sexta-feira, 28 de março de 2025

O Mal do Dinheiro


    Falando sobre a sandice por bens materiais, Jesus, em Suas primeiras pregações no Evangelho segundo São Mateus, faz recordar o sentido de nossas vidas: "Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará o outro, ou dedicar-se-á a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro." Mt 6,24
    Assim, também cuidando de prover materialmente a humanidade, Deus tem no mundo apenas dois grandes grupos de pessoas: os necessitados e Seus possíveis colaboradores. E foi em função de caridade material e espiritual que Jesus pregou à multidão em Jerusalém em Seus últimos dias, explicando como seria o Juízo: "Então o Rei dirá aos que estão à direita: 'Vinde, benditos de Meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Porque tive fome e Me deste de comer; tive sede e Me deste de beber; era peregrino e Me acolheste; nu e Me vestiste; enfermo e Me visitaste; estava na prisão e viestes a Mim.' Responderá o Rei: 'Em Verdade, Eu declaro-vos: todas vezes que isto fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos, foi a Mim mesmo que o fizestes." Mt 25,34-36.40
    Por isso, como o Livro do Profeta Isaías falou pelo próprio Cristo, é bem específica a Missão de Jesus enquanto Consolador: "... anunciar a Boa Nova aos pobres..." Is 61,1
    De fato, por mais importante, Ele essencialmente prometia consolação espiritual: "Vinde a Mim, todos vós que estais aflitos sob o fardo, e Eu aliviá-vos-ei. Tomai Meu jugo sobre vós e recebei Minha Doutrina, porque Eu sou manso e humilde de coração, e achareis repouso para vossas almas. Porque Meu jugo é suave e Meu fardo é leve." Mt 11,28-30
    Assim agia mesmo quando d'Ele só esperavam o milagre de uma cura: "Eis que Lhe apresentaram um paralítico estendido numa padiola. Jesus, vendo a daquela gente, disse ao paralítico: 'Meu filho, coragem! Teus pecados são-te perdoados.'" Mt 9,2
    E no Evangelho segundo São Lucas, logo advertiu àqueles que acreditam encontrar satisfação em bens materiais: "Mas ai de vós, ricos, porque tendes vossa consolação!" Lc 6,24
    Até contou uma ruidosa parábola: "Havia um rico homem que se vestia de púrpura e finíssimo linho, e que todo dia se banqueteava e se regalava. Também havia um mendigo, por nome Lázaro, todo coberto de chagas, que estava deitado à porta do rico. Ele avidamente desejava matar a fome com as migalhas que caíam da mesa do rico... Até os cães iam lamber-lhe as chagas. Ora, aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos ao seio de Abraão. Também morreu o rico e foi sepultado. E estando ele nos tormentos do inferno, levantou os olhos e viu, ao longe, Abraão e Lázaro em seu seio. Gritou, então: 'Pai Abraão, compadece-te de mim e manda que Lázaro molhe em água a ponta de seu dedo, a fim de refrescar-me a língua, pois sou cruelmente atormentado nestas chamas.' Abraão, porém, replicou: 'Filho, lembra-te de que recebeste teus bens em vida, mas Lázaro, males. Por isso, agora aqui ele é consolado, mas tu estás em tormento.'" Lc 16,19-25
    A Verdade é que muitos perdem a compaixão pelo próximo, e assim se afastam dos Mandamentos de Deus, por conta de débeis e materiais apegos, além de ambições. Mas desde o Livro de Êxodo Ele já havia determinado: "Não cobiçarás a casa de teu próximo; não cobiçarás a mulher de teu próximo, nem seu escravo, nem sua escrava, nem seu boi, nem seu jumento, nem nada do que lhe pertence." Êx 20,17
    Caem até mesmo nos mais óbvios pecados: "Não furtarás." Êx 20,15
    E em outros nem um pouco menos danosos: "Honra teu pai e tua mãe, para que teus dias se prolonguem sobre a terra que te dá o Senhor, Teu Deus." Êx 20,12
    É nesse fértil terreno do coração, justamente por seu evidente potencial para o bem, que Jesus mais lamenta a semente desperdiçada: "O terreno que recebeu a semente entre os espinhos representa aquele que bem ouviu a Palavra, mas nele os cuidados do mundo e a sedução das riquezas sufocam-na e tornam-na infrutuosa." Mt 13,22
    Pois contra qualquer impressão, Ele deixou claro que a vida humana depende tão somente da vontade de Deus: "Escrupulosamente guardai-vos de toda avareza, porque a vida de um homem, ainda que ele esteja na abundância, não depende de suas riquezas." Lc 12,15
    E àqueles que têm prazer em acumular bens, Ele também contou uma parábola: "Havia um rico homem cujos campos produziam muito. E ele refletia consigo: 'Que farei? Porque não tenho onde recolher minha colheita.' Então disse ele: 'Farei o seguinte: derrubarei meus celeiros e construirei maiores. Neles recolherei toda minha colheita e meus bens, e direi à minha alma: ó minha alma, tens muitos bens em depósito para muitíssimos anos! Descansa, come, bebe e regala-te!' Deus, porém, disse-lhe: 'Insensato! Ainda nesta noite exigirão de ti tua alma. E as coisas, que ajuntaste, de quem serão?' Assim acontece ao homem que entesoura para si mesmo, mas não é rico para Deus." Lc 12,16-21
