segunda-feira, 31 de julho de 2023

Santo Inácio de Loyola


    Um orgulhoso soldado levou toda sua determinação para a vida religiosa, e fundou a maior congregação católica do mundo, a Companhia de Jesus, atualmente com 30 mil membros, 500 universidades e 200 mil alunos anuais. A seu tempo, as companhias eram destacamentos militares que levavam o nome de seu capitão, e essa foi a inspiração de Santo Inácio.
    Nascido em 1491, de nobre família, era o mais novo de 13 filhos e foi pajem no palácio do tesoureiro dos reis da Espanha. Por mera vaidade, gostava dos exercícios de guerra e era hábil em montaria e várias armas. Para demonstrar bravura a seus irmãos, vitoriosos numa batalha em Nápoles, alistou-se para a batalha de Pamplona em 1521, contra os franceses, que eram superiores em força. Mas, após alguns combates, um tiro de bombarda feriu-lhe gravemente as pernas.
    Transportado numa liteira, seus ossos começaram a calcificar-se em posições erradas, e ao chegar em casa teve que quebrá-los mais uma vez, o que lhe causou torturantes dores. Teve que passar por um longo período de convalescença, quase 1 ano, porém foi quando verdadeiramente descobriu Deus. Lendo para ocupar o tempo, veio-lhe às mãos o livro 'Vita Christi', de Rodolfo da Saxônia e a 'Legenda Àurea', de Jacopo de Varazze, que conta a vida dos Santos. Achou, então, o sentido que sua vida ainda não tinha. Sentindo fortemente a presença de Deus, decidiu-se que iria viajar a Terra Santa para converter os infiéis.
    É nesse período que começa a elaborar seus 'Exercícios Espirituais', uma obra que vai marcar toda cristandade. Fugiu da casa de seus pais e foi ao Mosteiro Beneditino de Monte Serrado, em Barcelona, onde se entregou a três dias de confissões. Era 1522, e ele doou todas suas vestes de nobre a um mendigo, depositou suas armas diante de uma imagem de Nossa Senhora, vestiu-se de saco e foi viver numa caverna próximo ao mosteiro de Manresa, como um mendicante. Fazia severas penitências, participava da Santa Missa todo dia e rezava o Ofício das Horas. Aí teve suas primeiras visões. A caverna, mais tarde, tornou-se lugar de peregrinação e oração.



    Em 1523 partiu, finalmente, à Terra Santa com seu projeto de salvar almas. Peregrinou pelos sagrados lugares, foi recebido pelos franciscanos em Jerusalém, contudo, dados as tensões e os conflitos armados da época, não lhe consentiram permanecer lá. Voltando em 1524, foi morar em Barcelona, onde estudou latim, prestou assistência espiritual aos carentes e trabalhou na reforma do Mosteiro de Nossa Senhora dos Anjos.
    Foi a Alcalá cursar universidade, mas aí, por causa de suas pregações, foi tido como suspeito de ser um dos 'alumbrados', seita mística e herética que tinha similaridades com o protestantismo, e assim teve que passar pela Inquisição. Chegou a ser preso por um mês e meio, porém foi liberado sob a condição de voltar a usar roupas 'descentes'. Três companheiros já seguiam-lhe desde Barcelona, e com eles foi ao bispo para explicarem-se, encontro que lhes rendeu a oportunidade de estudar na Universidade de Salamanca.
    Lá Santo Inácio tornou-se famoso como pregador, mas durante uma confissão num mosteiro dominicano foi tido mais uma vez como suspeito, pois sabia demais sobre Deus sem ter formação reconhecida. Presos, nosso Santo foi visitado pelo vigário do bispo e professor da Universidade, que pediu-lhe o livro 'Exercícios Espirituais' para examinar o conteúdo. Liberados, foram proibidos de pregar até que terminassem os estudos. Era um duro golpe para Santo Inácio, que preferiu ir estudar na França e deixou seus companheiros. 


    No mesmo ano, 1528, aos 37 de idade, entrou na Universidade de Paris, onde estudou literatura e teologia, e tornou-se mestre em artes. Mas seu principal projeto continuava sendo cativar colegas para abraçar a vida religiosa e praticar seus 'Exercícios Espirituais'. Aí encontrou seis novos companheiros, entre eles São Francisco Xavier, que iria tornar-se o Padroeiro dos Missionários e seria reconhecido como o 'Apóstolo do Oriente'. Com eles, em 1534 nascia a Companhia de Jesus, na igreja de Santa Maria, em Montmartre, e o plano, mais uma vez, era ira a Jerusalém para converter e salvar almas.
    Foram ao Papa Paulo III, em 1537, pedir autorização para viajar e também para serem ordenados sacerdotes, o que aconteceu em Veneza, pelas mãos do bispo de Arbe. A viagem a Terra Santa, porém, teve que ser esquecida, ao menos temporariamente, porque a guerra entre cidades italianas e os turcos otomanos havia recrudescido. Enquanto esperavam, por aí trabalharam ativamente fazendo caridade, socorrendo enfermos e trabalhando em hospitais, além de catequizar.
    Em 1538, percebendo que autoridades de vários países adotavam o protestantismo para minar o poder da Igreja, Santo Inácio foi oferecer seus serviços ao Papa e, no caminho, na Capela La Storta, teve uma revelação: a Companhia de Jesus deveria fixar-se em Roma. O Catolicismo sofria uma forte oposição e a Igreja perdia acesso aos fiéis não apenas na Alemanha, mas também na Áustria, na Polônia, nos Países Baixos, na Escandinávia, na França e até mesmo na Itália.
    Quando eles aí se fixaram e começaram a pregar, tamanho era o desprendimento e a influência que exerciam sobre as mais instruídas classes, que outra vez foram suspeitos de contrariar a Fé Católica. Diziam até que Santo Inácio seria 'fugitivo da Inquisição Espanhola'. Ele mesmo, no entanto, foi ao Papa e pediu para ser julgado em novo processo, mas que desta vez fosse tão a fundo que em definitivo os eximisse de qualquer suspeição. O processo foi aberto e todos foram inocentados.
    O Papa Paulo III, percebendo como era muito produtivo o trabalho dos jesuítas, resolveu pedir a Santo Inácio que escrevesse a constituição de sua nova ordem e assim pudesse admitir mais candidatos. Feito isso, em 1540 eles receberam a aprovação papal e, em 1543, após verificada sua eficácia, a congregação foi liberada do limite inicial de apenas 60 membros.
    E logo a Companhia de Jesus começou a trazer de volta para a Igreja os fiéis desviados pelas doutrinas meramente humanas. Na Alemanha, além dos trabalhos marcantes do Beato Pedro Fabro, Cláudio Le Jay e Bobadilha, destacou-se São Pedro Canísio, que recebeu a alcunha de 'martelo dos hereges'. No Concílio de Trento, um dos três mais importantes da Igreja e o mais longo da História, que durou de 1545 a 1563, dois jesuítas, Laynes e Salmeron, sobressaíam-se com brilhantismo.
    Santo Inácio escreveu-lhes: "Demos graças a Deus por Sua inefável Misericórdia e piedade, tão copiosamente derramada em nós por Seu Glorioso Nome. Porque muitas vezes me comovo quando ouço e em parte vejo o que me dizem de vós e de outros chamados à nossa Companhia em Cristo Jesus."


