sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

As Ilusões do Mundo


    Num lamento a Deus, o Livro de Sabedoria admite nossas carnais e espirituais fraquezas: "Tímidos são os pensamentos dos mortais e incertas nossas concepções, porque o corpo corruptível torna pesada a alma, e a terrestre morada oprime o espírito carregado de cuidados." Sb 9,14-15
    Por essa razão, a Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios temia o poder de sedução do Maligno: "Mas temo que, assim como a Serpente enganou Eva com sua astúcia, se corrompam vossos pensamentos e se apartem da sinceridade para com Cristo." 2 Cor 11,3
    Vigilante para com aqueles que Deus lhe havia confiado, conforme a Primeira Carta de São Paulo aos Tessalonicenses, este Apóstolo lançava mão de todo esforço: "É este o motivo porque, não podendo mais suportar a demora, mandei colher informações a respeito de vossa , pois receava que o tentador vos tivesse seduzido e nosso trabalho resultasse em nada." 1 Ts 3,5
    Ora, ele bem conhecia as artimanhas do inimigo: "Não quero que sejamos vencidos por Satanás, pois não ignoramos suas maquinações." 2 Cor 2,11
    Pois ele seduz as preguiçosas consciências, a começar pelos que desvirtuam a Verdade para acobertar seus pecados. A Segunda Carta de São Paulo aos Tessalonicenses avisa: "Ele usará de todas seduções do mal com aqueles que se perdem, por não terem cultivado o amor à Verdade, que teria podido salvá-los." 2 Ts 2,10
    Por revelação, a Segunda Carta de São Paulo a São Timóteo diz que multidões iriam procurar falsas doutrinas e falsos mestres que se ajustassem a seus pecados: "Porque virá tempo em que os homens já não suportarão a Sã Doutrina da Salvação. Levados pelas próprias paixões e pelo prurido de escutar novidades, para si ajustarão mestres. Apartarão os ouvidos da Verdade e atirar-se-ão às fábulas." 2 Tm 4,3-4
    E são muitos os artifícios do inimigo para afastar-nos de Deus. As seduções do Mal acontecem através da riqueza, como o Segundo Livro de Macabeus diz da estratégia dos adversários de Israel em batalhas, corrompendo seus guerreiros: "Todavia, os companheiros de Simão, seduzidos pelo dinheiro..." 2 Mc 10,20
    Através de voluptuosas palavras, como está no Livro de Provérbios, em referência à conversa de uma prostituta: "Seduziu-o à força de palavras e arrastou-o com as lisonjas de seus lábios." Pr 7,21
     Através da paixão sensual, como o Livro do Profeta Daniel anotou, quando ele julgou dois anciãos, juízes de Israel, que tentaram forçar Susana a adulterar: "... foi a beleza que te seduziu..." Dn 13,56
    Através da promiscuidade, como, no Livro de Jó, este renomado personagem questionou a Deus procurando sua culpa: "Se meu coração foi seduzido por uma mulher..." Jó 31,9
    Através do desejo de transgressão, como a Carta de São Paulo aos Romanos reconhece: "Porque o pecado, aproveitando a ocasião do Mandamento, me seduziu..." Rm 7,11
    O Maligno tem vários nomes, mas sua obra é só a perdição das almas. O Livro do Apocalipse de São João apontou: "... o grande Dragão, a primitiva Serpente, chamado Demônio e Satanás, o sedutor do mundo inteiro." Ap 12,9
    É nesse sentido, portanto, a obra de São Rafael Arcanjo (cf. Tb 8,2) atestada nestas visões: "Ele apanhou o Dragão, a primitiva Serpente, que é o Demônio e Satanás, e acorrentou-o por mil anos. Atirou-o no abismo, que fechou e selou por cima, para que já não seduzisse as nações, até que se completassem mil anos." Ap 20,2-3a
    E como o Apóstolo dos Gentios diz, aqueles que não buscam nem a Paz nem a Verdade, manipuladores e manipulados, terão trágico futuro: "Mas os perversos e impostores irão de mal a pior, sedutores e seduzidos." 2 Tm 3,13
    Pouco antes de Sua Paixão, de fato, Jesus advertiu das heresias que inventariam em Seu Nome. Está no Evangelho segundo São Marcos: "E estando sentado no Monte das Oliveiras, defronte ao Templo, perguntaram-Lhe à parte Pedro, Tiago, João e André: 'Dize-nos quando hão de suceder essas coisas? E por qual sinal se saberá que tudo isso estará para realizar-se?' Então Jesus Se pôs a dizer-lhes: 'Cuidai que ninguém vos engane. Muitos virão em Meu Nome, dizendo: 'Sou eu.' E seduzirão a muitos.'" Mc 13,3-6
     E sobre aqueles que se escandalizam com a Sã Doutrina, Ele firmou no Evangelho segundo São Mateus: "Toda planta que Meu Pai Celeste não plantou será arrancada pela raiz. Deixai-os. São cegos e guias de cegos. Ora, se um cego conduz a outro, ambos tombarão na mesma vala." Mt 15,13-14
