terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

Deus Amigo


    Com Sua Doutrina de renascimento espiritual (cf. Jo 3,3), e assim de aperfeiçoamento das relações humanas (cf. Jo 13,34), Nosso Salvador ensinou que entre os Apóstolos, ou seja, na Santa Igreja, não haveria autoridade nos moldes da que vemos no mundo. Foi pouco antes do Domingo de Ramos, no Evangelho segundo São Mateus: "Jesus, porém, chamou-os e disse-lhes: 'Sabeis que os chefes das nações as subjugam, e que os grandes as tiranizam. Não seja assim entre vós. Todo aquele que entre vós quiser tornar-se grande, faça-se vosso servo. E aquele que entre vós quiser tornar-se o primeiro, faça-se vosso escravo. Assim como o Filho do Homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar Sua vida em resgate por uma multidão." Mt 20,25-28
    E para que isso ficasse bem claro, Ele deu um emblemático exemplo logo após a Santa Ceia, quando lavou os pés de todos, inclusive os de Judas Iscariotes. O Evangelho segundo São João narrou: "Depois de lavar-lhes os pés e tomar Suas vestes, novamente sentou-Se à mesa e perguntou-lhes: 'Sabeis o que vos fiz? Vós chamai-Me Mestre e Senhor, e assim bem dizeis porque Eu o sou. Logo, se Eu, Vosso Senhor e Mestre, lavei-vos os pés, vós também deveis lavar-vos os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo para que, como Eu vos fiz, também façais vós. Em Verdade, em Verdade, digo-vos: o servo não é maior que Seu Senhor, nem o enviado é maior que Aquele que o enviou. Se compreenderdes e praticardes estas coisas, sereis felizes." Jo 13,12-17
    Outra grande inovação foi Seu amigável modo de tratar a todos. Isso encantava quem O conhecia, pois realmente agia com naturalidade. Ele recomendava: "... aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis repouso para vossas almas." Mt 11,29
    Até nas acusações que Lhe faziam os falsos religiosos, Jesus era reconhecido por Seu amistoso proceder para com os mais afastados da . Segundo Ele mesmo, diziam d'Ele: "É um comilão e beberrão, amigo dos cobradores de impostos e dos pecadores." Mt 11,19
    Ao paralítico, descido numa maca através do telhado da casa de São Pedro, Ele vai curar-lhe primeiro a alma, o que também fez com docilidade. Está no Evangelho segundo São Lucas: "Meu amigo, teus pecados são-te perdoados." Lc 5,20
    E a Paz, realmente sobrenatural, que Ele derramou sobre Seus Apóstolos para que a distribuíssem, jamais se perde: "Em qualquer casa em que entrardes, primeiro dizei: 'A Paz esteja nesta casa.' Se ali morar algum amigo da Paz, vossa Paz repousará sobre ele. Senão, ela retornará a vós." Lc 10,5-6
    Na parábola dos trabalhadores, na qual aqueles que começaram no fim do dia recebem o mesmo salário daqueles que trabalharam todo dia, Ele cordialmente responde a quem Lhe reclama de uma suposta injustiça: "Amigo, Eu não fui injusto contigo. Não combinamos uma moeda de prata? Acaso não tenho o direito de fazer o que quero com aquilo que Me pertence?" Mt 20,13.15
    De outro que reclamava do irmão sua parte da herança, Ele delicadamente recusa o encargo de arbitragem: "Meu amigo, quem Me constituiu juiz ou árbitro entre vós?" Lc 12,14
    Assim como não julgou, mesmo estando no Templo de Jerusalém, a mulher flagrada em adultério nem os escribas e fariseus que Lha trouxeram, quando de sua situação se valeram só para colocá-Lo à prova: "Como eles insistissem, ergueu-Se e disse-lhes: 'Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra.' Novamente inclinando-Se, escrevia na terra. A essas palavras, sentindo-se acusados pela própria consciência, eles foram-se retirando um por um, até o último, a começar pelos mais idosos, de sorte que Jesus ficou sozinho, com a mulher diante d'Ele. Então Se ergueu e vendo ali apenas a mulher, perguntou-lhe: 'Mulher, onde estão os que te acusavam? Ninguém te condenou?' Respondeu ela: 'Ninguém, Senhor.' Disse-lhe então Jesus: 'Nem Eu te condeno. Vai e não tornes a pecar.'" Jo 8,7-11
    Àquele que numa parábola se comporta com humildade, sentando-se nos últimos lugares mesmo sendo importante pessoa, Jesus assim Se dirige: "Amigo, vem mais para cima." Lc 14,10
    Ademais, a alegria por um pecador que se salva, em comparação a de quem acha uma ovelha perdida, segundo Ele deve ser repartida entre amigos: "... e, voltando para casa, reúne os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: 'Regozijai-vos comigo: achei minha ovelha que se havia perdido.'" Lc 15,6
    E quando São Lázaro faleceu, Jesus, numa das duas vezes em que foi visto chorando, a ele referiu-Se com ternura: "Nosso amigo Lázaro adormeceu. Eu vou acordá-lo." Jo 11,11


    Mesmo quando tratava das mais sérias questões, Ele amistosamente falava à multidão: "Digo-vos, Meus amigos: não tenhais medo daqueles que matam o corpo e depois disto nada mais podem fazer. Mostrá-vos-ei a Quem deveis temer: temei Àquele que, depois de matar, tem poder de lançar no inferno! Sim, eu digo-vos: a Este temei." Lc 12,4-5
    Pois, como ensinava, a construção do Reino de Deus se resume em fazer amigos, mesmo que estejamos nas situações de maior pecaminosidade: "Eu digo-vos: fazei-vos amigos com a injusta riqueza, para que, no dia em que ela vos faltar, eles vos recebam nos eternos tabernáculos." Lc 16,9