    Com a descoberta das Américas, novos desafios surgiam e para cá eram mandados também os jesuítas. Ao Brasil chegaram, só para lembrar alguns, o Padre Manoel da Nóbrega, o 'irmão Anchieta' que aqui seria ordenado e se tornaria Santo, e mais tarde o célebre Padre Antonio Vieira.
    Para as terras da Índia, China e Japão foi enviado São Francisco Xavier, que vez em quando dizia a seus companheiros: "O Padre Inácio é um grande santo." São Francisco de Borja, mais um Santo cativado por Santo Inácio, também venerava-o ainda em vida.
    Em Roma, eles catequizavam crianças, esforçavam-se para converter judeus e fundaram a conhecida casa de Santa Marta, onde acolhiam prostitutas, jovens e órfãos. Em 1551 criaram o Colégio Romano, onde ensinavam de graça e tempos depois viria a ser a Pontifícia Universidade Gregoriana, homenagem pelo especial apoio que teriam do Papa Gregório XIII.
    Considerando os riscos de administrar uma tã grande congregação, em 1554 Santo Inácio escreve as Constituições Jesuítas, que reforçaram sua hierarquia e o absoluto compromisso de Ad Majorem Dei Gloriam (Para Maior Glória de Deus).
    O próprio Santo Inácio, por esses anos, nada mais fazia pensando em si. Era puro servo de Deus. Dormia 4 horas e trabalhava todos dias, o dia todo. Por seus severos jejuns, sofria muitas dores gástricas, mas delas não fazia caso.
    É de sua inspiração:

    "Ó Meu Deus, ensina-me a ser generoso para atendê-Lo como Tu mereces ser servido, para dar sem contar o custo, lutar sem medo de ser ferido, trabalhar sem buscar descanso e gastar-me sem esperar qualquer recompensa, mas o conhecimento de que estou fazendo Tua santa vontade. Amém."
    "Toma, ó Senhor, e receba toda minha liberdade, minha memória, minha compreensão e toda minha vontade. Tudo que sou e tudo que possuo, Tu deste-me. Eu entrego tudo a Ti para ser descartado de acordo com Tua vontade. Dai-me somente Teu amor e Tua Graça, com os quais eu serei rico o suficiente e mais nada desejarei."
    "Alma de Cristo, santifica-me. Corpo de Cristo, salva-me. Sangue de Cristo, inebria-me. Água do lado de Cristo, lava-me. Paixão de Cristo, fortaleça-me. Ó Bom Jesus, ouça-me. Dentro de Tuas feridas esconda-me. Permita que eu não seja separado de Ti. Do perverso inimigo defenda-me. Na hora da minha morte, chama-me. E faze-me vir a Ti. Que com Teu Santos eu eternamente louvá-Te-ei. Amém."
    "Se Deus causa-te muito sofrer, é um sinal de que Ele certamente pretende fazer de ti um Santo."
    "Queres te tornar um grande Santo? Peça a Deus para enviar-te muitos sofrimentos. Todos prazeres do mundo não são nada comparados com a doçura encontrada no fel e vinagre oferecidos a Jesus Cristo. Isto é, duras e dolorosas coisas sofridas por Jesus Cristo e com Jesus Cristo."
    "Todas coisas neste mundo são dons de Deus, criados para nós, para ser o meio pelo qual podemos melhor conhecê-Lo, mais seguramente amá-Lo e mais fielmente servi-Lo."
    "Reze como se Deus tomasse conta de tudo. Aja como se tudo dependesse de ti."
    "Aquele que ouviu a Palavra de Deus pode suportar Seus silêncios."
    "A verdadeira obediência não considera aquele a quem é prestada, mas sim Aquele por quem se obedece; e se obedece só por Nosso Criador e Senhor, é ao mesmo Senhor de todos que se obedece."
    "Não é difícil obedecer quando realmente amamos aquele a quem obedecemos."
    "Para não nos enganar em tudo, devemos sempre ter este critério: o que para mim é branco, faço-o negro, se é a Igreja hierárquica quem o diz. De fato, nós cremos que Aquele Espírito que governa e guia nossas almas para a Salvação, também está em Cristo Nosso Senhor, o Esposo, e na Igreja, Sua Esposa." 
    "A humildade consiste em alegrar-nos com tudo que nos leva a reconhecer nosso nada."
    "Conselho ou aviso, sempre é melhor recebê-los com humildade que os dar sem ela."
    "Encontrar Deus em todas coisas, e ver que todas coisas vem do alto."
    "A Glória de Deus é a humanidade plenamente viva."
    "A mais bela vitória que se pode alcançar é vencer a si mesmo."
    "Jesus realmente é fundamental. Sem Ele, nada teria sentido!"
 
    "Como se me afigura vil o mundo, quando olho para o céu."
    "Nós deveríamos procurar colher o infinito perfume e a infinita doçura da Divindade."
    "Esforça-te n'Aquele que te criou e remiu com Seu Sangue e Vida, e confia-te em Sua suavíssima Providência."
    "Não há árvore mais apropriada para produzir e conservar o amor de Deus que a árvore da Cruz."
 
    "Devemos falar com Deus como um amigo fala ao seu amigo, como um servo ao seu mestre. Ora pedindo algum favor, ora reconhecendo nossas falhas, e a Ele comunicando tudo que nos preocupa, nossos pensamentos, nossos medos, nossos projetos, nossos desejos, e em todas coisas buscando Seu conselho."
    "Ninguém sabe o que Deus faria de nós, se não opuséssemos tantos obstáculos à Sua Graça."
    "Muita Sabedoria unida a uma moderada santidade é preferível a muita santidade com pouca Sabedoria."
    "A Verdade sempre termina com a vitória; Ela não é inatacável, mas invencível."
    "Para aqueles que acreditam, nenhuma prova é necessária. Para aqueles que não acreditam, nenhuma quantidade de provas é suficiente."
    "Ninguém trabalha melhor que quando faz apenas uma coisa."
    "Servindo mais a Deus, em pias obras, mais move-se o povo a sustentá-las e com mais caridade."
    "Aquele que carrega Deus em seu coração, leva o Céu aonde quer que vá."
    "Se nossa Igreja não é marcada por cuidar dos pobres, dos oprimidos, dos famintos, somos culpados de heresia."
    "Se tenho de desgostar a Deus em alguma coisa, ou afrouxar-me em Seu santo serviço, antes queira Ele tirar-me a vida."
    "Entre os muitos sinais de uma viva fé e esperança que temos na Vida Eterna, um dos mais seguros não está sendo suficientemente dito diante da morte daqueles a quem profundamente amamos em Nosso Senhor."
    "Preferia eu dar mais importância a uma falta minha, que a todo mal que de mim disseram."
    "Não deve ser tacanho aquele com quem Deus tem sido generoso."
    "Nunca pares de olhar os defeitos dos outros, mas estejas seja pronto para desculpá-los. Sê sempre pronto para acusar-te a ti próprio; mais ainda, deseja que todos te conheçam por dentro e por fora."
    "Aquele que vai reformar o mundo deve começar consigo mesmo, ou perde seu trabalho."
    "Não me atreveria a pernoitar numa casa em que soubesse haver um homem em pecado mortal; temeria que o telhado nos esmagasse sob seus escombros." 
    "Depois de tomar uma decisão que agrada a Deus, o Diabo pode tentar fazer com que tu tenhas segundas intenções. Intensifica teu tempo de oração, meditação e boas ações. Pois se as tentações de Satanás apenas fizerem com que tu aumentes teus esforços para crescer em santidade, ele terá incentivo para deixar-te em paz." 
    "Lembrai-vos que os anjos (da Guarda) fazem o que podem para defender do pecado os homens, e assim Deus ser honrado."

