domingo, 3 de março de 2024

A Paz de Cristo


    Zacarias, pai de São João Batista, foi bem específico quando profetizou a respeito de Cristo, dizendo que Sua Missão seria "... dirigir nossos passos no caminho da Paz." Lc 1,79
    No mesmo sentido, quando anunciaram o Nascimento de Jesus aos pastores de Belém, os anjos já desejavam à humanidade a indizível Paz que Ele ofereceria: "Glória a Deus no mais alto dos Céus e Paz na terra aos homens por Ele amados." Lc 2,14
    Com efeito, compartilhando entre nós uma condição categoricamente só Sua, Jesus ensinou desde o Sermão da Montanha: "Felizes os que promovem a Paz, porque serão chamados filhos de Deus." Mt 5,9
    Ele pedia que ativamente a exercêssemos, para bem celebrarmos a Santa Missa: "Se estás, portanto, para fazer tua oferta diante do altar e lembrares que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá tua oferta diante do altar e primeiro vai reconciliar-te com teu irmão. Só então vem fazer tua oferta." Mt 5,23-24
    No Pai Nosso, essa é essencial condição para obtermos o perdão do Pai: "... perdoai-nos nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido..." Mt 6,12
    Aliás, Ele ensinou que este é um dever antes de qualquer oração: "E quando vos puserdes de pé para orar, perdoai, se tiverdes algum ressentimento contra alguém, para que também Vosso Pai, que está nos Céus, perdoe vossos pecados. Mas se não perdoardes, tampouco Vosso Pai que está nos Céus perdoará vossos pecados." Mc 11,25-26
    E assim Ele apontava para Si mesmo como vívido exemplo, além de conforto para nossas almas: "Tomai Meu jugo sobre vós e recebei Minha Doutrina, porque Eu sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para vossas almas." Mt 11,29
    Ao enviar os Apóstolos pela primeira vez, Ele recomendou uma saudação que se tornaria Sua marca, e deixou claro que tal gesto não consistia apenas de palavras: "Em qualquer casa em que entrardes, primeiro dizei: 'A Paz esteja nesta casa.' Se ali morar algum amigo da Paz, vossa Paz repousará sobre ele. Senão, ela retornará a vós." Lc 10,5-6
    As pessoas a quem socorria com Seus milagres, Ele também despedia transmitindo-lhes Sua Paz: "Filha, tua  te salvou! Vai em Paz e sê curada de teu mal." Mc 5,34
    Em Sua Última Páscoa, ao aproximar-Se de Jerusalém, chorou por ela, pois não soube receber este grande dom, do qual ainda hoje precisa: "Oh! Se também tu, ao menos neste dia que te é dado, conhecesses Aquele que pode trazer-te a Paz!... " Lc 19,42
    E pouco antes de Sua Crucificação, falando aos Apóstolos sobre a singularidade de Sua Paz, mais uma vez Ele afirmou seu sobrenatural caráter: "Eu deixo-vos a Paz, Eu dou-vos Minha Paz. A Paz que Eu vos dou não é a paz que o mundo dá." Jo 14,27
    Lembrando que só n'Ele encontraríamos essa dádiva, consolou os Apóstolos. E eles perfeitamente entendiam, pois já a haviam experimentado. Toda preocupação, ansiedade e inquietude dissipavam-se: "Eu disse-vos estas coisas para que, em Mim, tenhais a Paz. No mundo tereis aflições. Mas tende coragem. Eu venci o mundo!" Jo 16,33
    Pois na lógica inversa de Jesus, para alcançar Sua Paz é necessário opor-se até mesmo à paz meramente mundana, inclusive em meio à própria família. Ora, Sua Paz é uma pessoal oferta, exclusiva aos membros da Igreja, jamais ao mundo: "Não julgueis que vim trazer a Paz à terra. Vim trazer não a Paz, mas a espada. Eu vim trazer a divisão entre o filho e o pai, entre a filha e a mãe, entre a nora e a sogra, e os inimigos do homem serão as pessoas de sua própria casa. Quem ama seu pai ou sua mãe mais que a Mim, não é digno de Mim. Quem ama seu filho mais que a Mim, não é digno de Mim. Quem não toma sua cruz e não Me segue, não é digno de Mim. Aquele que tentar salvar sua vida, perdê-la-á. Aquele que a perder, por Minha causa, reencontrá-la-á." Mt 10,34-39
