sábado, 8 de março de 2025

Textos para Celular

 
Anuário de Leituras Bíblicas

Acesso: dizemasescrituras.blogspot.com

A Divina Misericórdia


    Pelo imenso amor que Deus nos tem, sabemos que podemos contar com Sua compaixão a qualquer momento nessa vida. Essa paternal solicitude é facilmente percebida pelo carinhoso modo como Jesus O chamava, usando o termo 'paizinho' em aramaico, enquanto agonizava no Horto das Oliveiras. O Evangelho segundo São Marcos anotou: "'Aba!', suplicava Ele. 'Tudo Te é possível!'" Mc 14,36
    Senso comum, há muito o Livro de Salmos já atestava: "Louvai o Senhor porque Ele é bom, e Sua Misericórdia é eterna." Sl 105,1
    E para bem fixarmos esse atributo do Pai, o Salmo 135 repete ao fim de cada novo versículo: "... porque eterna é Sua Misericórdia."
    O Livro de Eclesiástico considerou-a tão grande quanto Ele mesmo: "... pois tamanha é Sua grandeza, tão grande é Sua Misericórdia!" Eclo 2,23
    O Segundo Livro de Macabeus vai ainda mais longe, categoricamente dizendo: "... Ele jamais retira de nós Sua Misericórdia. Ainda quando corrige com a desventura, Ele não abandona Seu povo." 2 Mb 6,16
    E como todos já devemos ter percebido, Ele demora a irritar-Se. De seu íntimo contato com Ele, Moisés disse no Livro de Êxodo: "Deus compassivo e misericordioso, lento para a cólera..." Êx 34,6
    A Segunda Carta de São Pedro, de fato, registrou, dizendo do Juízo, seja Particular, seja Final: "O Senhor não retarda o cumprimento de Sua promessa, como alguns pensam, mas usa de paciência para convosco. Não quer que alguém pereça. Ao contrário, quer que todos se arrependam." 2 Pd 3,9
    Tal compreensão suscita um diferenciado comportamento, como se vê na Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios: "Fazei como eu: em todas circunstâncias procuro agradar a todos. Não busco meus próprios interesses, mas os interesses dos outros, para que todos sejam salvos." 1 Cor 10,33
    É exatamente isso que Jesus ensina no Sermão da Montanha, apontado no Evangelho segundo São Mateus: "Tendes ouvido o que foi dito: 'Amarás teu próximo e poderás odiar teu inimigo.' Eu, porém, digo-vos: amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos maltratam e perseguem. Deste modo, sereis os filhos de Vosso Pai do Céu, pois Ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos." Mt 5,43-45
    E se Deus é lento para irar-Se, não significa que seja ineficaz ou injusto. Analisando apenas pela rapidez, seja para perdoar, seja para punir, o Eclesiástico adverte-nos do erro da presunção: "Não digas: 'Pequei, e o que me aconteceu de mal?', pois o Senhor é lento para castigar. A propósito de um pecado perdoado, não estejas sem temor, e não acrescentes pecado sobre pecado. Não digas: 'A Misericórdia do Senhor é grande, Ele terá piedade da multidão de meus pecados', pois piedade e cólera são n'Ele igualmente rápidas, e Seu furor visa os pecadores. Não demores em converter-te ao Senhor, não adies de dia em dia, pois Sua cólera virá de repente, e Ele perdê-te-á no Dia do Castigo." Eclo 5,4-10
    No Livro do Profeta Isaías, pois, o Pai Eterno revelou um flagrante de Sua reação contra os pecados de Jerusalém: "Num acesso de cólera, de ti volvi Minha face. Mas em Meu eterno amor, tenho compaixão de ti." Is 54,8
    E o Livro de Sabedoria pondera: "Mostrais Vossa força aos que não creem no Vosso poder, e confundis os que não a conhecem e ousam afrontá-la. Mas, dominando Vossa força, julgais com bondade e governai-nos com grande indulgência, porque sempre Vos é possível empregar Vosso poder quando quiserdes. Agindo desta maneira, mostrastes a Vosso povo que o justo deve ser cheio de bondade, e inspirastes a Vossos filhos a boa esperança de que, após o pecado, lhes dareis tempo para a penitência. Porque, se os inimigos de Vossos filhos, dignos de morte, Vós os haveis castigado com tanta prudência e longanimidade, dando-lhes tempo e ocasião para emendarem-se, com quanto cuidado não julgareis Vós Vossos filhos, a cujos antepassados concedestes com juramento Vossa Aliança, repleta de ricas promessas?" Sb 12,17-21
    Jesus, ademais, usou de Sua autoridade para reafirmar a compaixão como mais valiosa que qualquer ritual, citando palavras de Deus do Livro do Profeta Oseias, perante os fariseus: "Ide e aprendei o que significam estas palavras: 'Eu quero Misericórdia e não sacrifício (Os 6,6)'". Mt 9,13
    Também condenou, em últimas pregações em Jerusalém, os mecânicos rituais que põem de lado a Verdade, a compaixão e a obediência: "Ai de vós, hipócritas escribas e fariseus! Pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e desprezais os mais importantes preceitos da Lei: a justiça, a Misericórdia, a fidelidade." Mt 23,23
    Porque nossas ofertas não são bem aceitas por Deus se não vivemos em Paz com o próximo. Com as Bem-Aventuranças, Jesus ensinou que, estejamos errados ou não, em casos de intrigas sempre devemos tomar a iniciativa de pedir perdão a nossos irmãos: "Se estás, portanto, para fazer tua oferta diante do altar, e lembrares que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá tua oferta diante do altar e primeiro vai reconciliar-te com teu irmão. Só então vem fazer tua oferta." Mt 5,23-24
    E com toda propriedade, enquanto Deus, creditou o exorcismo que Ele operou em um possesso à Divina Misericórdia: "'Vai para casa, para junto dos teus, e anuncia-lhes tudo que o Senhor fez por ti, em Sua Misericórdia.' Foi-se ele e começou a publicar, na Decápole, tudo que Jesus lhe havia feito. E todos se admiravam." Mc 5,19-20
    Demonstrou, enfim, Ele mesmo Sua Misericórdia, em momento de Seu maior sofrimento, pedindo ao Pai por aqueles que O crucificavam. Está no Evangelho segundo São Lucas: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.” Lc 23,34a
    Em sua puríssima inspiração, Maria Santíssima também falou sobre a divina compaixão. Foi quando cantou o Magnificat, que ela mesma compôs a partir de suas frequentes leituras das Escrituras: "... e Sua Misericórdia estende-se de geração em geração sobre aqueles que O temem." Lc 1,50
    E é isso que Nossa Senhora representa para os cristãos, como dizemos na oração; "Salve Rainha, mãe de Misericórdia..."
    Deus até pareceu ser arbitrário numa resposta que deu a Moisés, quando este grande Profeta pediu para ver Sua Glória, o que lhe foi negado, porque morreria: "... pois dou MInha Graça a quem Eu quero dar Minha Graça, e uso de Misericórdia com quem Eu quero usar de Misericórdia." Êx 33,19
    E chegou mesmo a suspendê-la, como se lê no Livro do Profeta Jeremias, claramente instruindo-o antes da destruição de Jerusalém e do Templo, e do exílio da Babilônia: "E disse, ainda, o Senhor: 'Não entres em casa em que haja luto, para chorar com seus moradores, porque - Oráculo do Senhor - desse povo retiro Minha Paz, Minha proteção e Minha Misericórdia.'" Jr 16,5
    Não foi acaso, pois Ele tornou a repetir falando diretamente ao povo de Israel: "Eu lançá-vos-ei para fora desta terra, numa terra que vós e vossos pais não conhecestes. Lá servireis a outros deuses, de dia e de noite, pois Eu não usarei mais Misericórdia convosco."Jr 16,13
    De fato, como a Carta de São Paulo aos Romanos traz, Ele sabe muito bem, em Sua justiça, a quem a favorece: "... mostrando as riquezas de Sua Glória para com aqueles que são objeto de Sua Misericórdia..." Rm 9,23
    Pois como este Apóstolo descreveu a experiência de judeus e de não judeus, todos nós devemos aprender com os erros uns dos outros. Ele disse aos gentios, referindo-se aos judeus: "Assim como vós antes fostes desobedientes a Deus, e agora obtivestes Misericórdia com a desobediência deles, assim agora eles são incrédulos, em conseqüência da Misericórdia feita a vós, para que mais tarde eles também alcancem, mais uma vez, a Misericórdia. Deus encerrou a todos na desobediência, para com todos usar de Misericórdia. Ó abismo de riqueza, de Sabedoria e de ciência em Deus! Quão impenetráveis são Seus juízos e inexploráveis Seus Caminhos!" Rm 11,30-32
    E a Carta de São Paulo a São Timóteo cita sua própria história, que foi perseguidor da Santa Igreja: "Se encontrei Misericórdia, foi para que Jesus Cristo manifestasse toda Sua longanimidade primeiro em mim, e eu servisse de exemplo para todos aqueles que, a seguir, n'Ele crerem, para a Vida Eterna." 1 Tm 1,16
    Ora, a Sabedoria explica que essa compaixão do Pai se dá pela sutil presença do Espírito Santo em Seus filhos, que trabalha para nossa Salvação: "Vosso Incorruptível Espírito está em todos. É por isso que com brandura castigais aqueles que caem e os advertis mostrando-lhes em que pecam, a fim de que rejeitem sua malícia e creiam em Vós, Senhor." Sb 12,1-2
    Nosso renascer pelas Água do Batismo e pela Confirmação da Crisma, portanto, bem como nossa esperança, são dádivas de Seu amor, e para o mesmo fim. A Primeira Carta de São Pedro diz: "Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo. Em Sua grande Misericórdia, pela Ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, Ele fez-nos nascer de novo, para uma viva esperança, para uma incorruptível herança, que não se mancha nem murcha, e que é reservada para vós nos Céus." 1 Pd 1,3-4
    E assim é a própria Salvação, que não nos é dada por nosso merecimento. A Carta de São Paulo a São Tito diz: "E não por causa de obras de justiça que tivéssemos praticado, mas unicamente em virtude de Sua Misericórdia, Ele salvou-nos..." Tt 3,5
    A Carta de São Judas, no mesmo sentido, atribui à Divina Misericórdia a Graça de entrarmos para a eternidade: "Conservai-vos no amor de Deus, aguardando que a Misericórdia de Nosso Senhor Jesus Cristo nos conceda a Vida Eterna." Jd 1,21
    E a Carta de São Tiago garante que, se nós também usarmos de compaixão para com nossos semelhantes, não precisaremos temer o Juízo: "A Misericórdia triunfa sobre o Julgamento." Tg 2,13b
    Contudo, igualmente adverte: "Haverá Juízo sem Misericórdia para aquele que não usou de Misericórdia." Tg 2,13a


