segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Textos para Celular

 

Anuário de Leituras Bíblicas

Acesso: dizemasescrituras.blogspot.com

O Difícil Caminhar com Jesus


    Seguir Jesus não significa abraçar um mundo de facilidades. Ao contrário: muitas vezes as coisas ficam bem mais difíceis, pois o Caminho que Ele aponta é realmente estreito: "Entrai pela estreita porta, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduzem à perdição, e numerosos são aqueles que por aí entram. Estreita, porém, é a Porta e apertado o Caminho da Vida, e raros são aqueles que O encontram." Mt 7,13-14
    E sem que desanimemos, pois com Ele caminhamos para a Vida Eterna, também é necessário ter em mente que o Divino Mestre advertiu os Apóstolos de Seu Sacrifício, e, consequentemente, do sacrifício pelo qual hão de passar Seus seguidores: "Em seguida, convocando a multidão e Seus discípulos, disse-lhes: 'Se alguém quer seguir-Me, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-Me. Porque aquele que quiser salvar sua vida, perdê-la-á. Mas aquele que perder sua vida por amor a Mim e ao Evangelho, salvá-la-á. Pois que aproveitará ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder sua Vida?'" Mc 8,34-36
    Caminhar com Jesus, portanto, é corajosa e realisticamente enfrentar as desafiantes situações do dia-a-dia, sem se entregar à desilusão ou à ira. Pois, diante da Revelação, realmente se tem que assumir as mais difíceis tarefas, como se vê nas exigências de vida missionária que Jesus fazia aos discípulos, enquanto subia a Jerusalém. Está na narrativa de São Lucas:

    "A outro, Ele disse:
    - Segue-Me.
    Mas ele pediu:
    - Senhor, permite-me primeiro ir enterrar meu pai.
    Jesus, porém, disse-lhe:
    - Deixa que os mortos enterrem seus mortos. Quanto a ti, vai e anuncia o Reino de Deus.'"
                                                Lc 9,59-60

    É assim que tomamos nossa cruz e 'perdemos nossa vida', por amor a Ele e ao anúncio da Vida Eterna. É cruz porque significa total sacrifício, é 'perder a vida' porque está na contramão dos prazeres desse mundo. Mas esse é o Caminho da libertação dos pecados, do amadurecimento espiritual, do fazer o que tem que ser feito.
    Tristes daqueles que, perante o Juízo, forem julgados preguiçosos, ambiciosos, covardes ou inimigos da construção do Reino de Deus. Esses são os que realmente perdem suas vidas, e podem perder a Vida Eterna.


O EXEMPLO DE SÃO PEDRO

    O que aconteceu com São Pedro, quando ousou andar sobre as águas como Jesus? São Mateus narra:

    "Pela quarta vigília da noite, Jesus veio a eles caminhando sobre o mar. Quando os discípulos O perceberam caminhando sobre as águas, ficaram com medo:
    - É um fantasma!, disseram eles soltando gritos de terror.
    Mas Jesus logo lhes disse:
    - Tranquilizai-vos! Sou Eu. Não tenhais medo!
    Pedro tomou a palavra e falou:
    - Senhor, se és Tu, manda-me ir sobre as águas até junto a Ti!
    Ele disse-lhe:
    - Vem!
    Pedro saiu da barca e caminhava sobre as águas ao encontro de Jesus.
    Mas, redobrando a violência do vento, teve medo e, começando a afundar, gritou:
    - Senhor, salva-me!
    No mesmo instante, Jesus estendeu-lhe a mão, segurou-o e disse-lhe:
    - Homem de pouca ! Por que duvidaste?
    E apenas tinham subido à barca, o vento cessou."
                                                Mt 14,25-32

    São Pedro teve a audácia de imitar Jesus, e não estava errado. Tanto que Jesus de imediato lhe consentiu, sem argumentar. Apenas disse: 'Vem!' Contudo, tomar Jesus como modelo significa enfrentar grandes contrariedades e fortes oposições. Ele autorizou que Pedro viesse até Si sobre as águas, porém não lhe abrandou o vento. Pelo contrário: permitiu que redobrasse sua violência. Isso fica claro porque, logo que voltaram à barca, o vento parou.
    Quando se abraça a verdadeira realidade, que é nos revelada por Cristo, em muitas situações as dificuldades apenas aumentam. O inimigo e o mundo passam a opôr ainda mais suas forças. Esse, no entanto, é o momento de mostrar fé, de perseverar. Temos que ter presente que Jesus está do nosso lado, seja para dar-nos a mão, como prontamente a estendeu a São Pedro, seja para acalmar o vento, como fez logo quando subiram à barca. E, também devemos estar certos, Ele quer ver nossa vitória.
    Desse episódio, todavia, ficam grandes exemplos de duas atitudes de São Pedro. Primeiro, ele destemidamente tentou imitar o Mestre; segundo, quando se agravaram as circunstâncias, ele muito bem soube a Quem recorrer: nem tentou valer-se de si mesmo, pois sabia nadar, nem pediu socorro aos companheiros da barca, mas a Jesus.