    Por isso, para nossa Salvação, a Missão de Jesus, o Verbo que Se tornou Carne (cf. Jo 1,14), é livrar-nos do pecado através da Palavra de Deus, ou seja, da Verdade. Quando foi 'julgado', Ele disse a Pilatos, no Evangelho segundo São João: "É para dar testemunho da Verdade que nasci e vim ao mundo. Todo aquele que é da Verdade ouve Minha voz." Jo 18,37
    Ora, Jesus é a própria Verdade! Sua revelação ao mundo é a própria revelação da realidade que vivemos! E não há como chegar a Deus sem conhecê-Lo. Ele disse enquanto Se despedia dos Apóstolos:  "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai senão por Mim." Jo 14,6
    E sobre a entrega de Sua vida na Cruz, Ele havia revelado à multidão em Jerusalém, já em Sua última Páscoa, que eles perceberiam o que é Verdade e o que é meramente ilusão: "E quando Eu for levantado da Terra, a Mim atrairei todos homens." Jo 12,32
    De fato, referindo-se a antigos preceitos ou mesmo a divinos sinais, agora meras prefiguras, a Carta de São Paulo aos Colossenses cravou: "Tudo isto não é mais que sombra do que devia vir, mas a realidade é o Corpo de Cristo." Cl 2,17


IGNORÂNCIA

    A bem da Verdade, muitos cometem erros ou pela difícil vida que levam ou por desistir da busca de Deus. No Evangelho segundo São Lucas, por exemplo, Jesus rezou ao Pai pelos soldados romanos que O crucificavam: "Pai, perdoa-lhes. Porque não sabem o que fazem." Lc 23,34b
    Por isso, o Sacerdote da Igreja deve ser, antes de mais nada, condescendente, como os seguidores da tradição de São Paulo escreveram na Carta aos Hebreus: "Sabe compadecer-se dos que estão na ignorância e no erro, porque ele também está cercado de fraqueza." Hb 5,2
    Aliás, são muitos os que nem mesmo percebem o torpor em que vivem, como a Carta de São Paulo aos Efésios exorta os cristãos: "Portanto, eis o que digo e conjuro no Senhor: não persistais em viver como os pagãos, que andam à mercê de suas frívolas idéias. Têm o entendimento obscurecido. Sua ignorância e o endurecimento de seu coração mantêm-nos afastados da Vida de Deus. Indolentes, entregaram-se à dissolução, à apaixonada prática de toda espécie de impureza. Vós, porém, não foi para isto que vos tornastes discípulos de Cristo, se é que O ouvistes e d'Ele aprendestes como convém à Verdade em Jesus. Renunciai à vida passada, despojai-vos do velho homem, corrompido por enganadoras concupiscências." Ef 4,17-22
    Em vista da situação de tanta gente, a Primeira Carta de São Paulo a São Timóteo também reconhece um passado de enganos: "... a mim que outrora era blasfemo, perseguidor e injuriador. Mas alcancei Misericórdia, porque ainda não tinha recebido a fé e o fazia por ignorância." 1 Tm 1,13
    E numa mais que sensata síntese, a Primeira Carta de São Pedro diz que, para vencer a ignorância, devemos viver pura e simplesmente na obediência a Deus: "À maneira de obedientes filhos, já não vos amoldeis aos desejos que antes tínheis, no tempo de vossa ignorância." 1 Pd 1,14
    Porque, mais que nossas palavras, o exemplo através dos modos pode ajudar a converter os que desconhecem o Celeste Pai: "Nobremente comportai-vos entre os pagãos. Assim, naquilo em que vos caluniam como malfeitores, chegarão, considerando vossas boas obras, a glorificar a Deus no dia em que Ele os visitar. Porque esta é a vontade de Deus que, praticando o bem, façais emudecer a ignorância dos insensatos." 1 Pd 2,12.15
    Ele exalta, citando o Livro do Profeta Isaías, a força do exemplo da paciência na vida pública e no Matrimônio: "Com efeito, a Deus é agradável coisa sofrer contrariedades e injustamente padecer, por motivo de consciência para com Deus. Ora, é para isto que fostes chamados. Cristo também padeceu por vós, deixando-vos exemplo para que sigais Seus passos. Ele não cometeu pecado, nem se achou falsidade em Sua boca (Is 53,9). Ele, ultrajado, não retribuía com idêntico ultraje, maltratado, não proferia ameaças, mas entregava-Se Àquele que julga com justiça. Vós, ó mulheres, também sede submissas a vossos maridos. Se alguns não obedecem à Palavra, serão conquistados, mesmo sem a Palavra da pregação, pelo simples procedimento de suas mulheres, ao observarem vossa casta e reservada vida." 1 Pd 2,19.21-23;3,1-2
    Quem busca ouvir a Deus, portanto, deve ser vigilante, não se permitindo os erros daqueles que não O ouvem. A Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios exclama: "Despertai, como convém, e não pequeis! Porque alguns vivem na total ignorância de Deus. Para vossa vergonha digo-o." 1 Cor 15,34