"SEM LIMITES É SUA MISERICÓRDIA"

    Jesus teria avisado, porém, de um pecado que não teria perdão: "Mas quem blasfemar contra o Espírito Santo nunca será perdoado, pois a culpa desse pecado dura para sempre." Mc 3,29
    Mas, à luz do próprio Espírito Santo, que inspirou as Escrituras, a Igreja Católica sempre entendeu que Ele falava do perdão gratuitamente oferecido por Deus, que é dado mesmo sem que seja pedido. Para este pecado, portanto, é necessário que haja o arrependimento do pecador, ou seja, a Confissão, pois, para que Sua Misericórdia possa ser manifesta num ato concreto, e por ser a reconciliação com Deus em essência a missão da Igreja, Jesus instituiu este Sacramento, oferecendo a Seus Sacerdotes, note-se, total e absoluta autonomia para decidir sobre o perdão. É leitura do Evangelho segundo São João: "Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: 'Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, sê-lhes-ão perdoados. Àqueles a quem os retiverdes, sê-lhes-ão retidos.'" Jo 20,22-23
    Com efeito, através do Profeta Isaías, por uma sincera conversão Deus prometeu o impensável ao quase sempre empedrado coração humano: "Se vossos pecados forem escarlates, tornar-se-ão brancos como a neve! Se forem vermelhos como a púrpura, ficarão brancos como a lã!" Is 1,18b
    O salmista até tentou estabelecer um parâmetro: "O Senhor é bom e misericordioso, lento para a cólera e cheio de clemência. Ele não está sempre a repreender, nem é eterno Seu ressentimento. Não nos trata segundo nossos pecados, nem nos castiga em proporção de nossas faltas, porque tanto os Céus distam da Terra quanto Sua Misericórdia é grande para os que O temem. Tanto o Oriente dista do Ocidente quanto Ele afasta de nós nossos pecados." Sl 102,8-12
    Pois mediante pedido de perdão, não existe pecado que Ele não perdoe. O salmista canta: "... sem limites é Sua Misericórdia... " Sl 116,2
    Do contrário, Jesus não nos teria ensinado a perdoar infinitamente: "Se teu irmão pecar, repreende-o; se se arrepender, perdoa-lhe. Se pecar sete vezes no dia contra ti, e sete vezes no dia vier procurar-te, dizendo: 'Estou arrependido', perdoa-lhe." Lc 17,3-4
    E tão surpreendente foi esse ensinamento que, em outra situação, São Pedro quis compreendê-lo com mais precisão: "Então Pedro se aproximou d'Ele e disse: 'Senhor, quantas vezes devo perdoar a meu irmão, quando ele pecar contra mim? Até sete vezes?' Respondeu Jesus: 'Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete.'" Mt 18,21-22
    Sem dúvida, ao bom ladrão, que não foi batizado e arrependeu-se apenas quando já estava crucificado, Jesus garantiu, dependurado na Santa Cruz do Monte Calvário: "Em Verdade, digo-te: hoje mesmo estarás Comigo no Paraíso." Lc 23,43
    E a mulher flagrada em adultério, condição que o Antigo Testamento prevê apedrejamento, Ele também tratou com compaixão, embora lhe tenha dado um aviso: "'Mulher, onde estão os que te acusavam? Ninguém te condenou?' Respondeu ela: 'Ninguém, Senhor.' Então lhe disse Jesus: 'Nem Eu te condeno. Vai e não tornes a pecar.'" Jo 8,11
    Foi isso, pois, o que Ele pediu ao doutor da Lei, que questionou quem seria seu próximo quando contou a parábola do bom samaritano: "'Qual destes três parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos ladrões?' Respondeu o doutor: 'Aquele que usou de Misericórdia para com ele.' Então lhe disse Jesus: 'Vai, e faze tu o mesmo.'" Lc 10,36-37
    Para convencer-nos da absoluta importância desta prática, Jesus evocou o exemplo do próprio Pai ainda no início de Sua Missão: "Sede misericordiosos, como Vosso Pai também é misericordioso." Lc 6,36
    E recomendou-a em todas nossas orações: "E quando vos puserdes de pé para orar, perdoai, se tiverdes algum ressentimento contra alguém, para que Vosso Pai, que está nos Céus, também vos perdoe vossos pecados." Mc 11,25
    Não por acaso, Ele ensinou a pedir no Pai Nosso, que deve ser ao menos uma diário oração: "... perdoai nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido..." Mt 6,12
    E deu luminosos exemplos do amor que brota como fruto do perdão, que bem retratam a compaixão do Pai Celeste: "Uma pecadora mulher da cidade, quando soube que estava à mesa em casa do fariseu, trouxe um vaso de alabastro cheio de perfume, e, estando a Seus pés, por detrás d'Ele, começou a chorar. Pouco depois suas lágrimas banhavam os pés do Senhor, e ela enxugava-os com os cabelos, beijava-os e ungia-os com o perfume. Ao presenciar isto, o fariseu, que O tinha convidado, dizia consigo mesmo: 'Se Este Homem fosse Profeta bem saberia quem e qual é a mulher que O toca, pois é pecadora.' Então Jesus lhe disse: 'Simão, tenho uma coisa a dizer-te.' 'Fala, Mestre', disse ele. 'Um credor tinha dois devedores: um devia-lhe quinhentos denários e o outro, cinquenta. Não tendo eles com que pagar, a ambos perdoou as dívidas. Qual deles o amará mais?' Simão respondeu: 'A meu ver, aquele a quem ele mais perdoou.' Jesus replicou-lhe: 'Julgaste bem.' E voltando-Se para a mulher, disse a Simão: 'Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não Me deste água para lavar os pés, mas esta, com suas lágrimas regou-Me os pés e enxugou-os com seus cabelos. Não Me deste o ósculo, mas esta desde que entrou não cessou de beijar-Me os pés. Não Me ungiste a cabeça com óleo, mas esta com perfume ungiu-Me os pés. Por isso, digo-te: seus numerosos pecados foram-lhe perdoados, porque ela tem demonstrado muito amor. Mas ao que pouco se perdoa, pouco ama.'" Lc 7,37-47