A BOA SEMENTE

    Outra passagem em que as condições se complicam, após ouvir Jesus, é descrita na parábola do semeador, segundo São Marcos. Nosso Senhor fala:

    "O semeador semeia a Palavra. Alguns encontram-se à beira do caminho, onde ela é semeada. Apenas a ouvem, vem Satanás tirar a Palavra neles semeada.
    Outros recebem a semente em pedregosos lugares. Quando a ouvem, recebem-na com alegria, mas não têm raiz em si, são inconstantes, e assim que se levanta uma tribulação ou uma perseguição por causa da Palavra, eles tropeçam.
    Ainda outros recebem a semente entre os espinhos. Ouvem a Palavra, mas as mundanas preocupações, a ilusão das riquezas, as múltiplas cobiças sufocam-na e tornam-na infrutífera.
    Mas há aqueles que recebem a semente em boa terra. Eles escutam a Palavra, acolhem-na e dão frutos: um trinta, outro sessenta, outro cem!"
                                                  Mc 4,14-20

    Jesus aponta o inimigo roubando a semente dos que ficam 'à beira do caminho', diz que os problemas e perseguições fazem tropeçar os vacilantes, que não se aprofundam, avisa que as preocupações, as ilusões e as cobiças sufocam os que vivem 'entre os espinhos', ou seja, em maus ambientes e em más companhias, mas também reconhece a boa terra, que dá até cem frutos por cada semente.
    Ao final, as contas são essas: para cada semente que dá frutos, três são perdidas. A quantidade de frutos da semente que vinga, porém, em muito compensa as que se perdem. E a lição é: ninguém é boa terra só porque quer ser, mas por persistir em ser e assim obter de Deus a Graça de gerar frutos. O que se é, comprova-se com o tempo através de uma vida de atitudes, não só com palavras. Por isso, Jesus pediu que perseverássemos junto a Ele, pois do contrário seríamos inúteis: "Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós. O ramo não pode dar fruto por si mesmo se não permanecer na videira. Assim também vós: tampouco podeis dar fruto se não permanecerdes em Mim." Jo 15,4
    E mesmo assim Ele ainda advertia das correções que o Pai faz: "Eu sou a verdadeira videira, e Meu Pai é o agricultor. Todo ramo que não der fruto em Mim, Ele cortá-lo-á. E podará todo aquele que der fruto, para que produza mais fruto." Jo 15,1-2
    Devidamente acolher a semente, de fato, não é fácil. Mas, sem dúvida, é a maior das realizações humanas, e é o exemplo dado por Maria Santíssima ao ouvir Jesus ainda aos 12 anos, quando Ele permaneceu sozinho em Jerusalém após a Páscoa e disse que devia estar na Casa do Pai. São Lucas registrou: "Sua mãe guardava todas estas coisas em seu coração." Lc 2,51


A PARÁBOLA DO BANQUETE NUPCIAL

    A missão da Igreja, pois, não é nenhuma amenidade. Antes um combate, como São Paulo dizia (cf. 2 Tm 4,7). Jesus traduziu-a na parábola das Bodas do Filho do Rei, quando Seus servos são menosprezados ou mesmo mortos. São Mateus escreve:

    "Jesus tornou a falar-lhes por meio de parábolas:
    - O Reino dos Céus é comparado a um Rei que celebrava as Bodas do Seu Filho. Enviou Seus servos para chamar os convidados, mas eles não quiseram vir. Ainda enviou outros, dizendo-lhes:
    - Dizei aos convidados que Meu Banquete já está preparado. Meus bois e Meus animais cevados estão mortos, tudo está preparado. Vinde às Bodas!
    Mas, sem se importarem com aquele convite, foram-se, um a seu campo e outro para seu negócio. Outros lançaram mãos de Seus servos, insultaram-nos e mataram-nos. Porque muitos são os chamados, e poucos os escolhidos."
                                               Mt 22,1-6.14

    Convidar a participar deste pedaço do Céu que é a Igreja, nosso Reino de Sacerdotes, não garante pronto acolhimento. E não importa as maravilhas que se anuncie. Não nos espantem, portanto, os relatos de martírios. Jesus foi categórico ao afirmar o que nos espera quando resistimos ao Mal: "Se o mundo vos odeia, sabei que odiou a Mim antes que a vós. Se fôsseis do mundo, o mundo amá-vos-ia como sendo seus. Porém, como não sois do mundo, mas do mundo escolhi-vos, por isso o mundo odeia-vos." Jo 15,18-19
    Ora, os apegos a bens materiais e à vanglória têm cegado a muitos, e isso só tende a aumentar, como Ele mesmo previu: "Mas quando vier o Filho do Homem, acaso achará fé sobre a Terra?" Lc 18,8b
    Inspiradamente, São Paulo advertiu do grande abandono da fé do fim dos tempos, apontando seu autor: "Ninguém de modo algum vos engane. Porque primeiro deve vir a apostasia, e deve manifestar-se o homem da iniquidade, o filho da perdição, o adversário, aquele que se levanta contra tudo o que é divino e sagrado, a ponto de tomar lugar no Templo de Deus, e apresentar-se como se fosse Deus." 2 Ts 2,3-4

       
O CAMINHO DA CRUZ

    Contudo, o maior exemplo de 'contrariedade' para o cristão é própria Crucificação de Jesus. É do texto de nosso Santo Médico:

    "Conforme Seu costume, Jesus saiu dali e dirigiu-Se para o Monte das Oliveiras, seguido de Seus discípulos. Ao chegar àquele lugar, disse-lhes:
    - Orai para que não caiais em tentação.
    Depois afastou-Se deles à distância de um tiro de pedra e, ajoelhando-Se, orava:
    - Pai, se é de Teu agrado, afasta de Mim este cálice! Não se faça, porém, Minha vontade, mas sim a Tua.
    Apareceu-Lhe, então, um anjo do Céu para confortá-Lo.
    Ele entrou em agonia e orava ainda com mais instância, e Seu suor tornou-se como gotas de sangue a escorrer pela terra."
                                             Lc 22,39-44

    Com efeito, mesmo fazendo plena e exclusivamente o que era da vontade do Pai Eterno, Jesus não foi por Ele poupado da maior das torturas que àqueles tempos um ser humano podia padecer. Se Deus pareceu por demais cruel pedindo a Abraão para sacrificar Isaac, seu único filho, e levando-o à iminência do ato, com Jesus Ele não só ensejou o sacrifício como também o consumou. Claro, a Glória de Sua Ressurreição incomparavelmente supera a humilhação e a dor da morte na Cruz. E entre nós, sempre tão insensíveis, Sua história certamente não teria a mesma repercussão sem Sua Paixão, Ressurreição e Ascensão aos Céus.
    Resta evidente, no entanto, que os sacrifícios exigidos por Deus, por mais estranhos que pareçam, não são desprovidos de sentido nem acontecem sem que uma Graça infinitamente maior seja dada aos que perseveram fazendo Sua vontade. Se quisermos obedecê-Lo, estaremos inevitavelmente envolvidos no processo de santificação por Ele mesmo conduzido, ou seja, a própria construção do Reino de Deus. O Último Apóstolo diz aos filipenses: "Porque é Deus, segundo Seu beneplácito, Quem realiza em vós o querer e o executar." Fl 2,13
    Também disseram os seguidores de sua tradição: "E o Deus da Paz... queira dispor-vos ao bem e conceder-vos que cumprais Sua vontade, realizando Ele próprio em vós o que é agradável a Seus olhos, por Jesus Cristo..." Hb 13,20a.21a
    E no Livro do Apocalipse, em revelação ao Amado Discípulo, o próprio Jesus adverte: "Eu repreendo e castigo aqueles que amo. Reanima teu zelo, pois, e arrepende-te." Ap 3,20
    Logo, sejam os desígnios de Deus compreensíveis ou não, assim é Sua vontade, e assim é o caminhar com Jesus. Ele realmente falava de um 'estranho' batismo, como disse a São Tiago Maior e a São João Evangelista: "Jesus prosseguiu: "Vós bebereis o cálice que Eu devo beber, e sereis batizados no batismo em que Eu devo ser batizado." Mc 10,39b
    Também alertou aos fieis: "Disse-vos essas coisas para preservar-vos de alguma queda. Expulsá-vos-ão das sinagogas, e virá a hora em que todo aquele que vos tirar a vida julgará prestar culto a Deus. Procederão deste modo porque não conheceram o Pai, nem a Mim. Disse-vos, porém, essas palavras para que, quando chegar a hora, vos lembreis de que vos anunciei." Jo 16,1-4
    Garantiu-nos, entretanto, em paralelo aos percalços, o sucesso pela Verdade: "Lembrai-vos da Palavra que Eu vos disse: 'O servo não é maior que Seu Senhor.' Se Me perseguiram, também hão de perseguir-vos. Se guardaram Minha Palavra, também hão de guardar a vossa." Jo 15,20
    Que nos fique na memória, então, o paradoxo do Cristo, a imagem de Deus assassinado. Pois mesmo que para ser rejeitado por tantos, como estava previsto nas Escrituras, Ele teve que vir e levar a cabo Seu ato máximo de amor pela Redenção da humanidade. São João Evangelista assim resumiu Sua passagem entre os judeus (cf. Lv 26,12): "Veio para o que era Seu, mas os Seus não O receberam." Jo 1,11
    Longe da desenfreada busca por ilusórios prazeres que se vê pelo mundo, e diante do mistério do Mal que nele impera, seguir Jesus, como o sacrifício ao qual espiritualmente nos oferecemos toda Santa Missa, é desde sempre mortificação. São Paulo foi contundente, revelando a São Timóteo: "Pois todos aqueles que piedosamente quiserem viver, em Jesus Cristo, terão de sofrer a perseguição." 2 Tm 3,12
    Era isso que ele e São Barnabé pregavam por onde passavam, desde que começaram a vida missionária, como São Lucas anotou: "Confirmavam as almas dos discípulos e exortavam-nos a perseverar na fé, dizendo que é necessário entrarmos no Reino de Deus por meio de muitas tribulações." At 14,22
    E assim o Apóstolo dos Gentios defendia a Unidade da Igreja, que a todo custo devemos preservar. Ele escreveu aos filipenses: "Quer eu vá ter convosco quer permaneça ausente, desejo ouvir que estais firmes em um só espírito, unanimemente lutando pela fé do Evangelho, sem em nada vos deixardes intimidar por vossos adversários. Isto para eles é motivo de perdição, mas para vós de Salvação. E é a vontade de Deus, porque a vós é dado não somente crer em Cristo, mas ainda por Ele sofrer." Fl 1,27b-29
    Os seguidores de sua tradição bem presente tinham essa realidade, e preparavam-se até mesmo para o martírio, que tão frequente era nos primeiros anos da Igreja e ainda hoje acontece: "Atentamente considerai, pois, Aquele que tantas contrariedades sofreu dos pecadores, e não vos deixeis abater pelo desânimo. Ainda não tendes resistido até o sangue na luta contra o pecado." Hb 12,3-4
    Aos jovens, sempre tão ansiosos, seja em busca de ilusões seja para a obtenção de uma Graça, o Príncipe dos Apóstolos deixou essa acurada recomendação: "Semelhantemente, vós que sois mais jovens, sede submissos aos Anciãos. Todos vós, em vosso mútuo tratamento, revesti-vos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá Sua Graça aos humildes (Pr 3,34). Humilhai-vos, pois, debaixo da poderosa mão de Deus, para que Ele vos exalte em oportuno tempo. Confiai-Lhe todas vossas preocupações, porque Ele tem cuidado de vós. Sede sóbrios e vigiai. Vosso adversário, o Demônio, anda ao redor de vós como o leão que ruge, buscando a quem devorar. Resisti-lhe fortes na fé. Vós sabeis que vossos irmãos, que estão espalhados pelo mundo, sofrem os mesmos padecimentos que vós. O Deus de toda Graça, que vos chamou em Cristo à Sua eterna Glória, depois que tiverdes padecido um pouco, aperfeiçoá-vos-á, torná-vos-á inabaláveis, fortificá-vos-á." 1 Pd 5,5-10
    Eis porque com instância se canta no Livro dos Salmos: "Ensinai-me, Senhor, Vosso Caminho. Por causa dos adversários, guiai-me pela reta senda." Sl 26,11
    Caminhar com Jesus, pois, como que sobre as águas, requer ciência de que o vento é revolto. Ele mesmo avisou: "No mundo haveis de ter aflições. Coragem!" Jo 16,33
    Contudo, como vemos, também nos encorajou. E garantiu a verdadeira vitória: "Perseverai em Meu amor. Se guardardes Meus Mandamentos, sereis constantes em Meu amor, como Eu também guardei Mandamentos de Meu Pai e persisto em Seu amor. Disse-vos essas coisas para que Minha alegria esteja em vós, e vossa alegria seja completa." Jo 15,9-11