    Desiludindo avarentos e ambiciosos, porém, deixava claro que não havia como enganar a Deus: "Ora, ouviam tudo isto os fariseus, que eram amigos do dinheiro e d'Ele zombavam. Jesus disse-lhes: 'Vós procurais parecer justos aos olhos dos homens, mas Deus conhece-vos os corações. Pois o que é elevado aos olhos dos homens é abominável aos olhos de Deus.'" Lc 16,14-15
    Mas até ao repreender um invasor, como se vê na parábola das Núpcias do Cordeiro, contada em Sua última semana entre nós, Ele vai ser afável: "Meu amigo, como entraste aqui sem a veste nupcial?" Mt 22,12
    E ao revelar Sua divina natureza, já havia tranquilizado os principais dos judeus, afirmando Sua bondade: "Não julgueis que hei de acusar-vos diante do Pai. Há quem vos acusa: Moisés, no qual colocais vossa esperança." Jo 5,45
    Contudo, advertia-os da imparcialidade e da perenidade da Divina Justiça: "Se alguém ouve Minhas palavras e não as guarda, Eu não o condenarei. Porque não vim para condenar o mundo, mas para salvá-lo. Quem me despreza e não recebe Minhas palavras, tem quem o julgue: a Palavra que anunciei julgá-lo-á no Último Dia." Jo 12,47-48
    A dois dos Apóstolos, os filhos de Zebedeu, Ele tinha dito algo parecido no dia em que os samaritanos não os acolheram enquanto passavam em viagem a Jerusalém: "Vendo isto, Tiago e João disseram: 'Senhor, queres que mandemos que desça fogo do Céu e os consuma?' Jesus voltou-Se e repreendeu-os. 'Não sabeis de que Espírito sois animados. O Filho do Homem não veio para perder as vidas dos homens, mas para salvá-las.'" Lc 9,54-56a
    Realmente não Se prevalecia de Sua divindade, e tratava os Apóstolos como amigos. Disse-lhes na noite em que se iniciaria Sua Paixão: "Vós sois Meus amigos, se fazeis o que vos mando." Jo 15,14
    E explicou: "Não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz Seu Senhor. Mas chamei-vos amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de Meu Pai." Jo 15,15
    Esse não era um aparente costume, ou só pessoalmente usado. Ele tinha falado em amigos até para os seguidores de São João Batista, ao afirmar Sua presença como Deus entre os homens: "Podem os amigos do Esposo afligir-se enquanto o Esposo está com eles? Dias virão em que lhes será tirado o Esposo, então eles jejuarão." Mt 9,15
    Ora, o próprio Batista, que era parente de Jesus, identificava-se com um 'amigo do Esposo': "Aquele que tem a esposa é o Esposo. O amigo do Esposo, porém, que está presente e O ouve, regozija-se sobremodo com a voz do Esposo. Nisso consiste minha alegria, que agora se completa." Jo 3,29
    Nosso Salvador usava de mansidão até para corrigir Seus opositores, como fez na casa de um chefe dos fariseus, quando foi convidado para uma refeição: "Jesus dirigiu-Se aos doutores da Lei e aos fariseus: 'É permitido ou não fazer curas no dia de sábado?' Eles nada disseram. Então Jesus, tomando o homem pela mão, curou-o e despediu-o. Depois, dirigindo-Se a eles, disse: 'Qual de vós, se lhe cair o filho ou o boi num poço, não o tira imediatamente, mesmo em dia de sábado?' A isto, nada Lhe podiam replicar." Lc 14,3-6
    Para nossa perfeita instrução, como parâmetro Ele nos deixou a dimensão de Seu amor antes de partir com os Apóstolos para o Horto das Oliveiras, onde seria preso: "Ninguém tem maior amor que Aquele que dá Sua vida por Seus amigos." Jo 15,13
    Não por acaso, Seu mais difícil ensinamento trata exatamente de amor aos inimigos. Ele pregou ainda no Sermão da Montanha: "Tendes ouvido o que foi dito: 'Amarás teu próximo e poderás odiar teu inimigo.' Eu, porém, digo-vos: amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos maltratam e perseguem. Deste modo sereis os filhos de Vosso Pai do Céu, pois Ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos. Se amais somente os que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem assim os próprios publicanos?" Mt 5,43-46
    E como exemplo da bondade de Deus, Ele mencionou o Santo Paráclito como um presente: "Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais Vosso Pai Celestial dará o Espírito Santo àqueles que LhO pedirem." Lc 11,13
    Assim como a Si próprio: "Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo que lhe deu Seu Único Filho, para que todo aquele que n'Ele crer não pereça, mas tenha a Vida Eterna." Jo 3,16
    Inimigo mesmo, Ele só considerava Satanás, como explicou na parábola do joio e do trigo: "O inimigo, que o semeia, é o Demônio. A colheita é o fim do mundo. Os ceifadores são os anjos." Mt 13,39
    De fato, Jesus vai chamar o próprio Judas Iscariotes de amigo, quando ele chegou com a guarda do sumo sacerdote no Getsêmani para prendê-Lo: "Amigo, para que estás aqui?" Mt 26,50
    Ironicamente, como sempre se flagra nas ações do Demônio, contra Jesus até os poderosos faziam as pazes: "Nesse dia, Herodes e Pilatos ficaram amigos, pois antes eram inimigos." Lc 23,12
    E conforme o Livro dos Atos dos Apóstolos, também as nações, certamente profetizando perseguições no futuro da Igreja Católica, e ainda os próprios israelitas. Foi a oração dos Apóstolos após a primeira prisão de São Pedro e São João: "Pois, na verdade, nesta cidade se uniram contra Vosso Santo Servo Jesus, que ungistes, Herodes e Pôncio Pilatos com as nações e com o povo de Israel," At 4,27
    Mas Ele próprio não Se entregou à ira nem mesmo contra aqueles que O crucificavam, como se viu no Monte Calvário: "E Jesus dizia: 'Pai, perdoa-lhes. Porque não sabem o que fazem.'" Lc 23,34