    Para tanto, são duas simples e pontuais recomendações de Jesus aos que receberam a Palavra: "Vigiai e orai para que não caiais em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca." Mt 26,41
    Em nome dessa vigilância, confessa e reza o Livro de Eclesiástico: "Quem dará à minha boca uma guarda, e sobre meus lábios um adequado sinete, para que não me façam cair e minha língua não me arruíne? Senhor, Meu Pai e Soberano de minha vida, não me abandoneis aos desmandos de meus lábios, e não permitais que eles me façam sucumbir. Quem me fará sentir o chicote em meus pensamentos, e em meu coração a Doutrina da Sabedoria, para que meus pecados por ignorância não ser poupados, a fim de que esses erros não tornem a aparecer? Para que não aumentem minhas omissões, e não se multipliquem minhas ignorâncias... " Eclo 22,27;23,1-3a
    Ele recomenda amor à Verdade e Confissão: "De modo algum contradigas a Verdade, envergonha-te da mentira cometida por ignorância. Não te envergonhes de confessar teus pecados..." Eclo 4,30-31a
    Realmente contrito, o Livro de Salmos pede perdão até pelos pecados que ignora: "Ainda que Vosso servo neles atente, com todo cuidado guardando Teus juízos, quem pode, entretanto, ver as próprias faltas? Purificai-me das que me são ocultas." Sl 18,12-13
    E o Eclesiástico dá um simples, porém sapientíssimo conselho, verdadeiro divisor de águas: "Não pratiques o mal, e o mal não te iludirá." Eclo 7,1


DISCERNIMENTO

    Desde os primórdios da Revelação, Deus havia recomendado sobriedade a Aarão, o irmão mais velho de Moisés (cf. Ex 6,20), como está no Livro de Levítico: "... a fim de que sempre estejais em condições de discernir o que é santo do que é profano, o puro do impuro..." Lv 10,10
    E já havia pedido a Abraão, no Livro de Gênesis, quando mudou seu nome e propôs-lhe a Aliança: "O Senhor apareceu-lhe e disse-lhe: 'Eu sou o Deus Todo-poderoso. Anda em Minha presença e sê perfeito.'" Gn 17,17b
     Mas, para discernir como convém, invariavelmente precisamos dos auxílios do Divino Paráclito. A Sabedoria pergunta a Deus: "E quem conhece Vossas intenções, se Vós não lhe dais a Sabedoria, e se do mais alto dos Céus Vós não lhe enviais Vosso Espírito Santo?" Sb 9,17
    O próprio Jesus descreveu as três elementares funções da Terceira Pessoa de Deusma última noite entre os Apóstolos: "E quando Ele vier, convencerá o mundo a respeito do pecado, da justiça e do Juízo. Convencerá o mundo a respeito do pecado, que consiste em não crer em Mim. Convencê-lo-á a respeito da justiça, porque Me vou para junto de Meu Pai e vós já não Me vereis. Ele convencê-lo-á a respeito do Juízo, que consiste em que o príncipe deste mundo já está julgado e condenado." Jo 16,8-11
    E chamou-O, nesta ocasião, por este distintivo título, dizendo de Sua assistência para novos assuntos através dos séculos: "Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensiná-vos-á toda a Verdade, porque não falará por Si mesmo, mas dirá o que ouvir e anunciá-vos-á as coisas que virão. Ele glorificá-Me-á, porque receberá do que é Meu e vos anunciará." Jo 16,13-14
    Tamanha dádiva, porém, não é indiscriminadamente distribuída. Jesus havia-O prometido apenas à Sua Igreja, à Casa de Deus, como se veria no Pentecostes: "É o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber porque não O vê nem O conhece. Mas vós conhecê-Lo-eis, porque convosco permanecerá e em vós estará." Jo 14,17
    Sem o Santo Espírito, mesmo religiosos têm largamente errado, como São Paulo diz dos judeus que não acolheram o Cristo: "Pois lhes dou testemunho de que têm zelo por Deus, mas um zelo sem discernimento. Desconhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer sua própria justiça, não se sujeitaram à justiça de Deus." Rm 10,2-3
    E conforme a Segunda Carta de São Pedro, em profecia, muitos fiéis têm seguido verdadeiros mercenários, e assim acabam alimentando calúnias ao Evangelho: "Assim como entre o povo houve falsos profetas, entre vós haverá falsos doutores que disfarçadamente introduzirão perniciosas seitas. Muitos segui-los-ão em suas desordens e deste modo serão a causa de o Caminho da Verdade ser caluniado. Movidos por cobiça, eles hão de explorar-vos por palavras cheias de astúcia." 2 Pd 2,1-3
