domingo, 31 de agosto de 2025

São Raimundo Nonato


    Nonato quer dizer 'não nascido', pois São Raimundo foi tirado do ventre da mãe quando ela já havia falecido. Por esse fato, foi feito Padroeiro das mulheres que desejam engravidar, das grávidas, dos recém-nascidos, das parteiras e dos obstetras.
    Ramon Nonat era de catalã família do município de Portell, atual San Ramon, região de Segarra, nordeste de Espanha, vindo à luz em 1200. Nobre mas de poucas propriedades, seu pai, Arnaud de Cardona, logo percebeu suas religiosas inclinações, pois tinha muito gosto em levar flores para colocar aos pés da imagem de Nossa Senhora com o Menino Jesus numa na capela dedicada a São Nicolau, o Papai Noel. Aí passava longos momentos em oração e até em êxtase, como foi visto. Numa das vezes, seu pai mesmo viu o rebanho, que estava a seus cuidados, ser levados por um anjo de volta ao aprisco.
    Mas tentou fazê-lo administrador na corte real de Aragon, e depois entregou-lhe a fazenda de ovelhas para que gerenciasse. No entanto, nosso Santo dava-se a exercer os ofícios dos trabalhadores e pastores, conforme suas necessidades de ajuda, e o tempo restante passava entre o silêncio e a oração, que só confirmavam sua forte vocação para a vida da .
    À época, um jovem francês, que viria a ser São Pedro Nolasco, mudou-se de sua pequena comuna, Mas-des-Saintes-Puelles, no sul de França, para a cidade de Barcelona, com a finalidade de fazer frente à heresia divulgada pelos albigenses. Contudo, em 1218 terminou fundando a Ordem Real, Celestial e Militar de Nossa Senhora das Mercês (Misericórdias) da Redenção dos Cativos, a pedido da própria Maria Santíssima que lhe apareceu em sonho, cujo carisma seria libertar os cristãos que estavam sendo capturados pelos muçulmanos, então impiedosos dominadores de quase toda Península Ibérica, para serem vendidos como escravos em Argélia, no norte de África. Não por acaso, desde 1203 ele já arrecadava a 'esmola dos cativos' nas igrejas e nos ambientes cristãos, que para eles era a única chance de libertação.


    Diante desta aterradora realidade, e ali mesmo, em terras de Europa, se por seu nascimento São Raimundo foi resgatado da morte, vai dedicar sua vida ao resgate da escravidão. Fez os estudos eclesiásticos em Barcelona e, aos 24 anos, recebeu do próprio São Pedro Nolasco o hábito da Ordem dos Mercedários, como é mais conhecida. Tornou-se Sacerdote, viria a ser Mestre Geral da Ordem, e efetivamente libertou muitos cristãos em Espanha: só no município de Valência, foram 233. E isso foi o que fez, sempre usando o Evangelho como argumento, até gastar toda sua herança, quando é enviado a África, para onde já haviam sido enviados muitos cristãos escravizados. Aí, só em Argel, capital de atual Argélia, libertou 140 cristãos em primeira viagem, e mais 150 na segunda. Também fez missões na cidade de Bugia, nessas terras.
    E tamanho era seu ardor e devoção pela Salvação das almas que, um dia, após exauridos todos recursos com os quais negociava em Túnis, capital de atual Tunísia, nosso Santo se ofereceu em troca de um escravo cristão. Assim mandava o quarto voto de sua Ordem, ainda que não expressamente. Dizia: "... todos irmãos da Ordem devem, sempre de bom grado, estarem dispostos a abrir mão de suas vidas, se necessário for, como Jesus Cristo deu a Sua por nós..."


    Como tal situação de calamidade que não retrocedia, sua esperança era dedicar os anos que lhe restavam para alimentar a fé dos escravizados permanecendo em sua companhia, tomando confissões e animando-os pela oração e adoração ao Santíssimo Sacramento.


    Das inspiradas pregações que fazia, e conseguia converter até mesmo os muçulmanos, logo se tornou vítima da ira dos donos de escravos. Foi sentenciado à morte por empalamento, mas acabou poupado por seu alto valor em possível resgate. São Serapião, porém, não teve a mesma sorte. Também mercedário e em mesma missão que São Raimundo, mas em Argel, acabou crucificado, esquartejado e assim se tornou o primeiro mártir da Ordem. Quanto a nosso Santo, sofreu várias e frequentes torturas, e como não parava de pregar pessoa a pessoa ou às ocultas, batizando berberes e mouros, inclusive seus guardas, teve os lábios perfurados com um ferro em brasa e fechados com um cadeado, que só tiravam na hora de receber a ração dos presos.



    Nessa condição padeceu 8 meses até ser libertado mediante resgate em 1239, de coletas feitas pelo próprio São Pedro Nolasco, após saber que ele ainda estava vivo. Ele ainda quis continuar suas missões em África, mas, realmente muito debilitado, foi levado de volta a Espanha.
    Ao saber de sua libertação, o Papa Gregório IX criou-o Cardeal, pois, por seus conhecimentos das Sagradas Escrituras e poder de oratória, o queria como conselheiro em Roma. Ele, no entanto, continuou vivendo como monge mendicante, porque era muito requisitado lá mesmo em Espanha, onde por muitos já era venerado como Santo. E em 1240, mesmo sem ter recuperado a plena saúde, resolveu atender ao chamado do papa. Porém, ao iniciar a viagem, morreu tomado por fortes febres ainda no município de Cardona, bem próximo de Barcelona.
    Se Europa Ocidental veio a abolir a vendas de escravos em suas terras, e assim a própria escravidão, por força dos preceitos do Catolicismo (cf. Fm 16), a vida de São Raimundo Nonato foi emblemática para a promoção dessa causa.
    Seu corpo foi enterrado na própria capela de São Nicolau, onde nosso Santo também havia servido como Sacerdote. Em volta dela, entre 1597 e 1625, em sua homenagem foi construído o Monastério de São Raimundo de Portell, também conhecido como o Escorial de Segarra, que foi bestialmente destruído e incendiado por anarquistas, socialistas e comunistas durante a Guerra Civil Espanhola.




    São Raimundo Nonato, rogai por nós!