    E quando pela primeira vez apareceu a alguns dos Apóstolos na Galileia, foi amável até para demonstrar-lhes que realmente havia ressuscitado na carne: "Amigos, não tendes acaso alguma coisa para comer?" Jo 21,5
    Do Príncipe dos Apóstolos, pela extrema responsabilidade ao confiar-lhe Sua Igreja, Ele cobrou a fidelidade de uma verdadeira amizade: "Pedro ficou triste, porque lhe perguntou pela terceira vez se ele O amava." Jo 21,17
    E era exatamente isso que Ele reclamava dos religiosos judeus: "Não espero Minha Glória dos homens, mas sei que em vós não tendes o amor de Deus." Jo 5,41-42
    A Carta de São Paulo aos Romanos também testemunhou a redentora amistosidade de Deus, que Jesus encarnou: "Mas eis aqui uma brilhante prova do amor de Deus por nós: quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós. Se quando éramos ainda inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de Seu Filho, com muito mais razão, estando já reconciliados, seremos salvos por Sua Vida." Rm 5,8-10
    E a Segunda Carta de São Paulo aos Tessalonicenses recomendava este proceder: "Se alguém não obedecer ao que ordenamos por esta carta, notai-o e, para que ele se envergonhe, deixai de ter familiaridade com ele. Porém, não deveis considerá-lo como inimigo, mas repreendê-lo como irmão." 2 Ts 3,14-15
    A Carta de São Tiago, citando o Livro de Gênesis, rememorou como se deu a fundação de Israel: "Assim se cumpriu a Escritura, que diz: 'Abraão creu em Deus e isto foi-lhe tido em conta de justiça, e foi chamado amigo de Deus' (Gn 15,6)." Tg 2,23
    Isso foi percebido no Livro de Eclesiástico: "Nada é comparável a um fiel amigo, o ouro e a prata não merecem ser postos em paralelo com a sinceridade de sua fé. Um fiel amigo é um remédio de Vida e imortalidade. Quem teme ao Senhor, achará esse amigo." Eclo 6,15-16
    E inspirou o Livro de Salmos, que cantou ao Senhor: "Sou amigo de todos aqueles que Vos temem e daqueles que seguem Vossos preceitos. De Vossa bondade, Senhor, está cheia a Terra. Ensinai-me Vossas leis." Sl 118,63-64
    Ora, a traição de Judas Iscariotes havia sido profetizada pelo rei Davi, como salmista: "Até o próprio amigo em que Eu confiava, que partilhava do Meu pão, contra Mim levantou o calcanhar." Sl 40,10
    Prefigura de Cristo, ele também lamentou a traição de onde menos se espera: "Se o ultraje viesse de um inimigo, eu tê-lo-ia suportado. Se a agressão partisse de quem me odeia, dele esconder-me-ia. Mas eras tu, meu companheiro, meu íntimo amigo, com quem me entretinha em doces colóquios, com quem, por entre a multidão, íamos à Casa de Deus." Sl 54,13-15
    E o Livro de Provérbios já sinalizava para a recomendação que Jesus daria, de amar até mesmo nossos inimigos: "Teu inimigo tem fome? Dá-lhe de comer. Tem sede? Dá-lhe de beber. Assim amontoarás ardentes brasas sobre sua cabeça, e o Senhor recompensá-te-á." Pr 25,21-22
    São Tiago Menor, porém, não deixava de denunciar as traições ao Pai: "Adúlteros, não sabeis que o amor ao mundo é abominado por Deus? Todo aquele que quer ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus!" Tg 4,4
    Diante de situações de grande afronta à Verdade, portanto também ao Evangelho, São Paulo severamente repreendeu um mago que tentava perverter o procônsul da ilha de Pafos: "Filho do Demônio, cheio de todo engano e de toda astúcia, inimigo de toda justiça, não cessas de perverter os retos caminhos do Senhor!" At 13,10
    Por isso, o próprio Jesus aos Apóstolos deu efetiva condição para essa batalha: "Eis que vos dei poder para pisar serpentes, escorpiões e todo poder do inimigo." Lc 10,19
    E promete às Suas ovelhas: "... ninguém as roubará de Minha mão. ... ninguém pode arrebatá-las da mão de Meu Pai." Jo 10,27a.28b.29b
    A Primeira Carta de São Pedro, entretanto, avisa que o Juízo começará pela Igreja: "Porque vem o momento em que se começará o Julgamento pela Casa de Deus. Ora, se Ele começa por nós, qual será a sorte daqueles que são infiéis ao Evangelho de Deus?" 1 Pd 4,17
    Mas certa é a Vitória de Cristo, como a Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios revelou citando altas hierarquias de anjos caídos: "Então virá o fim, quando entregar o Reino a Deus, ao Pai, depois de haver destruído todo principado, toda potestade e toda dominação. Porque é necessário que Ele reine, até que ponha todos inimigos debaixo de Seus pés. O último inimigo a derrotar será a morte, porque Deus tudo sujeitou debaixo de Seus pés." 1 Cor 15,24-26
    Sofrendo a hostilidade na própria pele, a Carta de São Paulo aos Gálatas levanta em questionamento a verdadeira razão de tantos ataques aos escolhidos de Deus: "Tornei-me, acaso, vosso inimigo, porque vos disse a Verdade?" Gl 4,16
    Todavia, primando por valores como paciência e mansidão, aí ele via o 'bom combate', como a Primeira Carta de São Paulo a São Timóteo exortou-o: "Mas tu, ó homem de Deus, foge desses vícios e com todo empenho procura a piedade, a fé, a caridade, a paciência, a mansidão. Combate o bom combate da fé." 1 Tm 6,11-12a
    Pois com amor esperava seu encontro com Jesus. A Segunda Carta de São Paulo a São Timóteo registrou: "Combati o bom combate, terminei minha carreira, guardei a fé. Resta-me, agora, receber a coroa da justiça que o Senhor, Justo Juiz, me dará naquele Dia. E não somente a mim, mas a todos que com amor aguardam Sua Aparição." 2 Tm 4,7-8