    Morreu muito debilitado em 1556, aos 65 anos, quando os jesuítas já tinham 35 colégios, 110 casas, 13 províncias e aproximadamente 1000 religiosos.
    Foi sepultado na Igreja de Jesus, em Roma, onde lhe consagraram uma bela capela.
    Em 1929, o Papa Pio XI estabeleceu um retiro anual para a prática dos 'Exercícios Espirituais' de Santo Inácio, a serem ministrados ao próprio Papa e à cúria romana, que raras vezes deixou de acontecer. Mais tarde, o Papa São Paulo VI mudou o período desses retiros, do Advento para a Quaresma.
    Santo Inácio teve o grande dom de fazer com que os cristãos compreendessem melhor o Catolicismo.
 

    Santo Inácio de Loyola, rogai por nós!

domingo, 30 de julho de 2023

São Pedro Crisólogo


    Foi um dos maiores pregadores da Igreja, amado tanto pelo povo como pela imperatriz romana e seus filhos, entre eles o futuro imperador Valentiniano III. Crisólogo significa 'palavra de ouro', dada sua facilidade de comunicar o Catecismo e conforto às almas que tiveram o privilégio de conhecê-lo. Escreveu 176 sermões, onde de modo simples explica os mais complicados assuntos da Doutrina da Igreja.
    Nasceu em Ímola, província de Ravena, Itália, em 380. Seus pais eram fervorosos católicos, e ainda jovem ele foi ordenado diácono. Esteve sob os cuidados de Cornélio, Bispo de Ímola, a quem chamava de 'pai'. Em 424, a imperatriz, que já o tinha como conselheiro pessoal, empenhou-se pessoalmente, embora não fosse necessário, para que ele fosse indicado ao cargo de Arcediácono de Ravena, que nesta época era a capital do Império Romano do Ocidente.
    Em 433, Valentiniano III também usou de sua influência para ele fosse indicado Arcebispo de Ravena, mas isso já era um clamor popular e ele acabou consagrado pessoalmente pelo Papa Sisto III. Pudera, ninguém menos que São Pedro havia aparecido em sonho ao Papa, exclusivamente para indicar São Pedro Crisólogo para o arcebispado.
    Eram difíceis tempos para a parte do Império Romano que ficava na Europa: godos, vândalos e hunos sitiavam cidades italianas, provocando grandes flagelos. E após três séculos de resistência e martírios para estabelecer-se contra as perseguições do próprio Império Romano, a Igreja via-se mais uma vez ameaçada. Não bastasse o perigo das guerras, impiedosos 'cristãos' atiravam-se à aventura das mais insanas teorias, burlando a Doutrina e desrespeitando a inspiração do Espírito Santo, que sempre se fez perceber tanto pela comunhão espiritual vivida pela Igreja como pelo voto da maioria nas decisões dos Concílios.
    Precisamente por esses anos, fantasiosos teólogos inventavam tresloucadas heresias a respeito da natureza de Jesus. O Primeiro Concílio de Éfeso, em 431, onde notavelmente brilhou a inspirada Sabedoria de São Cirilo, Patriarca de Alexandria, já havia aceito por ampla maioria que Jesus misteriosamente tinha duas naturezas: humana e divina. Acolhendo as manifestações de Deus exatamente como elas se deram, ao mesmo tempo que refutando grosseiras simplificações e reduções, o Concílio reconheceu que não havia mais iluminada conclusão para a compreensão do Cristo: Ele é totalmente Deus e, ao mesmo tempo, totalmente humano.


    Pouco tempo antes caíra por terra a heresia de Nestório, que dizia que as duas naturezas de Jesus só vagamente se relacionavam. Mas Eutiques, um alto sacerdote de Constantinopla, após vários acertos e acordos entre os bispos desta região, imprudentemente insurgiu com a heresia de que as duas naturezas de Jesus se haviam fundido numa só. E começou a divulgá-la, mesmo depois de ter recebido uma belíssima carta do Papa São Leão Magno, na qual magistralmente lhe explicou a Encarnação do Verbo. É de São Pedro Crisólogo a célebre frase: "Pedro fala por Leão", referindo-se a São Pedro Apóstolo e ao Papa Leão Magno. E de fato, as decisões do Concílio da Calcedônia, em 451, mais uma vez vão confirmar os entendimentos reconhecidos pelo Concílio de Éfeso de 431.
    Sabendo da inteligência e da importância de São Pedro Crisólogo para a Igreja, Eutiques escreveu-lhe uma carta, tentando convencê-lo de sua heresia. Recebeu, no entanto, uma inspirada resposta, a qual, se tivesse bom senso, teria acolhido e posto de lado suas malfadadas ideias. Escreveu-lhe o Prelado de Ravena: "Li tristemente tua triste carta, e percorri com grande aflição teus torturantes escritos. Porque, como a Paz das igrejas, a concórdia dos Sacerdotes e a tranquilidade do povo nos enchem de satisfação, duma alegria toda celeste, assim a divisão dos irmãos aflige-nos e deprime-nos, sobretudo quando com semelhantes causas... disputa-se temerariamente sobre a geração do Cristo, que a divina lei nos propôs como inexplicável. Tu não ignoras a que desvairamentos foi atirado Orígenes procurando os princípios, e Nestório disputando naturezas... Nós exortamo-te, honorável irmão, a que te submetas ao que foi escrito pelo bem-aventurado Papa de Roma: porque São Pedro, que vive e preside na Cátedra, dá a verdade de fé aos que a procuram. Quanto a nós, afeiçoados que somos pela paz e pela , não podemos interpretar as causas da fé sem o consentimento do Bispo de Roma."


    Seus ensinamentos sobre a piedosa vida valem não apenas para a humilde gente, a quem ele se dedicava na maior parte do tempo, mas certamente a todos que perderam as referências de uma vida verdadeiramente espiritual: "A oração é uma das três coisas que sustentam a fé. As outras duas são o jejum e a misericórdia. O que a oração pede, o jejum obtém e a misericórdia recebe. Unidos, a oração, o jejum e a misericórdia tudo podem. O jejum é a alma da oração, e a misericórdia a vida do jejum. Não os separeis jamais. Quem um não tiver, nenhum dos três terá; donde se segue que quem ora deve jejuar, e quem jejua deve exercer obras de misericórdia."
    Um dos mais ilustres bispos de seu tempo, São Germano de Auxerre, que havia percebido a vocação de Santa Genoveva e apadrinhado São Patrício, foi visitar-lhe em Ravena no ano de 448, para desfrutar um pouco de sua santidade. Mas aí deu-se outra vontade de Deus: carinhosamente acolhido por São Pedro Crisólogo, ele foi acometido de uma enfermidade e docemente morreu sob seus cuidados.
    Nosso Santo ensinava:

    "Quem não admira a grandeza de Maria, não sabe quanto Deus é grande."
    "O nome hebreu de Maria traduz-se por Domina, em Latim. O anjo dá-lhe, portanto, o título de Senhora."
    "O jejum é Paz do corpo, força dos espíritos e vigor das almas."
    "O jejum é o leme da vida humana, e governa todo navio do nosso corpo."
    "Ofereça tua alma a Deus, faça a Ele uma oblação com teu jejum para que tua alma seja uma pura oferenda, um sagrado sacrifício, uma viva vítima, permanecendo tua própria e ao mesmo tempo entregue a Deus. Quem deixar de dar isso a Deus, não será desculpado, pois só se te deres a Ele jamais estarás sem os meios de dar."
    "Vamos usar o jejum para compensar o que perdemos desprezando os outros. Vamos oferecer nossas almas em sacrifício por meio do jejum. Não há nada mais agradável que possamos oferecer a Deus, como o salmista disse em profecia: 'O sacrifício a Deus é um alquebrado espírito. Deus não despreza um ferido e humilhado coração.'"
    "Cada um de nós é chamado para ser, ao mesmo tempo, um sacrifício a Deus e ao Seu Sacerdote. Não perca o que a divina autoridade te oferece. Coloca a vestimenta da santidade, cinge-te com o cinturão da castidade. Deixa Cristo ser teu capacete, deixa a Cruz em tua testa ser tua infalível proteção. Teu peitoral deve ser o conhecimento de Deus, que Ele mesmo te deu. Continua queimando continuamente o doce incenso da oração. Toma a espada do Espírito. Deixa teu coração ser um altar. Então, com total confiança em Deus, apresenta teu corpo para o sacrifício. Deus não deseja a morte, mas a fé; Deus não tem sede de teu sangue, mas de teu sacrifício; Deus é aplacado não pela violenta morte, mas pela oferta de teu livre arbítrio."
    "Ele (Cristo) realmente fez de Seu Corpo um vivo sacrifício, porque, apesar de morto, Ele continua a viver. Em tal Vítima, a morte recebe seu resgate, mas a Vítima continua viva. A própria morte sofre o castigo. É por isso que a morte dos mártires é, na verdade, um nascimento, e seu fim, um começo. Sua execução é a porta para a Vida, e aqueles, de quem se pensou terem sido apagados da terra, brilhantemente reluzem no Céu."
    "A mão do pobre é o gazofilácio (local das ofertas) de Cristo, porque tudo que o pobre recebe é Cristo que o recebe."
    "Os pobres estendem a mão, mas é Deus Quem recebe o que é oferecido."
    "Os que passaram, viveram para nós; nós, para os vindouros, e ninguém para si."
    "Quem, ao pedir, deseja ser atendido, atenda quem a ele se dirige. Quem quer encontrar aberto, em seu benefício, o coração de Deus, não feche o seu a quem o suplica."
    "Os Magos estão admirados diante do que vêem: o Céu sobre a terra e a terra no Céu; o homem em Deus e Deus no homem. Vêem contido num Pequenino Corpo Quem não pode ser contido por todo o mundo."
    "Ele é o Pão semeado na Virgem, fermentado na carne, moldado em Sua Paixão, assado na fornalha do sepulcro, colocado nas igrejas e posto sobre os altares, que diariamente fornece o Celestial Alimento aos fiéis."
    "Pois aquele que indignamente toca o Corpo de Cristo, recebe sua condenação."
    "Hoje Cristo opera o primeiro de Seus sinais do Céu, transformando água em vinho. Mas a água (misturada com o vinho) ainda precisa ser transformada no Sacramento de Seu Sangue, para que Cristo possa oferecer bebida espiritual do cálice de Seu Corpo, para cumprir a profecia do salmista: 'Quão excelente é Meu Cálice, aquecendo Meu Espírito.'"
    "E o Criador… fez-te à Sua imagem para que tu, em tua pessoa, pudeste tornar o invisível Criador presente na terra. Ele fez de ti Seu legado, para que o vasto império do mundo pudesse ter o representante do Senhor."
    "Agora que renascemos, ... à semelhança de Nosso Senhor, e, de fato, fomos adotados por Deus como Seus filhos, nesta imagem vamos colocar por completo Nosso Criador, de modo a ser inteiramente como Ele, não na Glória que só Ele possui, mas na inocência, simplicidade, gentileza, paciência, humildade, misericórdia, harmonia... aquelas qualidades nas quais Ele escolheu tornar-Se, e ser Um conosco."
    "Ouça o apelo do Senhor: '... Vem, então, volta-te a Mim e aprende a conhecer-Me como Teu Pai, que paga o bem pelo mal, o amor pelo ferimento, e a ilimitada caridade por perfuradas chagas.'"
    "Deus prefere ser amado que ser temido."
    "Qualquer um que deseje brincar com o diabo, não pode alegrar-se com Cristo."

    O Sermão 30 é uma de suas mais conhecidas obras:

    "'Ele come com publicanos e pecadores!'
    Deus é acusado de vergar-Se ao homem, de sentar-Se perto do pecador, de ter fome de sua conversão e sede de seu regresso, de tomar o alimento da misericórdia e o cálice da benevolência.
    Mas Cristo, meus irmãos, veio a esta refeição; a Vida veio ao seio de seus convidados para que, condenados à morte, vivam com a Vida; a Ressurreição prostrou-se para que aqueles que jaziam se levantem de seus túmulos; a Bondade baixou-se para elevar os pecadores até ao perdão; Deus veio ao homem para que o homem chegue até Deus; o Juiz veio à refeição dos culpados para desviar a humanidade da sentença de condenação; o Médico veio aos doentes para restabelecê-los comendo com eles; o Bom Pastor inclinou o ombro para trazer a ovelha perdida ao aprisco da Salvação.
    'Ele come com publicanos e pecadores!'
    Mas quem é pecador, senão aquele que recusa ver-se como tal? Não será afundar-se em seu pecado e, a bem dizer, identificar-se com ele, o deixar de reconhecer-se pecador? E quem é injusto, senão aquele que se acha justo?…
    Vamos, fariseu, confessa teu pecado, e poderás vir à mesa de Cristo; Cristo, por ti, far-Se-á Pão, esse Pão que será partido para o perdão de teus pecados; Cristo tornar-Se-á, por ti, no cálice, esse cálice que será derramado para a remissão de tuas faltas.
    Vamos, fariseu, compartilha da refeição dos pecadores, e Cristo compartilhará de tua refeição; reconhece-te pecador, e Cristo comerá contigo; entra com os pecadores no festim do Teu Senhor, e poderás deixar de ser pecador; entra com o perdão de Cristo na casa da misericórdia."

    É do trabalho de São Pedro Crisólogo a construção do Mosteiro de Classe, uma pequena cidade próxima à sua diocese. Em Ravena, propriamente, ele construiu uma igreja em homenagem a Santo André e outra a São Pedro, a quem tinha como padrinho.
    Em 451, sentindo que chegava sua hora, pediu dispensa do bispado e retornou a Ímola, onde havia iniciado sua vida sacerdotal. No dia seguinte á sua chegada, rezou a Santa Missa pela manhã na igreja de São Cassiano, e aos fiéis pediu para ali ser enterrado, perto do altar. Ao meio-dia, serenamente faleceu.
    São Pedro Crisólogo foi reconhecido como Doutor da Igreja.