    São Mateus, no mesmo tema, narrou esta parábola de Jesus: "Por isso, o Reino dos Céus é comparado a um Rei que quis ajustar contas com Seus servos. Quando começou a ajustá-las, trouxeram-Lhe um que Lhe devia dez mil talentos. Como ele não tinha com que pagar, Seu Senhor ordenou que fosse vendido, ele, sua mulher, seus filhos e todos seus bens para pagar a dívida. Este servo, então, prostrou-se por terra diante d'Ele e suplicava-Lhe: 'Dá-me um prazo e eu pagá-te-ei tudo!' Cheio de compaixão, o Senhor deixou-o ir embora e perdoou-lhe a dívida. Apenas saiu dali, encontrou um de seus companheiros de serviço que lhe devia cem denários. Agarrou-o na garganta e quase estrangulou-o, dizendo: 'Paga o que me deves!' O outro caiu-lhe aos pés e pediu-lhe: 'Dá-me um prazo e eu pagá-te-ei!' Mas, sem nada querer ouvir, este homem fez lançá-lo na prisão, até que tivesse pago sua dívida. Vendo isso, os outros servos, profundamente tristes, vieram contar a Seu Senhor o que se tinha passado. Então, o Senhor chamou-o e disse-lhe: 'Mau servo, Eu perdoei-te toda dívida porque Me suplicaste. Não devias tu também te compadecer de teu companheiro de serviço, como Eu tive piedade de ti?' E o Senhor, encolerizado, entregou-o aos algozes, até que pagasse toda sua dívida. Assim vos tratará Meu Pai Celeste, se cada um de vós não perdoar a seu irmão, de todo seu coração." Mt 18,23-35
    Com efeito, Nosso Salvador usou desse procedimento para com Zaqueu: "Jesus entrou em Jericó e ia atravessando a cidade. Aí havia um muito rico homem chamado Zaqueu, chefe dos cobradores de impostos. Ele procurava ver Quem era Jesus, mas não o conseguia por causa da multidão, porque era de baixa estatura. Ele correu adiante e subiu em um sicômoro, para vê-Lo quando por ali passasse. Chegando Jesus àquele lugar e levantando os olhos, viu-o e disse-lhe: 'Zaqueu, desce depressa, porque é preciso que hoje Eu fique em tua casa.' Ele desceu a toda pressa e alegremente recebeu-O. Vendo isto, todos murmuravam e diziam: 'Ele vai hospedar-se em casa de um pecador...' Zaqueu, entretanto, de pé diante do Senhor, disse-Lhe: 'Senhor, vou dar a metade de meus bens aos pobres e, se tiver defraudado alguém, restituirei o quádruplo.' Disse-lhe Jesus: 'Hoje a Salvação entrou nesta casa, porquanto este também é filho de Abraão. Pois o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido.'" Lc 19,1-10
    E eis que a Carta de São Paulo aos Colossenses vai pedir: "Portanto, como eleitos de Deus, santos e queridos, revesti-vos de entranhada Misericórdia, de bondade, humildade, doçura, paciência. Suportai-vos uns aos outros e mutuamente perdoai-vos toda vez que tiverdes queixa contra outrem. Como o Senhor vos perdoou, também perdoai vós." Cl 3,12-13
    Ele lista a falta de Misericórdia como resultado da perda da Graça: "Como não se preocupassem em adquirir o conhecimento de Deus, Ele entregou-os a depravados sentimentos, e daí seu indigno procedimento. São insensatos, desleais, sem coração, sem Misericórdia." Rm 1,28.31
    Ela, aliás, é uma das marcas da Divina Sabedoria, e, segundo São Tiago Menor, essencial para alcançar a Paz de Cristo: "A Sabedoria, porém, que vem de cima, primeiramente é pura, depois pacífica, condescendente, conciliadora, cheia de Misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, nem fingimento. O fruto da justiça semeia-se na Paz, para aqueles que praticam a Paz." Tg 3,17-18
    E neste exercício de piedadeSão Judas Tadeu exigia empenho: "Para com uns exercei vossa Misericórdia, repreendendo-os, e a outros salvai-os, arrebatando-os do fogo. Dos demais tende compaixão, perpassada de temor a Deus, detestando até a túnica manchada pela carne." Jd 22-23
    O Apóstolo dos Gentios, sempre usando de poderosa argumentação, assegura: "Mas eis aqui uma brilhante prova do amor de Deus por nós: quando ainda éramos pecadores, Cristo morreu por nós. Se, quando ainda éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus pela Morte de Seu Filho, com muito mais razão, já estando reconciliados, seremos salvos por Sua Vida." Rm 5,8-10
    Em suas profundas reflexões, o sagrado autor do Livro da Sabedoria deparou-se com ainda mais radiosa compreensão do infinito amor de Deus: "Tendes compaixão de todos, porque Vós podeis tudo. E para que se arrependam, fechais os olhos aos pecados dos homens. Porque amais tudo que existe, e não odiais nada do que fizestes, porquanto, se o odiásseis, não o teríeis feito de modo algum. Como poderia subsistir qualquer coisa, se não o tivésseis querido, e conservar a existência, se por Vós não tivesse sido chamada? Mas poupais todos seres, porque todos são Vossos, ó Senhor, que amais a vida." Sb 11,23-26
    De fato, falando através do Profeta Isaías, Deus demonstrou mais que maternal, verdadeiramente uma divina afeição por Seu povo: "Pode uma mulher esquecer-se daquele que amamenta? Não ter ternura pelo fruto de suas entranhas? E mesmo que ela o esquecesse, Eu jamais te esqueceria." Is 49,15
    E Nossa Mãe Celestial fez esta importante revelação a Santa Brígida da Suécia: "... há de haver justiça e misericórdia em tua esperança. Desta forma, esperarás na Misericórdia de Deus porque não esquecerás Sua justiça. Pensa em Sua justiça e em Seu Juízo de forma que não esqueças Sua Misericórdia, porque Ele não usa a justiça sem Misericórdia nem a Misericórdia sem justiça." (Livro I, Capítulo VII)
    O próprio Jesus disse a esta Santa: "O que é o frio da alma se não a dureza a respeito de Meu amor? Obras de Misericórdia são eficazes contra tal frieza, envolvendo a alma para que ela não pereça pelo frio. Através destas obras, Deus visita a alma, e a alma aproxima-se sempre mais de Deus." (Livro II, Capítulo XXVI)
    Por fim, e em confirmação ao Sacramento da Confissão, na aparição de Jesus à Santa Faustina, quando lhe pediu para divulgar a Festa da Misericórdia, Ele sentenciou: "A humanidade não terá Paz enquanto não se voltar à fonte de Minha Misericórdia." (Diário, 699)