    A Carta de São Paulo aos Efésios deu detalhes desse combate, cujas armas claramente são espirituais: "Finalmente, irmãos, fortalecei-vos no Senhor, por Seu soberano poder. Revesti-vos da armadura de Deus, para que possais resistir às ciladas do Demônio. Pois não é contra homens de carne e sangue que temos de lutar, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes deste tenebroso mundo, contra as forças espirituais do mal espalhadas nos ares. Tomai a armadura de Deus, portanto, para que possais resistir nos maus dias e manter-vos inabaláveis no cumprimento de vosso dever. Ficai alerta, à cintura cingidos com a Verdade, o corpo vestido com a couraça da justiça e os pés calçados de prontidão para anunciar o Evangelho da Paz. Sobretudo, embraçai o escudo da fé, com que possais apagar todos inflamados dardos do Maligno. Tomai, enfim, o capacete da Salvação e a espada do Espírito, isto é, a Palavra de Deus. Intensificai vossas invocações e súplicas. Orai em toda circunstância, pelo Espírito, no Qual perseverai em intensa vigília de súplica por todos cristãos." Ef 6,10-18
    Como testemunho da divina proteção, o rei Davi relatou uma mística batalha, cujo resgate também foi sobrenatural: "Circundavam-me os vagalhões da morte, devastadoras torrentes atemorizavam-me, enlaçavam-se as cadeias da habitação dos mortos e a própria morte prendia-me em suas redes. Em minha angústia, invoquei o Senhor, gritei a Meu Deus. De Seu Templo, Ele ouviu minha voz, e meu clamor em Sua presença chegou a Seus ouvidos. A terra vacilou e tremeu, os fundamentos das montanhas fremiram, abalaram-se, porque Deus Se abrasou em cólera: Suas narinas exalavam fumaça, Sua boca, fogo devorador, incandescentes brasas. Ele inclinou os céus e desceu, calcando aos pés escuras nuvens. Cavalgou sobre um querubim e voou, planando nas asas do vento. Envolveu-Se nas trevas como se fossem véu, das tenebrosas águas, densas nuvens, para Si fez uma tenda. Do esplendor de Sua presença, Suas nuvens avançaram: saraiva e centelhas de fogo. Dos céus trovejou o Senhor, o Altíssimo fez ressoar Sua voz. Lançou setas e dispersou os inimigos, fulminou relâmpagos e desbaratou-os. E apareceu descoberto o leito do mar, ficaram à vista os fundamentos da Terra ante a Vossa ameaçadora voz, ó Senhor, ante o furacão de Vossa cólera. Do alto estendeu Sua mão e pegou-me, e retirou-me das profundas águas, livrou-me de poderoso inimigo, de meus adversários, mais fortes que eu." Sl 17,5-18
    Em difíceis batalhas, ele admitidamente cantava: "Para ficarem livres Vossos amigos, ajudai-nos com Vossa mão, ouvi-nos. Dai-nos auxílio contra o inimigo, porque vão é qualquer socorro humano." Sl 59,7.13
    Ora, falando sobre o anjo de Israel, o próprio São Miguel Arcanjo, Deus havia dito a Moisés durante os anos no deserto, no Livro de Êxodo: "Vou enviar um anjo adiante de ti para proteger-te no caminho e para conduzir-te ao lugar que te preparei. Está de sobreaviso em sua presença, e ouve o que ele te diz. Não lhe resistas, pois ele não te perdoaria tua falta porque Meu Nome está nele. Mas, se pontualmente lhe obedeceres, se fizeres tudo que Eu te disser, serei o inimigo de teus inimigos, e o adversário de teus adversários." Êx 23,20-22
    Eis que a Carta de São Paulo aos Filipenses prega o dom da fortaleza, isto é, que não nos intimidemos diante de ameaças à integridade do rebanho: "Cumpre, somente, que em vosso proceder vos mostreis dignos do Evangelho de Cristo. Quer eu vá ter convosco quer permaneça ausente, desejo ouvir que estais firmes em um só espírito, unanimemente lutando pela fé do Evangelho, sem em nada vos deixardes intimidar por vossos adversários. Isto para eles é motivo de perdição, mas para vós, de Salvação. E é a vontade de Deus, porque vos é dado não somente crer em Cristo, mas também sofrer por Ele." Fl 1,27-29
    Ele recomenda perseverançafalando em contrição e serenidade: "Rejeita as tolas e absurdas discussões, visto que geram contendas. Não convém a um servo do Senhor altercar. Bem ao contrário, seja ele condescendente com todos, capaz de ensinar, paciente em suportar os males. É com brandura que deves corrigir os adversários, na esperança de que Deus lhes conceda o arrependimento e o conhecimento da Verdade, e voltem a si, uma vez livres dos laços do Demônio, que os mantém cativos e submetidos a seus caprichos." 2 Tm 2,23-26
    Além, claro, de invocar a inspiração do próprio Divino Espírito, como se lê na Carta de São Paulo aos Colossenses: "Procedei com Sabedoria no trato com os de fora. Sabei aproveitar todas circunstâncias. Que vossas conversas sejam sempre amáveis, temperadas com sal, e sabei responder a cada um devidamente." Cl 4,5-6
    Portanto, enquanto mais importante traço de Sua Personalidade, seja humana, seja divina, a amistosidade de Jesus é mais um sinal do Mandamento que Ele nos deixou: "Dou-vos um novo Mandamento: Amai-vos uns aos outros. Como Eu vos tenho amado, vós deveis amar-vos uns aos outros. Este é Meu Mandamento..." Jo 13,34;15,12
    Por fim, sobre o tema temos esta luminosa frase de São Luís-Maria Grignion de Montfort: "Uma única inimizade Deus promoveu e estabeleceu, irreconciliável inimizade, que não só há de durar, mas aumentar até ao fim: a inimizade entre Maria, Sua digna Mãe, e o Demônio; entre os filhos e servos da Santíssima Virgem e os filhos e sequazes de Lúcifer; de modo que Maria é a mais terrível inimiga que Deus armou contra o Demônio."