    Suas recomendações eram patentes: nesse mundo ferido por injustiças e ganância, as mundanas riquezas tornam-se verdadeiras desgraças se não usadas para diminuir o sofrimento: "Eu digo-vos: fazei amigos com a injusta riqueza, para que, no dia em que ela vos faltar, eles vos recebam nos eternos tabernáculos." Lc 16,9
    Pois quanto a comportamentos contrários à lógica da partilha, Jesus foi taxativo, como se lê no Evangelho segundo São Marcos: "Filhinhos, quão difícil é entrarem no Reino de Deus aqueles que nas riquezas põem sua confiança!" Mc 10,24
    E para desfazer uma tradição dos judeus, de ver em toda riqueza uma dádiva de Deus. Ele enfatizou o quanto os ricos dependem da Divina Misericórdia para salvar-se: "Eu repito-vos: é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha que um rico entrar no Reino de Deus." Mt 19,24
    Ora, Ele ensinava exatamente o inverso: "Não ajunteis para vós tesouros na Terra, onde a ferrugem e as traças corroem, onde os ladrões furtam e roubam. Ajuntai para vós tesouros no Céu, onde nem as traças nem a ferrugem os consomem, e os ladrões não furtam nem roubam. Porque onde está teu tesouro, lá também está teu coração." Mt 6,19-21
    Mesmo ao falar sobre festas e grandes celebrações, Suas recomendações tinham cunho exclusivamente caritativo: "... quando deres uma ceia, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos. Serás feliz porque eles não têm com que te retribuir, mas sê-te-á retribuído na Ressurreição dos justos." Lc 14,13-14
    E deixou evidente que a caridade deve ser praticada sem vanglória: "Quando deres esmola, que tua mão esquerda não saiba o que a direita fez. Assim, tua esmola fá-se-á em segredo, e Teu Pai, que vê o escondido, recompensá-te-á." Mt 6,3-4
    Por isso, fez questão de elogiar àqueles que realmente confiam na Divina Providência, e tudo fazem na certeza de que Deus não lhes faltará, como disse ao contemplar aqueles que faziam oferendas no Templo de Jerusalém: "... esta pobre viúva deitou mais que todos que lançaram no cofre, porque todos deitaram do que tinham em abundância. Esta, porém, de sua pobreza, pôs tudo que tinha para seu sustento." Mc 12,43-44
    Pois àqueles que realmente estão prontos para a Vida Eterna, e assim verdadeiramente testemunhar Jesus, não mais cabe ater-se às coisas desses mundos. Aos fariseus, que se julgavam muito Santos, Ele disse sobre a purificação de objetos: "Antes dai em esmola o que possuís, e todas coisas ser-vos-ão limpas." Lc 11,41
    Ora, quem de fato já encontrou Deus, não precisa de mais nada. No Evangelho segundo São João, depois que multiplicou pães e peixes e Se ofereceu como o Pão do Céu, Nosso Senhor afirmou: "Quem vem a Mim não terá mais fome, e quem crê em Mim nunca mais terá sede." Jo 6,35b
    Ao enviar os Apóstolos em primeira missão, Suas recomendações não podiam ser diferentes. Eles também tinham que se entregar por completo nas mãos de Deus: "Ordenou-lhes que não levassem coisa alguma para o caminho, senão somente um bordão. Nem pão, nem mochila, nem dinheiro no cinto..." Mc 6,8
    Ele dizia a todos: "Não vos inquieteis com o que haveis de comer ou beber, e não andeis com vãs preocupações. Porque os homens do mundo é que se preocupam com estas coisas. Mas Vosso Pai bem sabe que precisais de tudo isso. Antes buscai o Reino de Deus e Sua justiça, e todas coisas sê-vos-ão dadas por acréscimo." Lc 12,29-31
    E no próprio Pai Nosso, embora principalmente Se referindo ao Santíssimo sacramento, exortou-nos, ainda como exemplo de comedimento quanto aos alimentos, a pedir ao Pai tão somente conforme nossas diárias necessidades: "O Pão Nosso de cada dia dai-nos hoje..." Mt 6,11
    A pobreza evangélica, portanto, é a meta de todos: o caminho dos Santos, da perfeição. E ainda que Ele não exigisse pobreza material de todos, como não a exigiu de Zaqueu, foi o que recomendou ao rico jovem que se julgava Santo: "Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no Céu. Depois, vem e segue-Me!" Mt 19,21
    E ao dizer que não se pode ser a Deus e ao dinheiro, e ser contestado, fez uma grave advertência aos que dizem servir a Deus: "Ora, tudo isto ouviam os fariseus, que eram avarentos e d'Ele zombavam. Jesus disse-lhes: 'Vós procurais parecer justos aos olhos dos homens, mas Deus conhece-vos os corações. Pois o que é elevado aos olhos dos homens é abominável aos olhos de Deus.'" Lc 16,14-15
    Os verdadeiros Sacerdotes da Igreja, portanto, após a devida preparação, leia-se Sacramento da Ordenação, devem abandonar-se nas mãos da Divina Providência. Ele sentenciou: "Assim, pois, qualquer um de vós que não renuncia a tudo que possui, não pode ser Meu discípulo." Lc 14,33
    Assim, tudo devem fazer em nome da mais absoluta gratuidade, como Ele mesmo ensinou: "Dai de graça o que de graça recebestes!" Mt 10,8
    De fato, como São Pedro disse a um charlatão, no Livro de Atos dos Apóstolos, comerciar os divinos bens é atrair sobre si grande maldição: "Maldito seja teu dinheiro e também tu, se julgas poder comprar o dom de Deus com dinheiro!" At 8,20