    São Pedro Crisólogo, rogai por nós!

sábado, 29 de julho de 2023

Santa Marta


    "Estando Jesus em viagem, entrou numa aldeia, onde uma mulher, chamada Marta, recebeu-O em sua casa. Tinha ela uma irmã por nome Maria, que se assentou aos pés do Senhor para ouvi-Lo falar. Marta, toda preocupada na lida da casa, veio a Jesus e disse:
    - Senhor, não Te importas que minha irmã me deixe só a servir? Dize-lhe que me ajude.
    Respondeu-lhe o Senhor:
    - Marta, Marta, andas muito inquieta e preocupas-te com muitas coisas. No entanto, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a boa parte, que não lhe será tirada."
                                                 Lc 10,38-42

    Nesta cena, São Lucas retrata o lado ativista de Santa Marta, que demasiadamente se apega ao trabalho e esquece a vida espiritual. Mas foi o generoso coração dessa mulher que viu em Jesus uma pessoa a ser acolhida em casa e na alma. Ela abriu-Lhe a porta porque O havia visto pregando, e foi tocada por Sua Palavra. Tal acolhimento será digno de uma boa recompensa, como Jesus disse: "Aquele que recebe um Profeta, na qualidade de Profeta, receberá uma recompensa de Profeta. Aquele que recebe um justo, na qualidade de justo, receberá uma recompensa de justo." Mt 10,41
    E Ele mesmo prometeu às igrejas através de São João Evangelista: "Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir Minha voz e abrir-Me a porta, entrarei em sua casa e cearemos. Eu com ele e ele Comigo." Ap 3,20
    Não resta dúvida, pois, que nossa Santa quis dar um bom acolhimento e uma boa refeição a Jesus e Seus Apóstolos. E de fato, não era pouco trabalho: eram ao menos 13 pessoas. Sua irmã Maria, entretanto, não queria parar de ouvi-Lo. Estava encantada, e com toda razão. São João Evangelista diz: "... a Graça e a Verdade vieram por Jesus Cristo." Jo 1,17
    Também disse o centurião romano: "Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha casa. Dizei uma só palavra e meu servo será curado." Mt 8,8
    Ainda disseram os guardas do sumo sacerdote, que foram enviados para aprender Jesus mas voltaram sem Ele: "Ninguém jamais falou como Este Homem!..." Jo 7,46
    Assim como São Pedro: "Senhor, a quem iríamos nós? Tu tens as Palavras da Vida Eterna." Jo 6,68

    E é Santa Marta, como consta do quarto Evangelho, que vai fazer uma declaração de suma importância para o perfeito reconhecimento da Divindade de Jesus. De fato, como ela declarou, prova de sua divina inspiração, só São Pedro havia afirmado: '... Tu és o Cristo...' Mt 16,16

    "Ora, havia um doente, Lázaro, de Betânia, povoado de Maria e de sua irmã Marta. As duas irmãs, pois, mandaram dizer a Jesus:
    - Senhor, aquele que Tu amas está enfermo.
    A estas palavras, disse Jesus:
    - Esta enfermidade não causará a morte, mas tem por finalidade a Glória de Deus. Por ela será glorificado o Filho de Deus.
    Ora, Jesus amava Marta, Maria, sua irmã, e Lázaro. Mas, embora tivesse ouvido que ele estava enfermo, demorou-Se ainda dois dias no mesmo lugar. À chegada de Jesus, já havia quatro dias que Lázaro estava no sepulcro. Mal soube Marta da vinda de Jesus, saiu-Lhe ao encontro. Maria, porém, estava sentada em casa. Marta disse a Jesus:
    - Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido! Mas também sei que tudo que agora pedires a Deus, Deus To concederá.
    Disse-lhe Jesus:
    - Teu irmão ressurgirá.
    Respondeu-Lhe Marta:
    - Sei que há de ressurgir na Ressurreição do Último Dia.
    Disse-lhe Jesus:
    - Eu sou a Ressurreição e a Vida. Aquele que crê em Mim, ainda que esteja morto, viverá. E todo aquele que vive e crê em Mim, jamais morrerá. Crês nisto?
    Respondeu ela:
    - Sim, Senhor. Eu creio que Tu és o Cristo, o Filho de Deus, Aquele que devia vir ao mundo.
    - Onde o pusestes?
    Responderam-Lhe:
    - Senhor, vinde ver.
    Jesus pôs-Se a chorar. Observaram, então, os judeus:
    - Vede como Ele o amava!
    Novamente tomado de profunda emoção, Jesus foi ao sepulcro. Era uma gruta, coberta por uma pedra. Jesus ordenou:
    - Tirai a pedra.
    Disse-Lhe Marta, irmã do morto:
    - Senhor, já cheira mal, pois há quatro dias que ele está aí...
    Respondeu-lhe Jesus:
    - Não te disse Eu: Se creres, verás a Glória de Deus?
    Tiraram, pois, a pedra. Levantando Jesus os olhos ao alto, disse:
    - Pai, rendo-Te graças porque Me ouviste. Eu bem sei que sempre Me ouves, mas assim falo por causa do povo que está em volta, para que creiam que Tu Me enviaste.
    Depois destas palavras, exclamou em alta voz:
    - Lázaro, vem para fora!
    E o morto saiu, tendo os pés e as mãos ligados com faixas, e o rosto coberto por um sudário. Então ordenou Jesus:
    - Desligai-o e deixai-o andar.
    Muitos dos judeus que tinham vindo a Marta e Maria, e viram o que Jesus fizera, creram n'Ele."
                         Jo 11,1.3-6.17.20-27.34-36.38-45


    São João Evangelista conta mais uma importante visita de Jesus à casa de Santa Marta. É quando Santa Maria de Betânia, sua irmã, vai lavar os pés do Salvador com um caro perfume e enxugá-los com os cabelos. E lá está Santa Marta mais uma vez ocupada em servi-Lo. Desta vez, porém, sem deixar de ouvi-Lo:

    "Seis dias antes da Páscoa, foi Jesus a Betânia, onde vivia Lázaro, que Ele ressuscitara. Deram ali uma ceia em Sua honra. Marta servia e Lázaro era um dos convivas. Tomando Maria uma libra de bálsamo de puro nardo, de grande preço, ungiu os pés de Jesus e enxugou-os com seus cabelos. A casa encheu-se do perfume do bálsamo. Mas Judas Iscariotes, um de Seus discípulos, aquele que havia de trai-Lo, disse:
    - Por que não se vendeu este bálsamo por trezentos denários, e não se deu aos pobres?
    Dizia isso não porque ele se interessasse pelos pobres, mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, furtava o que nela lançavam. Jesus disse:
    - Deixai-a. Ela guardou este perfume para o dia de Meu sepultamento. Pois sempre tereis convosco os pobres, mas a Mim nem sempre tereis."
                                                  Jo 12,1-8

    E foi em Betânia, enfim, após mais uma passagem pela casa de Santa Marta, pois vinham de viagem desde a Galileia, que Jesus ascendeu aos Céus. Narrou São Lucas: "Depois, levou-os para Betânia e, levantando as mãos, abençoou-os. Enquanto os abençoava, separou-Se deles e foi arrebatado ao Céu. Depois de terem-nO adorado, voltaram para Jerusalém com grande júbilo." Lc 24,50-52
    Uma muito antiga tradição relata que Santa Marta, Santa Maria e São Lázaro teriam deixado Israel, fugindo dos judeus de Jerusalém, e instalaram-se na França. De fato, São João Evangelista relata que a vida de São Lázaro estava em risco bem antes da perseguição iniciada com a morte de Santo Estevão: "Mas os príncipes dos sacerdotes resolveram também tirar a vida de Lázaro, porque muitos judeus, por causa dele, afastavam-se e acreditavam em Jesus." Jo 12,10-11
    E quando essa perseguição se deu, só os Apóstolos ficaram em Jerusalém: "E Saulo havia aprovado a morte de Estêvão. Naquele dia, rompeu uma grande perseguição contra a comunidade de Jerusalém. Todos dispersaram-se pelas regiões da Judeia e de Samaria, com exceção dos Apóstolos." At 1,8
    Isso talvez porque os Apóstolos realmente esperassem a morte, e Jesus havia dito: "... porque não é admissível que um Profeta morra fora de Jerusalém." Lc 13,33b
    Sendo São Lázaro um alvo certo, e grande sinal da passagem do Salvador, em Betânia ele não teria permanecido, pois era muito perto de Jerusalém, pouco menos de 3 quilômetros, como anotou São João: "Ora, Betânia distava de Jerusalém cerca de quinze estádios." Jo 11,18
    Nem teria permanecido em Roma, pois no ano de 49 o imperador expulsou todos judeus: "Depois disso, saindo de Atenas, Paulo dirigiu-se a Corinto. Ali encontrou um judeu chamado Áquila, natural do Ponto, e sua mulher Priscila. Pouco antes, eles haviam chegado da Itália, por Cláudio ter decretado que todos judeus saíssem de Roma. Paulo uniu-se a eles." At 18,1-2
    Na comuna de Tarascon, no sudeste da França, próximo a Avignon e à fronteira com a Itália, mesma região onde se refugiou Santa Maria Madalena, no lugar de um antigo edifício que protegia a sepultura de Santa Marta foi construída uma igreja no século XI em sua homenagem, em cuja cripta depuseram seus restos mortais. Ela é venerada pela Igreja como a padroeira das cozinheiras e das donas de casa.