    "Como é grande, ó Pai, Vossa Misericórdia!"

sexta-feira, 7 de março de 2025

Devoção ao Sagrado Coração de Jesus

    A primeira sexta-feira de cada mês é dia de comungar em honra ao Sagrado Coração de Jesus, e assim durante nove meses seguidos, para alcançar a Graça da penitência final e mais 11 promessas, como Ele mesmo revelou através de aparições a Santa Margarida-Maria Alacoque.

O Sacramento da Confissão


    Quando se fala em penitência, a primeira ideia que vem em mente são os sacrifícios físicos, como mera punição. Mas o sentido de penitenciar-se é bem diferente: é forçar a verdadeira mudança de vida, a transformação interior, e a melhor palavra para descrever essa renovação é conversão.
    Insensatamente, tem-se renegado a mais sincera demonstração de conversão que é a Confissão, a efetiva admissão de culpa. Como poderíamos ser perdoados por Deus se não reconhecemos nossos erros? Se não admitimos exatamente em que erramos? O Livro de Eclesiástico já recomendava esse imprescindível exercício de : "Meu filho, aproveita-te do tempo, evita o Mal. Para o bem de tua alma, não te envergonhes de dizer a Verdade, pois há uma vergonha que conduz ao pecado e uma vergonha que atrai Glória e Graça. Não te mostres parcial, causando tua própria perdição, não mintas em prejuízo de tua alma. De nenhum modo contradigas a Verdade, envergonha-te da mentira cometida por ignorância. Não te envergonhes de confessar teus pecados, não te oponhas à correnteza do rio." Eclo 4,23-26.30-31
    Esconder os pecados, segundo este sagrado autor, pode representar a própria desgraça: "Oh! Quanto melhor é admoestar que se irritar, e não impedir de falar quem quer confessar sua falta! Como é bom que o corrigido manifeste seu arrependimento! Pois assim se evita um voluntário pecado. Há quem ache sua perdição diante da Glória, e há quem levante a cabeça após uma humilhação." Eclo 20,1.4.11
    Para manter Sua Aliança com Israel, o próprio Deus exigia a confissão dos pecados, mesmo que para isso o povo tivesse que ser dizimado e levado em cativeiro, como aconteceria perante os assírios e os babilônios. O Livro de Levítico anotou: "Perecereis entre as nações e a terra inimiga consumi-vos-á. Os que sobreviverem consumir-se-ão por causa de suas iniquidades na terra de seus inimigos, e também serão consumidos por causa das iniquidades de seus pais, que levarão sobre si. Assim, eles confessarão suas iniquidades e as de seus pais, as transgressões cometidas contra Mim, porque Me resistiram. Por isso, Eu também lhes resisti e os levei à terra de seus inimigos. Se, então, humilharem seu incircunciso coração e sofrerem a pena de sua iniquidade, Eu lembrar-Me-ei de Minha Aliança com Jacó, de Minha Aliança com Isaac e com Abraão, e lembrar-Me-ei dessa terra." Lv 26,38-42
    Ora, o Livro de Números continha tal previsão contra as ofensas ao próximo e ao Senhor: "O Senhor disse a Moisés: 'Dize aos israelitas: se um homem ou uma mulher causa qualquer prejuízo a seu próximo, assim se tornando culpado de uma infidelidade para com o Senhor, ele confessará sua falta e integralmente restituirá o objeto do delito, ajuntando um quinto a mais àquele que foi lesado.'" Nm 5,5-7
    No Livro de Josué, este sucessor de Moisés usou deste expediente para com aqueles que contrariaram as ordens de Deus durante batalha contra a cidade de Jericó: "Os israelitas cometeram uma infidelidade a respeito do interdito. Acã, filho de Carmi, filho de Zabdi, filho de Zara, da tribo de Judá, reteve para si algumas coisas condenadas, e a cólera do Senhor inflamou-se contra os israelitas. Josué disse-lhe: 'Meu filho, dá Glória e homenagem ao Senhor, Deus de Israel! Confessa-me o que fizeste, sem nada ocultar.'" Js 7,1.19
    Também aconteceu durante a batalha contra os filisteus, quando Jônatas violou as juras que o rei Saul havia feito a Deus, sobre si atraindo maldição de morte, mas acabou absolvido pelo povo. É do Primeiro Livro de Samuel: "'Confessa-me o que fizeste', disse Saul a seu filho. Jônatas contou-lhe: 'Provei um pouco de mel com a ponta da vara que eu tinha na mão. Eis que vou morrer!'" 1 Sm 14,43
    E assim o povo de Israel adotou esse ritual desde a fundação do judaísmo, como foi exigido daqueles que se casavam com estrangeiras, no Livro de Neemias: "No vigésimo quarto dia do mesmo mês, vestidos de sacos e com a cabeça coberta de pó, os israelitas reuniram-se para um jejum. Os que eram de origem israelita estavam separados de todos estrangeiros, e apresentaram-se para confessar seus pecados e as iniquidades de seus pais." Ne 9,1-2
    Sem dúvida, como poderíamos aproximar-nos de Deus, sequer para prestar-Lhe culto, sem antes nos purificarmos? Na Carta aos Hebreus, os seguidores da tradição de São Paulo falaram dessa condição: "E dado que temos um Sumo-Sacerdote (Jesus) estabelecido sobre a Casa de Deus, acheguemo-nos a Ele com sincero coração, com plena firmeza da fé, o mais íntimo da alma isento de toda mácula de pecado e o corpo lavado com a purificadora Água do Batismo." Hb 10,21-22
    A palavra Sacramento vem do termo grego 'mysterion', ou seja, os Sacramentos da Santa Igreja Católica são mistérios. Assim, a Hóstia Consagrada, a Água do Batismo, os Santos Óleos do Batismo, da Crisma e da Extrema Unção e as Alianças do Matrimônio são partes visíveis de invisíveis eventos realizados por Deus. O Livro de Sabedoria já ensinava: "São por natureza insensatos todos que desconheceram a Deus, e através dos visíveis bens não souberam conhecer Aquele que é, nem reconhecer o Artista, considerando Suas obras." Sb 13,1
    E o Eclesiástico também apregoa: "Jamais te glories de tuas vestes, nem te engrandeças no dia em que fores homenageado, pois só as obras do Altíssimo são admiráveis, dignas de Glória, misteriosas e invisíveis." Eclo 11,4
    A Confissão, pois, também é um Sacramento, e por isso uma celebração. Chama-se Sacramento da Penitência, da Conversão ou da Reconciliação, e também é comum ouvirmos falar em arrependimento e em contrição, mas não é difícil entender o porquê de tantos nomes, pois todo arrependimento é uma forma de contrição, e quem realmente se arrepende confessa, quem confessa já está se penitenciando, quem se penitencia quer converter-se e quem se converte reconcilia-se com Deus. A Carta de São Paulo aos Romanos exalta essa preciosa Graça que nos é alcançada pelo Sangue de Cristo, bem como pela consequente Salvação: "Portanto, muito mais agora, que estamos justificados por Seu Sangue, por Ele seremos salvos da ira. Se, quando éramos ainda inimigos, fomos reconciliados com Deus pela Morte de Seu Filho, com muito mais razão, estando já reconciliados, seremos salvos por Sua Vida." Rm 5,9-10
    E essa Reconciliação, tão facilmente concedida, basta querer, é mais uma prova do imenso amor que Deus nos tem. Jesus, que é a própria Divina Misericórdia, disse a um fariseu no Evangelho segundo São Lucas: "Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não Me deste água para lavar os pés, mas esta, com suas lágrimas, regou-Me os pés e enxugou-os com seus cabelos. Não Me deste o ósculo, mas esta, desde que entrou, não cessou de beijar-Me os pés. Não Me ungiste a cabeça com óleo, mas esta, com perfume, ungiu-Me os pés. Por isso, digo-te: seus numerosos pecados foram-lhe perdoados, porque ela tem demonstrado muito amor. Mas a quem pouco se perdoa, pouco ama." Lc 7,44-47


