci-te para fazer-te ministro e testemunha das coisas que viste, e de outras para as quais hei de manifestar-Me a ti." At 26,16
    Aos poucos, contudo, além da Ressurreição, as demais revelações passaram a ser divulgadas, como São Pedro vai pregar: "... testemunhar que Deus O constituiu Juiz dos vivos e dos mortos." At 10,42b
    E assim até chegar à completa compilação dos Evangelhos, que incluem Sua vida, Seus atos e Suas pregações. São Lucas já afirmava em primeiríssimas linhas: "Em minha primeira narração, ó Teófilo, contei toda sequência de ações e de ensinamentos de Jesus..." At 1,1
    Pouco antes de Sua morte, pois, Jesus avisou aos Apóstolos do grande compromisso que eles haviam assumido: "Cuidai de vós mesmos. Sereis arrastados diante dos tribunais e açoitados nas sinagogas, e comparecereis diante dos governadores e reis por Minha causa, para diante deles dar testemunho de Mim." Mc 13,9
    Não o dizia, porém, só a aos Doze, mas a todos que se esforçam por obedecê-Lo e dar testemunho aos irmãos, ou seja, todos nós fazemos parte de Seu Corpo Místico, que é Sua Igreja: "Portanto, quem der testemunho de Mim diante dos homens, Eu também darei testemunho dele diante de Meu Pai que está nos Céus." Mt 10,32
    Por isso, São João Evangelista atesta esta importante manifestação de força da Igreja: "Aceitamos o testemunho dos homens." 1 Jo 5,9a
    Ora, o próprio Jesus reclamou sua vigência: "Por fim, apareceu aos Onze, quando estavam sentados à mesa, e censurou-lhes a incredulidade e dureza de coração, por não acreditarem nos que O tinham visto ressuscitado." Mc 16,14
    Assim como não dizia que tal testemunho seria fácil: "Se alguém quiser vir Comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-Me. Porque aquele que quiser salvar sua vida, perdê-la-á. Mas aquele que tiver sacrificado sua vida por Minha causa, recobrá-la-á." Mt 16,24b-25
    Mas desde então garantia o divino auxílio do Santo Paráclito: "Quando, porém, levarem-vos às sinagogas, perante os magistrados e as autoridades, não vos preocupeis com o que haveis de falar em vossa defesa, porque naquela hora o Espírito Santo inspirá-vos-á o que deveis dizer." Lc 12,11-12
    Ora, o próprio fim do mundo só se dará quando o Evangelho tiver sido anunciado por toda parte, segundo Suas próprias Palavras: "Este Evangelho do Reino será pregado pelo mundo inteiro para servir de testemunho a todas nações, e então chegará o fim." Mt 24,14
    Na verdade, mesmo antes da convocação dos Apóstolos, testemunhos a favor de Jesus já vinham sendo espontaneamente dados pelo próprio povo de Nazaré, desde o início de Sua vida pública: "Todos davam-Lhe testemunho e admiravam-se das Palavras de Graça, que procediam de Sua boca, e diziam: 'Não é este o filho de José?'" Lc 4,22
    O próprio São João Batista era testemunha de Jesus. E testemunha exemplar, segundo os desígnios de Deus: seu martírio mostra que assumiu as consequências da missão. Sobre ele, São João Evangelista vai dizer: "Houve um homem, enviado por Deus, que se chamava João. Este veio como testemunha, para dar testemunho da Luz, a fim de que por meio dele todos cressem." Jo 1,6-7


TESTEMUNHO: RAZÕES E CONSEQUÊNCIAS

    Aliás, São João Evangelista é pródigo em falar em testemunho. Também cioso de sua missão, ele usa o termo com frequência. É assim que ele registra a reclamação de Jesus a Nicodemos, dizendo que está sendo rejeitado, junto a Seus Apóstolos, pelos religiosos de Jerusalém: "Em Verdade, em Verdade, digo-te: dizemos o que sabemos e damos testemunho do que vimos, mas não recebeis Nosso Testemunho." Jo 3,11
    No entanto, Ele contava com mais uma especialíssima testemunha. E por isso até isentava-Se da obrigação de dar provas de Si mesmo: "Há Outro que dá testemunho de Mim, e Eu sei que o testemunho que dá de Mim é digno de fé. ... o Pai que Me enviou, Ele mesmo deu testemunho de Mim." Jo 5,32.37