    De fato, foi derramando Sua Paz exclusivamente sobre Apóstolos, discípulos e seguidores que Ele instituiu a Igreja, para assim a enviar ao mundo. É o que vemos logo no Domingo da Ressurreição, como registrou São João Evangelista: "Na tarde do mesmo dia, que era o primeiro da semana, os discípulos tinham fechado as portas do lugar onde se achavam, por medo dos judeus. Jesus veio e pôs-Se no meio deles. Disse-lhes Ele: 'A Paz esteja convosco!' Dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos alegraram-se ao ver o Senhor. Disse-lhes outra vez: 'A Paz esteja convosco! Como o Pai Me enviou, Eu envio a vós.'" Jo 20,19-21
    Afirmativamente, com a Vinda de Jesus, o Filho da Santíssima Virgem, foi-nos concedido experimentar na terra a Paz que será vivida na eternidade, como anunciou o Profeta Isaías: "O povo que andava nas trevas viu uma Grande Luz, sobre aqueles que habitavam uma tenebrosa região resplandeceu uma Luz. ... porque um Menino nos nasceu, um Filho foi-nos dado. A soberania repousa sobre Seus ombros, e Ele chama-Se: Conselheiro Admirável, Deus Forte, Pai Eterno, Príncipe da Paz. Seu império será grande, e sem fim a Paz sobre o trono de Davi e em Seu Reino. Ele firmá-lo-á e mantê-lo-á pelo direito e pela justiça, desde agora e para sempre." Is 9,5-6a
    Através deste grande arauto, Deus havia prometido ao povo de Israel: "'Mesmo que as montanhas oscilassem e as colinas se abalassem, Meu amor jamais te abandonará e Meu pacto de Paz jamais vacilará', diz o Senhor que Se compadeceu de ti. Todos seus filhos serão discípulos de Javé, grande será a Paz de seus filhos." Is 54,10.13
    E tal promessa, de modo mais detalhado descrita através de Ezequiel, era de que Deus mesmo apascentaria Seu rebanho: "'Sou Eu que apascentarei Minhas ovelhas, sou Eu que as farei repousar' - Oráculo do Senhor Javé. 'A ovelha perdida, Eu procurá-la-ei; a desgarrada, Eu reconduzi-la-ei; a ferida, Eu curá-la-ei; a doente, Eu restabelecê-la-ei, e velarei sobre a que estiver gorda e vigorosa. Apascentá-las-ei todas com justiça.'" Ez 34,15-16
    Através de Miqueias, Ele diz que o Filho de Maria seria a própria Paz: "Mas tu, Belém-Efrata, tão pequena entre os clãs de Judá, é de ti que sairá para Mim Aquele que é chamado a governar Israel. Suas origens remontam os antigos tempos, dias do longínquo passado. Por isso, Deus deixá-los-á, até o tempo em que der à luz aquela que há de dar à luz. O resto de Seus irmãos então voltará para junto dos filhos de Israel. Ele não recuará, apascentará com a força do Senhor e com a majestade do Nome do Senhor Seu Deus. Os homens viverão em Paz, pois Ele agora estenderá o poder até os confins da terra, e Ele mesmo será a Paz." Mq 5,2-4a
    Essas promessas foram feitas porque Deus havia retirado Sua Paz de Israel pouco antes da escravidão da Babilônia, quando sobrevieram as desgraças previstas pelo Profeta Jeremias: "E disse ainda o Senhor: 'Não entres em casa em que haja luto, para chorar com seus moradores, porque', Oráculo do Senhor, 'desse povo retiro Minha Paz, Minha proteção e Minha Misericórdia. Grandes e pequenos morrerão nesta terra, e ficarão sem lamentações e sem sepulturas, e não se farão incisões, nem rasparão os cabelos. O pão não será repartido para consolar o enlutado que chora um defunto, nem se lhe oferecerá a taça do consolo pela morte de seus pais.'" Jr 16,5-7
    Contudo, desde a manifestação de Cristo, Sua Paz tem estado à disposição da Igreja, e assim estará até o fim dos tempos, como o salmista cantou: "Em Seus dias florescerão a justiça e a abundância da Paz, até que a lua cesse de brilhar. Ele dominará de um ao outro mar, desde o grande rio até os confins da terra." Sl 71,7-8