O EXEMPLO DE MARIA SANTÍSSIMA E DOS APÓSTOLOS

    Quando concebeu do Espírito Santo, apesar de muito jovem, Maria já sabia como Deus distribuía Suas Graças. Ele cantou no Magnificat, em casa de Santa Isabel, sua parenta: "Saciou de bens os indigentes e despediu de mãos vazias os ricos." Lc 1,53
    Como se podia imaginar, a Primeira Carta de São Paulo a São Timóteo aponta a influência do Maligno por trás da conduta da ganância: "Porque nada trouxemos ao mundo, como tampouco nada poderemos levar. Tendo alimento e vestuário, contentemo-nos com isto. Aqueles que ambicionam tornar-se ricos caem nas armadilhas do Demônio e em muitos insensatos e nocivos desejos, que precipitam os homens no abismo da ruína e da perdição." 1 Tm 6,7-9
    Ele explica: "Porque a raiz de todos males é o amor ao dinheiro. Acossados pela cobiça, alguns desviaram-se da fé e enredaram-se em muitas aflições." 1 Tm 6,10
    Por isso, dava essa diretriz de catequese: "Exorta os ricos deste mundo a não serem orgulhosos nem ponham sua esperança nas volúveis riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas coisas para delas fruirmos. Que pratiquem o bem, se enriqueçam de boas obras, sejam generosos, comunicativos, ajuntem um sólido e excelente tesouro para seu futuro, a fim de conquistarem a verdadeira Vida." 1 Tm 6,17-19
    Porque a riqueza em si não é o mal, mas como com ela se relaciona, segundo o Livro de Eclesiástico: "Bem-aventurado o rico que foi achado sem mácula, que não correu atrás do ouro, que não colocou sua esperança no dinheiro e nos tesouros!" Eclo 31,8
    Aliás, a Sabedoria, que é um dos dons do Espírito Santo, até traz riquezas, como o rei Salomão teria dito no próprio Livro de Sabedoria: "Assim implorei e a inteligência me foi dada, supliquei e o Espírito de Sabedoria veio a mim. Eu preferi-a aos cetros e tronos, e avaliei a riqueza como um nada ao lado da Sabedoria. Não comparei a ela a pedra preciosa, porque todo ouro ao lado dela é apenas um pouco de areia, e porque a prata diante dela será tida como lama. Eu amei-a mais que a saúde e a beleza, e gozei dela mais que da claridade do sol, porque a claridade que dela emana jamais se extingue. Com ela vieram-me todos bens, e em suas mãos, inumeráveis riquezas." Sb 7,7-11
    Quanto aos Sacerdotes da Igreja Católica, o Apóstolo dos Gentios cobrava retidão e exemplo especificamente sobre esse assunto: "Do mesmo modo, os diáconos sejam honestos, não de duas atitudes, nem propensos ao excesso da bebida nem ao espírito de lucro..." 1 Tm 3,8
    A Carta de São Paulo aos Gálatas pedia, em especial, que os membros da Igreja mutuamente se ajudassem, visando fortalecer o núcleo da comunidade: "Por isso, enquanto temos tempo, façamos o bem a todos homens, mas particularmente aos irmãos na fé." Gl 6,10
    Ora, ele bem tinha presente o que acontecia na alma dos que se desviam da Sã Doutrina. Trata-se de um evidente abandono das práticas da religiosidade: "Quem ensina de outra forma e discorda das salutares palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo, bem como da Doutrina conforme à piedade, é um obcecado pelo orgulho, um ignorante, doentio por ociosas questões e contendas de palavras. Daí se originam a inveja, a discórdia, os insultos, as injustas suspeitas, os vãos conflitos entre homens de corrompido coração e privados da Verdade, que na piedade só veem uma fonte de lucro." 1 Tm 6,3-5
    Cuidando de instituir bispos à medida que os Apóstolos iam sendo martirizados, ele combatia as heresias que surgiam, sempre apontando o mesmo motivo. A Carta de São Paulo a São Tito diz: "Porquanto é mister que o bispo seja irrepreensível, como administrador que é posto por Deus. Não arrogante, nem colérico, nem intemperante, nem violento, nem cobiçoso. Ao contrário, seja hospitaleiro, amigo do bem, prudente, justo, piedoso, continente, firmemente apegado à Doutrina da Fé tal como foi ensinada, para poder exortar segundo a Sã Doutrina e rebater aqueles que a contradizem. Com efeito, há muitos insubmissos, charlatães e sedutores, principalmente entre os da circuncisão. É necessário tapar-lhes a boca, porque transtornam inteiras famílias, ensinando o que não convém, e isso por vil espírito de lucro." Tt 1,7-11
    E na Carta aos Hebreus, os seguidores da sua tradição elogiavam o despojamento dos autênticos cristãos, diante dos que sofrem: "Não só vos compadecestes dos encarcerados, mas com alegria aceitastes o confisco de vossos bens, pela certeza de possuirdes muito melhores e imperecíveis riquezas." Hb 10,34
    Na verdade, São Paulo jamais esqueceu a principal diretriz pastoral que lhe deram São Tiago, São Pedro e São João, as 'colunas da Santa Igreja': "Apenas nos recomendaram que nos lembrássemos dos pobres, o que era precisamente minha intenção." Gl 2,10
    Dava exemplo de perfeita moderação, como está na Carta de São Paulo aos Filipenses: "Não é minha penúria que me faz falar. Aprendi a contentar-me com o que tenho. Sei viver na penúria, e também sei viver na abundância. Estou acostumado a todas vicissitudes: a ter fartura e a passar fome, a ter abundância e a padecer necessidade. Tudo posso n'Aquele que me conforta." Fl 4,11-13
    E a Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios pregava a importância de fazer tudo com amor: "Ainda que distribuísse todos meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, de nada valeria!" 1 Cor 13,3
    Falando das Santas Missas, a Carta de São Tiago denunciou o tratamento cheios de interesses dado aos ricos dentro da Igreja: "Suponde que em vossa reunião entre um homem com anel de ouro e ricos trajes, e também entre um pobre com gastos trajes. Se atenderdes ao que está magnificamente trajado, e disserdes-lhe: 'Senta-te aqui, neste lugar de honra', e disserdes ao pobre: 'Fica ali de pé', ou: 'Senta-te aqui, junto ao estrado de meus pés', não é verdade que fazeis distinção entre vós e que sois juízes de iníquos pensamentos? Ouvi, meus caríssimos irmãos: porventura Deus não escolheu os pobres deste mundo para que fossem ricos na fé e herdeiros do Reino, prometido por Deus aos que O amam? Mas vós desprezastes o pobre! Não são porventura os ricos os que vos oprimem e vos arrastam aos tribunais?" Tg 2,2-6
    Ele fez essa luminosa comparação: "Se a um irmão ou a uma irmã faltarem roupas e o cotidiano alimento, e algum de vós disser-lhes: 'Ide em Paz, aquecei-vos e fartai-vos', mas não lhes der o necessário para o corpo, de que lhes aproveitará? Assim a fé, se não tiver obras, também é morta em si mesma." Tg 2,15-17
    E aos insensíveis, dizia com contundência: "Vós, ricos, chorai e gemei por causa das desgraças que sobre vós virão." Tg 5,1
    No Livro do Apocalipse de São João, Jesus até antecipou Seu Juízo sobre a verdadeira condição espiritual das pessoas da igreja da cidade de Esmirna de então: "Eu conheço tua angústia e tua pobreza, ainda que sejas rico..." Ap 2,9a
    E dirigiu essa palavra aos ricos da diocese de Laodiceia: "Conheço tuas obras: não és nem frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Mas como és morno, nem frio nem quente, vou vomitar-te. Pois dizes: 'Sou rico, faço bons negócios, de nada necessito', e não sabes que és infeliz, miserável, pobre, cego e nu. Aconselho-te que de Mim compres ouro provado ao fogo, para ficares rico, alvas roupas para vestir-te, a fim de que a vergonha de tua nudez não apareça, e um colírio para ungir os olhos, de modo que possas ver claro." Ap 3,15-18