    "Caminhamos na estrada de Jesus!"

domingo, 15 de setembro de 2024

Nossa Senhora das Dores


    Desde 1221, na Germânia, atual Alemanha, já se prestava culto de solidariedade às dores sofridas por Nossa Senhora. Para todo verdadeiro cristão, é simplesmente uma sensata atitude de compaixão, condolência e piedade.
    Em 1239, essa devoção foi levada a Florência, na Itália, pela Ordem dos Servos de Maria, chamados de Servitas, e no século XVIII entrou na Liturgia da Igreja por decisão do Papa Bento XIII.
    Contam-se sete grandes dores:

A FUGA DA SAGRADA FAMÍLIA PARA O EGITO

    A primeira grande dor de Nossa Senhora deu-se logo após o Nascimento de Jesus, quando o Anjo da Guarda de São José o avisou que Herodes queria matar o Menino. Sem dúvida, uma terrível aflição, um pungente sofrimento que culminaria, segundo São Mateus, no cumprimento de numa profecia de Jeremias, o Massacre dos Inocentes de Belém:

    "Depois de sua partida, o anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse:
    - Levanta-te, toma o Menino e Sua mãe, e foge para o Egito. Fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o Menino para matá-Lo.
    José levantou-se durante a noite, tomou o Menino e Sua mãe, e partiu para o Egito. Ali permaneceu até a morte de Herodes, para que se cumprisse o que o Senhor dissera pelo Profeta Oseias: 'Do Egito, Eu chamei Meu Filho (Os 11,1).'
    Então, vendo Herodes que tinha sido enganado pelos magos, ficou muito irado e mandou massacrar em Belém e seus arredores todos meninos de dois anos para baixo, conforme o exato tempo que havia indagado dos magos. Assim se cumpriu o que foi dito pelo Profeta Jeremias: 'Em Ramá ouviu-se uma voz, choro e grandes lamentos: é Raquel a chorar seus filhos. Não quer consolação, porque já não existem (Jr 31,15)!'" 
                                               Mt 2,13-18


AS TRISTES PROFECIAS DE SIMEÃO SOBRE JESUS E MARIA

    Antes de partir para o Egito, porém, Seus pais ousaram passar por Jerusalém sob as ameaças de Herodes, para apresentar o Menino Jesus no Templo, como manda a Lei (cf. Ex 13,2), no oitavo dia após de Seu Nascimento (cf. Lv 12,3). Lá a Santíssima Virgem ouviu do religioso Simeão o anúncio de mais dores. E tal anúncio, em si, foi sua segunda grande dor:

    "Simeão abençoou-Os e disse a Maria, Sua mãe:
    - Eis que este Menino está destinado a ser causa de queda e soerguimento para muitos homens em Israel, e a ser sinal que provocará contradições, a fim de serem revelados os pensamentos de muitos corações. E uma espada transpassará tua alma." 
                                               Lc 2,34-35