sábado, 30 de agosto de 2025

Igreja Viva


    A Santa Igreja Católica não existiria sem o Espírito Santo, pois, através da Comunhão da Santíssima Trindade, podemos dizer ela é obra Sua. São Lucas, no Livro de Atos dos Apóstolos, registra que até a comunicação entre Jesus e os Apóstolos se dava através d'Ele: "... contei toda sequência das ações e dos ensinamentos de Jesus, desde o princípio até o dia em que, depois de ter dado pelo Espírito Santo Suas instruções aos Apóstolos que escolhera, foi arrebatado ao Céu." At 1,1-2
    Este evangelista também anotou quando Jesus disse que, para testemunhá-Lo, os Apóstolos primeiro precisariam receber o Espirito Santo: "... descerá sobre vós o Espírito Santo e dá-vos-á força. E sereis Minhas testemunhas em Jerusalém, em toda Judeia e Samaria e até os confins do mundo." At 1,8
    A Santa Igreja nasceu, portanto, com a Vinda do Espírito de Deus, e católica, quer dizer, universal, falando ao mundo inteiro, como Jesus disse de Suas testemunhas e o Amado Médico descreveu: "Todos eles unanimemente perseveravam em oração, junto às mulheres, entre elas Maria, Mãe de Jesus, e os irmãos d'Ele. Chegando o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um ruído, como se soprasse um impetuoso vento, e encheu toda casa onde estavam sentados. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem." At 1,14:2,1-4
    Ora, ser movido pelo Espírito de Deus é a condição de ser de todo cristão. Foi Jesus que o afirmou, invocando o Livro do Profeta Zacarias e o Livro do Profeta Isaías, e o Evangelho Segundo São João tratou de explicar: "Quem crê em Mim, como a Escritura diz: 'De seu interior manarão rios de Água Viva (Zc 14,8; Is 58,11).' Dizia isso, referindo-Se ao Espírito que haviam de receber aqueles que n'Ele cressem, pois ainda não fora dado o Espírito, visto que Jesus ainda não tinha sido glorificado." Jo 7,38-39
    Por isso, para salvar almas e para formar o Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, desde sua primeira pregação, no dia de Pentecostes, São Pedro já convocava o povo à Confissão a ao Batismo, e prometia-lhes: "Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em Nome de Jesus Cristo para remissão de vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo." At 2,38
    E a Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios, contrastando o Antigo e o Novo Testamento, diz com todas letras que vivemos sob o Ministério do Santo Paráclito: "Ora, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, se revestiu de tal Glória que os filhos de Israel não podiam fitar os olhos no rosto de Moisés, por causa do resplendor de sua face, embora transitório, quanto mais glorioso não será o Ministério do Espírito?" 2 Cor 3,7
    Também deixou claro que a Palavra de Deus não pode ser corretamente interpretada sem a ajuda do Divino Paráclito, e que o Ministério Católico não é de mera letra escrita mas da inspiração do Santo Paráclito: "Não que sejamos capazes por nós mesmos de ter algum pensamento, como de nós mesmos. Nossa capacidade vem de Deus. Ele é que nos fez aptos para sermos Ministros da Nova Aliança, não a da letra, e sim a do Espírito. Porque a letra mata, mas o Espírito vivifica." 2 Cor 3,5-6
    A Segunda Carta de São Pedro diz o mesmo, afirmando que a Palavra de Deus não pode ser interpretada de pessoal modo. Ou seja, todos devem buscar o entendimento bíblico que a Igreja Católica já possui desde sua fundação: "Antes de tudo, sabei que nenhuma profecia da Escritura é de pessoal interpretação. Porque profecia alguma jamais foi proferida por efeito de vontade humana. Homens inspirados pelo Espírito Santo, falaram da parte de Deus." 2 Pd 1,20-21
    Ou seja, longe de literais ou pessoais interpretações, temos que acolher o que tem sido revelado pelo Espírito Santo, pois Jesus prometeu à Igreja, e só à Igreja, nas pessoas dos Apóstolos, a especialíssima assistência do Divino Paráclito, que jamais a abandonaria, por um instante sequer: "E Eu rogarei ao Pai e Ele dá-vos-á outro Consolador, para que convosco fique eternamente. É o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não O vê nem O conhece. Mas vós conhecê-Lo-eis, porque convosco permanecerá e em vós estará." Jo 14,16-17
    E quanto aos verdadeiros cristãos, Ele disse à samaritana quando estava junto ao poço de Jacó: "Mas vem a hora, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai em espírito e Verdade, e são esses adoradores que o Pai deseja. Deus é espírito, e Seus adoradores devem adorá-Lo em espírito e Verdade." Jo 4,23-24
    Ora, Jesus identificou-O como Aquele que vinha para ensinar todas coisas de que realmente precisamos saber, e fazer-nos recordar tudo que Ele já havia dito: "Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em Meu Nome, ensiná-vos-á todas coisas e recordá-vos-á tudo que vos tenho dito." Jo 14,26
    É Ele, pois, que tem guiado a Igreja através dos tempos, levando-nos a compreender as Revelações de Deus em Sua Palavra e na Encarnação de Cristo, bem como nos demais assuntos que surgem através dos séculos. Nosso Senhor acrescentou: "Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensiná-vos-á toda a Verdade, porque não falará por Si mesmo, mas dirá o que ouvir, e anunciá-vos-á as coisas que virão." Jo 16,13
    De fato, os Apóstolos não podiam, em tão breve período, compreender tudo que Jesus tinha para ensinar. Ele mesmo disse-lhes: "Muitas coisas ainda tenho a dizer-vos, mas agora não podeis suportá-las." Jo 16,12
    Por isso, como visto, Ele enviou o Santo Espírito para que permanecesse para sempre com Sua Igreja, Cuja função é exatamente apascentar Seu rebanho: "E Eu rogarei ao Pai e Ele dá-vos-á outro Consolador, para que convosco fique eternamente." Jo 14,16
    Pois Ele é o maior e melhor presente que Deus tem para oferecer-nos, ainda segundo Nosso Salvador, que disse no Evangelho Segundo São Lucas: "Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais Vosso Pai Celestial dará o Espírito Santo àqueles que LhO pedirem." Lc 11,13