    São Paulo tratou de precaver-nos: "Nota bem o seguinte: nos últimos dias haverá um difícil período. Os homens tornar-se-ão egoístas, avarentos, fanfarrões, soberbos, rebeldes aos pais, ingratos, malvados, desalmados, desleais, caluniadores, devassos, cruéis, inimigos dos bons, traidores, insolentes, cegos de orgulho, amigos dos prazeres e não de Deus, ostentarão a aparência de piedade, desdenhando, porém, de sua autoridade. Dessa gente, afasta-te! Deles fazem parte os que jeitosamente se insinuam pelas casas e enfeitiçam mulherzinhas carregadas de pecados, atormentadas por toda espécie de paixões, sempre a aprender sem nunca chegar ao conhecimento da Verdade." 2 Tm 3,1-7
    A Carta de São Paulo a São Tito, pois, pediu rigor com os membros da Santa Igreja: "Portanto, severamente repreende-os para que se mantenham sãos na fé, e não deem ouvidos a judaicas fábulas nem a preceitos de homens avessos à Verdade. Para os puros todas coisas são puras. Para os corruptos e descrentes, nada é puro: até sua mente e consciência são corrompidas. Proclamam que conhecem a Deus, mas na prática renegam-nO, detestáveis que são, rebeldes e incapazes de qualquer boa obra." Tt 1,13-16
    E também aos cristãos da cidade de Éfeso: "Ora, o fruto da Luz é bondade, justiça e Verdade. Procurai o que é agradável ao Senhor, e não tenhais cumplicidade nas infrutíferas obras das trevas. Pelo contrário, abertamente condenai-as. Porque as coisas que tais homens ocultamente fazem, até falar delas é vergonhoso. Mas tudo isto, ao ser reprovado, torna-se manifesto pela Luz." Ef 5,9-13
    Pregava, enfim, fidelidade ao Evangelho: "Mas graças sejam dadas a Deus, que sempre nos concede triunfar em Cristo, e que por nosso meio difunde o perfume de Seu conhecimento em todo lugar. É que, de fato, não somos, como tantos outros, falsificadores da Palavra de Deus. Mas é em sua integridade, tal como procede de Deus, que nós a pregamos em Cristo, sob os olhares de Deus." 2 Cor 2,14.17
    Quem recebe o Espírito de Deus, portanto, une-se à Igreja e afasta-se de todo engano. A Primeira Carta de São João faz essa distinção: "Nós, porém, somos de Deus. Quem conhece a Deus, ouve-nos. Quem não é de Deus, não nos ouve. É nisto que conhecemos o Espírito da Verdade e o espírito do erro." 1 Jo 4,6
    Ele defende a Tradição Oral da Igreja e a Comunhão, e assim denuncia os planos do inimigo que provoca divisões: "Que permaneça em vós o que tendes ouvido desde o princípio. Se permanecer em vós o que ouvistes desde o princípio, também permanecereis vós no Filho e no Pai. Era isto que eu vos tinha a escrever a respeito dos que vos seduzem." 1 Jo 2,24.26
    Aliás, o próprio Jesus asseverou aos Apóstolos: "Se se recusa ouvi-los, dize-o à Igreja. E se também se recusar ouvir a Igreja, seja ele para ti como um pagão e um publicano." Mt 18,17
    Em relação à semente que Ele mesmo havia lançado, garantiu-lhes na noite da Santa Ceia: "Se guardaram Minha Palavra, também hão de guardar a vossa." Jo 15,20b
    Com efeito, sob a Luz do Espírito Santo, ou seja, na Igreja, podemos ver muito além das ilusões do mundo. A Carta de São Paulo aos Gálatas prega: "Ora, as obras da carne são estas: fornicação, impureza, libertinagem, idolatria, superstição, inimizades, brigas, ciúmes, ódio, ambição, discórdias, partidos, invejas, bebedeiras, orgias e outras semelhantes coisas. De tudo isso, previno-vos como já vos preveni: aqueles que as praticarem não herdarão o Reino de Deus! O fruto do Espírito, ao contrário, é caridade, alegria, Paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança. Se vivemos pelo Espírito, também andemos de acordo com o Espírito." Gl 5,19-23.25
    Exorta à retidão de comportamento e ao discernimento dos divinos sinais: "Vigiai, pois, com cuidado sobre vossa conduta: que ela não seja conduta de insensatos, mas de sábios... Não sejais imprudentes, mas procurai compreender qual seja a vontade de Deus." Ef 5,15.17
    E os seguidores de sua tradição reclamam: "A julgar pelo tempo, já devíeis ser mestres! Contudo, ainda necessitais que vos ensinem os primeiros rudimentos da Palavra de Deus. E tornaste-vos tais que precisais de leite em vez de sólido alimento! Ora, quem se alimenta de leite não é capaz de compreender uma profunda doutrina, porque é ainda criança. Mas o sólido alimento é para os adultos, para aqueles que a experiência já exercitou na distinção do bem e do mal." Hb 5,12-14
    Segundo os Provérbios, por fim, o ser humano deve optar entre a prudência e a loucura: "Todo prudente homem age com discernimento, mas o insensato põe em evidência sua loucura." Pr 13,16

MENTIRA