    Explicitando Sua Comunhão com o Pai, Ele referia-Se às Suas obras, contundentes provas de Quem Ele é. Sem dúvida, elas são bem maior testemunho que o do Batista: "... tenho maior testemunho que o de João, porque as obras que Meu Pai Me deu para executar, essas mesmas obras que faço, testemunham a Meu respeito, que o Pai Me enviou." Jo 5,36
    São João Evangelista vai apontá-las, entre elas a Ressurreição, como o maior dos testemunhos em favor do Nazareno: "Ora, maior é o testemunho de Deus ... aquele que Ele deu de Seu próprio Filho." 1 Jo 5,9
    E como inicial parte da Revelação, o Antigo Testamento, que profetiza Sua Vinda e Suas obras, também dá testemunho d'Ele. Ao argumentar com os principais dos judeus sobre Sua autoridade, Jesus vai invocá-lo: "Vós perscrutais as Escrituras, nelas julgando encontrar a Vida Eterna. Pois bem! São elas mesmas que dão testemunho de Mim." Jo 5,39
    Não bastante, como vimos São Pedro dizer, o Espírito Santo também O confirmaria como o Cristo. Jesus avisou aos Apóstolos: "Quando vier o Paráclito, que enviar-vos-ei da parte do Pai, o Espírito da Verdade, que procede do Pai, Ele dará testemunho de Mim." Jo 15,26
    E deu estes três detalhes, inerentes à Sua Missão: "E quando Ele vier, convencerá o mundo a respeito do pecado, da justiça e do Juízo. Convencerá o mundo a respeito do pecado, que consiste em não crer em Mim. Convencê-lo-á a respeito da justiça, porque Eu Me vou para junto de Meu Pai e vós já não Me vereis. Convencê-lo-á a respeito do Juízo, que consiste em que o príncipe deste mundo já está julgado e condenado." Jo 16,8-11
    Esse é um argumento que São João Evangelista vai repetir em sua Primeira Carta: "E o Espírito é Quem dá testemunho d'Ele, porque o Espírito é a Verdade." 1 Jo 5,6b
    Ele ainda evoca a Água e o Sangue que, na Cruz, jorraram de Seu lado, que seriam visíveis sinais dos Sacramentos do Batismo e da Eucaristia: "Ei-Lo, Jesus Cristo, Aquele que veio pela Água e pelo Sangue... São, assim, três os que dão testemunho: o Espírito, a Água e o Sangue; estes três dão o mesmo testemunho." 1 Jo 5,6a.7-8
    Por fim, temos que Jesus já havia encarregado os Apóstolos antes mesmo de Sua Paixão, logo após o Lava-Pés, e tão-somente por haverem presenciado toda Sua vida pública: "Vós também dareis testemunho, porque Comigo estais desde o princípio." Jo 15,27
    Diante de Pilatos, em Suas últimas horas, Ele vai sintetizar a essência da Missão que recebeu do Pai, provocando todos nós porque Ele também deu um testemunho, mesmo tendo-Lhe custado a vida: "É para dar testemunho da Verdade que nasci e vim ao mundo. Todo aquele que é da Verdade ouve Minha voz." Jo 18,37
    E Seu testemunho, como disse a Seus incrédulos parentes antes da festa dos Tabernáculos, era muito claro: "O mundo não vos pode odiar, mas odeia-Me porque contra ele Eu testemunho: suas obras são más." Jo 7,7
    De fato, Ele havia dito a Nicodemos: "Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por Ele. Ora, este é o Julgamento: a Luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas que a Luz, pois suas obras eram más." Jo 3,19
    Ciente do compromisso que assumiu, e mantendo sua verve, São João termina seu Evangelho identificando-se e atestando com seu peculiar modo: "Este é o discípulo que dá testemunho de todas essas coisas..." Jo 21,24
    E em sua Primeira Carta vai explicitar: "E o testemunho é este: Deus deu-nos a Vida Eterna, e esta Vida está em Seu Filho. Quem possui o Filho possui a Vida; quem não tem o Filho de Deus não tem a Vida." 1 Jo 5,11-12
    Assim como fez São Paulo, evocando os antigos Profetas como testemunhas da Revelação que culminaria em Jesus, e por isso fundamentos da Igreja junto aos Apóstolos, São Pedro recorda a importância destes arautos da Redenção, que só se tem pelo Cristo: "D'Ele todos Profetas dão testemunho, anunciando que todos aqueles que n'Ele creem recebem o perdão dos pecados por meio de Seu Nome." At 10,43
    Pois com total destemor, o Apóstolo dos Gentios atestava que Jesus é o Messias previsto no Antigo Testamento. É a narração de São Lucas: "Sua presença em Corinto foi, pela Graça de Deus, de muito proveito para os que haviam crido, pois publicamente e com grande veemência refutava os judeus, provando, pelas Escrituras, que Jesus era o Messias." At 18,27a-28