O 'DESAPARECIMENTO' DO MENINO JESUS POR TRÊS DIAS

    Ao completar doze anos, numa viagem a Jerusalém, Jesus deixou-Se ficar no Templo questionando os doutores da Lei, e assim 'Se perdeu' de Sua mãe e Seu pai. O prenúncio da brusca ruptura, que aconteceria na Santa Cruz, é a terceira grande dor de Maria Santíssima:

    "Seus pais iam todo ano a Jerusalém para a festa da Páscoa.
    Tendo Ele atingido doze anos, subiram a Jerusalém, segundo o costume da festa. Acabados os dias da festa, quando voltavam, ficou o Menino Jesus em Jerusalém, sem que Seus pais o percebessem. Pensando que Ele estivesse com Seus companheiros de comitiva, andaram caminho de um dia e buscaram-nO entre parentes e conhecidos. Mas não O encontrando, voltaram a Jerusalém, à Sua procura.
    Três dias depois, acharam-nO no Templo, sentado em meio a doutores, ouvindo-os e interrogando-os. Todos que O ouviam estavam maravilhados da Sabedoria de Suas respostas. Quando eles O viram, ficaram admirados. E Sua mãe disse-Lhe:
    - Meu Filho, que nos fizeste?! Eis que Teu pai e eu andávamos à Tua procura, cheios de aflição.
    Respondeu-lhes Ele:
    - Por que Me procuráveis? Não sabíeis que devo estar na Casa Meu Pai?" 
                                               Lc 2,41-49


MARIA OUVE JESUS CONSOLAR AS MULHERES NO CAMINHO AO CALVÁRIO

    Enquanto subia o Monte Calvário carregando a Cruz, Jesus consolou algumas mulheres de Jerusalém. Como O acompanhava em meio à multidão, vendo Sua compaixão por inocentes mulheres mesmo estando sob tão grandes suplícios, a Mãe de Deus teve sua quarta grande dor:

    "Seguia-O uma grande multidão do povo e também mulheres, que batiam no peito e lamentavam. Voltando-Se para elas, Jesus disse:
    - Filhas de Jerusalém, não choreis por Mim. Chorai por vós mesmas e por vossos filhos, porque dias virão nos quais se dirá: 'Felizes as estéreis, os ventres que não geraram e os seios que não amamentaram!' Então dirão aos montes: 'Caí sobre nós!' E aos outeiros: 'Cobri-nos!' Porque se eles fazem isto ao verde lenho, que acontecerá ao seco?'" 
                                                Lc 23,27-31


DE PÉ, MARIA PADECE O SOFRIMENTO E A MORTE DE JESUS

    
Ouvir as últimas palavras de Jesus e ver Seu último suspiro na Cruz, como relatou São João Evangelista, foram os momentos da quinta grande dor da Santíssima Senhora:

    "Junto à Cruz de Jesus estavam de pé Sua mãe, a irmã de Sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena.
    Quando Jesus viu Sua mãe, e perto dela o discípulo que amava, disse à Sua mãe:
    - Mulher, eis aí teu filho.
    Depois disse ao discípulo:
    - Eis aí tua mãe.
    E dessa hora em diante, o discípulo levou-a para sua casa.
    Em seguida, sabendo Jesus que tudo estava consumado, para cumprir-se plenamente a Escritura, disse:
    - Tenho sede.
    Havia ali um vaso cheio de vinagre. Os soldados encheram de vinagre uma esponja e, fixando-a numa vara de hissopo, chegaram-Lhe à boca. Havendo Jesus tomado do vinagre, disse:
    - Tudo está consumado.
    Inclinou a cabeça e rendeu o espírito." 
                                                Jo 19,25-30


MARIA RECEBE O CORPO DE JESUS RETIRADO DA CRUZ

    Após a morte de Jesus, é evidente que a Imaculada Virgem não sairia dali sem ver o que fariam com o Corpo de Seu Filho, embora tal atitude não tenha sido citada por São Marcos. E recebê-Lo ao ser retirado da Cruz foi sua sexta grande dor:

    "E já chegada a tarde, pois era a Preparação, isto é‚ a véspera do Sábado, veio José de Arimateia, ilustre membro do conselho, que também esperava o Reino de Deus. Ousando entrar onde estava Pilatos, pediu-lhe o Corpo de Jesus.
    Pilatos admirou-se de que Ele tivesse morrido tão depressa. E chamando o centurião, perguntou se já havia muito tempo que Jesus tinha morrido. Obtida a resposta afirmativa do centurião, mandou dar-lhe o Corpo.
    Depois de ter comprado um pano de linho, José tirou-O da Cruz..." 
                                              Mc 15,42-46a


MARIA VÊ O SEPULTAMENTO DO CORPO DE JESUS

    E também sem a expressa menção de São Mateus, Nossa Mãe do Céu acompanhou todo procedimento até o Corpo de Jesus ser sepultado. Por sua permanente presença ao lado do Amado Filho, durante toda Sua Missão, e por firme esperança na Ressurreição que Ele havia anunciado, não deve ter sido fácil tirá-la dali antes do completo cair da noite. E assistir ao sepultamento foi sua sétima grande dor:

    "José tomou o Corpo, envolveu-O num branco lençol e depositou-O num novo sepulcro, que para si tinha mandado talhar na rocha. Depois rolou uma grande pedra à entrada do sepulcro, e dali partiu.
    Maria Madalena e a outra Maria lá ficaram, sentadas defronte ao túmulo." 
                                                Mt 27,59-61


     Um grande sinal de Nossa Senhora das Dores foi dado em recente década no Japão, em 1973, e exatamente no dia 13 de outubro, mesmo dia do Milagre do Sol, que marcou a última Aparição de Fátima. Foi a Aparição de Akita, sequente à qual por um longo período a imagem local de Nossa Mãe Celeste chorou 101 vezes, lágrimas que foram analisadas a testadas como humanas pela Faculdade de Medicina da Universidade de Akita.
    As mensagens que ela aí transmitiu são de fato muito sérias, lembrando mesmo o cumprimento da profecia da Grande Tribulação, e foram anunciadas para um futuro próximo.
    Por fim, nas revelações feitas no século XIV à Santa Brígida (livro 1, capítulo 27), Nossa Senhora pessoalmente falou, mais que em sete dores, em cinco espadas que lhe traspassaram o Imaculado Coração:
    1ª)  a nudez de Jesus durante a flagelação;
    2ª)  as injustas acusações para condená-Lo;
    3ª)  a brutalidade da coroa de espinhos;
    4ª)  Sua mortiça voz na Cruz, ao dizer: "Pai, por que Me abandonaste?"; e,
    5ª)  Sua amaríssima morte.
    E, ao final, pediu-lhe: "Que estes que estão no mundo contemplem o que passei quando morreu Meu Filho, e que sempre O tenham em sua memória!"

    "Oh Maria, concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós!"

sábado, 14 de setembro de 2024

Exaltação da Santa Cruz


    Desde que Santa Helena, mãe de Constantino, primeiro imperador romano convertido ao Catolicismo, encontrou a Santa Cruz no Monte Calvário através de uma revelação e com a ajuda do Bispo de Jerusalém, iniciou-se uma espontânea e generalizada devoção ao Sagrado Lenho.


    Como esta Santíssima Relíquia estava partida em três, e por perfeita ciência de seu redentor significado, Santa Helena deixou apenas uma parte em Jerusalém, enviando a segunda a Constantinopla, então já a capital do Império Romano, e a terceira a Roma. E além da Basílica da Natividade em Belém, entre outras igrejas na Terra Santa, ela mandou construir no Monte Calvário a Basílica do Santo Sepulcro, que data de 14 de Setembro de 335, onde ficou a parte da Cruz destinada a Jerusalém.


    Mas em 614 os muçulmanos persas invadiram Jerusalém, e apossaram-se da parte aí venerada. E só 14 anos mais tarde o imperador Heráclito derrotou-os, retomando-a para os cristãos. A partir de então, a festa da Exaltação da Santa Cruz tornou-se uma celebração com ainda maior fervor.
    O significado da Cruz na mensagem deixada por Jesus é absoluto. Ela é o sinal maior do amor de Deus, por representar o Sacrifício de Seu Filho, pelo qual temos a redenção de nossos pecados. De fato, desde Sua primeira manifestação pública em Jerusalém, Nosso Salvador já predizia Seu destino: "Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim deve ser levantado o Filho do Homem, para que todo homem que n'Ele crer tenha a Vida Eterna." Jo 3,14-15
    Foi um ato de puro amor, que para nós bem atesta Seu exemplo de obediência ao Pai: "O Pai ama-Me porque dou Minha Vida para retomá-la. Ninguém a tira de Mim, mas Eu dou-a de Mim mesmo. Pois tenho poder para dá-la como tenho poder para reassumi-la. Tal é a ordem que recebi de Meu Pai." Jo 10,17-18
    Por isso, bem antes de Sua Paixão, Ele recomendava a cruz como sinal de despojamento de mundanos valores e de disposição para enfrentar contrariedades ao anunciar Sua Palavra, pois ela é o próprio Caminho da Salvação: "Se alguém quiser vir Comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-Me." Mt 16,24
    E advertia: "Quem não toma sua cruz e não Me segue, não é digno de Mim. Aquele que tentar salvar sua vida, perdê-la-á. Aquele que a perder, por Minha causa, reencontrá-la-á." Mt 10,38-39