    A síntese das ilusões, pois, é a própria mentira, que também é uma ofensa a Deus porque ofusca Suas revelações. Ciente deste mal, o salmista cantava: "Afastai-me do caminho da mentira, e fazei-me fiel à Vossa Lei." Sl 118,29
    E aconselha: "Guarda tua língua do mal, e teus lábios das enganosas palavras." Sl 33,14
    Para o Eclesiástico, a mentira é um triste e gritante sinal da falta de educação: "A mentira é no homem uma vergonhosa mancha: não deixa os lábios das mal-educadas pessoas." Eclo 20,26
    E perverte-se a Verdade porque se é leviano: "O pecador é apanhado pela sua leviandade. O orgulhoso e o maledicente nela encontrarão motivos de queda." Eclo 23,8
    Nos Provérbios, ela aparece junto à falsidade como grandes ofensas a Deus, tanto na face do arrogante quanto na do esfomeado: "Eu peço-te duas coisas, não mas negues antes de minha morte: afasta de mim falsidade e mentira. Não me dês nem pobreza nem riqueza. Concede-me o pão que me é necessário, para que, saciado, eu não te renegue, e não diga: 'Quem é o Senhor?' Ou que, pobre, eu não roube, e não profane o Nome de Meu Deus." Pr 30,7-9
    Ora, os gananciosos perdem suas vidas nessa ilusão: "Tesouros adquiridos pela mentira: passageira vaidade para os que procuram a morte." Pr 21,6
    Na parábola do semeador, Jesus diz da própria Palavra de Deus, mesmo quando semeada em fértil terreno: "... a ilusão das riquezas, as múltiplas cobiças sufocam a boa semente e tornam-na infrutífera." Mc 4,19
    E São Paulo fulmina: "A ira de Deus manifesta-se do alto do Céu contra toda impiedade e perversidade dos homens, que pela injustiça aprisionam a Verdade. Porquanto o que se pode conhecer de Deus, eles leem-no em si mesmos, pois Deus o revelou com evidência. Desde a Criação do mundo, as invisíveis perfeições de Deus, Seu sempiterno poder e divindade tornam-se visíveis à inteligência por Suas obras, de modo que não podem escusar-se. Porque, conhecendo a Deus, não O glorificaram como Deus nem Lhe deram graças. Pelo contrário, extraviaram-se em seus vãos pensamentos e obscureceu-se-lhes o insensato coração. Pretendendo-se sábios, tornaram-se estultos. Mudaram a majestade de Deus incorruptível em representações e figuras de corruptível homem, de aves, quadrúpedes e répteis. Por isso, Deus entregou-os aos desejos de seus corações, à imundície, de modo que entre si desonraram os próprios corpos. Trocaram a Verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram à criatura em vez do Criador, que é bendito pelos séculos. Amém! Por isso, Deus entregou-os a vergonhosas paixões: suas mulheres mudaram as relações naturais em relações contra a natureza. Do mesmo modo, os homens, deixando o natural uso da mulher, arderam em desejos uns para com os outros, cometendo homens com homens a torpeza e recebendo em seus corpos a paga devida a seu desvario. Como não se preocupassem em adquirir o conhecimento de Deus, Deus entregou-os aos depravados sentimentos, e daí seu indigno procedimento. São repletos de toda espécie de malícia, perversidade, cobiça, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade. São difamadores, caluniadores, inimigos de Deus, insolentes, soberbos, altivos, inventores de maldades, rebeldes contra os pais. São insensatos, desleais, sem coração, sem misericórdia. Apesar de conhecerem o justo decreto de Deus que considera dignos de morte aqueles que tais coisas fazem, não somente as praticam, como também aplaudem aqueles que as cometem." Rm 1,18-32
    E se alguns maliciosamente atribuem a Deus a criação de tantos males, o Eclesiástico diz algo diferente: "O erro e as trevas foram criados pelos pecadores. Aqueles que se comprazem no mal, envelhecerão no mal." Eclo 11,16
    Jó, no mesmo sentido, afirma: "Quem concebe o mal, gera a infelicidade: é o engano que amadurece em seu seio." Jó 15,35
    Enfim, temos a Palavra do próprio Jesus sobre a mentira, que disse aos líderes judeus na Cidade Santa: "Vós tendes como pai o Demônio e quereis fazer os desejos de vosso pai. Ele era homicida desde o princípio e não permaneceu na Verdade, porque a Verdade não está nele. Quando diz a mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira." Jo 8,44
    São Paulo também denunciou a atividade do Diabo: "Por isso, não desanimamos deste Ministério que por Misericórdia nos foi conferido. Afastamos de nós todo fingido e vergonhoso procedimento. Não andamos com astúcia, nem falsificamos a Palavra de Deus. Pela manifestação da Verdade, nós recomendamo-nos à consciência de todos homens, diante de Deus. Se nosso Evangelho ainda estiver encoberto, está encoberto para aqueles que se perdem, para os incrédulos, cujas inteligências o deus deste mundo a tal ponto obcecou que não percebem a Luz do Evangelho, onde resplandece a Glória de Cristo, que é a imagem de Deus. De fato, não nos pregamos, a nós mesmos, mas a Jesus Cristo, o Senhor." 2 Cor 4,1-5a
