Foi a Santa da reclusão e da oração, seja durante sua vida de única filha de idosos pais, de casada, de mãe ou de monja agostiniana na diocese de Espoleto, Itália. O fervor das preces e da contemplação sempre a arrebatava. Por horas entregava-se em adoração ao Cristo na Santa Cruz.
Nasceu com o nome de Margarida Lotti (Rita é apelido) em 1381 em Roccaporena, um vilarejo na comuna de Cássia, na região italiana da Úmbria, e desde criança, ouvindo de seus iletrados pais as histórias de Jesus e Maria, desejou ser religiosa. Pela pobreza e por suas obrigações dentro de casa, não pôde ir a escola. Mas não se lamentava: seu livro era o crucifixo.
Seus pais tiveram-na por milagre, quando já estavam em muito avançada idade. Um anjo avisou sua mãe que aquela criança seria um sinal de Deus para o mundo. Num tempo de muitas guerras e conflitos por terra, até entre vizinhos, de tão tocante serenidade seus pais eram apaziguadores: mesmo sem muito conhecimento, apelavam a Jesus e rezavam, e assim conseguiam grandes feitos.
Como Santa Rita era muito bonita, ainda muito jovem foi pedida em casamento por um nobre, ao que seus pais, por verem-na tão pura e só, cederam para que não ficasse sem cuidados após suas passagens. Mas seu esposo tornou-se muito violento, tomando parte em várias disputas e batalhas, e por muitas vezes também a maltratou.
E dada sua discrição, nossa Santa aconselhava às amigas como se relacionar com seus maridos. Seu exemplo de não se maldizer, nem aceitar que ninguém lhe falasse mal dos outros, fez com que muita gente dali deixasse esse mal hábito. Como num Calvário e suas estações, ela com frequência subia um rochedo nas proximidades, para rezar sobre uma pedra branca pela conversão do marido. E sempre lhe era muito carinhosa.
Teve filhos gêmeos, que ao entrarem na juventude quiseram tomar o mesmo caminho do pai. Mas Santa Rita, rezando e a todos dando exemplo de profunda Paz, findou por receber de Deus a Graça da conversão do marido, o que fez mudar os planos de seus filhos. Um dia, porém, ele não voltou para casa: havia sido assassinado por antigos inimigos.
Enquanto Santa Rita sofria, mas também agradecia a Deus que ele tivesse morrido em Cristo, e Lhe pedia que perdoasse os assassinos, seus filhos, contrariando seus conselhos, consumiam-se em desejo de vingança. Vendo que parecia muito difícil tirar-lhes o ódio do coração, numa prece pediu a Deus que preferia vê-los mortos a culpados de assassinato. E assim terminou acontecendo: não demorou e ambos morreram de uma mesma enfermidade.
Muito resignada, consolada por meio de assíduas orações, Santa Rita viu então sua chance de entrar para o convento. Persistente, foi rejeitada três vezes pelas agostinianas, pois era idosa e não era mais virgem. Mas esse problema seria fácil de resolver: fez de sua própria casa um convento. Vivia para rezar, para fazer penitências, embora assim não as considerasse, e para aconselhar as pessoas.
Uma noite, entre arrebatadas orações, foi chamada à porta, que batiam: "Rita, Rita!!!" Era São João Batista, Santo Agostinho e São Nicolau Tolentino, também agostiniano. Eles levaram-na pelos ares e puseram-na dentro do convento quando todas portas estavam fechadas. Ouvindo seu sincero relato e sem encontrar outra explicação, a superiora, profundamente admirada, acabou aceitando-a.
Entretanto, aí constantemente era menosprezada por tanta inocência e bondade. Tentando 'despertá-la' de sua introversão e candura, pediam-lhe que fizesse as mais duras tarefas, mas ela aceitava-as com um largo sorriso e alegremente aproveitava os momentos em que ficava a sós, para rezar. Aguava duas vezes ao dia uma videira seca, que havia anos já estava morta, atitude que lhe dava um ar infantil, aparentemente débil. Riam-se dela as monjas por isso, até que um dia a videira tornou a florescer e a dar frutos. Essa videira ainda hoje produz, e são as mais saborosas uvas do convento.
Um dia, ao ouvir de um pregador sobre as terríveis dores que Jesus padeceu, entrou em oração pedindo-Lhe que também pudesse padecer de algum sofrimento para ajudar na Redenção da humanidade. Este foi o exemplo dado por São Paulo, que escreveu aos colossenses: "O que falta às tribulações de Cristo, completo em minha carne, por Seu Corpo que é a Igreja." Cl 1,24b
Também escreveu aos filipenses: "Anseio pelo conhecimento, de Cristo e do poder da Sua Ressurreição, pela participação em Seus sofrimentos, tornando-me semelhante a Ele na morte, com a esperança de conseguir a Ressurreição dentre os mortos." Fl 3,10-11
Era isso que ele determinava como oferenda em nossa Santa Missa, como pregou aos romanos: "Eu exorto-vos, pois, irmãos, pelas Misericórdias de Deus, a oferecerdes vossos corpos em vivo, santo e agradável sacrifício a Deus: é este vosso culto espiritual. Não relaxeis vosso zelo. Sede fervorosos de espírito. Servi ao Senhor." Rm 12,1.11
São Pedro dizia o mesmo: "... vós também vos tornais os materiais deste espiritual edifício, um santo sacerdócio, para oferecer vítimas espirituais, agradáveis a Deus, por Jesus Cristo." 1 Pd 2,5
E nossa Santa pediu com tanta insistência até que numa ocasião, estando aos pés do Cristo Crucificado, de Sua coroa caiu um espinho que entrou profundamente na pele de sua testa, causando-lhe fortes dores até o dia de sua morte. Mais tarde, ele foi considerado um estigma, idêntico ferimento aos causados em Jesus pela coroa de espinhos.
Como a ferida não cicatrizava e fedia bastante, as monjas alojaram Santa Rita num pequeno quarto em separado, o que ela recebeu com grande alegria, pois era mais uma oportunidade para ficar a sós com Jesus e rezar. Passava dias a pão e água, dormindo no chão. A ferida na testa só desapareceu em uma viagem que fez a Roma, muito especial ocasião para sua ordem religiosa, e ela fez questão de ir. Mas tão logo regressou ao convento, ela tornou a aparecer.
Sentindo aproximar-se sua morte, pediu a Jesus um sinal de que seus filhos já estavam nos Céus, em companhia do pai, pois muito rezava por suas almas que certamente tinham ido para o Purgatório. Uma rosa e um figo, presentes que seus antigos vizinhos inesperadamente lhe trouxeram, colhidos no jardim da casa em que ela havia morado, foram para Santa Rita a resposta de Deus.
Após muito sofrimento, um dia o sino do convento começou a tocar sozinho. Ao falecer, porém, mais uma vez sua testa estava miraculosamente curada. Apenas uma pequena e vermelha marca ficou no lugar. O mau cheiro de sua cela transformou-se num suave perfume, que ainda hoje é sentido.
É a Santa das causas impossíveis.
É a Santa das causas impossíveis.
Com algumas adaptações para acolher peregrinos, sua casa também foi muito bem preservada por seus vizinhos e devotos, assim como a branca pedra sobre o rochedo nas proximidades, aonde nossa Santa ia rezar. Aí foi construída uma capela.
Como ao velório acorriam multidões, pois sua história já era muito conhecida e seu corpo não se decompunha, acabou que nunca foi enterrado. E ainda não se corrompeu por completo, permanecendo exposto desde 1457. Apenas trocaram o caixão de madeira por uma redoma de cristal.
Santa Rita de Cássia, rogai por nós!