DONS ESPIRITUAIS

    São Pedro, assumindo sua posição de primaz da Igreja, num de seus primeiros sermões foi movido pelo Espírito de Deus para destemidamente falar aos sacerdotes judeus. Isso deu-se no Sinédrio, o conselho dos religiosos, quando ele e o Amado Discípulo foram presos pela primeira vez: "Então Pedro, cheio do Espírito Santo, respondeu-lhes: 'Chefes do povo e anciãos, ouvi-me...'" At 4,8
    Aliás, tal e qual Jesus havia predito: "Porém, quando vos levarem às sinagogas, perante os magistrados e as autoridades, não vos preocupeis com o que haveis de falar em vossa defesa, porque o Espírito Santo vos inspirará o que deveis dizer naquela hora." Lc 12,11-12
    Assim, quem mentia a São Pedro, representante máximo da nascente comunidade cristã, mentia ao Espírito Santo, ou seja, ao próprio Deus: "Pedro, porém, disse: 'Ananias, por que Satanás tomou conta de teu coração, para mentires ao Espírito Santo e enganares acerca do valor do campo? Não foi aos homens que mentiste, mas a Deus!'" At 5,3.4b
    Os sete primeiros Diáconos da Igreja, que seriam auxiliares dos Apóstolos, foram escolhidos exatamente por serem movidos pelo Espirito de Deus, como o Colégio dos Apóstolos determinou: "Portanto, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de Sabedoria, aos quais encarregaremos este ofício." At 6,3
    E como bem expressou Santo Estevão, um desses sete, contrariar a Igreja é contrariar o Divino Espírito. Numa inversão de papéis, ele condenou os chefes dos judeus que se haviam reunido no Sinédrio para julgá-lo, sob falsas acusações de estar negando a Lei de Deus: "Homens de dura cerviz, e de incircuncisos corações e ouvidos! Vós sempre resistis ao Espírito Santo. Como procederam vossos pais, assim também procedeis vós!" At 7,51
    Ora, os Apóstolos, fundamentos da Igreja (cf. Ef 2,20), batizavam e crismavam pela unção do Espírito de Deus, como vemos no 'Pentecostes dos Samaritanos': "Os Apóstolos que se achavam em Jerusalém, tendo ouvido que a Samaria recebera a Palavra de Deus, enviaram-lhe Pedro e João. Estes, assim que chegaram, fizeram oração pelos novos fiéis, a fim de receberem o Espírito Santo, visto que ainda não havia descido sobre nenhum deles, mas tinham sido somente batizados em Nome do Senhor Jesus. Então os dois Apóstolos impuseram-lhes as mãos, e receberam o Espírito Santo." At 8,14-17
    Era, pois, pela ação do Divino Paráclito que a Barca de São Pedro (cf. Lc 5,3) crescia: "A Igreja então gozava de Paz por toda Judeia, Galileia e Samaria. Estabelecia-se caminhando no temor do Senhor, e a assistência do Espírito Santo fazia-a crescer em número." At 9,31
    Foi Ele mesmo Quem decidiu, pela pregação de São Pedro, descer sobre os não judeus, pois quer agregar todos povos em Sua Igreja. Era o 'Pentecostes dos Gentios': "Estando Pedro ainda a falar, o Espírito Santo desceu sobre todos que ouviam a Palavra. Os fiéis da circuncisão, que tinham vindo com Pedro, profundamente admiraram-se vendo que o dom do Espírito Santo também era derramado sobre os não judeus..." At 10,44-45
    São Barnabé, que num lapso chegou a ser chamado de Apóstolo (cf. Ap 14,14), igualmente só conseguia atrair tanta gente para a Igreja porque o Espírito de Deus agia por seu intermédio: "A notícia dessas coisas chegou aos ouvidos da igreja de Jerusalém. Enviaram então Barnabé até Antioquia. Ao chegar lá, alegrou-se, vendo a Graça de Deus, e a todos exortava a perseverar no Senhor com firmeza de coração, pois era um homem de bem, cheio do Espírito Santo e de . Assim uma grande multidão se uniu ao Senhor." At 11,22-24
    É o Espírito de Cristo, portanto, Quem decide quais missões são mais importantes para a divulgação do Evangelho. Aconteceu ainda na Antioquia: "Enquanto celebravam o culto do Senhor, depois de terem jejuado, disse-lhes o Espírito Santo: 'Separai-Me Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho destinado.'" At 13,2
    Foi Ele Quem decidiu o Primeiro Concílio da Igreja, como São Tiago Menor afirmou como Bispo de Jerusalém, cargo lhe foi transmitido por São Pedro (cf. At 12,17), pois, pelas perseguições que sofria, o Príncipe dos Apóstolos teve que iniciar uma vida de missões (cf. At 9,32): "Com efeito, bem pareceu ao Espírito Santo e a nós não vos impor outro peso além do indispensável seguinte..." At 15,28
    Também decidia as áreas de atuação, como determinou a São Paulo e São Timóteo: "Atravessando em seguida Frígia e a província de Galácia, foram impedidos pelo Espírito Santo de anunciar a Palavra de Deus na província de Ásia." At 16,6
    Bem como as áreas de não atuação: "Ao chegarem aos confins da Mísia, tencionavam seguir para Bitínia, mas o Espírito de Jesus não o permitiu." At 16,7
    É Ele Quem investe os bispos da Igreja, como São Paulo disse aos anciãos de Éfeso, implicitamente afirmando a Divindade de Jesus: "Cuidai de vós mesmos e de todo rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastorear a Igreja de Deus, que Ele adquiriu com Seu próprio Sangue." At 20,28
    É Ele Quem nos leva a amar a Deus e ao próximo, ou seja, ao verdadeiro amor, como a Carta de São Paulo aos Romanos ensinou: "E a esperança não engana. Porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado." Rm 5,5
    É Ele Quem nos dá a esperança que conduz à Vida Eterna: "O Deus da esperança encha-vos de toda alegria e de toda Paz em vossa fé, para que pela virtude do Espírito Santo transbordeis de esperança!" Rm 15,13
    Pois desde o Batismo ministrado pela Igreja, o Espírito de Deus vem habitar em nós. A Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios argumenta: "Ou não sabeis que vosso corpo é Templo do Espírito Santo, que habita em vós, o Qual recebestes de Deus e que, por isso mesmo, já não vos pertenceis?" 1 Cor 6,19
    É Ele Quem constantemente intercede pelos 'santos', como ele genericamente chamava os membros da Igreja: "E Aquele que perscruta os corações sabe o que o Espírito deseja, o Qual intercede pelos santos, segundo Deus." Rm 8,27
    E socorre-nos em nossas maiores fragilidades: "Outrossim, o Espírito vem em auxílio a nossa fraqueza. Porque não sabemos o que devemos pedir, nem rezar como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com inexprimíveis gemidos." Rm 8,26
    Assim, não há como fazer parte da Igreja, que é o Corpo Místico de Cristo, a habitação de Deus, sem Ele, que nos faz participar da Comunhão dos Santos. Está na Carta de São Paulo aos Efésios: "Consequentemente, já não sois hóspedes nem peregrinos, mas sois concidadãos dos Santos e membros da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos Apóstolos e profetas, tendo por Pedra Angular o próprio Cristo Jesus. É n'Ele que todo edifício, harmonicamente disposto, se levanta até formar um Santo Templo no Senhor. É n'Ele que vós também entrais, pelo Espírito, na estrutura do edifício que se torna a habitação de Deus." Ef 2,19-22
    Com efeito, é Ele Quem distribui os divinos dons, e sempre visando o bem da comunidade eclesial, nunca para atacá-la: "A cada um é dada a manifestação do Espírito para comum proveito. Mas é um e o mesmo Espírito que distribui todos estes dons, repartindo a cada um como Lhe apraz." 1 Cor 12,7.11
    Pois a exclusiva razão de ser desses dons é servir à Igreja, que é o Reino de Sacerdotes de Cristo, ou seja, o próprio Reino de Deus: "Assim, uma vez que aspirais aos dons espirituais, procurai tê-los em abundância para edificação da Igreja." 1 Cor 14,12
    Enfim, só com Sua ajuda somos capazes de compreender a Missão de Jesus e reconhecê-Lo como Deus, e Nosso Salvador: "... ninguém pode dizer: 'Jesus é o Senhor', senão sob a ação do Espírito Santo." 1 Cor 12,3