3 ATOS E A ABSOLVIÇÃO

    O Sacramento da Penitência é constituído de 3 atos do penitente e da absolvição dada pelo padre. Os atos são: o arrependimento, na intimidade da consciência, a confissão ao padre, à qual se junta a promessa de cumprir a penitência por ele estabelecida, e as obras de reparação, que é a penitência propriamente dita. Fora os Sacerdotes, pelo que foi revelado, só mesmo um anjo da mais alta hierarquia foi visto ministrando esse Sacramento em Nome de Deus, como aconteceu com no Livro do Profeta Isaías: "'Ai de mim', gritava eu. 'Estou perdido porque sou um homem de impuros lábios, e habito com um povo também de impuros lábios, e, entretanto, meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos!' Porém, um dos serafins voou em minha direção. Na mão trazia uma viva brasa, que tinha tomado do Altar com uma tenaz. Aplicou-a em minha boca e disse: 'Tendo esta brasa tocado teus lábios, teu pecado foi tirado, e tua falta, apagada.'" Is 6,5-7
    E tão grande é a importância da penitência que, logo ao iniciar Sua vida pública, foram essas as primeiras palavras de Jesus, e assim o primeiro Sacramento que Ele anunciou e exigiu. Está no Evangelho segundo São Marcos: "Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Fazei penitência e crede no Evangelho." Mc 1,15
    Tão importante fato também foi da observação do Evangelho segundo São Mateus: "Desde então Jesus começou a pregar: 'Fazei penitência, pois o Reino dos Céus está próximo.'" Mt 4,17
    E rebatendo toda soberba, aqui de fariseus e escribas, Nosso Senhor dedicou Sua Vinda a quem assumidamente deseja a conversão: "Não vim chamar os justos à conversão, mas sim os pecadores." Lc 5,32
    De fato, Ele não poderia ser mais claro, como fez antes de entrar em Jerusalém no Domingo de Ramos: "Jesus ainda lhes disse esta parábola a respeito de alguns que se vangloriavam, como se fossem justos, e desprezavam os outros: 'Subiram dois homens ao Templo para orar. Um era fariseu, o outro, publicano. O fariseu, em pé, em seu interior orava desta forma: 'Graças Vos dou, ó Deus, que não sou como os demais homens: ladrões, injustos e adúlteros. Nem como o publicano que ali está. Jejuo duas vezes na semana e pago o dízimo de todos meus lucros.' O publicano, porém, mantendo-se à distância, sequer ousava levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: 'Ó Deus, tende piedade de mim, que sou pecador!' Digo-vos: este voltou para casa justificado, e o outro não. Pois todo aquele que se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado.'" Lc 18,9-14
    E demonstrou como é sublime a Divina Misericórdia, ao colocá-la à frente de qualquer cura que se possa obter, ainda em Seu ministério em Galileia, na cidade de Cafarnaum, na casa de São Pedro: "Eis que Lhe apresentaram um paralítico estendido numa padiola. Jesus, vendo a fé daquela gente, disse ao paralítico: 'Meu filho, coragem! Teus pecados são-te perdoados.' Ouvindo isto, alguns escribas murmuraram entre si: 'Este homem blasfema.' Jesus, penetrando-lhes os pensamentos, perguntou-lhes: 'Por que pensais mal em vossos corações? Que é mais fácil dizer: Teus pecados são-te perdoados, ou: Levanta-te e anda? Ora, para que saibais que na Terra o Filho do Homem tem o poder de perdoar os pecados: Levanta-te', disse Ele ao paralítico, 'toma tua maca e volta para tua casa.' Levantou-se aquele homem e foi para sua casa. Vendo isto, a multidão encheu-se de medo e glorificou a Deus, por ter dado tal poder aos homens." Mt 9,2-8
    Contudo, Seus milagres também devem levar à conversão, como Ele sentenciou as cidades em volta do Mar da Galileia: "Depois Jesus começou a censurar as cidades, onde tinha feito grande número de Seus milagres, por terem-se recusado a arrepender-se: 'Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque se em Tiro e Sidônia tivessem sido feitos os milagres que em vosso meio foram feitos, há muito tempo elas ter-se-iam arrependido sob o cilício e a cinza. Por isso, digo-vos: no Dia do Juízo haverá menor rigor para Tiro e Sidônia que para vós! E tu, Cafarnaum, serás elevada até o Céu? Não! Serás atirada ao inferno! Porque se Sodoma tivesse visto os milagres que foram feitos dentro de teus muros, até este dia subsistiria. Por isso, digo-te: no Dia do Juízo haverá menor rigor para Sodoma do que para ti!'" Mt 11,20-24
    O Sacramento da Confissão, portanto, foi declarado por Ele como principal finalidade da Nova Aliança, e exatamente no momento em que instituiu a Eucaristia, que é o Sacramento dos Sacramentos: "Durante a refeição, Jesus tomou o pão, benzeu-O, partiu-O e deu-O aos discípulos, dizendo: 'Tomai e comei, isto é Meu Corpo.' Depois tomou o Cálice, rendeu graças e deu-lhO, dizendo: 'Bebei dele todos, porque isto é Meu Sangue, o Sangue da Nova Aliança, derramado por muitos homens para a remissão dos pecados.'" Mt 26,26-28
    Eis que a Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios adverte da suma importância da Confissão antes de comungar, para quem está em pecado mortal: "Portanto, todo aquele que indignamente comer o Pão ou beber o Cálice do Senhor, será culpável do Corpo e do Sangue do Senhor. Que cada um se examine a si mesmo, e assim coma desse Pão e beba desse Cálice. Aquele que o come e o bebe sem distinguir o Corpo do Senhor, come e bebe sua própria condenação. Esta é a razão porque entre vós há muitos adoentados e fracos, e muitos mortos." 1 Cor 11,27-30
    A Carta de São Paulo aos Gálatas também falou exame do consciência: "Cada um examine seu procedimento." Gl 6,4a
    Pedia sinceridade: "Examinai-vos a vós mesmos, se estais na fé. Provai-vos a vós mesmos." 2 Cor 13,5a
    