    Santa Marta, rogai por nós!

sexta-feira, 28 de julho de 2023

A Vida Eterna


    A humanidade sempre sonhou vencer a morte e viver eternamente. A expulsão do Paraíso, pois aí dela usufruíam Adão e Eva, deu-se exatamente para efetivar um castigo: "E o Senhor Deus disse: 'Eis que o homem se tornou como um de Nós, conhecedor do bem e do mal. Agora, pois, cuidemos que ele não estenda sua mão e também tome do fruto da árvore da Vida e coma-o, e viva eternamente.'" Gn 3,22
    Nos Salmos, contudo, o sagrado autor voltou a pedir a Deus: "Examinai-me, Senhor... Vede se ando na senda do Mal, e conduzi-me pelo caminho da eternidade." Sl 138,24
    E para atender a esse anseio, há muito tempo o Amoroso Pai já tinha prometido trazer-nos de volta ao Seu convívio. Desde então, porém, ficou claro que Ele não o faria sem usar do rigor de Sua Justiça, como está no livro de Profeta Daniel: "A multidão que dorme no pó da terra despertará: uns para uma Vida Eterna, outros para a ignomínia, a eterna infâmia." Dn 12,2
    Palavra que Jesus, referindo-Se a Si mesmo como o Filho do Homem, confirmou: "Não vos maravilheis disso, porque vem a hora em que todos que se acham nos sepulcros deles sairão ao som de Sua voz: os que praticaram o bem irão para a Ressurreição da Vida, e aqueles que praticaram o mal ressuscitarão para serem condenados." Jo 5,28-29
    Ele disse a São João Evangelista nas revelações do Apocalipse: "Quem tiver ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: 'Ao vencedor darei de comer do fruto da árvore da Vida, que se acha no Paraíso de Deus.'" Ap 2,7
    E repetiu, ao final, revelando-Se o Alfa e o Ômega: "Felizes aqueles que lavam suas vestes para ter direito à árvore da Vida e poder entrar na Cidade pelas portas." Ap 22,14
    Ele já havia atestado a imortalidade da alma, quando advertiu: "Não temais aqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Antes temei Aquele que pode precipitar a alma e o corpo no inferno." Mt 10,28
    E o livro da Sabedoria já contestava os incrédulos: "... eles desconhecem os segredos de Deus, não esperam que a santidade seja recompensada e não acreditam na glorificação das puras almas. Ora, Deus criou o homem para a imortalidade, e fê-lo à imagem de Sua própria natureza. É por inveja do Demônio que a morte entrou no mundo, e os que pertencem ao demônio prová-la-ão." Sb 2,22-24
    Por isso, testemunhando a Vinda do Salvador, São João Evangelista exalta a Missão de Jesus: "Eis a promessa que Ele nos fez: a Vida Eterna." 1 Jo 2,25
    E afirma Sua Divindade logo no início de seu Evangelho: "N'Ele havia a Vida, e a Vida era a Luz dos homens." Jo 1,4
    São Paulo, no mesmo sentido, em sua Segunda Carta a São Timóteo apresenta-se nestes termos: "Paulo, Apóstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus, para anunciar a promessa da Vida que está em Jesus Cristo..." 2 Tm 1,1
    Aos Seus fiéis seguidores, de fato, Jesus garantiu uma Nova Vida, que começa desde já: "Pedro começou a dizer-Lhe: 'Eis que deixamos tudo e seguimos-Te.' Respondeu-lhe Jesus. 'Em Verdade, digo-vos: ninguém há que tenha deixado casa ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou terras, por causa de Mim e por causa do Evangelho, que já neste século não receba cem vezes mais casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras, apesar das perseguições, e no vindouro século a Vida Eterna.'" Mc 10,28-30
    São João Evangelista, em plena experiência da Comunhão com Deus, vai afirmar essa condição do cristão: "... pois, como Ele é, assim nós também o somos neste mundo." 1 Jo 4,17b
    São Paulo aponta a própria Comunhão dos Santos: "... quem se une ao Senhor, com Ele torna-se um só Espírito." 1 Cor 6,17
    E alarmado com a desatenção dos coríntios, ele chegou a questionar: "Examinai a vós mesmos, se estais na . Provai-vos a vós mesmos. Acaso não reconheceis que Cristo Jesus está em vós?" 2 Cor 13,5a
    Invocando os MandamentosNosso Salvador assegurou que neles está o Caminho para viver estas dádivas. Está no Evangelho de São Mateus: "Um jovem aproximou-se de Jesus e perguntou-Lhe: 'Mestre, que devo fazer de bom para ter a Vida Eterna?' Jesus respondeu: 'Se queres entrar na Vida, observa os Mandamentos. Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho, honra teu pai e tua mãe, amarás teu próximo como a ti mesmo.'" Mt 19,16.18-19
    Deus mesmo já havia dito ao povo de Israel, através de Moisés: "Observareis Meus preceitos e Minhas leis: o homem que os observar, por eles viverá." Lv 18,5
    Ao tempo de Jesus, porém, os questionamentos do povo sobre esse assunto eram frequentes. São Lucas registra mais um episódio: "Levantou-se um doutor da Lei e, para pô-Lo à prova, perguntou: 'Mestre, que devo fazer para possuir a Vida Eterna?'" Lc 10,25
    Contudo, conhecedor de sua real intenção, em primeiro momento Jesus devolve-lhe a pergunta, questionando seu entendimento sobre as Escrituras: "Que está escrito na Lei? Como é que lês?" Lc 10,26
    Sem ter como fugir, o doutor da Lei responde corretamente: "Amarás o Senhor Teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma, de todas tuas forças e de todo teu pensamento (Dt 6,5); e a teu próximo como a ti mesmo (Lv 19,18)." Lc 10,27
    Mas Jesus não Se basta com o mero conhecimento, e sucintamente pede-lhe a prática dos Mandamentos: "Respondeste bem. Faze isto e viverás." Lc 10,28
    Frustrado, o homem vê-se obrigado a levantar a dúvida que realmente lhe perturbava. Por certo, imaginava que só deveria fazer o bem aos que fossem de sua seita, pois se julgavam santos como não seriam os demais: "E quem é meu próximo?" Lc 10,29
    Jesus, no entanto, vai propor-lhe uma situação em que a gratuidade do bem fala muito mais alto. E dá-lhe uma lição: exalta um homem da gente mais desprezada pelos judeus, que socorre um necessitado, enquanto um sacerdote e um levita, que são religiosos de Israel, nem sequer pararam para olhar sua situação. É a parábola do bom samaritano, e ao final é Jesus Quem lhe questiona: "Qual destes três parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos ladrões?" Lc 10,36
    Acuado, o doutor da Lei admite a grandeza da misericórdia: "Aquele que usou de misericórdia para com ele." Lc 10,37
    E Jesus outra vez dá-lhe um curto e direto recado, determinando-lhe a incondicional prática do amor ao próximo: "Vai, e faze tu o mesmo." Idem
    Sob esse aspecto, São João Evangelista é ainda mais incisivo, e, pelo pecado da ira, sentencia: "Quem odeia seu irmão é assassino. E sabeis que a Vida Eterna não permanece em nenhum assassino." 1 Jo 3,15
    Mas se a prática dos Mandamentos já era uma pedra de tropeço para muitos mal intencionados, Nosso Salvador vai entrar num ainda mais complicado assunto: Sua Paixão, pela qual se tem a Redenção da humanidade. É o paradoxo do 'Deus morto', um grande empecilho para os racionalistas: "... o Filho do Homem deve ser levantado, para que todo aquele que n'Ele crer tenha a Vida Eterna." Jo 3,15
    Pois assim é a vontade de Deus, que impreterivelmente vai realizar-se. Apresentando-Se enquanto mero ser humano, Jesus dizia: "Em Verdade, não falei por Mim mesmo, mas o Pai, que Me enviou, Ele mesmo prescreveu-Me o que devo dizer e o que devo ensinar. E sei que Seu Mandamento é Vida Eterna." Jo 12,49-50a
    Entretanto, apesar de demonstrar tamanho amor pelo ser humano, a verdade é que Jesus continua sendo um sinal de contradição para muitos. Mas também é certo que Ele continue desmistificando as mundanas glórias. Foi o que disse o religioso Simeão à Nossa Senhora, quando da Apresentação do Menino Jesus no Templo de Jerusalém: "Eis que este Menino está destinado a ser causa de queda e de soerguimento para muitos homens em Israel, e a ser um sinal que provocará contradições..." Lc 2,34
    E Ele mesmo fez esta terrível distinção: "Aquele que crê no Filho tem a Vida Eterna. Quem não crê no Filho não verá a Vida, mas sobre ele pesa a ira de Deus." Jo 3,36