DEUS DOS POBRES

    Aos que acham que podem prestar algum culto a Deus esquecendo-se dos pobres, Jesus também deixou um insofismável recado: "Pois sempre tereis convosco os pobres, mas a Mim nem sempre tereis." Jo 12,8
    Dessa realidade, Deus havia alertado o povo ainda no deserto, falando através de Moisés no Livro de Deuteronômio, sobre a conduta que deveria prevalecer em Israel: "Nunca faltarão pobres na Terra, e por isso dou-te esta ordem: abre tua mão ao teu irmão necessitado ou pobre que vive em tua terra." Dt 15,11
    A pobreza, portanto, não deveria existir na Terra Santa, entre o povo santo: "Não deverá haver pobres no meio de ti, porque o Senhor, Teu Deus, certamente abençoá-te-á na terra que te dá como posse hereditária, contanto que fielmente obedeças à voz do Senhor, Teu Deus, cuidadosamente pondo em prática os Mandamentos que hoje te imponho. Se no meio de ti houver um pobre entre teus irmãos, em uma de tuas cidades, na terra que te dá o Senhor, Teu Deus, não endurecerás teu coração e não fecharás a mão diante de teu pobre irmão. Mas abri-lhe-ás a mão e emprestá-lhe-ás segundo as necessidades de sua indigência." Dt 15,4-5.7-8
    Assim como o Pai, Jesus diz que, se não cuidarmos dos mais necessitados, o caminho até Ele não estará eternamente aberto, e que só em Comunhão com os pobres poderemos contemplar a face de Deus. De fato, esse foi Seu primeiro preceito entre as Bem-Aventuranças, no Sermão da Montanha: "Bem-aventurados os que têm um coração de pobre, porque deles é o Reino dos Céus!" Mt 5,3
    E ao ver o sucesso dos Apóstolos em primeira missão, enquanto itinerantes e mendicantes, Ele rezou ao Pai por essa dádiva: "Naquele mesma hora, Jesus exultou de alegria no Espírito Santo e disse: 'Pai, Senhor do Céu e da Terra, Eu dou-Te graças porque escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, bendigo-Te porque assim foi de Teu agrado.'" Lc 10,21
    O Livro de Salmos já indicava: "Ó vós, humildes, olhai e alegrai-vos! Vós que buscais a Deus, reanime-se vosso coração porque o Senhor ouve os necessitados..." Sl 68,33-34a
    Ressaltava grandes sinais: "Ele levanta do pó o indigente e tira o pobre do monturo, para entre os príncipes fazê-lo sentar, junto aos grandes de Seu povo." Sl 112,7-8
    Não vacilava: "O pouco que o justo possui vale mais que a opulência dos ímpios..." Sl 36,16a
    E percebia uma patente distinção: "Sim, excelso é o Senhor! Ele vê o humilde, e de longe percebe os soberbos." Sl 137,6
    O Livro de Eclesiástico também observou: "A oração do humilde penetra as nuvens." Eclo 35,21a
    E testemunhou: "Muitos são altaneiros e ilustres, mas é aos humildes que Ele revela Seus mistérios. Pois grande é o poder do Senhor, entretanto é pelos humildes que Ele é glorificado." Eclo 3,20b-21 
    Porque como os ricos estão tão iludidos, e até enauseados com tantos falsos prazeres, o convite ao Reino de Deus foi direcionado àqueles que sofrem, como Jesus contou na parábola da Grande Ceia referindo-Se aos judeus que O rejeitaram: "Sai, sem demora, pelas praças e pelas ruas da cidade e aqui introduz os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos. Pois vos digo: nenhum daqueles homens, que foram convidados, provará Minha Ceia." Lc 14,21.24

CONSEQUÊNCIAS DO MAL

    Seja nessa ou na futura vida, portanto, as consequências do amor ao dinheiro não podem ser boa coisa. Logo nos primeiríssimos anos da Igreja, quando Apóstolos e fiéis tudo partilhavam em comum, deu-se esse assombroso acontecimento:

    "Um certo homem chamado Ananias, de comum acordo com sua mulher Safira, vendeu um campo e, combinando com ela, reteve uma parte da quantia da venda. Levando apenas a outra parte, depositou-a aos pés dos Apóstolos. Pedro, porém, disse:
    - Ananias, por que Satanás tomou conta de teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo e enganasses acerca do valor do campo? Não foi aos homens que mentiste, mas a Deus.
    Ao ouvir estas palavras, Ananias caiu morto.
    Depois de umas três horas, entrou sua mulher, nada sabendo do ocorrido. Pedro perguntou-lhe:
    - Dize-me, mulher. Foi por tanto que vendestes vosso campo?
    Respondeu ela:
    - Sim, por esse preço.
    Replicou Pedro:
    - Por que combinastes para pôr à prova o Espírito do Senhor? Ali à porta estão os pés daqueles que sepultaram teu marido. Também hão de levar-te.
    Imediatamente caiu a seus pés e expirou." 
                                       At 5,1-3.4b-5a.7-10a