    "Glória e louvor ao Pai, que em Cristo nos reconciliou!"

São Paulo combatia Divisões na Igreja


    Exatamente ao contrário da escandalosa postura de descarados inventores de 'igrejas', o Apóstolo dos Gentios era um fervoroso defensor da Unidade da Igreja. E não o fez só presencialmente. Quase todas suas cartas manifestam essa vigilância em defesa do Corpo Místico de Cristo. A Carta de São Paulo aos Filipenses, por exemplo, vai pedir: "Se me é possível, pois, alguma consolação em Cristo, algum caridoso estímulo, alguma Comunhão no Espírito, alguma ternura e compaixão, completai minha alegria permanecendo unidos. Tende um mesmo amor, uma só alma e os mesmos pensamentos. Nada façais por espírito de partido ou vanglória, mas que a humildade vos ensine a considerar os outros superiores a vós mesmos." Fl 2,1-3
    Mesmo a despeito de seu próprio ministério, a Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios corrigiu: "Rogo-vos, irmãos, em Nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, que todos estejais em pleno acordo e que entre vós não haja divisões. Vivei em boa harmonia, no mesmo Espírito e no mesmo sentimento. Pois acerca de vós, irmãos meus, fui informado pelos que são da casa de Cloé que entre vós há contendas. Refiro-me ao fato de que entre vós se usa esta linguagem: 'Eu sou discípulo de Paulo'; 'eu, de Apolo'; 'eu, de Cefas'; 'eu, de Cristo'. Então estaria Cristo dividido? É Paulo quem foi crucificado por vós? É em nome de Paulo que fostes batizados?" 1 Cor 1,10-13
    Denunciou certas 'consultas': "No entanto, quando tendes contendas desse gênero, para juízes escolheis pessoas cuja opinião é tida em nada pela Igreja. Digo-o para confusão vossa. Será possível que não há entre vós um sábio homem, nem um sequer que possa julgar entre seus irmãos?" 1 Cor 6,4-5
    E a Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios foi sucinta, quando ele apresentou suas credenciais: "É que, de fato, não somos, como tantos outros, falsificadores da Palavra de Deus. Mas é em sua integridade, tal como procede de Deus, que nós a pregamos em Cristo, sob os olhares de Deus." 2 Cor 2,17
    Vai, ademais, criticá-los por frivolidades, gosto por novidades: "Porque quando aparece alguém pregando-vos outro Jesus, diferente daquele que vos temos pregado, ou se trata de receber outro espírito, diferente dO que haveis recebido, ou outro evangelho, diverso do que haveis abraçado, de boa mente aceitai-o." 2 Cor 11,4
    Ora, a Carta de São Paulo a São Tito expressamente fala sobre o Antigo Testamento: "Quanto a tolas questões, genealogias, contendas e disputas relativas à Lei, foge delas, porque são inúteis e vãs. O homem que assim fomenta divisões, depois de advertido a primeira e a segunda vez, evita-o, visto que esse tal é um perverso que, perseverando em seu pecado, se condena a si próprio." Tt 3,10-11
    Ele refere-se à Doutrina diretamente ensinada aos bispos, enquanto não havia o Novo Testamento, mas a finalidade é sempre patente: "Ao contrário, seja hospitaleiro, amigo do bem, prudente, justo, piedoso, continente, firmemente apegado à Doutrina da tal como foi ensinada, para poder exortar segundo a Sã Doutrina e rebater aqueles que a contradizem." Tt 1,8-9
    Tinha salvaguardado a Tradição Oral mesmo à época da Carta de São Paulo aos Romanos, quando só havia o Evangelho segundo São Mateus, e em aramaico. Ele foi bem específico: "Rogo-vos, irmãos, que desconfieis daqueles que causam divisões e escândalos, apartando-se da Doutrina que recebestes. Evitai-os!" Rm 16,17
    Por isso, ele mesmo apresentava-se como um mero retransmissor da Palavra de Deus, pedindo que lhe imitassem na fidelidade de conservador: "Eu lembro-vos, irmãos, o Evangelho que vos preguei, e que tendes acolhido, no qual estais firmes. Por ele sereis salvos se o conservardes como vos preguei. De outra forma, em vão teríeis abraçado a fé. Eu transmiti-vos, primeiramente, o que eu mesmo havia recebido." 1 Cor 15,1-3a
    Já a Carta de São Paulo aos Colossenses reza pela instrução do Verbo de Deus, ressaltando a importância da mutualidade, da compreensão conjunta, sem individualismos: "A Palavra de Cristo permaneça entre vós em toda sua riqueza, de sorte que com toda Sabedoria possais mutuamente instruir-vos e exortar-vos." Cl 3,16
    Pois clamava pela Unidade: "Triunfe em vossos corações a Paz de Cristo, para a qual fostes chamados a fim de formar um único Corpo. E sede agradecidos." Cl 3,15
    Nesse sentido, previamente já havia denunciado impostores, que renegam Cristo como a Cabeça da Santa Igreja, e assim a própria condução de Deus: "Desencaminham-se estas pessoas em suas próprias visões e, cheias do vão orgulho de seu materialista espírito, não se mantêm unidas à Cabeça, da qual todo Corpo, pela união das junturas e articulações, se alimenta e cresce conforme um crescimento disposto por Deus." Cl 2,18b-19