ESPÍRITO DE COMUNHÃO

    Devemos ajudar uns aos outros, portanto, unidos pelo Espírito em oração, como a Carta de São Judas traz: "Mas vós, caríssimos, mutuamente edificai-vos sobre o fundamento de vossa santíssima fé. Orai no Espírito Santo." Jd 20
    De fato, segundo São Paulo, se temos algum dom, não temos como fugir desses compromissos: "Pois os dons e o chamado de Deus são irrevogáveis." Rm 11,29
    Trata-se de muito profunda Comunhão: "... quem se une ao Senhor, com Ele torna-se um só Espírito." 1 Cor 6,17
    Também diz da Paixão de Cristo, que devemos abraçar como nosso caminho: "Se com Ele fomos feitos o mesmo Ser, por uma morte semelhante à Sua..." Rm 6,5a
    Pois a Unção do Espírito de Deus, propriamente o Sacramento da Crisma, nos conduz a Verdade, como Jesus disse e a Primeira Carta de São João vai repetir: "Vós, porém, tendes a Unção do Santo e sabeis todas coisas. ... a Unção que d'Ele recebestes permanece em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine. Mas como Sua Unção vos ensina todas coisas, assim é ela verdadeira e não mentira. Permanecei n'Ele, como ela vos ensinou." 1 Jo 2,20.27
    Por isso, desde os Apóstolos, a Igreja conta com o testemunho de seus membros, que foi instituído por Jesus: "Aceitamos o testemunho dos homens." 1 Jo 5,9a
    Ora, Ele mesmo vai reclamar o acolhimento deste precioso recurso, no Evangelho Segundo São Marcose ainda no Domingo da Ressurreição: "Por fim, (Jesus) apareceu aos Onze, quando estavam sentados à mesa, e censurou-lhes a incredulidade e dureza de coração, por não acreditarem nos que O tinham visto ressuscitado." Mc 16,14
    E também repreendeu a São Tomé, pelo mesmo motivo, no marcante mas egocentrista episódio do 'ver para crer': "Não sejas incrédulo, mas homem de fé." Jo 20,27b
    Tais dons, pois, têm por inarredável fim conduzir-nos à Unidade da fé, pois para isso somos inspirados por um só Espírito, como São Paulo prega: "Há diversidade de dons, mas um só Espírito. Em um só Espírito fomos batizados todos nós, para formar um só Corpo, judeus ou gregos, escravos ou livres. E todos fomos impregnados do mesmo Espírito." 1 Cor 12,4.13
    Unidade que ele assim explicita: "Aquele (Cristo) que desceu também é Aquele que subiu acima de todos Céus, para levar à plenitude todas coisas. A uns Ele constituiu Apóstolos; a outros, profetas; a outros, evangelistas, pastores, doutores, para o aperfeiçoamento dos cristãos, para o desempenho da tarefa que visa à construção do Corpo de Cristo, até que todos tenhamos chegado à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos o estado de homem feito, a estatura da maturidade de Cristo. Para que não continuemos crianças ao sabor das ondas, agitados por qualquer sopro de doutrina, ao capricho da malignidade dos homens e de seus enganadores artifícios. Mas pela sincera prática da caridade, cresçamos em todos sentidos n'Aquele que é a Cabeça, Cristo. É por Ele que todo Corpo, coordenado e unido por conexões que estão a Seu dispor, trabalhando cada um conforme a atividade que lhe é própria, efetua esse crescimento, visando sua plena edificação na caridade." Ef 4,10-16
    Porque a missão da Igreja é elevação dos filhos de Deus, como os seguidores da tradição de São Paulo atestaram na Carta aos Hebreus: "Porque aqueles que uma vez foram iluminados saborearam o dom celestial, participaram dos dons do Espírito Santo..." Hb 6,4
    Divina filiação que se realiza através da Divina Adoção, exclusivamente operada pelo Santo Paráclito, como foi revelado pelo próprio São Paulo: "Porquanto não recebestes um espírito de escravidão para viverdes ainda no temor, mas recebestes o Espírito de Adoção, pelo Qual clamamos: 'Aba! Pai!'" Rm 8,15
    A Carta de São Paulo aos Gálatas torna a afirmar: "Mas quando veio a plenitude dos tempos, Deus enviou Seu Filho, que nasceu de uma mulher e nasceu submetido a uma lei, a fim de remir aqueles que estavam sob a Lei, para que recebêssemos Sua Adoção. A prova de que sois filhos é que Deus enviou a vossos corações o Espírito de Seu Filho, que clama: 'Aba, Pai!'" Gl 4,4-6
    E assim ele afirma o diferencial que se estabeleceu pelo Pentecostes, dia no nascimento da Santa Igreja Católica, contrastando o Antigo e o Novo Testamento: "A Lei do Espírito de Vida libertou-me, em Jesus Cristo, da Lei do pecado e da morte. ... pois todos aqueles que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus." Rm 8,2.14
    Porque testemunhar Jesus é uma questão de obediência, a Deus e à Verdade. E apontando Jesus como o Salvador, São Pedro afirmou perante o Sinédrio como se recebe o Divino Paráclito: "Deste fato nós somos testemunhas, nós e o Espírito Santo, que Deus deu a todos aqueles que Lhe obedecem." At 5,32
    É Ele, pois, Quem promove a Unidade da Igreja através da celebração da Santa Eucaristia: "A Graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a Comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós!" 2 Cor 13,13
    E a Igreja vive porque se alimenta do Pão da Vida Eterna, como Jesus prometeu: "Como o Pai, que Me enviou, vive, e Eu vivo pelo Pai, assim aquele que comer Minha Carne também viverá por Mim." Jo 6,57
    Vida que se prorrogará pela eternidade, ainda segundo Ele: "Eu sou o Pão Vivo que desceu do Céu. Quem comer deste Pão viverá eternamente." Jo 6,51a
    Mas também advertiu: "Em Verdade, em Verdade, digo-vos: se não comerdes a Carne do Filho do Homem, e não beberdes Seu Sangue, não tereis a Vida em vós mesmos." Jo 6,53b
    Nestes mesmos termos explicava o poder da Palavra de Deus, que é Ele mesmo (cf. Jo 1,14), e estava sendo rejeitada pelos judeus: "E vós não quereis vir a Mim, para que tenhais a Vida..." Jo 5,40
    Explicava Sua própria Vida: "Pois como o Pai tem a Vida em Si mesmo, assim também deu ao Filho ter a Vida em Si mesmo..." Jo 5,26
    E assim Sua Morte na Santa Cruz: "Ainda um pouco de tempo e o mundo já não Me verá. Vós, porém, tornareis a ver-Me, porque Eu vivo e vós vivereis." Jo 14,19
    Sua Ressurreição, atestando a Comunhão dos Santos: "Naquele dia, conhecereis que estou em Meu Pai, e vós em Mim e Eu em vós." Jo 14,20
    Seu poder: "O Pai ama-Me porque dou Minha Vida para retomá-la. Ninguém a tira de Mim, mas dou-a por Mim mesmo, pois tenho poder para dá-la como tenho poder para reassumi-la." Jo 10,17-18a
    Sua Divindade, apresentando-Se como igual a Deus: "Com efeito, como o Pai ressuscita os mortos e dá-lhes Vida, assim o Filho também dá Vida a quem Ele quer." Jo 5,21
    E o próprio Pai, de Quem já estão afastadas as almas condenadas ao inferno: "Ora, Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos, porque para Ele todos vivem." Lc 20,38
    São João Evangelista vai dizer de Jesus: "N'Ele havia a Vida, e a Vida era a Luz dos homens." Jo 1,4
    Mais: "... porque a Vida se manifestou, e nós temo-la visto..." 1 Jo 1,2a
    Ele completa: "E o testemunho é este: Deus deu-nos a Vida Eterna, e esta Vida está em Seu Filho. Quem possui o Filho possui a Vida, quem não tem o Filho de Deus não tem a Vida." 1 Jo 5,11-12
    Aliás, assim arrematou seu Evangelho: "Jesus fez diante dos discípulos muitos outros sinais, que não estão escritos neste Livro. Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a Vida em Seu Nome." Jo 20,30-31
    E diz do Salvífico Amor: "Nisto manifestou-se o amor de Deus para conosco: em ter-nos enviado ao mundo Seu único Filho, para que por Ele vivamos." 1 Jo 4,9
    É o que São Paulo conclui: "Eu vivo, mas já não sou eu, é Cristo que vive em mim." Gl 2,20a
    Ele questiona-nos: "Examinai a vós mesmos, se estais na fé. Provai-vos a vós mesmos. Acaso não reconheceis que Cristo Jesus está em vós?" 2 Cor 13,5a
    A Carta de São Paulo aos Colossenses exorta: "Como (de nossa pregação) recebestes o Senhor Jesus Cristo, n'Ele vivei, n'Ele enraizados e edificados, inabaláveis na fé em que fostes instruídos, com o coração a transbordar de gratidão!" Cl 2,6-7