    O próprio Jesus descreveu o inimigo nestes termos: "O ladrão não vem senão para roubar, matar e destruir." Jo 10,10a
    Demoníaca mentalidade, portanto, mesmo em sensíveis momentos ela não deixa de mostrar seu ranço, como esse detalhe registrado por São Mateus sobre a crucificação de Nosso Salvador, dada no Monte Calvário: "E os ladrões, com Ele crucificados, também O ultrajavam." Mt 27,44
     Eis porque se tornou icônica, por ser rara, a figura do bom ladrão: "Um dos malfeitores, ali crucificados, blasfemava contra Ele: 'Se és o Cristo, salva a Ti mesmo e também a nós!' Mas o outro repreendeu-o: 'Nem sequer temes a Deus, tu que sofres no mesmo suplício? Para nós, isto é justo: recebemos o que merecemos por nossos crimes. Mas Este não fez mal algum.' E acrescentou: 'Jesus, lembra-Te de mim quando tiveres entrado em Teu Reino!' Jesus respondeu-lhe: 'Em Verdade, digo-te: ainda hoje estarás Comigo no Paraíso.'" Lc 23,39-43
    Ora, Judas Iscariotes, como São João Evangelista disse, além de traidor era ladrão, roubava do dinheiro doado pelo povo a Jesus e aos Apóstolos. Por isso, incomodou-se tanto com o caro perfume com que Santa Maria de Betânia, irmã de São Lázaro, ungiu Jesus: "Mas Judas Iscariotes, um de Seus discípulos, aquele que havia de trai-Lo, disse: 'Por que não se vendeu este bálsamo por trezentos denários e não se deu aos pobres?' Dizia isso não porque ele se interessasse pelos pobres, mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, furtava o que nela lançavam." Jo 12,4-6
    E ele tão desesperadamente arrependeu-se de ter entregue Jesus por dinheiro, que acabou enforcando-se:

    "Judas, o traidor, vendo-O então condenado, tomado de remorsos, foi devolver aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos as trinta moedas de prata, dizendo-lhes:
    - Pequei, entregando o Sangue de um Justo.
    Responderam-lhe:
    - Que nos importa? Isto é lá contigo!
    Ele então jogou no Templo as moedas de prata, saiu e foi enforcar-se."
                                                Mt 27,3-5

    Na reunião em que São Matias foi indicado para substituir Judas, São Pedro acrescentou esses detalhes sobre seu fim: "Depois, tombando para frente, arrebentou-se pelo meio e todas suas entranhas derramaram-se." At 1,18b
    Ora, tão trágica seria sua morte que o próprio Jesus tratou de profetizá-la: "O Filho do Homem vai, como d'Ele está escrito. Mas ai daquele homem por quem o Filho do Homem é traído! Melhor seria para esse homem que jamais tivesse nascido!" Mt 26,24
    Assim o nomeou, quando rezou ao Pai pelos demais Apóstolos: "... o filho da perdição..." Jo 17,12
    E São Lucas deu mais específico detalhe sobre o que havia acontecido com ele, logo depois do Domingo de Ramos: "... Satanás entrou em Judas..." Lc 22,3a

    "Mandai Vosso Espírito Santo!"