    E constantemente velando pela Unidade, mesmo onde não podia fazer-se presente, aceitava todo sofrimento em nome dos cristãos que ainda não conhecia: "Tudo sofro para que seus corações sejam reconfortados e que, estreitamente unidos pela caridade, sejam enriquecidos de uma plenitude de inteligência, para conhecerem o mistério de Deus, isto é, Cristo, no qual estão escondidos todos tesouros da Sabedoria e da ciência." Cl 2,2-3
    Falando na Unidade do Espírito, na Paz e no Corpo Místico de Cristo, portanto, a Carta de São Paulo aos Efésios, quando ele já padecia grandes sacrifícios, pregou humildade em nome da Igreja Una: "Exorto-vos, pois, prisioneiro que sou pela causa do Senhor, que leveis uma vida digna da vocação à qual fostes chamados, com toda humildade e amabilidade, com grandeza de alma, mutuamente suportando-vos com caridade. Sede solícitos em conservar a Unidade do Espírito no vínculo da Paz. Sede um só Corpo e um só espírito, assim como por vossa vocação fostes chamados a uma só esperança." Ef 4,1-4
    Disse do próprio projeto de Jesus: "Ele quis, assim, a partir do judeu e do pagão, criar em Si um só novo homem, estabelecendo a Paz. Quis reconciliá-los com Deus, ambos em um só Corpo, por meio da Cruz. ...porquanto é por Ele que ambos temos acesso junto ao Pai num mesmo Espírito." Ef 2,15a-16b.18
    E no Livro dos Atos dos Apóstolos, pouco antes de ser preso em Jerusalém para onde se dirigia, advertiu os anciãos, bispos da cidade de Éfeso: "Sei que depois da minha partida entre vós se introduzirão cruéis lobos, que não pouparão o rebanho. Mesmo dentre vós surgirão homens que hão de proferir perversas doutrinas, com o intento de arrebatarem após si os discípulos. Vigiai! Lembrai-vos, portanto, de que por três anos não cessei, noite e dia, de admoestar, com lágrimas, a cada um de vós." At 20,29-31
    Invocando o próprio Santíssimo Sacramento, vai ser mais explícito ao escrever aos cristãos da cidade de Corinto: "Uma vez que há um único Pão, nós, embora sendo muitos, formamos um só Corpo, porque todos nós comungamos do mesmo Pão." 1 Cor 10,17
    Disse, da mesma forma, aos cristãos de Roma: "Pois como em um só corpo temos muitos membros, e cada um dos nossos membros tem diferente função, assim nós, embora sejamos muitos, formamos um só Corpo em Cristo, e cada um de nós é membro um do outro." Rm 12,4-5
    Ora, ele realmente era terminativo: "Há um só Senhor, uma só fé, um só Batismo." Ef 4,5
    E diz da Unção do Santo Paráclito: "Em um só Espírito fomos batizados todos nós, para formarmos um só Corpo, judeus ou gregos, escravos ou livres. E todos fomos impregnados do mesmo Espírito." 1 Cor 12,13
    Por isso, seguia implorando "... para que não haja dissensões no Corpo, e que os membros tenham o mesmo cuidado uns para com os outros." 1 Cor 12,25
    Também lembrou os dons do Santo Paráclito: "Há diversidade de dons... Mas um e o mesmo Espírito distribui todos estes dons, repartindo a cada um como Lhe apraz." 1 Cor 12,4a.11
    Mas não deixava de apontar o caráter sempre comunitário destes dons: "A cada um é dada a manifestação do Espírito para comum proveito." 1 Cor 12,7
    Ou seja, nada de aventuras pessoais, porém para o evidente bem da Igreja de Jesus: "Assim, uma vez que aspirais aos dons espirituais, procurai tê-los em abundância para edificação da Igreja." 1 Cor 14,12
    Igualmente falou em ministérios, mas seguia indicando a única fonte: "Os ministérios são diversos, mas um só é o Senhor." 1 Cor 12,5
    Até usou este argumento para definir a razão do nosso existir: "Mas, para nós, há um só Deus, o Pai, do Qual todas coisas procedem e para o Qual existimos, e um só Senhor, Jesus Cristo, por Quem todas coisas existem e também nós." 1 Cor 8,6
    E assim defendeu a salutar obediência, o Nome de Deus e a Sã Doutrina, quando a Primeira Carta de São Paulo a São Timóteo denunciou a exploração comercial da fé: "Quem ensina de outra forma e discorda das salutares Palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo, bem como da Doutrina conforme à piedade, é cego, nada entende, é doente à procura de discussões e brigas de palavras. Daí se originam a inveja, a discórdia, os insultos, as injustas suspeitas, os vãos conflitos entre homens de corrompido coração e privados da Verdade, que só veem na piedade uma fonte de lucro." 1 Tm 6,3-5
    Por isso, instou-o: "Eu conjuro-te, diante de Deus, de Cristo Jesus e dos anjos escolhidos, a que guardes essas regras sem prevenção, nada fazendo por espírito de parcialidade. A ninguém inconsideradamente imponhas as mãos, para que não venhas a tornar-te cúmplice de pecados alheios. Conserva-te puro." 1 Tm 5,21-20
    Recomendava, pois, amabilidade, revelando quem subjuga os avessos à Revelação, na Segunda Carta de São Paulo a São Timóteo: "Rejeita as tolas e absurdas discussões, visto que geram contendas. Não convém a um servo do Senhor altercar. Bem ao contrário, seja ele condescendente com todos, capaz de ensinar, paciente em suportar os males. É com brandura que deve corrigir os adversários, na esperança de que Deus lhes conceda o arrependimento e o conhecimento da Verdade, e voltem a si, uma vez livres dos laços do Demônio, que os mantém cativos e submetidos aos seus caprichos." 2 Tm 2,23-26