INVIOLÁVEL PROJETO DE DEUS

    Para todos que O acolhem, porém, Deus promete a eterna felicidade. São Paulo cita o Profeta Isaías: "É como está escrito: 'Coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou' (Is 64,4), tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que O amam." 1 Cor 2,9
    Por isso, ele não se abalava com as constantes tribulações da vida cristã: "Trazemos sempre em nosso corpo os traços da morte de Jesus, para que também a Vida de Jesus se manifeste em nosso corpo. Embora estando vivos, somos a toda hora entregues à morte por causa de Jesus, para que também a Vida de Jesus apareça em nossa carne mortal." 2 Cor 4,10-11
    Ele explica: "Ora, se Cristo está em vós, o corpo, em verdade, está morto pelo pecado, mas vosso espírito vive pela justificação. Se o Espírito d'Aquele que ressuscitou Jesus dos mortos habita em vós, Ele, que ressuscitou Jesus Cristo dos mortos, também dará a Vida aos vossos corpos mortais, por Seu Espírito que em vós habita." Rm 8,10-11
    E adverte: "De fato, se viverdes segundo a carne, haveis de morrer. Mas, se pelo Espírito mortificardes as obras da carne, vivereis, pois todos que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus." Rm 8,13-14
    Pois mesmo antes do Cristo, a Divina Sabedoria já informava a condição das almas dos que falecem no amor a Deus: "Mas as almas dos justos estão na mão de Deus, e nenhum tormento os tocará. Aparentemente estão mortos aos olhos dos insensatos: seu desenlace é julgado como uma desgraça e sua morte como uma destruição, quando na verdade estão na Paz! Se aos olhos dos homens suportaram uma correção, a Esperança deles era portadora de imortalidade. E por terem sofrido um pouco, receberão grandes bens, porque Deus, que os provou, achou-os dignos de Si. Ele provou-os como ouro na fornalha, e acolheu-os como holocausto." Sb 3,1-6
    Assim como informava da imortalidade que pela Sabedoria se alcança: "Ela mesma (Divina Sabedoria) vai à procura dos que dela são dignos. Ela aparece-lhes nos caminhos, cheia de benevolência, e vai ao encontro deles em todos seus pensamentos, porque, verdadeiramente, desde o começo, seu desejo é instruir, e desejar instruir-se é amá-la. Mas amá-la é obedecer às suas leis, e obedecer às suas leis é a garantia da imortalidade. Ora, a imortalidade faz habitar junto a Deus, assim o desejo da Sabedoria conduz ao Reino!" Sb 6,16-20
    E Jesus veio oferecer a dádiva maior que é Seu Santo Espírito, Aquele que sacia toda sede de justiça e de Vida: "... quem beber da água que Eu der jamais terá sede. E essa água, que Eu darei, virá a ser nele fonte de Água Viva, que jorrará até a Vida Eterna." Jo 4,14
    São João Evangelista teve o cuidado de explicar do que Ele falava: "Dizia isso referindo-Se ao Espírito que haviam de receber aqueles que n'Ele cressem, pois ainda não fora dado o Espírito, visto que Jesus ainda não tinha sido glorificado." Jo 7,39
    No Evangelho de São Lucas, de fato, Jesus refere-Se ao Espírito Santo como a maior Graça que Deus Pai quer oferecer-nos: "Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais Vosso Pai celestial dará o Espírito Santo aos que LhO pedirem." Lc 11,13
    Ora, a Vida Eterna é-nos concedida pelo Divino Paráclito, como o próprio Jesus vai dizer: "O Espírito é que dá a Vida." Jo 6,63
    São Paulo discorre assim: "Se o Espírito d'Aquele que ressuscitou Jesus dos mortos habita em vós, Ele, que ressuscitou Jesus Cristo dos mortos, também dará a Vida a vossos corpos mortais, por Seu Espírito que em vós habita." Rm 8,11
    Ele resume nestes palavras a passagem de Jesus e o Pentecostes: "O que era impossível à Lei, visto que a carne a tornava impotente, Deus fez. Enviando, por causa do pecado, Seu próprio Filho numa carne semelhante à do pecado, condenou o pecado na carne, a fim de que a justiça prescrita pela Lei fosse realizada em nós, que vivemos não segundo a carne mas segundo o Espírito." Rm 8,3-4
    Também diz: "Quem semeia na carne, da carne colherá a corrupção. Quem semeia no Espírito, do Espírito colherá a Vida Eterna." Gl 6,8
    Ou, pela Comunhão da Santíssima Trindade, essa dádiva vem do próprio Jesus, como Ele garantiu às Suas ovelhas, ou seja, àqueles que Lhe obedecem: "Minhas ovelhas ouvem Minha voz, Eu conheço-as e elas seguem-Me. Eu dou-lhes a Vida Eterna. Elas jamais hão de perecer e ninguém as roubará de Minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior que todos, e ninguém pode arrebatá-las da mão de Meu Pai." Jo 10,27-29
    E sentenciou: "Em Verdade, em Verdade, digo-vos: vem a hora, e já está aí, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus. E aqueles que a ouvirem, viverão. Pois como o Pai tem a Vida em Si mesmo, assim também deu ao Filho ter a Vida em Si mesmo..." Jo 5,25-26
    Falando de Si mesmo em terceira pessoa, Ele diz que essa Graça é dada a todos aqueles que o Pai Lhe enviou: "... para que, pelo poder que Lhe conferiste sobre toda criatura, Ele dê a Vida Eterna a todos aqueles que Lhe entregaste." Jo 17,2
    Aliás, não há como ir a Jesus de outra maneira, assim como não tem outra finalidade Sua Missão: "Ninguém pode vir a Mim se o Pai, que Me enviou, não o atrair. E Eu hei de ressuscitá-lo no Último Dia." Jo 6,44
    É também nestes termos que Ele assegura Sua própria Ressurreição, conforme os planos de Deus: "O Pai ama-Me porque dou Minha vida para retomá-la. Ninguém a tira de Mim, mas Eu dou-a de Mim mesmo, pois tenho o poder para dá-la como tenho o poder para reassumi-la. Tal é a ordem que recebi de Meu Pai." Jo 10,17-18
    E pouco antes de ser preso, falando de Sua Ressurreição, disse de Sua Divindade aos Apóstolos, assim como da Comunhão: "Naquele dia, conhecereis que estou em Meu Pai, vós em Mim e Eu em vós." Jo 14,20