    Grande santo, ele tinha isso por missão, como se apresentou na Segunda Carta de São Paulo a São Timóteo: "Paulo, Apóstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus, para anunciar a promessa da Vida que está em Jesus Cristo..." 2 Tm 1,1
    Fala, no entanto, de uma vida de tribulações neste mundo: "Trazemos sempre em nosso corpo os traços da Morte de Jesus, para que a Vida de Jesus também se manifeste em nosso corpo. Embora estando vivos, a toda hora somos entregues à morte por causa de Jesus, para que a Vida de Jesus também apareça em nossa carne mortal." 2 Cor 4,10-11
    E exorta-nos: "Porque estais mortos, e vossa vida está escondida com Cristo em Deus." Cl 3,3
    Citando o Livro de Gênesis, ele aponta Jesus como o Novo Adão, de absolutamente nova condição: "Como está escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito vivente alma (Gn 2,7); o Segundo Adão é Vivificante Espírito." 1 Cor 15,22.45
    Acabou afirmando, portanto, o Purgatório: "Para isso é que Cristo morreu e retomou a Vida, para ser o Senhor tanto dos mortos como dos vivos." Rm 14,9
    A Primeira Carta de São Paulo aos Tessalonicenses também: "Ele morreu por nós, a fim de que nós, quer em estado de vigília, quer de sono, vivamos em união com Ele." 1 Ts 5,10
    Bem como o poder de Sua Vida, como o Apóstolo dos Gentios segue: "Se quando ainda éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus pela Morte de Seu Filho, com muito mais razão, já estando reconciliados, seremos salvos por Sua Vida." Rm 5,10
    E garante: "Se o Espírito d'Aquele que ressuscitou Jesus dos mortos habita em vós, Ele, que ressuscitou Jesus Cristo dos mortos, também dará a Vida a vossos corpos mortais pelo Seu Espírito que habita em vós. De fato, se viverdes segundo a carne, haveis de morrer. Mas se pelo Espírito mortificardes as obras da carne, vivereis..." Rm 8,11.13
    Numa assertiva, porém, também adverte: "Vós, porém, não viveis segundo a carne, mas segundo o Espírito, se o Espírito de Deus realmente habita em vós. Se alguém não possui o Espírito de Cristo, este não é d'Ele." Rm 8,9
    Temendo pelo pior e alertando desse incrível poder que temos de, pelo Livre Arbítrio, virarmos as costas para Deus, ele clama: "Não extingais o Espírito." 1 Ts 5,19
    Sem dúvida, é a Ele que ofendemos com nossos pecados, pois Ele é o Selo que nos garante a Salvação: "Não contristeis o Espírito Santo de Deus, com o Qual estais selados para o Dia da Redenção." Ef 4,30
    Assim como é por Seu poder que os Sacerdotes da Igreja têm o poder de perdoar os pecados, pois para tanto Nosso Salvador tratou de ungir os Dez Apóstolos logo em Sua primeira aparição após ressuscitar: "Depois dessas palavras, Jesus soprou sobre eles dizendo-lhes: 'Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, sê-lhes-ão perdoados. Àqueles a quem os retiverdes, sê-lhes-ão retidos.'" Jo 20,22-23
    O próprio Evangelho, enfim, só pode ser anunciado através de Seu poder, segundo São Paulo: "Nosso Evangelho foi-vos pregado não somente por palavra, mas também com poder, com o Espírito Santo e com plena convicção. Sabeis o que entre vós temos sido para vossa Salvação." 1 Ts 1,5
    Pois as palavras da Bíblia, conforme a Primeira Carta de São Pedro, são "... revelações que agora vos têm sido anunciadas por aqueles que vos pregaram o Evangelho da parte do Espírito Santo, enviado do Céu." 1 Pd 1,12
    E essas revelações atingem em cheio nossa alma, nas palavras dos discípulos de São paulo: "Porque a Palavra de Deus é viva, eficaz, mais penetrante que uma espada de dois gumes, e atinge até a divisão da alma e do espírito, das juntas e das medulas, e discerne os pensamentos e as intenções do coração." Hb 4,12
    A Igreja Católica, portanto, guarda a Sã Doutrina por Sua virtude, que age em Seus Sacerdotes e fiéis. Referindo-se à Revelação, São Paulo recomenda a São Timóteo: "Guarda o Precioso Depósito, pela virtude do Espírito Santo que em nós habita." 2 Tm 1,14
    Também diz aos cristãos da cidade de Corinto "Não há dúvida de que vós sois uma carta de Cristo, redigida por nosso Ministério e escrita. Não com tinta, mas com o Espírito de Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, em vossos corações." 2 Cor 3,3
    Os seguidores deste grande Apóstolo deixaram fortes argumentos sobre a importância da Palavra que pelos séculos é guardada e divulgada pela Igreja: "Por isso, é necessário prestarmos a maior atenção à mensagem que temos recebido, para não acontecer que nos desviemos do reto caminho. A Palavra anunciada por intermédio dos anjos era a tal ponto válida, que toda transgressão ou desobediência recebeu o justo castigo. Como, então, escaparemos nós se agora desprezarmos a mensagem da Salvação, tão sublime, primeiro anunciada pelo Senhor e depois confirmada por aqueles que a ouviram, comprovando-a o próprio Deus por sinais, prodígios, milagres e pelos dons do Espírito Santo, repartidos segundo Sua vontade?" Hb 2,1-4
    Como o Apóstolo dos Gentios afirmou a São Timóteo, a Santa Igreja, instantemente inspirada pelo Espírito de Cristo (cf. Jo 16,13), é viva, é a guardiã da Verdade: "Todavia, se eu tardar, quero que saibas como deves portar-te na Casa de Deus, que é a Igreja de Deus Vivo, coluna e sustentáculo da Verdade." 1 Tm 3,15
    E a Segunda Carta de  São João revelou que a Verdade sempre permanecerá com a Igreja: "O ancião à Eleita Senhora e a seus filhos, que amo na Verdade. Não somente eu, mas todos que também conheceram a Verdade, por causa da Verdade que em nós permanece e que conosco eternamente ficará." 2 Jo 1,1-2
    Por tudo isso, imaginar a Igreja 'afastada da Palavra' ou vencida por Satanás é grande blasfêmia. Antes, ela é um pedaço do Céu, o Reino de Sacerdotes de Deus pelo qual a Santa Missa se torna possível. Citando o Livro de Deuteronômio, os seguidores de São Paulo disseram: "Sim, possuindo nós um Inabalável Reino, dediquemos a Deus um reconhecimento que Lhe torne agradável nosso culto com temor e respeito, porque Nosso Deus é um fogo devorador (Dt 4,24)." Hb 12,28
    Pois, como visto, ela é plenamente animada pelo "... Espírito Santo, Autor da Graça!" Hb 10,29
    Assim, movida pelo próprio Deus, em assuntos de fé a Igreja é infalível. A Palavra que ela divulga é a própria Água Viva de que Nosso Senhor falou (cf. Jo 7,38), como todos Apóstolos ouviram após serem presos pelo Sinédrio: "Mas, de noite, um anjo do Senhor abriu as portas do cárcere e, conduzindo-os para fora, disse-lhes: 'Ide e apresentai-vos no Templo, e pregai ao povo as Palavras desta Vida.'" At 5,19-20
    É o que tem acontecido desde o Antigo Testamento, como Santo Estevão disse sobre Moisés perante o Sinédrio: "Este é aquele que esteve entre o povo congregado no deserto, com o anjo que lhe falara no monte Sinai e com nossos pais. Aquele que recebeu Palavras de Vida para transmitir-nos." At 7,38
    Vida esta que é o próprio Jesus, Único Caminho para Deus: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai senão por Mim." Jo 14,6b
    Assim, a Igreja jamais vai sucumbir às forças de Satanás, como Ele mesmo garantiu no Evangelho Segundo São Mateus: "As portas do inferno não prevalecerão contra ela." Mt 16,18b
    Isso já havia sido revelado no Livro do Profeta Daniel, séculos antes, que registrou sobre Nosso Salvador: "... Seu Reino jamais será destruído." Dn 7,14b
    São Gabriel Arcanjo também disse a Nossa Senhora, no dia da Anunciação do Senhor: "... e Seu Reino não terá fim." Lc 1,33
    E não podia ser de outra forma, pois a Igreja é de Jesus e por Ele é pessoalmente edificada: "E Eu declaro-te: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei Minha Igreja." Mt 16,18a
    Ele alimenta-a e dela cuida, como São Paulo assegurou: "Ninguém jamais odiou sua própria carne. Ao contrário, alimenta-a e cerca-a de cuidados, como Cristo faz com Sua Igreja." Ef 5,29
    Enfim, é Jesus mesmo Quem escolhe Seus Sacerdotes, para ministrar Sacramentos que são eternos: "Não fostes vós que Me escolhestes, mas Eu escolhi-vos e constituí-vos para que vades e produzais fruto, e vosso fruto permaneça." Jo 15,16a