quinta-feira, 27 de março de 2025

A Preguiça


    O Catecismo da Igreja Católica ensina que a preguiça se instala no coração por falta de humildade e de práticas de fé: "Outra tentação, cuja porta é aberta pela presunção, é a acídia (também chamada 'preguiça'). Os Padres Espirituais entendem esta palavra como uma forma de depressão devida ao relaxamento da ascese, à diminuição da vigilância, à negligência do coração... O doloroso desânimo é o inverso da presunção. Quem é humilde não se surpreende com sua miséria. Então passa a ter mais confiança, a perseverar na constância." CIC § 2733
    Também dá o conceito de presunção, que dá ensejo à preguiça: "Há duas espécies de presunção: ou o homem presume de suas capacidades (esperando poder salvar-se sem a ajuda do alto), ou então presume da onipotência ou da Misericórdia de Deus (esperando obter Seu perdão sem conversão, e a Glória sem mérito)." CIC § 2092
    Segundo o Livro de Provérbios, esse mal é uma forma de entorpecimento: "A preguiça cai no torpor: a indolente alma terá fome." Pr 19,15
    Em seguida, o sagrado autor torna a apontá-la como razão da pobreza material: "Não sejas amigo do sono, para que não te tornes pobre: abre os olhos e terás pão à vontade." Pr 20,13
    Idem: "... o beberrão e o comilão empobrecem, e o dorminhoco veste-se com trapos." Pr 23,21
    Em sentido contrário, a virtuosa mulher é aquela que: "... procura lã e linho e trabalha com alegre mão. Levanta-se ainda de noite, distribui a comida à sua casa e a tarefa às suas servas. Estende os braços ao infeliz e abre a mão ao indigente. Ela não teme a neve em sua casa, porque toda sua família tem duplas vestes. Vigia o andamento de sua casa e não come o pão da ociosidade." Pr 31,13.15.20.21.27
    O Livro de Eclesiástico, por sua vez, denuncia os pecados que a preguiça traz: "... a ociosidade ensina muita malícia." Eclo 33,29
    Para ele, o beberrão está em seus braços: "Não é um pouco de vinho suficiente para um bem-educado homem? Assim não terás pesado sono, e não sentirás dor." Eclo 31,22
    E o preguiçoso, como se era de esperar, sonega caridade espiritual: "Não tenhas preguiça de visitar um doente, pois é assim que te firmarás na caridade." Eclo 7,39
    Mas a lista da Carta de São Paulo aos Romanos, que versa sobre a preguiça espiritual, é bem mais longa: "Como não se preocupassem em adquirir o conhecimento de Deus, Ele entregou-os a depravados sentimentos, e daí seu indigno procedimento. São repletos de toda espécie de malícia, perversidade, cobiça, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade. São difamadores, caluniadores, inimigos de Deus, insolentes, soberbos, altivos, inventores de maldades, rebeldes contra os pais. São insensatos, desleais, sem coração, sem misericórdia. Apesar de conhecerem o justo decreto de Deus, que considera dignos de morte aqueles que tais coisas fazem, não somente as praticam como também aplaudem aqueles que as cometem." Rm 1,28-32
    No Livro do Profeta Ezequiel, vale notar, Deus diz que os pecados de Sodoma não eram os escândalos sexuais. Estes eram consequências de outros graves erros, como Ele mesmo acusou Jerusalém: "Eis em quem consistia a iniquidade de tua irmã Sodoma: opulência, glutoneria, indolência, ociosidade..." Ez 16,49
    Jesus, portanto, exorta a que sejamos pessoas de atitude, avessos a falatório, lisonja e vazias promessas. Está no Evangelho segundo São Mateus: "Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, disse-lhe: 'Meu filho, vai trabalhar hoje na vinha.' Respondeu ele: 'Não quero.' Mas, em seguida, tocado de arrependimento, foi. Dirigindo-se depois ao outro, disse-lhe a mesma coisa. O filho respondeu: 'Sim, pai!' Mas não foi. Qual dos dois fez a vontade do pai?" Mt 21,28-31
    Tomando como referência o profícuo agir do Pai, sempre atento à obra da Salvação, Nosso Salvador sentencia, com palavras do Criador, aquele que não faz uso de seus talentos para a construção do Reino dos Céus, numa parábola que contou: "Mau e preguiçoso servo! Sabias que colho onde não semeei e que recolho onde não espalhei." Mt 25,26
    E no Evangelho segundo São Lucas, Ele reclamou daqueles cujas consciências demoram em reconhecer a Verdade, como dois de Seus discípulos se portaram partindo para Emaús, no Domingo da Ressurreição, sem acreditar nos relatos daqueles que O tinham visto ressuscitado: "Jesus disse-lhes: 'Ó gente sem inteligência! Como sois tardos de coração para crerdes em tudo que anunciaram os Profetas!'" Lc 24,25
    A Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios também vai reclamar: "A vós, irmãos, não vos pude falar como a homens espirituais, mas como a carnais, como a criancinhas em Cristo. Eu dei-vos leite a beber, e não sólido alimento, que ainda não podíeis suportar. Nem ainda agora o podeis, porque ainda sois carnais. Com efeito, enquanto entre vós houver ciúmes e contendas, não será porque sois carnais e procedeis de um totalmente humano modo?" 1 Cor 3,1-3
    Os seguidores de sua tradição, na Carta aos Hebreus, da mesma forma farão duras críticas a essa postura de quase indiferença perante as coisas de Deus: "Teríamos muita coisa a dizer sobre isso, e coisas bem difíceis de explicar, dada vossa lentidão em compreender... A julgar pelo tempo, já devíeis ser mestres! Contudo, ainda necessitais que vos ensinem os primeiros rudimentos da Palavra de Deus. E tornaste-vos tais que precisais de leite em vez de sólido alimento!" Hb 5,11-12
    Baseando-se no exemplo dos Santos, eles vão exortar: "Desejamos, apenas, que ponhais todo empenho em guardar intacta vossa esperança até o fim, e que, longe de tornardes lentos na compreensão, sejais imitadores daqueles que pela e paciência tornam-se herdeiros das promessas." Hb 6,11-12
    Invocam, por fim, a multidão que compunha a Santa Igreja já àquele tempo e o próprio exemplo do Salvador: "Desse modo, cercados como estamos de tal nuvem de testemunhas, desvencilhemo-nos das correntes do pecado. Com perseverança corramos ao proposto combate, com o olhar fixo no Autor e Consumador de nossa fé: Jesus. Em vez do gozo que se Lhe oferecera, Ele suportou a Cruz e está sentado à direita do trono de Deus. Atentamente considerai, pois, Aquele que tantas contrariedades sofreu dos pecadores, e não vos deixeis abater pelo desânimo." Hb 12,1-3
    A Carta de São Tiago, conforme o próprio Jesus, falou da importância do testemunho através da forma de agir. Ele expressamente diz que devemos ser ativos cumpridores dos bíblicos preceitos, em específico os do Evangelho: "Mas aquele que com atenção procura meditar a perfeita Lei da liberdade e nela persevera, não como ouvinte que facilmente se esquece, mas como fiel cumpridor do preceito, este será feliz em seu proceder." Tg 1,25
    E a Segunda Carta de São Paulo aos Tessalonicenses, pedindo que os fiéis se afastassem dos preguiçosos, invoca o exemplo que ele mesmo e seus colaboradores davam de disposição para todos trabalhos: "Irmãos, em Nome de Nosso Senhor Jesus Cristo ordenamos: afastai-vos de todo irmão que vive sem nada fazer e não segue a Tradição que de nós recebeu. Vós sabeis como deveis imitar-nos: nós não ficamos ociosos quando estivemos entre vós, nem pedimos a ninguém o pão que comemos. Ao contrário, trabalhamos com fadiga e esforço, noite e dia, para não sermos pesados para nenhum de vós. Não porque não tivéssemos direito a isso, mas porque quisemos ser um exemplo a imitar. De fato, quando estávamos entre vós, demos esta norma: quem não quer trabalhar, também não coma." 2 Ts 3,6-10
    A Primeira Carta de São Paulo aos Tessalonicenses lembra nossa condição de representantes de Cristo também para aqueles que não são de Sua Igreja: "Procurai viver com serenidade, ocupando-vos de vossas próprias coisas e trabalhando com vossas mãos, como vos temos recomendado. É assim que honrosamente vivereis em presença dos de fora, e a ninguém sereis pesados." 1 Ts 4,11-12
    Já a Carta de São Paulo aos Filipenses menciona nossa missão de luz do mundo, como Jesus indicou: "Fazei todas coisas sem murmurações nem críticas, a fim de serdes irrepreensíveis e inocentes, íntegros filhos de Deus no meio de uma depravada e maliciosa sociedade, onde brilhais como luzeiros no mundo, a ostentar a Palavra da Vida." Fl 2,14-15
    Com efeito, seus exemplos não foram poucos. Como Ministro do Evangelho, suas responsabilidades levaram-no a difíceis momentos, dos quais ele não se arrependia. A Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios atesta: "Mas em todas coisas apresentamo-nos como Ministros de Deus, por uma grande constância nas tribulações, nas misérias, nas angústias, nos açoites, nos cárceres, nos tumultos populares, nos trabalhos, nas vigílias, nas privações..." 2 Cor 6,4-5
    E advertindo os cristãos das obras das trevas, a Carta de São Paulo aos Efésios recomenda: "Vigiai com cuidado, pois, sobre vossa conduta: que ela não seja conduta de insensatos, mas de sábios que ciosamente aproveitam o tempo, porque os dias são maus." Ef 5,15-16