Disse do bem da penitência pela Confissão: "Se nos examinássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas sendo julgados pelo Senhor, Ele castiga-nos para não sermos condenados com o mundo." 1 Cor 11,31-32
    Já no Livro de Atos dos Apóstolos, depois que os Doze foram presos e miraculosamente libertados, São Pedro fez essa bela síntese da Missão de Jesus perante o Sinédrio, em evidência colocando a penitência: "O Deus de nossos pais ressuscitou Jesus, que vós matastes, suspendendo-O num madeiro. Deus elevou-O pela mão direita como Príncipe e Salvador, a fim de dar a Israel o arrependimento e a remissão dos pecados. Deste fato nós somos testemunhas, nós e o Espírito Santo, que Deus deu a todos aqueles que Lhe obedecem." At 5,30-32
    A Segunda Carta de São Pedro, pois, explicou que essa é a razão da aparente inatividade de Deus, dizendo sobre o Juízo: "O Senhor não retarda o cumprimento de Sua promessa, como alguns pensam, mas usa de paciência para convosco. Não quer que alguém pereça. Ao contrário, quer que todos se arrependam." 2 Pd 3,9
    Assim como é a Missão da Igreja, ele declarou, que pelas Graças recebidas deve trazer todo povo à Confissão: "... temos entrado na posse das maiores e mais preciosas promessas, a fim de tornar-vos por este meio participantes da natureza divina, subtraindo-vos à corrupção que a concupiscência gerou no mundo." 2 Pd 1,4
    E em perfeita coerência, o Príncipe dos Apóstolos foi o primeiro a confessar-se diante de Jesus, logo nos primeiros momentos em Sua companhia, por ocasião da pesca miraculosa: "Vendo isso, Simão Pedro caiu aos pés de Jesus e exclamou: 'Afasta-Te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador." Lc 5,8
    De fato, o sacerdote Zacarias, pai de São João Batista, tinha profetizado precisamente assim o modo como Cristo realizaria a Salvação: "... para anunciar a Seu povo a Salvação, pelo perdão dos pecados." Lc 1,77
    Não por acaso, São João Batista, último Profeta e Santo Precursor de Jesus, usava do mesmo procedimento perante o povo: "Dizia ele: 'Fazei penitência porque está próximo o Reino dos Céus.'" Mt 3,2
    E no Evangelho segundo São Joãoassim ele apresentou Jesus aos seus discípulos: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo." Jo 1,29b