    "Lembrai-Vos, ó Pai, de Vossa Igreja!"

sexta-feira, 29 de agosto de 2025

Martírio de São João Batista


    A exemplo da Crucificação de Jesus, o cruel destino que teve São João Batista ficou para sempre gravado na memória da humanidade: a história do Profeta do Altíssimo, mártir defensor do Sacramento do Matrimônio. Nosso Santo ousou levantar a voz para denunciar o adultério do rei, e ironicamente acabou assassinado não por sua vontade, pois ele o temia, mas por astúcia de sua côrte, lugar não raramente constituído, frequentado e assediado por pessoas da pior espécie. A 'nobreza', por vezes, representa o que um povo tem de pior.


    Profeta de primeiríssima grandeza, foi o arauto da Vinda do Salvador, como seu pai, o sacerdote São Zacarias, anunciou no dia em que ele nasceu. O Evangelho Segundo São Lucas apontou: "E tu, menino, serás chamado Profeta do Altíssimo, porque precederás o Senhor e Lhe prepararás o Caminho, para dar a Seu povo conhecer a Salvação, pelo perdão dos pecados." Lc 1,76-77
    Isso havia-lhe sido informado por São Gabriel Arcanjo, que o descreveu como um reorientador dos pais para o bem das famílias, um dissuasor de vãs rebeldias e o preparador do povo para o encontro com o Messias. Ele disse-o quando anunciou a miraculosa gravidez de Santa Isabel, sua esposa, pois era idosa e estéril (cf. Lc 1,7): "... irá adiante de Deus com o Espírito e poder de Elias, para reconduzir os corações dos pais aos filhos e os rebeldes à Sabedoria dos justos, para preparar ao Senhor um bem disposto povo." Lc 1,17
    E estava previsto no Livro do Profeta Malaquias, quando Deus prometeu, aliás, falando do próprio Elias, que só apareceria na Transfiguração do Senhor: "Vou mandar-vos o Profeta Elias, antes que venha o grande e temível Dia do Senhor, e ele converterá o coração dos pais para os filhos e o coração dos filhos para os pais, de sorte que não mais ferirei de interdito a Terra." Ml 3,23-24
    São João Batista, pois, indo "adiante de Deus" e com o "Espírito de Elias", não 'conseguia' calar-se, não se permitia deixar de proclamar a Verdade, a chegada de Deus. E não tinha vontade de permanecer nesse mundo, como a Carta de São Paulo aos Filipenses também afirmaria: "Mas se o viver no corpo é útil para meu trabalho, então não sei o que devo preferir. Sinto-me pressionado dos dois lados: por uma parte, desejaria desprender-me para estar com Cristo, o que seria imensamente melhor. Mas, de outra parte, continuar a viver é mais necessário, por causa de vós..." Fl 1,22-24
    E a Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios iria completar, em lúcido ensinamento: "Se é só para esta vida que temos colocado nossa esperança em Cristo, somos, de todos homens, os mais dignos de lástima." 1 Cor 15,19
    São João Batista, portanto, vivia 'outra' realidade, ou melhor, a verdadeira realidade: o Reino dos Céus, como Jesus veio anunciar: "Mas se Eu expulso os demônios pelo dedo de Deus, a vós certamente é chegado o Reino de Deus." Lc 11,20


    Vivendo no deserto desde a infância (cf. Lc 1,80), e o povo é que ia até ele após iniciar vida pública, a sua volta a Verdade tinha que prevalecer, mesmo ao custo de sua vida. Não por acaso, no Evangelho Segundo São Mateus, Jesus vai questionar aqueles que por ele foram batizados, citando outra profecia de Malaquias: "Tendo eles (discípulos do Batista) partido, disse Jesus à multidão a respeito de João: 'Que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? Que fostes ver, então? Um homem vestido com luxuosas roupas? Mas aqueles que estão revestidos de tais roupas vivem nos palácios dos reis. Então, por que fostes lá? Para ver um Profeta? Sim, digo-vos Eu, mais que um Profeta. É dele que está escrito: 'Eis que Eu envio Meu mensageiro diante de Ti, para preparar-Te o Caminho (Ml 3,1).' E se quereis compreender, ele é o Elias que devia voltar. Quem tem ouvidos, ouça." Mt 11,7-10.14-15
    Assim sua missão lhe custou a vida, mas, podemos ter certeza, ele faria tudo de novo, pois sua missão estava em perfeita consonância com a Boa Nova anunciada por Jesus, que pregou: "Não temais àqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Antes temei Àquele que pode precipitar a alma e o corpo na geena." Mt 10,28
    Ele não se arrependeu de ter condenado, portanto, nem a devassidão do rei nem a corrupção dos costumes, que tanto imperava na côrte e como na sociedade judaica, inclusive entre religiosos. Sua pregação era clara e contundente: "Ao ver, porém, que muitos dos fariseus e dos saduceus vinham a seu batismo, disse-lhes: 'Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da vindoura cólera? Dai, pois, frutos de verdadeira penitência. Não digais dentro de vós: 'Nós temos a Abraão por pai!' Pois eu vos digo: Deus é poderoso para destas pedras suscitar filhos a Abraão.'" Mt 3,7-9