    Ora, até inimigos do Cristo percebiam a Paz que d'Ele emanava, como a guarda do sumo sacerdote enviada para prendê-Lo: "Voltaram os guardas para junto dos príncipes dos sacerdotes e fariseus, que lhes perguntaram: 'Por que não O trouxestes?' Os guardas responderam: 'Ninguém jamais falou como este homem!...'"Jo 7,45-46
    E quando Sua Doutrina pareceu muito estranha, pois oferecia Seu Corpo e Seu Sangue como alimento da Vida Eterna, e muitos de Seus discípulos abandonavam-nO, Ele mesmo perguntou se os Apóstolos também não queriam ir embora. Mas o Príncipe dos Apóstolos luminosamente interveio por eles: "Respondeu-Lhe Simão Pedro: 'Senhor, a quem iríamos nós? Tu tens as palavras da Vida Eterna.'" Jo 6,68
    Ainda nas primeiras missões, porém, antes de conhecê-Lo melhor, eles passaram grandes sustos: "De repente, desencadeou-se sobre o mar tão grande tempestade que as ondas cobriam a barca. Ele, no entanto, dormia. Os discípulos achegaram-se a Ele e acordaram-nO, dizendo: 'Senhor, salva-nos! Nós perecemos!' E Jesus perguntou: 'Por que este medo, gente de pouca ?' Então, levantando-Se, deu ordens aos ventos e ao mar, e fez-se uma grande calmaria. Admirados, eles diziam: 'Quem é Este Homem, a Quem até os ventos e o mar obedecem?'" Mc 4,37-39.41


PAZ QUE EXCEDE TODA COMPREENSÃO

    Após Sua Ressurreição, quando aparecia ao Apóstolos, como vimos, Jesus não Se identificava dizendo Seu Nome, mas fazendo-os sentir a Paz da Sua presença. Disse-lhes na primeira aparição ao colégio dos Dez, pois aí não estava São Tomé: "A Paz esteja convosco." Jo 20,19b
    E também na segunda, ao colégio dos Onze Apóstolos: "Oito dias depois, outra vez estavam Seus discípulos no mesmo lugar, e Tomé com eles. Estando trancadas as portas, veio Jesus, pôs-Se no meio deles e disse: 'A Paz esteja convosco!'" Jo 20,26
    E dias antes de Sua Ascensão aos Céus, à margem do mar da Galileia, Ele deu exatamente essa incumbência à Sua Igreja, então representada pela pessoa de São Pedro: "Apascenta Meus cordeiros. Apascenta Minhas ovelhas." Jo 21,16b.17b
    O Príncipe dos Apóstolos, do mesmo modo, velando pela manutenção da autoridade da Igreja após sua partida, que se aproximava, repartiu com os demais Sacerdotes essa função: "Eis a exortação que dirijo aos Anciãos que estão entre vós, porque sou Ancião como eles, fui testemunha dos sofrimentos de Cristo e com eles serei participante daquela Glória que há de manifestar-se: apascentai o rebanho de Deus, que vos é confiado. Tende dele cuidado, não constrangidos, mas espontaneamente; não por amor de sórdido interesse, mas com dedicação; não como absolutos dominadores sobre as comunidades que vos são confiadas, mas como modelos de vosso rebanho." 1 Pd 5,1-3
    Para a perfeita execução desta redentora missão, já na primeira aparição após Sua Ressurreição Jesus deu aos Apóstolos o poder de perdoar: "Disse-lhes outra vez: 'A Paz esteja convosco! Como o Pai Me enviou, Eu envio a vós.' Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: 'Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, sê-lhes-ão perdoados. Àqueles a quem os retiverdes, sê-lhes-ão retidos.'" Jo 20,21-23
    São Pedro, pois, tinha muito bem presente qual era a real natureza do Evangelho, como disse aos primeiros pagãos a converterem-se: "Deus enviou Sua Palavra aos filhos de Israel, anunciando-lhes a Boa Nova da Paz, por meio de Jesus Cristo." At 10,36
    Lembrando o implacável poder de Deus que se manifestará no Último Dia, ele encarecidamente recomenda que primemos por essa marca: "Portanto, caríssimos, esperando estas coisas, esforçai-vos em ser por Ele achados sem mácula e irrepreensíveis na Paz." 2 Pd 3,14
    E falando da necessária purificação do pecados para o efetivo conhecimento de Cristo, ele afirmava que essa era sua missão até seu último dia: "Eis porque não cessarei de trazer-vos essas coisas à memória, embora estejais instruídos e confirmados na presente Verdade. Tenho por meu dever, enquanto estiver neste tabernáculo, manter-vos vigilantes com minhas admoestações." 2 Pd 1,12-13