AS CONFISSÕES - DE SÃO JOÃO BATISTA A SÃO PAULO

    Aliás, também é da prática de São João Batista que temos registro da penitência que se realiza através da Confissão, sem a qual ele não batizava: "Pessoas de Jerusalém, de toda Judeia e de toda circunvizinhança do Jordão vinham a ele. Confessavam seus pecados e por ele eram batizados nas águas do Jordão." Mt 3,5-6
    E essa foi a essência de sua vida pública, como o Amado Médico atestou: "... sendo sumos sacerdotes Anás e Caifás, veio a Palavra do Senhor no deserto a João, filho de Zacarias. Ele percorria toda região do Jordão, pregando o batismo de arrependimento para remissão dos pecados..." Lc 3,2-3
    Ele assim agia porque tinha a exata noção de importância do que ensinava. Pregava: "Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento..." Lc 3,8
    E bem como era de seu estilo, mostrava-se exigente, anunciando a iminência do Juízo que se efetivaria com o Evangelho de Nosso Senhor: "Ao ver, porém, que muitos dos fariseus e dos saduceus vinham ao seu batismo, disse-lhes: 'Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da vindoura cólera? Dai frutos, pois, de verdadeira penitência. O machado já está posto à raiz das árvores: toda árvore que não produzir bons frutos será cortada e lançada ao fogo." Mt 3,7-8.10
    Essa já era uma antiga prática do povo judeu, que antecipava a chegada à Cidade Santa para cumprir os rituais de purificação e assim poder comer a Páscoa: "Estava próxima a Páscoa dos judeus, e muita gente de todo país subia a Jerusalém antes da Páscoa para purificar-se." Jo 11,55
    Na cidade de Éfeso, por exemplo, onde São Paulo pregava e operava milagres, judeus e gregos sensibilizavam-se e iam até ele para confessar-se e abraçar a Sã Doutrina: "Muitos dos que haviam acreditado vinham confessar e declarar suas obras." At 19,18
    E como São João Batista, Jesus e os demais Apóstolos fizeram, essa era a essência da missão do Apóstolo dos Gentios, que em despedida declarou aos anciãos de Éfeso: "Preguei e instruí-vos publicamente e dentro de vossas casas. Preguei aos judeus e aos gentios o arrependimento diante de Deus e a fé em Jesus, Nosso Senhor." At 20,20b-21
    Ciente da missão que Jesus lhe confiou, sua exortação era clara e contundente, como vemos na Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios: "Porque é Deus que, em Cristo, Consigo reconciliava o mundo, não levando mais em conta os pecados dos homens, e pôs em nossos lábios a mensagem da reconciliação. Portanto, desempenhamos o encargo de embaixadores em Nome de Cristo, e é Deus mesmo que exorta por nosso intermédio. Em Nome de Cristo rogamos-vos: reconciliai-vos com Deus!" 2 Cor 5,19-20
    E ele afirmou usar dessa autoridade, bem como a ter concedido a seus seguidores na cidade de Corinto: "A quem vós perdoais, eu também perdoo. Com efeito, o que perdoei, se alguma coisa tenho perdoado, foi por amor a vós, sob o olhar de Cristo." 2 Cor 2,10
    Pois não cogitava dispensá-las: "Receio que, à minha chegada entre vós, Deus ainda me humilhe a vosso respeito, e tenha de chorar por muitos daqueles que pecaram e não fizeram penitência da impureza, da fornicação e da dissolução que cometeram." 2 Cor 12,21
    Mas, falando aos teimosos, também avisou de seu direito de negar o perdão, referindo-se, claro, à necessária penitência e conversão: "Quando de minha segunda visita, já adverti àqueles que pecaram, e hoje, que estou ausente, torno a repeti-lo a eles e aos demais: se eu for outra vez, não usarei de perdão!" 2 Cor 13,2
    E dizia: "Nós aniquilamos todo raciocínio e todo orgulho que se levanta contra o conhecimento de Deus, e cativamos todo pensamento e reduzimo-lo à obediência a Cristo. Também estamos prontos para castigar todos desobedientes, desde que vossa obediência seja perfeita." 2 Cor 10,5-6
    Contudo, em caso de sincero arrependimento e penitência, a Igreja de Jesus e todo cristão têm o dever de perdoar, como Nosso Senhor ensinou: "Se teu irmão pecar, repreende-o. Se se arrepender, perdoa-lhe. Se sete vezes no dia pecar contra ti e sete vezes no dia vier procurar-te, dizendo: 'Estou arrependido', perdoá-lhe-ás." Lc 17,3-4
    Com efeito, esse foi o primeiro Sacramento ministrado pelos Apóstolos, quando foram enviados por Jesus na jornada que inaugurava seus ministérios: "Eles partiram e pregaram a penitência." Mc 6,12
    E durante as pregações de Jesus, eles também ministravam o batismo usado por São João Batista, isto é, exigindo prévia confissão de pecados: "Em seguida, foi Jesus com Seus discípulos para os campos de Judeia e ali Se deteve com eles, e batizava. ... se bem que não era Jesus quem batizava, mas Seus discípulos..." Jo 3,22;4,2
    No mesmo sentido, ao comentar entre o povo sobre trágicas mortes de que então se tinha notícia, Jesus abertamente recomendava o arrependimento: "Mas se não vos arrependerdes, todos perecereis do mesmo modo." Lc 13,3
    E dizia o que a penitência representa para os Céus: "Digo-vos que assim haverá maior júbilo no Céu por um só pecador, que fizer penitência, que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento." Lc 15,7
    Nesse sentido, quando São Pedro, inspirado por Deus Pai (cf. Mt 16,17), declarou que Jesus era o Messias, Ele tratou de atribuir-lhe essa especial função: o poder de ligar e desligar na Terra, que, além de decidir o que é certo e errado nos ensinamentos de Deus, também vale para perdoar ou não os pecados: "Eu dá-te-ei as chaves do Reino dos Céus. Tudo que ligares na Terra será ligado nos Céus, e tudo que desligares na Terra será desligado nos Céus." Mt 16,19
    Quando apareceu ao Colégio dos Apóstolos pela primeira vez, da mesma forma, Jesus tratou de anunciar o papel que lhes cabia: "Então lhes abriu o espírito para que compreendessem as Escrituras, dizendo: 'Assim é que está escrito, e assim era necessário que Cristo padecesse, mas que ressurgisse dos mortos ao terceiro dia. E que em Seu Nome se pregasse a penitência a todas nações, começando por Jerusalém." Lc 24,45-47
    Segundo São João Evangelista, desde então Ele os constituiu Seus Ministros para que redimissem os pecados da humanidade. Tão urgente é essa reconciliação, pois, que Jesus a instituiu logo em Sua primeira aparição a eles: "Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, sê-lhes-ão perdoados. Àqueles a quem os retiverdes, sê-lhes-ão retidos." Jo 20,22-23
    Por fim, nas revelações do Livro do Apocalipse de São João, essa mesma diretriz deu Jesus à igreja de Sardes, uma das sete dioceses da Ásia de então, pois essencialmente vincula o Evangelho ao arrependimento, como proclamou em primeiras palavras ao iniciar Sua Missão (cf. Mc 1,15): "Lembra-te de como recebeste e ouviste a Doutrina. Observa-a e arrepende-te. Se não vigiares, a ti virei como um ladrão, e não saberás a que horas te surpreenderei." Ap 3,3
    Assim também à igreja de Éfeso: "Lembra-te, pois, donde caíste. Arrepende-te e retorna às tuas primeiras obras. Senão, virei a ti e removerei teu candelabro de seu lugar, caso não te arrependas." Ap 2,5
    São Paulo assim registrou o poder dos Sacerdotes da Igreja para ministrar a Penitência: "... Deus... por Cristo... confiou-nos o ministério desta Reconciliação." 2 Cor 5,18
    Defendia, pois, a seriedade de todos Sacramentos: "Na qualidade de colaboradores de Deus, exortamo-vos a que não recebais Sua Graça em vão." 2 Cor 6,1
    E assim contrastava o Ministério do Espírito Santo com o Antigo Testamento: "Se o ministério da condenação já foi glorioso, muito mais há de sobrepujá-lo em Glória o Ministério da Justificação!" 2 Cor 3,9
    Disse desse dom, desautorizando literais interpretações em favor da instrução do Divino Paráclito: "Não que sejamos capazes por nós mesmos de ter algum pensamento, como de nós mesmos. Nossa capacidade vem de Deus. Ele é que nos fez aptos para ser Ministros da Nova Aliança, não a da letra, e sim a do Espírito. Porque a letra mata, mas o Espírito vivifica." 2 Cor 3,6
    Falava de santificação: "E fi-lo em virtude da Graça que me foi dada por Deus, de ser o Ministro de Jesus Cristo entre os pagãos, exercendo a sagrada função do Evangelho de Deus. E isso para que os pagãos, santificados pelo Espírito Santo, Lhe sejam uma agradável oferta." Rm 15,15b-16
    Jesus mesmo disse aos Apóstolos, garantindo que a Igreja de Deus é indestrutível: "Não fostes vós que Me escolhestes, mas Eu escolhi-vos e constituí-vos para que vades e produzais fruto, e vosso fruto permaneça. Eu assim vos constituí, a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em Meu Nome, Ele conceda-vos." Jo 15,16
    Os Apóstolos, pois, ao receberem o Espírito Santo no Pentecostes, bem entenderam o que lhes cabia. Neste dia, São Pedro vai dizer em sua primeira pregação aos judeus, que de todas nações haviam ido a Jerusalém: "Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em Nome de Jesus Cristo, para remissão de vossos pecados..." At 2,38
    Ao curar um paralítico na companhia de São João Apóstolo, ele faz outro sermão aos judeus no Templo de Jerusalém, mas termina do mesmo modo, convidando-os ao arrependimento e à conversão: "Arrependei-vos, portanto, e convertei-vos para serem apagados vossos pecados." At 3,19
    Um mago da Samaria, percebendo a Graça que se derramava pela Crisma, quis comprar de São Pedro o poder de impor as mãos sobre os fiéis, para também fazer descer o Espírito Santo. Mas foi severamente repreendido, e, arrependido, implorou a ele mesmo que intercedesse por seu pecado: "Rogai vós por mim ao Senhor, para que nada do que haveis dito venha a cair sobre mim." At 8,24
    São Paulo, já em suas primeiras pregações, tinha o mesmo foco. Ele e São Barnabé operavam muitos milagres, mas buscavam mesmo era a conversão de todo povo: "... pregamos justamente para que vos convertais das coisas vãs ao Deus vivo..." At 14,15
    E como ele disse em Atenas, no Areópago, é necessário que os povos se arrependam, pois a Vida de Jesus é o parâmetro do Juízo, e Sua Ressurreição é a prova: "Deus, porém, não levando em conta os tempos de ignorância, agora convida a todos homens de todos lugares a arrependerem-se. Porquanto fixou o Dia em que há de julgar o mundo com justiça, pelo Ministério de um Homem que para isso destinou. Como garantia, a todos deu o fato de tê-Lo ressuscitado dentre os mortos." At 17,30-31
     Era exatamente isso que Jesus lhe havia determinado na aparição que o converteu, no caminho de Damasco. Ele enviou-o aos não-judeus "... para abrir-lhes os olhos, a fim de que se convertam das trevas à Luz e do poder de Satanás a Deus, para que, pela fé em Mim, recebam o perdão dos pecados..." At 26,18
    E foi isso que o Apóstolo dos Gentios disse ao rei Agripa, após ser preso em Jerusalém, quando teve que explicar qual era o objetivo de suas pregações: "... para que se arrependessem e convertessem-se a Deus, com a prática de obras dignas desse arrependimento." At 26,20