    A Igreja, portanto, sempre anunciou Cristo crucificado. Como não há Deus sem Jesus, não há Cristo sem a Cruz! Tanto que, dos gálatas, São Paulo cobrou exatamente a memória dessa representação que ele divulgava: "Ó insensatos gálatas! Quem vos fascinou, ante cujos olhos foi apresentada a imagem de Jesus Cristo crucificado?" Gl 3,1
    Nosso Santo não se deixava enredar no 'paradoxo de Deus morto', que para atávicas mentalidades faz de sua pregação um despropósito: "... mas nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos..." 1 Cor 1,23
    Pois foi exatamente pela Santa Cruz, enquanto apoteose da negação de si mesmo, que Jesus suprimiu as diferenças entre judeus e não judeus, ou seja, entre todos seres humanos. Diz o Último Apóstolo: "Desse modo, em Si mesmo Ele queria fazer dos dois povos uma única e nova humanidade pelo restabelecimento da Paz, e reconciliá-los ambos com Deus, reunidos num só Corpo pela virtude da Cruz, nela aniquilando a inimizade." Ef 2,15b-16
    Essa Universal Redenção, por Seu Sangue na Cruz, é a razão de ser de Sua Encarnação. Segue este Apóstolo: "Porque aprouve a Deus fazer n'Ele habitar toda plenitude, e por Seu intermédio reconciliar Consigo todas criaturas. Por intermédio d'Aquele que, ao preço do próprio Sangue na Cruz, restabeleceu a Paz a tudo quanto existe na Terra e nos Céus." Cl 1,19-20
    Aliás, é por Sua fragilidade na Cruz que o Apóstolo dos Gentios atesta a humanidade de Jesus, que ao mesmo tempo é Deus e Homem: "De fato, Ele foi crucificado por Sua fraqueza, mas está vivo pelo poder de Deus." 2 Cor 13,4
    Pois assim eram os planos de Deus! E desta forma Jesus demonstrou que, mesmo vivendo na carne, nós também podemos vencer o pecado. São Paulo escreve aos romanos: "Enviando, por causa do pecado, Seu próprio Filho numa carne semelhante à do pecado, condenou o pecado na carne, a fim de que a justiça prescrita pela Lei fosse realizada em nós, que vivemos não segundo a carne, mas segundo o Espírito." Rm 8,3b-4
    Deus crucificado, portanto, é sinal de humildade. E para Seus filhos, que têm Jesus como Modelo, é símbolo de confiança e plena obediência à vontade do Pai. Nosso Santo diz aos coríntios: "Eu, quando convosco fui ter, irmãos, também não fui com o prestígio da eloquência nem da Sabedoria anunciar-vos o testemunho de Deus. Julguei não dever saber coisa alguma entre vós, senão Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado." 1 Cor 2,1-2
    Para muitos, é notório, essa forma de viver, buscando a comunhão com os mais fracos e cotidianamente aceitando as mortificações, ao invés de Sabedoria vai na contramão do atual e corriqueiro hedonismo. Para São Paulo, porém, muito mais que um discurso, tal devoção é a própria fonte de resistência, e por isso garantia da Salvação: "A linguagem da Cruz é loucura para os que se perdem, mas, para os que foram salvos, para nós, é uma divina força." 1 Cor 1,18
    Pois como ele argumenta perante os colossenses, foi pelo Sacrifício da Cruz, a rigor da milenar tradição judaica, que nossos pecados foram perdoados: "Sepultados com Ele no Batismo, com Ele também ressuscitastes por vossa no poder de Deus, que O ressuscitou dos mortos. Mortos pelos vossos pecados e pela incircuncisão de vossa carne, novamente chamou-vos à Vida em companhia d'Ele. É Ele que nos perdoou todos pecados, cancelando o documento escrito contra nós, cujas prescrições nos condenavam. Definitivamente aboliu-o, ao encravá-lo na Cruz." Cl 2,12-14
    E nela, pela reverente submissão aos projetos do Pai, Jesus acusou e também venceu as arrogantes maquinações de altas classes de anjos de Satanás: "Espoliou os principados e potestades, expondo-os ao ridículo, deles triunfando através da Cruz." Cl 2,15
    No entanto, escandalizados por essa 'contradição' e por medo de serem igualmente crucificados, alguns 'convertidos' procuravam dissimular a fé em Cristo, como se um autêntico cristão pudesse viver às escondidas. Mas São Paulo alertava aos gálatas: "Aqueles que vos obrigam à circuncisão são homens que querem impor-se, só para não serem perseguidos por causa da Cruz de Cristo." Gl 6,12
    Tal qual ele, porém, e como nos oferecemos em sacrifício espiritual na Santa Missa (cf. Rm 12,1), é nessa condição que devemos considerar-nos perante o mundo: "Na realidade, pela fé eu morri para a Lei, a fim de viver para Deus. Estou pregado à Cruz de Cristo." Gl 2,19
    Portanto, esta é uma radical decisão pela Unção do Divino Espírito Santo: "Pois aqueles que são de Jesus Cristo crucificaram a carne, com paixões e concupiscências. Se vivemos pelo Espírito, também andemos de acordo com o Espírito." Gl 5,24-25


"A MIM ATRAIREI TODOS HOMENS"