    É o que ele vai dizer durante seu julgamento perante o rei Agripa: "Mas, assistido do socorro de Deus, permaneço vivo até o dia de hoje. Dou testemunho a pequenos e a grandes, nada dizendo senão o que os Profetas e Moisés disseram que havia de acontecer..." At 26,22
    Tinha, porém, além dos auxílios do Santo Paráclito, a guia do próprio Divino Mestre, como aconteceu em Jerusalém logo após sua conversão: "Voltei para Jerusalém e, orando no Templo, fui arrebatado em êxtase. E vi Jesus que me dizia: 'Apressa-te e sai logo de Jerusalém, porque não receberão teu testemunho a Meu respeito.'" At 22,17-18
    Isso tornou a acontecer em Corinto: "Numa noite, o Senhor disse a Paulo em visão: 'Não temas! Fala e não te cales. Porque Eu estou contigo. Ninguém se aproximará de ti para fazer-te mal, pois tenho um numeroso povo nesta cidade.' Paulo deteve-se ali um ano e seis meses, ensinando a eles a Palavra de Deus." At 18,9-11
    Para ele, portanto, testemunhar Jesus é testemunhar a Graça: "... o Ministério da Palavra que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho ao Evangelho da Graça de Deus." At 20,24
    Um dos últimos registros de sua vida, por sinal, é uma prova do absoluto compromisso que tinha com a missão que Nosso Salvador lhe confiou. Deu-se em Roma: "Marcaram um dia e muitos foram procurá-lo no albergue onde se achava hospedado. A entrevista durou desde a manhã até a tarde. Paulo expôs-lhes o Reino de Deus e apresentou, sempre de novo, testemunhos destinados a convencê-los a respeito de Jesus, baseando-se na Lei de Moisés e nos Profetas." At 28,23
    Ele deixou um sério recado para São Timóteo, mas que vale para todos nós: "Não te envergonhes, portanto, do testemunho de Nosso Senhor, nem de mim, Seu prisioneiro, mas sofre comigo pelo Evangelho, fortificado pelo poder de Deus." 2 Tm 1,8
    Pois para quem obteve a Graça de alguma revelação, como ele, testemunhar é uma obrigação: "Anunciar o Evangelho não é glória para mim; é uma obrigação que se me impõe. Ai de mim, se eu não anunciar o Evangelho!" 1 Cor 9,16
    Ele advertia: "A ira de Deus manifesta-se do alto do Céu contra toda impiedade e perversidade dos homens, que pela injustiça aprisionam a Verdade." Rm 1,18
    E pouco antes de ser preso, vai afirmar aos Anciãos de Éfeso: "Vós sabeis como não tenho negligenciado, como não tenho ocultado coisa alguma que vos podia ser útil. Preguei e instruí-vos publicamente e dentro de vossas casas. Preguei a judeus e a gentios a conversão a Deus e a fé em Nosso Senhor Jesus. Portanto, hoje eu protesto diante de vós que sou inocente do sangue de todos, porque nada omiti no anúncio que vos fiz dos desígnios de Deus." At 20,20-21.26
    O salmista, aliás, mesmo antes da Vinda de Cristo já cantava seu compromisso com a Verdade sobre as coisas de Deus: "Anunciei a justiça na grande assembleia. Não cerrei meus lábios, Senhor, bem o sabeis. Não escondi Vossa justiça no coração, mas alto proclamei Vossa fidelidade e Vossa Salvação. À grande assembleia, não ocultei Vossa bondade nem Vossa fidelidade." Sl 39,10-11
    Ele até reitera esse compromisso através das gerações: "O que ouvimos e aprendemos, através de nossos pais, nada ocultaremos a seus filhos, narrando à geração futura os louvores do Senhor, Seu poder e Suas obras grandiosas." Sl 77,3-4
    Diz que isso é espontâneo, em função da perfeição dos divinos desígnios: "Cada geração apregoa à outra Vossas obras, e proclama Vosso poder. Elas falam do esplendoroso brilho de Vossa Majestade, e publicam Vossas maravilhas. Vosso Reino é Reino Eterno, e Vosso Império subsiste em todas gerações. O Senhor é fiel em Suas Palavras, e Santo em tudo que faz." Sl 144,4-5.13
    Tinha mesmo que atestar: "O sumário de Vossa Palavra é a Verdade, eternos são os decretos de Vossa justiça." Sl 118,160