    E São João Evangelista, falando sobre Jesus, assinala: "Eis como sabemos que O conhecemos: se guardamos Seus Mandamentos. Aquele que diz conhecê-Lo e não guarda Seus Mandamentos é mentiroso, e nele não está a Verdade. Aquele, porém, que guarda Sua Palavra, nele o amor de Deus verdadeiramente é perfeito. É assim que conhecemos se estamos n'Ele: aquele que afirma n'Ele permanecer, também deve viver como Ele viveu." 1 Jo 2,3-6
    Pois Ele vencerá os comandados por Satanás, e pela Verdade exterminará os seduzidos por seus enganosos sinais. Está nas revelações do Apocalipse: "Mas a Fera foi presa, e com ela o falso profeta que realizara prodígios sob seu controle, com os quais seduzira aqueles que tinham recebido o sinal da Fera e se tinham prostrado diante de sua imagem. Ambos foram lançados vivos no lago de sulfuroso fogo. Os demais foram mortos pelo Cavaleiro, com a espada que Lhe saía da boca." Ap 19,20-21a

TENTAÇÕES E SALVAÇÃO

    Nas três tentações a Cristo, em conclusão, vemos a malícia de Satanás na arte de iludir. E assim como fez com Nosso Salvador, ele também nos assedia:
    - em nossas necessidades fisiológicas: "O tentador aproximou-se d'Ele e disse-Lhe: 'Se és Filho de Deus, ordena que estas pedras se tornem pães.'" Mt 4,3
    - em nossas necessidades espirituais: "O Demônio transportou-O à Cidade Santa, colocou-O no mais alto ponto do Templo e disse-Lhe: 'Se és Filho de Deus, lança-Te abaixo, pois está escrito: Ele deu a Seus anjos ordens a teu respeito. Protegê-te-ão com as mãos, com cuidado, para não machucares teu pé em pedra alguma (Sl 90,11s).'" Mt 4,5-6
    - em nossas necessidades materiais: "O Demônio transportou-O uma vez mais, a um alto monte, mostrou-Lhe todos reinos do mundo e sua glória, e disse-Lhe: 'Dá-Te-ei tudo isto se me adorares, prostrando-Te diante de mim.'" Mt 4,8-9
    No entanto, pelas palavras de Jesus, sabemos que Satanás é mentiroso, e por isso nada possui. O que ele nos oferece é apenas ilusão, pois tudo pertence a Deus. Ele não tem poder para destruir os planos e a obra do Pai, mas tão somente para atrapalhar e desviar o desobediente e impiedoso ser humano. A Carta de São Tiago ensina: "Ninguém, quando for tentado, diga: 'É Deus Quem me tenta.' Deus é inacessível ao Mal e não tenta a ninguém. Cada um é tentado por sua própria concupiscência, que o atrai e alicia. A concupiscência, depois de conceber, dá à luz o pecado. E o pecado, uma vez consumado, gera a morte." Tg 1,13-15
    Ele garante: "Feliz o homem que suporta a tentação. Porque depois de sofrer a provação, receberá a coroa da Vida que Deus prometeu àqueles que O amam. Não vos iludais, pois, meus amados irmãos. Toda boa dádiva e todo perfeito dom vêm de cima: descem do Pai das luzes, no Qual não há mudança, nem mesmo aparência de instabilidade." Tg 1,12.16-17
    Em grande inspiração, o Amado Discípulo apontou três tendências para o mal, que também podem ser vistas como exacerbações das necessidades fisiológicas, espirituais e materiais, respectivamente: "Porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas do mundo. O mundo passa com suas concupiscências, mas quem cumpre a vontade de Deus permanece eternamente." 1 Jo 2,16-17
    Para a primeira delas, a recomendação de São Paulo a São Timóteo é simplíssima: fugir. E para as demais ele indica a piedade e a Santa Missa: "Foge das paixões da mocidade, e com empenho busca a justiça, a fé, a caridade, a Paz, em companhia daqueles que invocam o Senhor com pureza de coração." 2 Tm 2,22
    Nossas fraquezas, pois, não mais são desculpas para nossas quedas, porque, por Sua Paixão, Jesus deu-nos o maior dos exemplos. É o que nos foi ensinado sobre Sua última noite no Getsêmani, onde seria preso: "Adiantou-Se um pouco e, prostrando-Se com a face por terra, assim rezou: 'Meu Pai, se é possível, afasta de Mim este cálice! Todavia não se faça o que Eu quero, mas sim o que Tu queres.'" Mt 26,39
    E nesse sentido, São Tiago Menor segue apontando o caminho: "Sede submissos a Deus e resisti ao Demônio, que ele fugirá para longe de vós. Aproximai-vos de Deus, e Ele aproximar-Se-á de vós." Tg 4,7

    "E não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do Mal!"