    Não há, assim, nenhum absurdo em piedosamente abraçar e carregar a própria cruz. Ao contrário, temos a Igreja que por este Caminho se vê repleta de Santos, e por isso colocamos toda nossa confiança não numa meramente mundana realização, mas no grandioso projeto de Deus, como nosso Apóstolo diz aos filipenses: "Irmãos, sede meus imitadores, e atentamente olhai para aqueles que vivem segundo o exemplo que nós vos damos. Porque há muitos por aí, de quem repetidas vezes vos tenho falado e agora o digo chorando, que se portam como inimigos da Cruz de Cristo, cujo destino é a perdição, cujo deus é o ventre, para quem a própria ignomínia é causa de envaidecimento, e só têm prazer no que é terreno. Nós, porém, somos cidadãos dos Céus. É de lá que ansiosamente esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará nosso mísero corpo, tornando-o semelhante a Seu Corpo Glorioso, em virtude do poder que tem de a Si sujeitar toda criatura." Fl 3,17-21
    Que a Cruz, então, não nos seja nem mesmo um contrassenso! Se o mundo crucificou Jesus, foi porque ou não sabia o que fazia ou não era digno d'Ele. E se Ele aceitou a crucificação foi para demonstrar, além de Sua Paixão pela Salvação da humanidade, o divino projeto da Ressurreição da Carne. Pois noutro aparente paradoxo, foi na Cruz que o Homem Jesus foi elevado à Glória. Com efeito, ao ser procurado por judeus de outras nações, Ele percebeu que Sua Missão estava chegando ao fim, e disse: "É chegada a hora para o Filho do Homem ser glorificado." Jo 12,23b
    E por ela redimiu a humanidade: "E quando Eu for levantado da terra, a Mim atrairei todos homens." Jo 12,32
    São Paulo, nesse mesmo sentido, só admitia gloriar-se da ruptura com o pecado e dos sofrimentos que padecia pela Redenção da humanidade, pois tal Glória só via na Santa Cruz: "Quanto a mim, não pretendo, jamais, gloriar-me, a não ser na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo." Gl 6,14
    Porque é na mortificação da carne, exatamente como nosso Apóstolo diz, que rendemos a Jesus o verdadeiro culto: "Meu ardente desejo e minha esperança são que em nada serei confundido, mas que, hoje como sempre, Cristo será glorificado em meu corpo, tenho toda certeza disto, quer pela minha vida quer pela minha morte." Fl 1,20
    Ele pregava: "Mortificai vossos membros, pois, no que têm de terreno: a devassidão, a impureza, as paixões, os maus desejos, a cobiça, que é uma idolatria. Portanto, como eleitos de Deus, santos e queridos, revesti-vos de entranhada Misericórdia, de bondade, humildade, doçura, paciência. Suportai-vos uns aos outros e mutuamente perdoai-vos toda vez que tiverdes queixa contra outrem. Como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós." Cl 3,5.12-13
    Recomendava religiosidade a São Timóteo: "Exercita-te na piedade. Se o corporal exercício traz algum pequeno proveito, a piedade, esta sim, é útil para tudo, porque tem a promessa da presente e da futura Vida. Eis uma verdade absolutamente certa e digna de fé: se nos afadigamos e sofremos ultrajes, é porque pusemos nossa esperança em Deus Vivo, que é o Salvador de todos homens, sobretudo dos fiéis. Seja este o objeto de tuas prescrições e de teus ensinamentos." 1 Tm 4,8-11
    Cabalmente resoluto, ele exortou os coríntios: "Se é só para esta vida que temos colocado nossa esperança em Cristo, somos, de todos homens, os mais dignos de lástima." 1 Cor 15,19
    E para mexer com os brios dos membros desta comunidade, ele menciona as provações que passou e as penitências que fazia: "Muito mais pelos trabalhos, muito mais pelos cárceres, pelos açoites sem medida. Muitas vezes vi a morte de perto. Cinco vezes recebi dos judeus os quarenta açoites menos um. Três vezes fui flagelado com varas. Uma vez apedrejado. Três vezes naufraguei, uma noite e um dia passei no abismo. Trabalhos e fadigas, repetidas vigílias, com fome e sede, frequentes jejuns, frio e nudez! Entre outras coisas, minha cotidiana preocupação, minha solicitude para com todas igrejas! Quem é fraco, que eu não seja fraco? Quem sofre escândalo, que eu não me consuma de dor? Se for preciso que a gente se glorie, eu gloriar-me-ei em minha fraqueza." 2 Cor 11,23b-25.27-30
    Por isso, dizia aos filipenses: "Cumpre, somente, que em vosso proceder vos mostreis dignos do Evangelho de Cristo. Quer eu vá ter convosco quer permaneça ausente, desejo ouvir que estais firmes em um só espírito, unanimemente lutando pela fé do Evangelho, sem vos deixardes em nada intimidar por vossos adversários. Isto para eles é motivo de perdição, mas para vós de Salvação. E é a vontade de Deus, porque a vós é dado não somente crer em Cristo, mas também sofrer por Ele." Fl 1,27-29
    E São João Evangelista magistralmente conclui estes ensinamentos: "Nisto temos conhecido o amor: Jesus deu Sua Vida por nós. Nós também devemos dar nossa vida pelos nossos irmãos." Jo 3,16
    De fato, só realmente unidos a Cristo, morto na Cruz, podemos glorificar a Deus. Nosso Senhor disse: "Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós. O ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira. Assim também vós: tampouco podeis dar fruto se não permanecerdes em Mim. Nisto é glorificado Meu Pai, quando produzis muitos frutos tornando-vos Meus discípulos." Jo 15,4.8


    A parte do lenho enviada a Roma está na Basílica da Santa Cruz, cuja construção também foi ordenada por Santa Helena, especialmente para abrigá-la. Aí igualmente se vêm fragmentos da Gruta da Natividade e do Santo Sepulcro, dois espinhos da coroa imposta a Jesus, um dos pregos da crucificação, partes do Santo Lenho e o pedaço restante do 'Titulus Crucis', escrito por Pilatos (cf. Jo 19,19).


    "Sede conosco, Santa Cruz de Jesus Cristo, compadecei-Vos de nós"!