    E Jesus cobrou dos religiosos de Seu tempo, sob ameaça, a fiel retransmissão da Revelação, sem ocultismo nem manipulação: "Ai de vós, doutores da Lei, que tomastes a chave da ciência, e vós mesmos não entrastes e impedistes aos que vinham para entrar." Lc 11,52
    Cobrava fidelidade às Escrituras: "Ai de vós, hipócritas escribas e fariseus! Pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e desprezais os mais importantes preceitos da Lei: a justiça, a Misericórdia, a fidelidade." Mt 23,23a
    Ele advertia Seus seguidores: "Guardai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia. Porque não há nada oculto que não venha a descobrir-se, e nada há escondido que não venha a ser conhecido. Pois o que dissestes às escuras será dito à Luz, e o que falastes ao ouvido, nos quartos, será publicado de cima dos telhados." Lc 12,1b-3
    Sua Doutrina, portanto, a Igreja abertamente testemunha, nada havendo a ocultar. Ele asseverou: "O que vos digo na escuridão, dizei-o às claras. O que vos é dito ao ouvido, publicai-o de cima dos telhados." Mt 10,27
    E repetiu no dia de Sua Ascensão, pedindo a integridade da Sã Doutrina: "Ide, pois, e ensinai a todas nações. Ensinai-as a observar tudo que vos prescrevi." Mt 28,19a.20a
    Assim reagiram São Pedro e São João Evangelista diante do Sinédrio, quando pela primeira vez foram proibidos de anunciar o Nome de Jesus: "Não podemos deixar de falar das coisas que temos visto e ouvido." At 4,20
    Comprometido em levar a Comunhão ao mundo, o Amado Discípulo, que tanto fala em testemunho, vai dizer: "... damos testemunho e anunciamo-vos a Vida Eterna, que estava no Pai e que Se manifestou. O que vimos e ouvimos nós anunciamo-vos, para que vós também tenhais Comunhão conosco. Ora, nossa Comunhão é com o Pai e com Seu Filho Jesus Cristo." 1 Jo 1,2-3
    E assim ele explicou o motivo de sua prisão, já durante a velhice: "Eu, João, vosso irmão e companheiro nas tribulações, na realeza e na paciência em união com Jesus, estava na ilha de Patmos por causa da Palavra de Deus e do testemunho de Jesus." Ap 1,9
    Neste livro, o Apocalipse, sempre no mesmo sentido ele narra a visão que teve dos mártires, que ao fim de sua vida já eram muitos, incluindo todos demais Apóstolos, e aponta a razão de seus sacrifícios: "Quando abriu o quinto selo, debaixo do Altar vi as almas dos homens imolados por causa da Palavra de Deus e por causa do testemunho de que eram depositários." Ap 6,9
    E exaltando-lhes o despojamento, registrou a vitória deles sobre o inimigo: "Mas estes venceram-no por causa do Sangue do Cordeiro e de Seu eloquente testemunho. Desprezaram a vida até aceitar a morte." Ap 12,11
    Também viu a guerra do inimigo contra os filhos de Nossa Senhora, e sempre expressando a mesma razão: "Cheio de raiva por causa da Mulher, o Dragão então começou a atacar o resto de seus filhos, aqueles que obedecem aos Mandamentos de Deus e mantêm o testemunho de Jesus." Ap 12,17
    Por inspiração, ele atribui ao Tabernáculo, que guardava a Arca da Aliança, um nome que já acusamos ser bem característico de seu vocabulário. Mas não é nenhum exagero: as palavras 'aliança', 'testamento', 'testemunho' e 'martírio' têm o mesmo significado. Diz: "Depois disso, eu vi abrir-se no Céu o Templo que encerra o Tabernáculo do Testemunho." Ap 15,5
    E disse o que significa ser Profeta: "Porque o profético espírito não é outro que o testemunho de Jesus." Ap 19,10
    Por fim, ele vê as almas dos Santos nos Céus, e em especiais lugares por terem cumprido a missão que é de todos cristãos: "Também vi tronos, sobre os quais se assentaram aqueles que receberam o poder de julgar: eram as almas dos que foram decapitados por causa do testemunho de Jesus e da Palavra de Deus... Feliz e Santo é aquele que toma parte na primeira ressurreição! Sobre eles a segunda morte não tem poder, mas serão Sacerdotes de Deus e de Cristo: com Ele reinarão durante os mil anos." Ap 20,4a.6

    "Anunciamos, Senhor, Vossa Morte e proclamamos Vossa Ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!"