VIGÍLIAS E ORAÇÕES

    Chamando a atenção para o momento em que prestaremos contas a Deus, Nosso Salvador, em Sua últimas pregações e falando do Juízo, seja do Particular, seja do Final, insiste que abandonemos os hábitos que nos levam à vacilação e ao pecado: "Vigiai, portanto, porque não sabeis nem o dia nem a hora." Mt 25,13
    Contra todas fraquezas, Ele repetidamente recomendou constância nas vigílias e orações, como no Horto das Oliveiras, ou seja, na angústia do início de Sua Paixão: "Vigiai e orai para que não entreis em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca." Mt 26,41
    E no Evangelho segundo São Marcos, pregando aos Apóstolos antes de subir a Jerusalém pela última vez, Ele deixava claro que esse recado não era só para os Doze ou líderes da Igreja: "O que vos digo, digo a todos: vigiai!" Mc 13,37
    Pois só os puros de coração e de alma escaparão dos tormentos da Grande Tribulação, e estarão de prontidão no Grandioso Dia de Sua Volta. Ele pregou à multidão em Jerusalém, após o Domingo de Ramos: "Vigiai em todo tempo e orai, a fim de que vos torneis dignos de escapar a todos estes males que hão de acontecer, e de pé apresentar-vos diante do Filho do Homem." Lc 21,36
    Ele havia afirmado que só a perseverança nos valores de que se constituem as Escrituras, exatamente o contrário da preguiça espiritual, pode fazer-nos dar frutos para o Reino de Deus: "A (semente) que caiu na boa terra são os que ouvem a Palavra com reto e bom coração, retêm-na e pela perseverança dão fruto." Lc 8,15
    Pois acolher as Escrituras é permanecer em Comunhão com Ele, única condição de sermos úteis. No Evangelho segundo São João, Ele disse em despedida dos Apóstolos: "Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós. O ramo não pode dar fruto por si mesmo, sem permanecer na videira. Assim também vós: tampouco podeis dar fruto se não permanecerdes em Mim. Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanecer em Mim e Eu nele, esse dá muito fruto, porque sem Mim nada podeis fazer." Jo 15,4-5
    Ora, Ele já havia garantido a recompensa: "O que ceifa já recebe seu salário, e junta frutos para a Vida Eterna." Jo 4,36a
    E mais que qualquer coisa, em últimas palavras, Ele pediu constância na perfeita caridade a Apóstolos, discípulos e seguidores : "Como o Pai Me ama, Eu também vos amo. Perseverai em Meu amor." Jo 15,9
    Ele mesmo dava exemplo, e por isso pediu-lhes após a Santa Ceia: "O mundo, porém, deve saber que amo o Pai e procedo como o Pai Me ordenou." Jo 14,31a
    Movido pela mesma certeza, o Eclesiástico já se perguntava: "Pois quem foi abandonado após ter perseverado em Seus Mandamentos? Quem é aquele cuja oração foi desprezada?" Eclo 2,12
    Não por acaso, a Santíssima Virgem sempre dava grande exemplo de fé à nascente Igreja, como em plena vigília de oração aguardando, junto aos Apóstolos, a Vinda do Espírito Santo prometida por Nosso Senhor (cf. Jo 15,26). O Livro de Atos dos Apóstolos relata: "Todos eles unanimemente perseveravam na oração, e junto a eles as mulheres, entre elas Maria, mãe de Jesus, e os irmãos d'Ele." At 1,14