A GRAÇA DO PERDÃO

    Os benefícios da Confissão, enfim, são realmente grandes Graças. Por este Sacramento, temos:
    - remissão dos pecados mortais, pois só pela Comunhão, que a Confissão possibilita, chegamos a serenidade da consciência e da alma, nas palavras de Jesus: "... porque isto é Meu Sangue, o Sangue da Nova Aliança, derramado por muitos homens para a remissão dos pecados." Mt 26,28
    - reconciliação com Deus, nas palavras de São Paulo: "... nós gloriamo-nos em Deus por Nosso Senhor Jesus Cristo, por Quem desde agora temos recebido a reconciliação!" Rm 5,11b
    - destemor, nas palavras de seus discípulos: "... e libertar aqueles que, pelo medo da morte, toda vida estavam sujeitos a uma verdadeira escravidão." Hb 2,15
    - paz espiritual, nas palavras do próprio Senhor: "... dou-vos Minha Paz..." Jo 14,27
    - força para resistir nos combates espirituais: "Pedro respondeu-lhes: 'Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em Nome de Jesus Cristo para remissão de vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo.'" At 2,38
    - consolação nos difíceis momentos, pois Jesus, nas palavras de São Lucas, é  "... a Consolação de Israel..." Lc 2,25

    É em nome de tão desejáveis bênçãos que a Carta de São Tiago nos recomenda essa salutar prática de piedade e humildade, e não só perante os padres. Ora, só falsos mestres ensinam que devemos 'confessar só a Deus.' "Confessai vossos pecados uns aos outros..." Tg 5,16
    Contudo, nosso Santo é muito claro ao recomendar os ministros que podem celebrar este e os demais Sacramentos: "Chame os Sacerdotes da Igreja..." Tg 5,14
    Ora, isso já estava instituído desde o Pentateuco, no Livro de Levítico, que falava em Ordenação: "A expiação será feita pelo sacerdote, que foi ungido e empossado para exercer o sacerdócio..." Lv 16,32
    Desde então já estava estabelecida a confissão para pecados como falso testemunho, tocar coisa impura ou jurar, que deviam ser expiados pelo sacerdote da Antiga Aliança: "Aquele, pois, que for culpado de uma dessas coisas, confessará aquilo em que faltou. Em expiação pelo pecado cometido, apresentará ao Senhor uma fêmea de seu miúdo rebanho, uma ovelha ou uma cabra em sacrifício pelo pecado, e por ele o sacerdote fará a expiação de seu pecado." Lv 5,5-6
    E a Primeira Carta de São João garante: "Se confessarmos nossos pecados, Deus está aí, fiel e justo para perdoar-nos os pecados e para purificar-nos de toda iniquidade." 1 Jo 1,9
    Porém, para tanto pede que vivamos a Comunhão da Igreja, que propicia a purificação: "Se dizemos ter Comunhão com Ele, mas andamos nas trevas, mentimos e não seguimos a Verdade. Se, porém, andamos na Luz como Ele mesmo está na Luz, temos Comunhão uns com os outros, e o Sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, purifica-nos de todo pecado. Se dizemos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a Verdade não está em nós." 1 Jo 1,6-8
    São Paulo diz o mesmo: "Ajudai-vos uns aos outros a carregar vossos fardos, e deste modo cumprireis a Lei de Cristo. Quem pensa ser alguma coisa, não sendo nada, engana-se a si mesmo." Gl 6,2-3
    Se realmente amamos Jesus, portanto, devemos colaborar com Ele em Sua missão, arrependendo-nos, convertendo-nos e afastando-nos do pecado. Em Antioquia da Pisídia, São Paulo claramente disse em Nome de Quem age a Igreja: "Sabei, pois, irmãos, que por Jesus se vos anuncia a remissão dos pecados." At 13,38
    Pois não podemos duvidar de que Ele tenha cumprido Sua Missão, como seus discípulos pregam: "Depois de ter realizado a purificação dos pecados, está sentado à direita da Majestade no mais alto dos Céus..." Hb 1,3b
    A Carta de São Paulo aos Efésios taxativamente afirma: "... pelo Seu Sangue temos a Redenção..." Ef 1,7
    De toda forma, a Carta de São Paulo aos Colossenses não deixava de lembrar as imprescindíveis penitências: "Mortificai vossos membros, pois, no que têm de terreno: a devassidão, a impureza, as paixões, os maus desejos, a cobiça, que é uma idolatria." Cl 3,5
    Essa era uma antiga exortação, como o Profeta Isaías já fazia, assegurando o perdão: "Abandone o ímpio seu caminho, e o injusto homem, suas maquinações. Volte para o Senhor, que dele terá piedade. Volte para Nosso Deus, que é generoso no perdão." Is 55,7
    Magistralmente, no Livro de Salmos, o próprio rei Davi dá detalhes da angustiante situação do inconfesso, do impenitente: "Enquanto me conservei calado, entre contínuos gemidos mirravam-se-me os ossos. Pois dia e noite Vossa mão pesava sobre mim, esgotavam-se-me as forças como nos ardores do verão. Então Vos confessei meu pecado, e não mais dissimulei minha culpa. Disse: 'Sim, vou confessar ao Senhor minha iniquidade.' E Vós perdoastes a pena de meu pecado." Sl 31,3-5
    Também aqui: "Porque minhas culpas se elevaram acima de minha cabeça, como pesado fardo me oprimem em demasia. São fétidas e purulentas as chagas que minha loucura me causou. Estou abatido, extremamente recurvado, durante todo o dia ando cheio de tristeza. Inteiramente inflamados estão meus rins, não há parte sã em minha carne. Sim, minha culpa eu confesso, meu pecado atormenta-me." Sl 37,5-8.19
    Mas igualmente aponta como encontrar a alegria: "Feliz aquele cuja iniquidade foi perdoada, cujo pecado foi absolvido." Sl 31,1
    E inspiradamente, este rei atinava: "Ainda que Vosso servo neles atente, com todo cuidado guardando Teus juízos, quem pode, entretanto, ver as próprias faltas? Purificai-me das que me são ocultas." Sl 18,12-13
    Ora, o Livro de Provérbios atestam: "Quem dissimula suas faltas, não há de prosperar. Quem as confessa e as detesta, obtém Misericórdia." Pr 28,13
    A Confissão, pois, significa reconhecer não apenas nossas máculas, mas a indefectível Glória de Deus. Ele mesmo diz: "Quem Me oferece uma confissão, glorifica-Me, e ao íntegro homem mostrarei a Salvação de Deus." Sl 50,23
    Ora, a Vinda de Jesus deu-se como na profecia de Isaías, mas com específica notação sobre os destinatários: "Mas virá como Redentor a Sião, e aos arrependidos filhos de Jacó..." Is 59,20
    Por fim, temos essa elucidativa recomendação de Nosso Salvador à Santa Faustina: "Minha filha, da mesma forma que te preparas em Minha presença, assim também te confessas diante de Mim. Apenas Me oculto atrás do Sacerdote. Nunca investigues como é o Sacerdote atrás do qual Eu Me ocultei, e desvenda-te na Confissão, como se fosse diante de Mim, e encherei tua alma de Minha Luz." (Diário, 1725)

    "Glória e louvor ao Pai, que em Cristo nos reconciliou!"