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

O Pão da Vida Eterna


    Existe um sagrado alimento que nos põe em Comunhão com Deus. Todo verdadeiro cristão, pois, deve desejar sentar-se à mesa com Seu Filho e Nosso Irmão Jesus Cristo, e servir-se deste Alimento. Contrapondo-o ao maná (cf. Êx 16,14) comido pelos israelitas no deserto, Jesus ensinou aos judeus no Evangelho segundo São João, depois de multiplicar pães e peixes: "Em Verdade, em Verdade, digo-vos: Moisés não vos deu o Pão do Céu, mas Meu Pai é Quem vos dá o verdadeiro Pão do Céu. Porque o Pão de Deus é o Pão que desce do Céu e dá Vida ao mundo." Jo 6,32-33
    E o Pão que Deus nos oferece é o próprio Jesus, o Verbo Encarnado, o Pão da Vida Eterna, pois nossa Salvação vem por Sua Carne e por Seu Sangue, como Ele disse nesta mesa ocasião: "Eu sou o Pão Vivo que desceu do Céu. Quem comer deste Pão viverá eternamente. E o Pão, que Eu hei de dar, é Minha Carne para a Salvação do mundo." Jo 6,51
    Falava mesmo de outra Vida: "Assim como o Pai, que Me enviou, vive, e Eu vivo pelo Pai, aquele que comer Minha Carne também viverá por Mim." Jo 6,57
    Expressamente disse sobre o miraculoso maná (cf. Êx 16,18), apontando para Si mesmo: "Este é o Pão que desceu do Céu. Não como o maná que vossos pais comeram e morreram. Quem come deste Pão viverá eternamente”.Jo 6,58
    Ele foi explicitamente claro: "Eu sou o Pão da Vida. Vossos pais, no deserto, comeram o maná (cf. Êx 16,15) e morreram. Este é o Pão que desceu do Céu, para que não morra todo aquele que dele comer." Jo 6,48-50
    Ora, como a Encarnação de Deus na Pessoa de Jesus foi um fenômeno sobrenatural, assim também se dá com Sua presença na Hóstia Consagrada, que recebemos na Santa Missa. Ambas manifestações são obras do Espírito Santo, que é a Terceira Pessoa de Deus: a primeira deu-se através de Nossa Mãe Maria Santíssima, e a segunda dá-se através da Santa Eucaristia.