    Inspiradamente, e em perfeita consonância com o Profeta Miqueias, São Paulo assim define o Cristo: "... Ele é nossa Paz..." Ef 2,14
    E a reconciliação com Deus que Jesus promove perante todos, judeus e não-judeus, o Último Apóstolos descreve com essas palavras: "Desse modo, dos dois povos Ele quis fazer em Si mesmo uma nova humanidade, pelo restabelecimento da Paz, e ambos reconciliá-los com Deus, reunidos num só Corpo pela virtude da Cruz, nela aniquilando a inimizade. Veio para anunciar a Paz a vós que estáveis longe, e a Paz também àqueles que estavam perto..." Ef 2,15b-17
    Atento às inevitáveis aflições da vida de um cristão, porém, ele exorta-nos ao fiel seguimento de Cristo para que representemos o bem para nossos irmãos: "Bendito seja Deus, o Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das Misericórdias, Deus de toda consolação, que nos conforta em todas nossas tribulações, para que, pela consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus, possamos consolar os que estão em qualquer angústia!" 2 Cor 1,3-4
    Contudo, ainda através de Isaías e com toda franqueza Deus já Se pronunciara: confirmou Sua irritação para com o rebelde, e que ao ímpio jamais concederia a Paz: "'Estive encolerizado contra a iniquidade de Meu povo, contra sua cobiça e, por isso, escondia-Me, mantive Minha ira. Feri-o, enquanto rebelava-se segundo sua fantasia. Vi sua conduta e curá-lo-ei. Vou guiá-lo e consolá-lo, a eles e seus enlutados. Farei brotar nos lábios dos aflitos a ação de graças. Paz, Paz àquele que está longe e àquele que está perto. Mas os ímpios são como um mar encrespado que não se pode acalmar, cujas ondas revolvem sargaço e lodo. Não há Paz para os ímpios', diz Meu Deus." Is 57,17-20
    E assim São Paulo confirma, em Jesus, o cumprimento dessa cura, dessa profecia: "Porque a Deus aprouve n'Ele (Jesus) fazer habitar toda plenitude, e por Seu intermédio reconciliar consigo todas criaturas. Por intermédio d'Aquele que, ao preço do próprio Sangue na Cruz, restabeleceu a Paz a tudo quanto existe na terra e nos Céus." Cl 1,19-20
    Afirmando esta missão da Igreja, ele prega: "Tudo isso vem de Deus, que Consigo nos reconciliou, por Cristo, e confiou-nos o ministério desta reconciliação. Porque é Deus que, em Cristo, Consigo reconciliava o mundo, não levando mais em conta os pecados dos homens, e em nossos lábios pôs a mensagem da reconciliação. Portanto, desempenhamos o encargo de embaixadores em Nome de Cristo, e é Deus mesmo que exorta por nosso intermédio. Em Nome de Cristo, rogamo-vos: reconciliai-vos com Deus!" 1 Cor 5,18-20
    Pois, como bem reconhece o salmista, "Oprime-nos o peso de nossas faltas..." Sl 64,4b
    E senão por um deliberado ato da Divina Misericórdia, a reconciliação com Deus, após o Batismo, só é-nos concedida pelo Sacramento da Reconciliação: "Feliz aquele cuja iniquidade foi perdoada, cujo pecado foi absolvido. Pois dia-e-noite Vossa mão pesava sobre mim. Então Vos confessei meu pecado, e não mais dissimulei minha culpa. Disse: 'Sim, vou confessar ao Senhor minha iniquidade.' E Vós perdoastes a pena de meu pecado." Sl 31,1.4a.5
    Não por acaso, dirigindo-se à Igreja, o Apóstolo dos Gentios vai frequentemente usar essa saudação no início de suas cartas: "... Graça e Paz da parte de Deus..." Rm 1,7
    Da mesma forma faz São Pedro, mais uma vez indicando o modo de obtê-la: "... Graça e Paz em abundância vos sejam dadas por um profundo conhecimento de Deus e de Jesus, Nosso Senhor!" 1 Pd 1,2
    Também São João Evangelista: "... Graça, Misericórdia e Paz da parte de Deus Pai e de Jesus Cristo, Filho do Pai." 2 Jo 1,3
    E ainda São Judas Tadeu: "Que a Misericórdia, a Paz e o amor copiosamente se realize em vós." Jd 1,2