    Ora, ele próprio era um permanente penitente, cuja incômoda roupa, depois chamada de cilício, seria usada por muito Santos como mortificação e sacrifício: "João usava uma vestimenta de pelos de camelo e um cinto de couro em volta dos rins. Alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre." Mt 3,4
    Assim, até mesmo silêncio ou desfaçatez perante a crescente degeneração moral eram-lhe uma grande ofensa a Deus, porque se viviam os tempos da espera do Messias. Sua 'rebeldia' era santa, sua profunda indignação impedia-lhe de viver na indiferença. 'Aqueles tempos' eram por demais sérios. Nosso Salvador instruiria em mesmo sentido: "Desde então Jesus começou a pregar: 'Fazei penitência, pois o Reino dos Céus está próximo.'" Mt 4,17
    Ele arguia as multidões: "Ainda dizia ao povo: 'Quando vedes levantar-se uma nuvem no poente, logo dizeis: 'Aí vem chuva.' E assim sucede. Quando vedes soprar o vento do sul, dizeis: 'Haverá calor.' E assim acontece. Hipócritas! Sabeis distinguir os aspectos do céu e da terra. Como, pois, não sabeis reconhecer o presente tempo?'" Lc 12,54-56
    E acusou, no Evangelho Segundo São Marcos: "Porque se nesta adúltera e pecadora geração alguém se envergonhar de Mim e de Minhas palavras, o Filho do Homem também Se envergonhará dele, quando vier na Glória de Seu Pai com Seus santos anjos." Mc 8,38
    As mais altas classes e as autoridades religiosas judaicas, de fato, curvavam-se não só à 'sabedoria' de estrangeiros como também à indecência, aos desmandos e às profanações perpetradas pela corte romana. O bacanal de Herodes era só um exemplo. Muitos judeus tomavam parte ativa em seus 'cultos', pois para eles Herodes seria o próprio Messias (cf. At 12,22), e, de tão pervertidos, até conspirariam contra Jesus: "Saindo dali os fariseus, logo deliberaram com os herodianos como haviam de matá-Lo." Mc 3,6
    Por isso, Jesus exigiu de todos esses falsos religiosos que 'devolvessem' o povo a Deus: "Reuniram-se, então, os fariseus para deliberar entre si sobre a maneira de surpreender Jesus em Suas próprias palavras. Enviaram seus discípulos com os herodianos, que Lhe disseram: 'Mestre, sabemos que és verdadeiro e ensinas o Caminho de Deus em toda Verdade, sem Te preocupares com ninguém, porque não olhas para a aparência dos homens. Dize-nos, pois, o que Te parece: É permitido ou não pagar o imposto a César?' Jesus, percebendo sua malícia, respondeu: 'Por que Me tentais, hipócritas? Mostrai-Me a moeda com que se paga o imposto!' Apresentaram-Lhe um denário. Perguntou Jesus: 'De quem é esta imagem e esta inscrição?' 'De César', responderam-Lhe. Disse-lhes então Jesus: 'Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.'" Mt 22,16-21
    Mas tudo isso era demais, inaceitável para São João Batista. Cioso de maiores responsabilidades, após anunciar o Cristo não lhe restava outra coisa senão continuar vivendo o que pregava: negar a si mesmo. Ele afirmou-o quando vieram dizer-lhe que os discípulos de Jesus estavam batizando (cf. Jo 4,2) e que muita gente ia a Ele, como está no Evangelho Segundo São João: "Importa que Ele cresça e que eu diminua." Jo 3,30
    Para que entendamos o que ele queria dizer com essa frase, um misto de dever cumprido e resignação quanto à vontade de Deus, basta lembrar o que o próprio Jesus afirmou: "Eu vim lançar fogo à Terra, e que tenho Eu a desejar se ele já está aceso?" Lc 12,49
    Significativamente, para alguém que veio batizar, o brutal martírio que nosso Santo padeceu também foi um batismo, tal qual Jesus iria prever para Si mesmo e para os irmãos Boanerges, São Tiago Maior e São João Apóstolo, ainda que este último tenha morrido de velho, mas terminou valendo para os demais Apóstolos e tantos outros Seus seguidores: "Vós bebereis o cálice que Eu devo beber, e sereis batizados no batismo em que Eu devo ser batizado." Mc 10,39