    Como foi revelado aos judeus, portanto, a Vida Eterna é-nos comunicada pelas próprias Escrituras, pois nelas encontramos o Cristo, que disse aos religiosos de Jerusalém: "Vós perscrutais as Escrituras, nelas julgando encontrar a Vida Eterna. Pois bem! São Elas mesmas que dão testemunho de Mim." Jo 5,39
    No entanto, ela está ainda mais evidente no Evangelho, ou seja, nas palavras do próprio Jesus, que seguiu reclamando destes religiosos: "E vós não quereis vir a Mim para que tenhais a Vida..." Jo 5,40
    São Pedro, entretanto, não vacilava! Mesmo quando muitos discípulos de Jesus O abandonavam, ele bem sabia onde encontrar a Salvação: "Tu tens as palavras da Vida Eterna." Jo 6,68
    E assim, também está na atitude de quem sinceramente busca conhecer a Deus e a Jesus, como Ele mesmo afirmou: "Ora, a Vida Eterna é esta: que conheçam a Ti, Único e Verdadeiro Deus, e a Jesus Cristo, que enviaste." Jo 17,3
    Está mais propriamente, ainda segundo Sua Palavra, no Santíssimo Sacramento: "Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que dura até a Vida Eterna, que o Filho do Homem vos dará." Jo 6,27
    Sacramento esse que é Seu Corpo e Seu Sangue: "Quem come Minha Carne e bebe Meu Sangue tem a Vida Eterna, e Eu ressuscitá-lo-ei no Último Dia." Jo 6,54
    Alimento, sim, e celeste alimento, que desde já nos concede a presença de Deus em nós: "Pois Minha Carne é verdadeiramente uma comida e Meu Sangue, verdadeiramente uma bebida. Quem come Minha Carne e bebe Meu Sangue permanece em Mim e Eu nele." Jo 6,55-56
    É o próprio Pão da Vida Eterna: "Eu sou o Pão Vivo que desceu do Céu. Quem comer deste Pão viverá eternamente." Jo 6,51a
    Pois Ele mesmo prometeu, como visto, ressuscitar Seus fiéis: "Com efeito, como o Pai ressuscita os mortos e dá-lhes Vida, assim também o Filho dá Vida a quem Ele quer." Jo 5,21
    Ora, a Vida Eterna é o próprio Jesus: "Eu sou a Ressurreição e a Vida. Quem crê em Mim, ainda que tenha morrido, viverá." Jo 11,25
    E ela está, portanto, na fé em Sua Palavra: "Em Verdade, em Verdade, digo-vos: quem crê em Mim tem a Vida Eterna." Jo 6,47
    Pois mesmo falando de Sua Paixão, Ele garantia: "Ainda um pouco de tempo e o mundo já não Me verá. Vós, porém, tornareis a ver-Me, porque Eu vivo e vós vivereis." Jo 14,19
    Isso dá-se pelo mesmo poder com que Deus vive, e será efetivado em nós por Graça do Santíssimo Sacramento: "Assim como vive o Pai que Me enviou, e Eu vivo pelo Pai, aquele que comer a Minha carne viverá por Mim." Jo 6,57
    E, definitivamente, Ele não deixou opção: "Disse-lhes então Jesus: 'Em Verdade, em Verdade, digo-vos: se não comerdes a Carne do Filho do Homem, e não beberdes Seu Sangue, não tereis a Vida em vós mesmos.'" Jo 6,53
    Pois ela é um presente do Pai para quem percebe a grandeza de Seu Filho. Jesus diz: "Esta é a vontade de Meu Pai: que todo aquele que vê o Filho e n'Ele crê, tenha a Vida Eterna..." Jo 6,40
    De fato, a Vida Eterna foi testemunhada por Deus na Pessoa de Jesus, como São João Evangelista afirma: "E o testemunho é este: Deus deu-nos a Vida Eterna, e esta Vida está em Seu Filho. Quem possui o Filho possui a Vida, quem não tem o Filho de Deus não tem a Vida." 1 Jo 5,11-12
    Ela é o testemunho dos Apóstolos, vale dizer, da Igreja: "... porque a Vida se manifestou, e nós temo-la visto. Damos testemunho e anunciamo-vos a Vida Eterna, que estava no Pai e que a nós se manifestou..." 1 Jo 1,2
    É a própria razão do Evangelho de São João: "Jesus fez muitos outros sinais diante dos discípulos, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a Vida em Seu Nome." Jo 20,30-31
    Assim como de suas cartas: "Isto escrevi-vos para que saibais que tendes a Vida Eterna, vós que credes no Nome do Filho de Deus." 1 Jo 5,13
    É a vida espiritual que se perpetua a partir desta vida, através da rejeição desse mundo como o Mestre ensinou: "Quem ama sua vida, perdê-la-á. Mas quem odeia sua vida neste mundo, conservá-la-á para a Vida Eterna." Jo 12,25
    É muito maior felicidade, ainda segundo Ele, que ter algum dos dons do Espírito Santo: "Contudo, não vos alegreis porque os espíritos vos estão sujeitos, mas alegrai-vos que vossos nomes estejam escritos nos Céus." Lc 10,20
    É engajar-se em Seu projeto da Salvação, de muito boa paga: "Eis que vos digo: levantai vossos olhos e vede os campos, porque já estão brancos para a ceifa. O que ceifa já recebe seu salário e junta frutos para a Vida Eterna." Jo 4,35b-36a
    É, pois, o resultado de nossos trabalhos na construção do Reino de Deus, conforme São Paulo: "... produzis frutos para vossa santificação, tendo como meta a Vida Eterna." Rm 6,22
    É o próprio projeto Deus: "... o dom de Deus é a Vida Eterna..." Rm 6,23
    É uma conquista pessoal, como ele disse a São Timóteo: "Combate o bom combate da fé. Conquista a Vida Eterna, para a qual foste chamado e fizeste aquela nobre profissão de fé perante muitas testemunhas." Tm 6,12
    É nossa mais antiga Esperança, como ele disse a São Tito: "... na Esperança da Vida Eterna, em longínquos tempos prometida por Deus veraz e fiel..." Tt 1,2
    Qual é, portanto, o caminho a seguir? Onde está a Verdade? Que vida devemos viver? Jesus aponta para Seu Coração e diz: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida..." Jo 14,16
    Assim resumia Sua Missão: "Eu vim para que as ovelhas tenham Vida, e Vida Plena." Jo 10,10
    E, em síntese, disse a Santa Faustina: "Quero dizer-te que essa Vida Eterna deve iniciar-se já aqui na terra pela Santa Comunhão. Cada Santa Comunhão torna-te mais capaz de conviver com Deus por toda eternidade." (Diário, 1810)

    "Esperamos entrar na Vida Eterna!"