    Para São Paulo, o Evangelho de Jesus tem um nome especial, que especial preparação exige de quem o dissemina: "... e os pés calçados de prontidão para anunciar o Evangelho da Paz." Ef 6,15
    De fato, ainda segundo ele, a prática da Sã Doutrina produz evidentes resultados: "O que aprendestes, recebestes, ouvistes e observastes em mim, isto praticai, e o Deus da Paz estará convosco." Fl 4,9
    E os Divinos Sacramentos assim podem ser resumidos: "Deus chamou-nos a viver em Paz." 1 Cor 7,15
    Pois o Pai bem sabe nossos maiores anseios: "... a aspiração do espírito é a Vida e a Paz." Rm 8,6
    Essa Paz que só Jesus concede, no entanto, é impossível de ser descrita em palavras: "E a Paz de Deus, que excede toda compreensão, haverá de guardar vossos corações e vossos pensamentos, em Cristo Jesus." Fl 4,7
    Ela é um sopro dos Céus aqui na terra: "O Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, Paz e gozo no Espírito Santo." Rm 14,17
    E no Novo Céu e na Nova Terra, claro, ela será generalizada. Diz o Profeta Oseias: "Farei para eles, naquele Dia, uma Aliança com os animais selvagens, as aves do céu e os répteis da terra. Farei desaparecer da terra o arco, a espada e a guerra, e com segurança fá-los-ei repousar." Os 2,20
    É isso que diz Isaías quando menciona o Nascimento da Igreja, que é a primícia dessa promessa: "Porque de Sião deve sair a Lei, e de Jerusalém, a Palavra do Senhor. Ele será o Juiz das nações, o Governador de muitos povos. De suas espadas forjarão relhas de arados, e de suas lanças, foices. Uma nação não levantará a espada contra outra, e não mais se arrastarão para a guerra. Oh, Casa de Jacó, vinde, caminhemos à Luz do Senhor." Is 2,3b-5
    Pois essa Paz é um dos frutos do Espírito de Deus, o Autor da Graça, derramado no Pentecostes. Diz São Paulo: "Ao contrário, o fruto do Espírito é caridade, alegria, Paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança. Contra estas coisas não há lei." Gl 5,22-23
    É ela que possibilita a Perfeita Unidade, que o Espírito Santo concede à Igreja: "Sede solícitos em conservar a unidade do Espírito no vínculo da Paz." Ef 4,3
    Por isso, ele pede empenho aos fieis, e uma grande consideração para com nossos Sacerdotes, em torno dos quais a comunidade deve permanecer unida para que a Paz de Cristo seja preservada: "Assim, pois, consolai-vos e edificai-vos uns aos outros, como já o fazeis. Suplicamo-vos, irmãos, que reconheçais aqueles que entre vós arduamente trabalham para dirigir-vos e admoestar-vos no Senhor. Tende para com eles singular amor, em vista do cargo que exercem. Conservai a Paz entre vós." 1 Ts 5,11-13
    E quanto ao comportamento dos atuais Sacerdotes, nos primórdios da Igreja chamados de profetas, ele diz que sob estrito controle devem manter seus próprios espíritos, para que daí não surja multiplicidade de 'igrejas'. Ele ordenou sobre os cultos de então, essências de nossa Santa Missa: "Quanto aos profetas, falem dois ou três, e os outros julguem. Se for feita uma revelação a algum dos assistentes, cale-se o primeiro. Todos, um após outro, podeis profetizar, para todos aprenderem e todos serem exortados. O espírito dos profetas deve estar-lhes submisso, porquanto Deus não é Deus de confusão, mas de Paz." 1 Cor 14,29-33
    Mais que isso! Enquanto Corpo Místico de Cristo, devemos oferecer a Paz a todo ser humano: "Se for possível, quanto depender de vós, vivei em Paz com todos homens." Rm 12,18
    Essa deve ser a grande meta de todo cristão: "Portanto, apliquemo-nos a tudo que contribui para a Paz e para a mútua edificação." Rm 14,19
    Assim ele nos garante a Comunhão: "... vivei em Paz, e o Deus de amor e Paz estará convosco." 2 Cor 13,11