    Contudo, previu dissolução por parte de inveterados pecadores, que buscariam 'mestres' que tolerassem seus erros: "Porque virá tempo em que os homens já não suportarão a Sã Doutrina da Salvação. Levados pelas próprias paixões e pelo prurido de escutar novidades, para si ajustarão mestres. Apartarão os ouvidos da Verdade e atirar-se-ão às fábulas." 2 Tm 4,3-4
    Ora, era o Divino Paráclito que lhe instruía: "O Espírito expressamente diz que, nos vindouros tempos, alguns hão de apostatar da fé dando ouvidos a embusteiros espíritos e a diabólicas doutrinas, de hipócritas e impostores, marcados na própria consciência com o ferrete da infâmia..." 1 Tm 4,1-2
    Contava, de toda forma, com a Unidade da fé entre todos irmãos, contra todo malefício da mentira, pois para isso Jesus fundou a Igreja: "A uns Ele (Cristo) constituiu Apóstolos; a outros, profetas; a outros, evangelistas, pastores, doutores, para o aperfeiçoamento dos cristãos, para o desempenho da tarefa que visa à construção do Corpo de Cristo, até que todos tenhamos chegado à Unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos o estado de homem feito, a estatura da maturidade de Cristo. Para que não continuemos crianças ao sabor das ondas, agitados por qualquer sopro de doutrina, ao capricho da malignidade dos homens e de seus enganadores artifícios. Mas, pela sincera prática da caridade, cresçamos em todos sentidos, naquele que é a Cabeça, Cristo. É por Ele que todo o Corpo, coordenado e unido por conexões que estão ao Seu dispor, trabalhando cada um conforme a atividade que lhe é própria, efetua esse crescimento, visando à sua plena edificação na caridade." Ef 4,11-16
    Visava mesmo a unanimidade, ainda que enfrentando todos percalços: "Cumpre, somente, que em vosso proceder vos mostreis dignos do Evangelho de Cristo. Quer eu vá ter convosco quer permaneça ausente, desejo ouvir que estais firmes em um só espírito, unanimemente lutando pela fé do Evangelho, sem em nada vos deixardes intimidar por vossos adversários. Isto para eles é motivo de perdição, mas para vós, de Salvação. E é a vontade de Deus, porque vos é dado não somente crer em Cristo, mas também sofrer por Ele." Fl 1,27-29
    Sabia muito bem o que acontecia, e não deixava de denunciar: "A maior parte dos irmãos, ante a notícia de minhas cadeias, cobrou nova confiança no Senhor e maior entusiasmo em anunciar sem temor a Palavra de Deus. É verdade que alguns pregam Cristo por inveja a mim e por discórdia, mas outros fazem-no com a melhor boa vontade. Estes, por caridade, sabendo que tenho por missão a defesa do Evangelho. Aqueles, ao contrário, pregam Cristo por espírito de intriga, e não com reta intenção, no intuito de agravar meu sofrimento nesta prisão." Fl 1,14-17
    E usava de contundência com aqueles que viviam rebuscando o Antigo Testamento, entre outras coisas pregando a circuncisão: "Cuidado com esses cães! Cuidado com esses charlatães! Cuidado com esses mutilados! Porque os verdadeiros circuncisos somos nós, que prestamos culto a Deus pelo Espírito de Deus, pomos nossa Glória em Jesus Cristo e não confiamos na carne." Fl 3,2-3
    Referindo-se a impenitentes, ele fulminou: "Irmãos, sede meus imitadores, e atentamente olhai para aqueles que vivem segundo o exemplo que nós vos damos. Porque há muitos por aí, de quem repetidas vezes vos tenho falado e agora o digo chorando, que se portam como inimigos da Cruz de Cristo, cujo destino é a perdição, cujo deus é o ventre, para quem a própria ignomínia é causa de envaidecimento, e só têm prazer no que é terreno." Fl 3,17-19
    A Carta de São Paulo aos Gálatas também asseverou contra aqueles que se atêm ao Antigo Testamento: "Já estais separados de Cristo, vós que procurais a justificação pela Lei. Decaístes da Graça." Gl 5,4
    Informado de desvios entre eles, ele foi ainda mais enérgico, usando de toda sua autoridade e mais uma vez defendendo a Tradição Oral: "Estou admirado de que tão depressa passeis daquele que vos chamou à Graça de Cristo para um diferente evangelho. De fato, não há dois evangelhos: há apenas pessoas que semeiam a confusão entre vós e querem perturbar o Evangelho de Cristo. Mas, ainda que alguém, nós ou um anjo baixado do Céu, vos anunciasse um diferente evangelho do que vos temos anunciado, que ele seja anátema." Gl 1,6-8
    Chegou a ameaçar os coríntios: "Por isso, conjuro-vos a que sejais meus imitadores. Para isso é que vos enviei Timóteo, meu amado e fiel filho no Senhor. Ele recordá-vos-á minhas normas de conduta, tais como as ensino por toda parte, em todas igrejas. Mas brevemente irei ter convosco, se Deus quiser, e tomarei conhecimento não do que esses orgulhosos falam, mas do que são capazes. Porque o Reino de Deus não consiste em palavras, mas em atos. Que preferis? Que eu vá visitar-vos com a vara, ou com caridade e espírito de mansidão?" 1 Cor 4,16-17.19-21