    Vemos, então, que o Batista não poderia simplesmente passar por esse mundo, como muitos de nós pretendemos. E seu destino, que não nos enganemos, não foi a desgraça de uma horrível morte, mas a Eterna Glória. Sim, Glória, como foi a de Cristo, que disse ao aproximar-se o momento de Seu Martírio: "Respondeu-lhes Jesus: 'É chegada a hora para o Filho do Homem ser glorificado. Presentemente, Minha alma está perturbada. Mas que direi? Pai, salva-Me desta hora? Mas é exatamente para esta hora que Eu vim.'" Jo 12,23.27
    Aliás, é o que Ele havia determinado a todos nós: "Porque aquele que quiser salvar sua vida, perdê-la-á. Mas aquele que perder sua vida por amor a Mim e ao Evangelho, salvá-la-á." Mc 8,35
    Não importava ao Batista, portanto, a violência ou a humilhação desse batismo, mas seu compromisso com a Verdade, com Deus. E tenhamos presente que ele não tinha ciência de que também estava precedendo o Messias em Sua Paixão. Ou seja, candidatou-se antes d'Ele, não viu Seu exemplo para só depois acreditar e segui-Lo, como foi o caso dos Apóstolos e deve ser o de todos nós, como a Primeira Carta de São João bem prescreveu: "Nisto temos conhecido o amor: (Jesus) deu Sua Vida por nós. Nós também devemos dar nossa vida por nossos irmãos." 1 Jo 3,16
    Ora, é Jesus mesmo Quem faz a melhor síntese de sua missão, ao falar aos religiosos da época: "Vós enviastes mensageiros a João, e ele deu testemunho da Verdade." Jo 5,33
    E sem dúvida, essa era muito cara questão a Jesus, a essência de Sua própria Missão, pois disse diante de Pilatos: "É para dar testemunho da Verdade que nasci e vim ao mundo. Todo aquele que é da Verdade ouve Minha voz." Jo 18,37b   
    Enfim, São João Batista cumpriu muito bem sua missão. Primeiro, pregando o arrependimento dos pecados, e assim preparava o povo de Israel para encontrar-se com Deus Jesus, antecipando Sua própria pregação inicial (cf. Mt 4,17): "Naqueles dias apareceu João Batista, pregando no deserto de Judeia. Dizia ele: 'Fazei penitência, porque o Reino dos Céus está próximo.'" Mt 3,1-2
    Em seguida, tomando Confissões e batizando, para purificar-lhes os pecados: "Pessoas de Jerusalém, de toda Judeia e de toda circunvizinhança do Jordão vinham a ele. Confessavam seus pecados e por ele eram batizados nas águas do Jordão." Mt 3,5-6
    Com efeito, esse era o sentido de seu batismo, como o Amado Médico vai dizer: "Ele percorria toda região do Jordão, pregando o batismo de arrependimento para remissão dos pecados..." Lc 3,3
    Por fim, após batizar Jesus, passou a anunciá-Lo como o Redentor: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo." Jo 1,29
    Deu esse testemunho: "É Este de Quem eu disse: 'Depois de mim virá um Homem, que me é superior, porque existe antes de mim.' Eu não O conhecia, mas, se vim batizar em água, é para que Ele Se torne conhecido em Israel.'" Jo 1,30-31
    Ora, logo após batizar Jesus ele já tinha afirmado, segundo São João Evangelista, testemunha ocular do fato: "João havia declarado: 'Vi o Espírito descer do Céu em forma de uma pomba e repousar sobre Ele.'" Jo 1,32
    E revelou que recebera de Deus mesmo esta missão, e certamente não foi a única (cf. Lc 3,18)! Ou seja, ele falava com Deus, o que era comum entre os Profetas, e também foi arauto do Divino Paráclito: "Eu não O conhecia, mas Aquele que me mandou batizar em água disse-me: 'Sobre Quem vires descer e repousar o Espírito, Este é Quem batiza no Espírito Santo.'" Jo 1,33
    Em seu louvor, portanto, Jesus declarou que o Batista era o maior dentre os homens. Claro, sendo também Deus, Nosso Senhor excluía a Si mesmo. Contudo, antes de Sua Ressurreição (cf. Jo 1,16), ele era 'inferior' às celestiais criaturas: "Pois digo-vos: entre os nascidos de mulher não há maior que João. Entretanto, o menor no Reino de Deus é maior que ele." Lc 7,28
    De fato, o sagrado autor da Carta aos Hebreus, que era seguidor da tradição de São Paulovai invocar esse colóquio do Livro de Salmos, entre o rei Davi e Deus: "Alguém em certa passagem afirmou: 'Que é o homem para que dele Te lembres, ou o filho do homem, para que o visites? Fizeste-o, por pouco, menor que os anjos... (Sl 8,5-6a)." Hb 2,6-7a
    Por sua grandeza, portanto, ele poderia muito bem, embora haja evidências em contrário, ser um dos Santos que ressurgiram com Cristo no Domingo da Ressurreição: "Os sepulcros abriram-se e os corpos de muitos justos ressuscitaram. Saindo de suas sepulturas, entraram na Cidade Santa depois da Ressurreição de Jesus e apareceram a muitas pessoas." Mt 27,52-53
    E falando sobre Jesus aos principais dos judeus, São João Batista disse uma frase que ainda hoje ecoa nos ouvidos de muitos de nós: "Este foi o testemunho de João, quando os judeus lhe enviaram sacerdotes e levitas de Jerusalém para perguntar-lhe: 'Quem és tu?' João respondeu: 'Eu batizo com água, mas em meio a vós está Alguém que vós não conheceis.'" Jo 1,19.26
    Assim, pelo exemplo desse eremita, um legítimo essênio, devemos ser mais conscientes de nosso compromisso com a Verdade, isto é, a obrigação de testemunhar Cristo. Não podemos simplesmente admirar sua coragem: seria muito pouco! Foi o que Jesus disse: "João era uma lâmpada que ardia e iluminava. Vós, porém, só por uma hora quisestes alegrar-vos com sua Luz." Jo 5,35
    Porque Jesus está no meio de nós, como o Batista afirmava e nós repetimos na Santa Missa, durante a Oração Eucarística. Não desprezemos esse anúncio que tão caro lhe custou. Não nos alegremos com a Luz do último grande Profeta só por uma hora. Seu martírio é um sinal da força do Espírito Santo que o movia desde que foi ungido por Maria Santíssima (cf. Lc 1,41), o que foi previsto pelo Arcanjo São Gabriel (cf. Lc 1,15), assim como da Glória que lhe esperava. E apesar de destemido, ele tudo fez na mais perfeita humildade, sempre anunciando o Santo Paráclito: "Eu batizo-vos com água, em sinal de penitência, mas Aquele que virá depois de mim é mais poderoso que eu, e nem sou digno de tirar-Lhe as sandálias. Ele batizá-vos-á no Espírito Santo e em fogo." Mt 3,11
    Isso bem explica sua reação ao ver Cristo: "De Galileia foi Jesus ao Jordão ter com João, a fim de ser batizado por ele. João recusava-se: 'Eu devo ser batizado por Ti e Tu vens a mim?'" Mt 3,13-14
    Ademais, diferentemente dos grandes Profetas que lhe antecederam, o Batista não realizou uma maravilha sequer. O próprio povo testemunhou sobre ele: "João não fez milagre algum... " Jo 10,41
    Exteriormente, sua autoridade vinha da realidade que com franqueza vivia, pois perdeu seus pais, que eram idosos, ainda na infância: "O menino foi crescendo e fortificava-se em espírito. E viveu nos desertos até o dia em que se apresentou diante de Israel." Lc 1,80
    E por isso pregava à multidão: "Perguntava-lhe a multidão: 'Que devemos fazer?' Ele respondia: 'Quem tem duas túnicas, dê uma ao que não tem. E quem tem o que comer, faça o mesmo.'" Lc 3,10-11
    Deixou, por fim, uma ruidosa recomendação aos militares, mas que vale para todos funcionários públicos no que concerne a salário: "Do mesmo modo, os soldados perguntavam-lhe: 'E nós, que devemos fazer?' Respondeu-lhes: 'Não pratiqueis violência nem defraudeis a ninguém, e contentai-vos com vosso soldo.'" Lc 3,14


SEU MARTÍRIO, SEGUNDO SÃO MARCOS

    "Pois o próprio Herodes mandara prender João e o acorrentar no cárcere, por causa de Herodíades, mulher de seu irmão Filipe, com a qual ele se tinha casado. João tinha dito a Herodes:
    - Não te é permitido ter a mulher de teu irmão.
    Por isso, Herodíades odiava-o e queria matá-lo, não o conseguindo, porém. Porque Herodes respeitava João, sabendo que era um justo e Santo homem. Protegia-o e, quando o ouvia, sentia-se embaraçado. Mas, mesmo assim, de boa mente ouvia-o.
    Chegou, no entanto, um favorável dia em que Herodes, por ocasião de seu natalício, deu um banquete aos grandes de sua corte, a seus oficiais e aos principais de Galileia. A filha de Herodíades apresentou-se e pôs-se a dançar, com grande satisfação de Herodes e de seus convivas. Disse o rei à moça:
    - Pede-me o que quiseres, e eu dá-te-ei.
    E jurou-lhe:
    - Tudo que me pedires, dá-te-ei, ainda que seja a metade de meu reino.
    Ela saiu e perguntou a sua mãe:
    - Que hei de pedir?
    E a mãe respondeu:
    - A cabeça de João Batista.
    Apressadamente tornando a entrar à presença do rei, exprimiu-lhe seu desejo:
    - Quero que me dês, sem demora, a cabeça de João Batista.
    O rei entristeceu-se. Todavia, por causa de sua promessa e dos convivas, não quis recusar. Sem tardar, enviou um carrasco com a ordem de trazer a cabeça de João. Ele foi, decapitou João no cárcere, trouxe sua cabeça num prato e deu-a à moça, e esta entregou-a a sua mãe.
    Ouvindo isto, seus discípulos foram tomar seu corpo e depositaram-no num sepulcro." 
                                                 Mc 6,17-29

    São Mateus complementa: "Depois foram dar a notícia a Jesus." Mt 14,12

    "São João Batista, rogai por nós!"