    Com efeito, a Paz deve ser fervorosamente desejada, mas desde que vivamos em Comunhão com os membros da Igreja, como ele recomenda a São Timóteo: "Foge das paixões da mocidade, busca com empenho a justiça, a fé, a caridade, a Paz, com aqueles que invocam o Senhor com pureza de coração." 2 Tm 2,22
    É só assim, em mútua edificação, que alcançamos a purificação. É o que diz de São João Evangelista: "Se dizemos ter Comunhão com Ele, mas andamos nas trevas, mentimos e não seguimos a Verdade. Se, porém, andamos na Luz como Ele mesmo está na Luz, temos Comunhão uns com os outros, e o Sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, purifica-nos de todo pecado." 1 Jo 1,6-7
    Porque ela é uma dádiva, uma divina concessão misteriosamente dada àqueles que a solicitam. São Paulo diz aos tessalonicenses: "O Senhor da Paz conceda-vos a Paz, em todo tempo e em todas circunstâncias." 2 Ts 3,16
    Ele exorta-nos, convidando-nos à Unidade da fé e à gratidão a Deus, apontando esse dom como a maior conquista de um cristão neste mundo: ser parte do Corpo Místico de Cristo: "Triunfe em vossos corações a Paz de Cristo, para a qual fostes chamados a formar um só Corpo. E sede agradecidos." Cl 3,15
    E pela contrição ele promete que a vitória assim será concedia a cada um de nós, como escreveu aos romanos: "Vossa obediência tornou-se notória em toda parte, razão pela qual eu me alegro a vosso respeito. O Deus da Paz em breve não tardará a esmagar Satanás debaixo de vossos pés." Rm 16,19-20
    Pois esse é o verdadeiro caminho da santidade: "O Deus da Paz conceda-vos perfeita santidade. Que todo vosso ser, espírito, alma e corpo, seja conservado irrepreensível para a volta de Nosso Senhor Jesus Cristo!" 1 Ts 5,23
    São Tiago Menor dá uma preciosa lição aos que querem viver e anunciar o Evangelho: "Mas se no coração tendes um amargo ciúme e gosto pelas contendas... Esta não é a Sabedoria que vem do alto... O fruto da justiça semeia-se na Paz, para aqueles que praticam a Paz." Tg 3,14a.15a.18
    E exortando às verdadeiras atitudes de fé, abertamente condena a hipocrisia de uma falsa paz: "Se a um irmão ou a uma irmã faltarem roupas e o cotidiano alimento, e algum de vós disser-lhes: 'Ide em Paz, aquecei-vos e fartai-vos', mas não lhes der o necessário para o corpo, de que lhes aproveitará? Assim também a fé: se não tiver obras, em si mesma é morta." Tg 2,15-17
    É muito claro, portanto, o que disse o salmista: "Aparta-te do mal e faze o bem. Busca a Paz e vai ao seu encalço. Os olhos do Senhor estão voltados para os justos, e Seus ouvidos atentos a seus clamores." Sl 33,15-16
    Versando sobre essa preciosa dádiva, São Pedro é incisivo: "... busque a Paz e siga-a." 1 Pd 3,11
    Por fim, quando da Aparição de Fátima, embora se referindo a bem específica situação que era o fim da Primeira e da Segunda Guerra Mundial, Nossa Senhora recomendou-nos a piedade como o principal meio para essa conquista, como já demonstraram tantos Santos e Santas: "Rezem o Terço todos dias, para alcançarem a Paz..."
    São Paulo pregava, pois, a ativa religiosidade: "Exercita-te na piedade. Se o exercício corporal traz algum pequeno proveito, a piedade, esta sim, é útil para tudo, porque tem a promessa da presente e da futura Vida." 1 Tm 4,8
    Por tão importante Graça, na Santa Missa o padre reza a Oração pela Paz durante o Rito da Comunhão:

    "Senhor Jesus Cristo, dissestes a Vossos Apóstolos: 'Eu deixo-vos a Paz, Eu dou-vos Minha Paz.' Não olheis nossos pecados, mas a fé que anima Vossa Igreja; dai-lhe, segundo Vosso desejo, a Paz e a Unidade. Vós, que sois Deus, com o Pai e o Espírito Santo."

    À qual a assembleia responde "Amém", e em seguida todos rezam o Agnus Dei:

    Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós!
    Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós!
    Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo, dai-nos a Paz!