    Dava exemplo de Comunhão com a Doutrina e com os membros da Igreja, reverenciando a sede da Igreja de então, a igreja mãe de Jerusalém, onde foi confirmar com São Tiago Menor, São Pedro e São João Evangelista o que estava ensinando: "Catorze anos mais tarde, outra vez subi a Jerusalém com Barnabé, comigo também levando Tito. E subi em consequência de uma revelação. Expus-lhes o Evangelho que prego entre os pagãos, e isso particularmente aos que eram de maior consideração, a fim de não correr ou de não ter corrido em vão. Tiago, Cefas e João, que são considerados as colunas, reconhecendo a Graça que me foi dada, deram as mãos a mim e a Barnabé em sinal de pleno acordo..." Gl 2,1-2.9
    Ademais, a Primeira Carta de São Paulo aos Tessalonicenses fez recordar o Sacrifício Pascal para suscitar a Comunhão dos Santos e a compaixão na comunidade de fé: "Ele (Cristo) morreu por nós, a fim de que nós, quer em estado de vigília, quer de sono, vivamos em união com Ele. Assim, pois, mutuamente consolai-vos e edificai-vos como já o fazeis." 1 Ts 5,10-11
    Idêntico pedido fez aos colossenses: "Portanto, como eleitos de Deus, santos e queridos, revesti-vos de entranhada misericórdia, de bondade, humildade, doçura, paciência. Suportai-vos uns aos outros e mutuamente perdoai-vos todas vezes que tiverdes queixa contra outrem. Como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós." Cl 3,12-13
    Assim ensinava da real moção de Deus, que conduz a um só Reino: "Há um só Deus e Pai de todos, que acima de todos, por todos e em todos atua." Ef 4,6
    Dizia qual deve ser nosso empenho, invariavelmente falando em Unidade: "Por fim, irmãos, vivei com alegria. Tendei à perfeição, animai-vos, tende um só coração, vivei em Paz, e o Deus de amor e Paz estará convosco." 2 Cor 13,11
    Pois só por em Comunhão podemos verdadeiramente dar Glória: "... para que, com um só coração e uma só voz, glorifiqueis a Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo." Rm 15,6
    Eis a Carta de São Paulo a Filêmon reza por iluminação: "Que tua Comunhão na fé seja eficaz, fazendo-te conhecer todo bem que somos capazes de realizar para Cristo." Fm 1,6
    Sem dúvida, nossa Redenção veio pelo sacrifício do Cordeiro de Deus, de Jesus enquanto ser humano. Pois enquanto Deus Ele não precisa interceder por nós. Intercederia a Quem? A Si mesmo?: "Porque há um só Deus e há um só mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo, o Homem." 1 Tm 2,5
    Até citou a situação de praticantes de outra religião: "Ou Deus só o é dos judeus? Também não é Deus dos pagãos? Sim, Ele também o é dos pagãos. Porque não há mais que um só Deus... " Rm 3,29-30a
    E disse, pela verdadeira santidade, sem falação, como se dará a efetivação do Reino de Deus: "Agora, porém, deixai de lado todas estas coisas: ira, animosidade, maledicência, maldade, torpes palavras de vossa boca, nem vos enganeis uns aos outros. Vós despistes-vos do velho homem com seus vícios e revestistes-vos do novo, que constantemente vai restaurando-se à imagem d'Aquele que o criou, até atingir o perfeito conhecimento. Aí não haverá mais grego nem judeu, nem bárbaro nem cita, nem escravo nem livre, mas somente Cristo, que será tudo em todos." Cl 3,8-11
    Em outra carta, enfim, arrematou esse ensinamento: "E quando tudo Lhe estiver sujeito, então o próprio Filho também renderá homenagem Àquele que Lhe sujeitou todas coisas, a fim de que Deus seja tudo em todos." 1 Cor 15,28
    Com efeito, essa postura de consenso e obediência ele adotou desde o início de suas pregações, como vemos ele e São Timóteo em ação logo após o Concílio de Jerusalém: "Nas cidades pelas quais passavam, ensinavam que observassem as decisões que haviam sido tomadas pelos Apóstolos e anciãos em Jerusalém. Assim as igrejas eram confirmadas na fé, e dia a dia cresciam em número." At 16,4-5
    Não por acaso, dizendo da verdadeira Comunhão, de sua singular inspiração cunhou esta luminosa frase: "... quem se une ao Senhor, com Ele torna-se um só Espírito." 1 Cor 6,17
    Assim como disse de nossa norte para o mundo: "Se com Ele fomos feitos o mesmo Ser, por uma morte semelhante à Sua, sê-lo-emos igualmente por uma comum ressurreição." Rm 6,5
    Autêntico Apóstolo, ele apenas instruía para a Unidade da Igreja em plena conformidade com a Missão de Jesus, que antes de ser preso rezou ao Pai, referindo-Se ao Colégio Apostólico e a todos nós fiéis, como o Evangelho segundo São João apontou. Ora, a Unidade da Santa Igreja Católica é sinal da Glória de Deus, e prova da passagem de Jesus entre nós e do amor do Pai: "Não rogo somente por eles, mas também por aqueles que por sua palavra hão de crer em Mim. Para que todos sejam Um, assim como Tu, Pai, estás em Mim e Eu em Ti. Para que eles também estejam em Nós e o mundo creia que Tu Me enviaste. Dei-lhes a Glória que Me deste, para que sejam Um, como Nós somos Um: Eu neles e Tu em Mim, para que sejam perfeitos na Unidade e o mundo reconheça que Me enviaste e os amaste, como amaste a Mim." Jo 17,20-23
 
    "O Espírito una-nos num só Corpo."