PERSEVERANÇA

    Como São Paulo e São Barnabé pregavam, a perseverança na fé é de total importância porque as tribulações são uma certeza na vida do cristão, justamente porque contraria com atitudes o mundo imerso no pecado: "Confirmavam as almas dos discípulos e exortavam-nos a perseverar na fé, dizendo que é necessário entrarmos no Reino de Deus por meio de muitas tribulações." At 14,22
    O próprio Jesus havia dito a todos Seus seguidores na noite antes de partir para o Getsêmani, onde seria preso: "No mundo haveis de ter aflições. Coragem!" Jo 16,33
    São Paulo, como incentivo, firmou três belas e emblemáticas metas para o cristão: "Sede alegres na esperança, pacientes na tribulação e perseverantes na oração." Rm 12,12
    E lembrando as aflições que ele mesmo passou, garante que seus esforços, por todas dioceses de então, não foram pequenos: "Trabalhos e fadigas, repetidas vigílias, com fome e sede, frequentes jejuns, frio e nudez! Além de outras coisas, minha cotidiana preocupação, a solicitude por todas igrejas!" 2 Cor 11,27-28
    Por isso, tem total autoridade para conclamar-nos contra a grande indolência da atualidade, que é uma forma de preguiça espiritual e ameaça a Unidade da Igreja, a qual só é possível através da obediência ao Espírito Santo: "Sede solícitos em conservar a unidade do Espírito no vínculo da Paz." Ef 4,3
    Na Carta de São Paulo a São Tito, ele faz lembrar o Batismo e o inarredável compromisso com a caridade: "... Ele (Deus) salvou-nos, mediante o Batismo da regeneração e renovação, pelo Espírito Santo que nos foi concedido em profusão por meio de Cristo, Nosso Salvador... Certa é esta Doutrina e quero que a ensines com constância e firmeza, para que aqueles que abraçaram a fé em Deus esforcem-se por aperfeiçoarem-se na prática do bem. Isto é bom e útil aos homens." Tt 3,5b-6.8
    Como perfeito remédio contra o pecado da preguiça, a Primeira Carta de São Paulo a São Timóteo expressamente recomenda a religiosidade: "Exercita-te na piedade. Se o exercício corporal traz algum pequeno proveito, a piedade, esta sim, é útil para tudo, porque tem a promessa da presente e da futura Vida. Eis uma verdade absolutamente certa e digna de fé: se nos afadigamos e sofremos ultrajes, é porque pusemos nossa esperança em Deus Vivo, que é o Salvador de todos homens, sobretudo dos fiéis. Seja este o objeto de tuas prescrições e de teus ensinamentos. Ninguém te despreze por seres jovem. Ao contrário, torna-te modelo para os fiéis, no modo de falar e de viver, na caridade, na fé, na castidade. Enquanto eu não chegar, aplica-te à leitura, à exortação, ao ensino. Não negligencies o carisma que está em ti e que te foi dado por profecia, quando a assembleia dos anciãos te impôs as mãos. Nisto põe toda diligência e empenho, de tal modo que a todos se torne manifesto teu aproveitamento. Olha por ti e pela instrução dos outros. E persevera nestas coisas. Se isto fizeres, salvar-te-ás a ti mesmo e aos que te ouvirem." 1 Tm 4,8-16
    Pois a Carta de São Paulo aos Gálatas lembra que o tempo é curto, o Juízo se aproxima e devemos servir à Igreja, que é o principal instrumento de Deus para a Salvação: "Onde está agora aquele vosso entusiasmo? Não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo colheremos, se não relaxarmos. Por isso, enquanto temos tempo, façamos o bem a todos homens, mas particularmente aos irmãos na fé." Gl 4,15a;6,9-10
    Ele dizia especificamente, pedindo pela Santa Missa: "Não relaxeis vosso zelo. Sede fervorosos de espírito. Servi ao Senhor." Rm 12,11
    Nosso Santo distingue os não cristãos exatamente pela indolência, ou pela malícia do crime: "Portanto, eis o que digo e conjuro no Senhor: não persistais em viver como os pagãos, que andam à mercê de suas frívolas ideias. Eles têm o entendimento obscurecido. Sua ignorância e o endurecimento de seu coração mantêm-nos afastados da Vida de Deus. Indolentes, entregaram-se à dissolução, à apaixonada prática de toda espécie de impureza. Vós, porém, não foi para isto que vos tornastes discípulos de Cristo, se é que O ouvistes e d'Ele aprendestes, como convém à Verdade em Jesus. Renunciai à vida passada, despojai-vos do velho homem, corrompido por enganadoras concupiscências. Renovai sem cessar o sentimento de vossa alma, e revesti-vos do novo homem, criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade. Por isso, renunciai à mentira. Não deis lugar ao Demônio. Quem era ladrão não torne a roubar, antes seriamente trabalhe por realizar o bem com suas próprias mãos, para ter com que socorrer os necessitados." Ef 4,17-25a.27-28
    E nos momentos de dificuldade, longe de arrefecer nas orações e nas vigílias, ele exorta-nos a aumentá-las: "Intensificai vossas invocações e súplicas. Orai em toda circunstância, pelo Espírito, no Qual perseverai em intensa vigília de súplica por todos cristãos." Ef 6,18
    A Carta de São Paulo aos Colossenses também pede frequentes ações de graças, das quais a principal é a Santa Eucaristia, ápice de nossas Santas Missas: "Sede perseverantes, sede vigilantes na oração, acompanhada de ações de graças." Cl 4,2
    Por desejar-nos a perfeição da santidade, conclamava: "Orai sem cessar." 1 Ts 5,17
    Pois a persistência na fé é a única maneira de permanecermos ao lado de Cristo, que reclamou de São Pedro no Horto das Oliveiras, momentos antes de ser preso: "Em seguida, foi ter com Seus discípulos e achou-os dormindo. Disse a Pedro: 'Simão, dormes? Não pudeste vigiar uma hora?'" Mc 14,37
    Nesse sentido, a Segunda Carta de São Paulo a São Timóteo afirma, falando sobre Jesus: "Antes é preciso que o lavrador trabalhe com afinco, se quer boa colheita. Se soubermos perseverar, com Ele reinaremos." 2 Tm 2,6.12
    O Apóstolo dos Gentios garante: "Por consequência, meus amados irmãos, sede firmes e inabaláveis, aplicando-vos cada vez mais à obra do Senhor. Sabeis que vosso trabalho no Senhor não é em vão." 1 Cor 15,58
    E assim nos estimula: "... estejam prontos para qualquer boa obra..." Tt 3,1
    A Segunda Carta de São Pedro, falando do novo céu e da nova Terra, também exortava à santidade: "Portanto, caríssimos, esperando estas coisas, esforçai-vos em ser por Ele achados sem mácula e irrepreensíveis na Paz." 2 Pd 3,14
    São Tiago Menor, para tanto, conclama-nos a vencer todas fraquezas, entre as quais a preguiça é uma das maiores: "Mas é preciso que a paciência efetue sua obra, a fim de serdes perfeitos e íntegros, sem fraqueza alguma." Tg 1,4
    E no Livro do Apocalipse de São João, Jesus dá essa advertência à igreja de Éfeso, que vale para todos nós: "Mas contra ti tenho que arrefeceste teu primeiro amor. Lembra-te, pois, donde caíste. Arrepende-te e retorna às tuas primeiras obras. Senão virei a ti e removerei teu candelabro de seu lugar, caso não te arrependas." Ap 2,4-5
    Ainda diz o Catecismo da Igreja: "... Esse incansável ardor só pode provir do amor. Contra nossa pesada lentidão e preguiça, o combate da oração é o do humilde, confiante e perseverante amor. Esse amor abre nossos corações para três evidências de fé, luminosas e vivificantes:
    Orar sempre é possível...
    Orar é uma vital necessidade...
    Oração e vida cristã são inseparáveis... " CIC § 2742, 2743, 2744, 2745
    Referindo-se às ofensas ao amor de Deus, nosso Catecismo registra: "... A tibieza é uma hesitação ou uma negligência em responder ao divino amor, podendo implicar a recusa de entregar-se ao dinamismo da caridade. A acídia ou preguiça espiritual chega a recusar até a alegria que vem de Deus e a ter horror ao divino bem..." CIC § 2094
    E falando sobre muito corriqueira prática mundo afora, de pessoas que admitem a existência de Deus mas não buscam encontrar-se com Ele, o Catecismo aponta as faltas de uma preguiçosa ou mesmo atrofiada consciência moral: "O agnosticismo pode, às vezes, conter certa busca de Deus, mas igualmente pode representar um indiferentismo, uma fuga da pergunta última sobre a existência e uma preguiça da consciência moral. Com muita frequência, o agnosticismo equivale a um ateísmo prático." CIC § 2128

    "Tornai viva nossa fé, nossa esperança!"