    Logo, para vivermos a Vida Plena que Deus nos oferece, precisamos estar em Comunhão com a Santíssima Trindade, precisamos do Espírito de Deus agindo em nós, como a Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios diz: "A Graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a Comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós!" 2 Cor 13,13
    Porque não há Vida Plena se não nos alimentarmos do Corpo de Cristo. Falando em terceira Pessoa, são palavras de Nosso Salvador: "... se não comerdes a Carne do Filho do Homem, e não beberdes Seu Sangue, não tereis a Vida em vós mesmos." Jo 6,53
    E é por Seu Corpo e Seu Sangue que Ele nos garante a Vida Eterna, a Ressurreição da Carne para a Glória dos Céus: "Quem come Minha Carne e bebe Meu Sangue tem a Vida Eterna, e Eu ressuscitá-lo-ei no Último Dia." Jo 6,54
    Para tanto, Ele instituiu a Eucaristia na Santa Ceia, na noite do início de Sua Paixão, como se lê no Evangelho segundo São Lucas: "Em seguida, tomou o pão e depois de ter dado graças, partiu-O e deu-lhO, dizendo: 'Isto é Meu Corpo, que é dado por vós. Fazei isto em memória de Mim.'" Lc 22,19
    Ora, aí nada há de simbolismo, como falsos mestres de falsas igrejas divulgam. Jesus claramente afirmou a materialidade, a Transubstanciação do pão e do vinho em Seu Corpo e Seu Sangue: "Pois Minha Carne é verdadeiramente uma comida e Meu Sangue, verdadeiramente uma bebida." Jo 6,55
    E a palavra para isso, para o mal dos que a renegam, é Comunhão, Comunhão com Deus, porque são palavras Suas: "Quem come Minha Carne e bebe Meu Sangue, permanece em Mim e Eu nele." Jo 6,56
    Mas se muitos resolveram estranhar o Rito da Comunhão, deveriam saber que não estão fazendo nada de novo. Veja-se o que aconteceu logo depois destas palavras de Jesus: "Muitos de Seus discípulos, ouvindo-O, disseram: 'Isto é muito duro! Quem o pode admitir?' Ele prosseguiu: 'Por isso, disse-vos: Ninguém pode vir a Mim, se por Meu Pai não lho for concedido.' Desde então, muitos de Seus discípulos retiraram-se e já não andavam mais com Ele." Jo 6,60.65-66
    A instituição da Eucaristia, portanto, deu-se um dia antes de Jesus ser glorificado, e foram decisivos instantes de Sua Missão e para a Redenção da humanidade: "Chegada que foi a hora, Jesus pôs-Se à mesa e com Ele os Apóstolos. Disse-lhes: 'Ardentemente tenho desejado convosco comer esta Páscoa, antes de sofrer.'" Lc 22,14-15
    E no Domingo da Ressurreição, antes de aparecer ao Colégio dos Apóstolos, Ele só Se revelou aos dois discípulos que tomaram o caminho de Emaús quando partiu o Pão: "Aconteceu que, estando sentado juntos à mesa, Ele tomou o pão, abençoou-O, partiu-O e serviu-lhO. Então se lhes abriram os olhos e O reconheceram... mas Ele desapareceu." Lc 24,30-31
    Essa memória, pois, como sinal de perfeito acolhimento do testemunho dos Apóstolos, foi muito bem preservada não só pelos Doze como por discípulos e seguidores desde o início, logo após o Pentecostes. Está no Livro dos Atos dos Apóstolos: "Eles perseveravam na Doutrina dos Apóstolos, na reunião em comum, na fração do Pão e nas orações." At 2,42
    E eles celebravam-na aos 'domingos', que significa Dia do Senhor, nome que deram ao Dia da Ressurreição, testemunhada pelos Apóstolos na aparição relatada por São João Apóstolo: "Na tarde do mesmo dia, que era o primeiro da semana, os discípulos tinham fechado as portas do lugar onde se achavam, por medo dos judeus. Jesus veio e pôs-Se no meio deles. Disse-lhes Ele: 'A Paz esteja convosco!' Dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos alegraram-se ao ver o Senhor." Jo 20,19-20
    É o que se constata da prática de evangelização de São Paulo e São Lucas: "No primeiro dia da semana, estando nós reunidos para partir o Pão..." At 20,7
    O Livro do Apocalipse de São João, com efeito, vai usar exatamente esse termo para designar o dia em que foi agraciado com celestiais visões. Pudera, era o dia da maior e mais patente manifestação de Deus à humanidade, da Ressurreição de Deus feito homem: "No Dia do Senhor, fui arrebatado em êxtase e ouvi, por trás de mim, uma forte voz como de trombeta..." Ap 1,10
    Ora, o próprio Jesus aparecia aos Colégio dos Apóstolos no primeiro dia da semana, como foi a segunda aparição: "Oito dias depois, outra vez estavam Seus discípulos no mesmo lugar, e Tomé com eles. Estando trancadas as portas, veio Jesus, pôs-Se no meio deles e disse: 'A Paz esteja convosco!'" Jo 20,26
    Eram, de fato, aparições em carne e osso, que Ele demonstrou: "'Vede Minhas mãos e Meus pés, sou Eu mesmo. Apalpai e vede: um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que tenho.' E, dizendo isso, mostrou-lhes as mãos e os pés. Mas, ainda vacilando eles e estando transportados de alegria, perguntou: 'Tendes aqui alguma coisa para comer?' Então Lhe ofereceram um pedaço de peixe assado. Ele tomou e comeu à vista deles." Lc 24,39-43
    E a Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios, com propriedade, afirma que a Comunhão Eucarística é o principal fator da Unidade da Igreja: "Uma vez que há um único Pão, nós, embora sendo muitos, formamos um só Corpo, porque todos nós comungamos do mesmo Pão." 1 Cor 10,17
    Afirma que tal celebração se dá quando revivemos e atualizamos o Sacrifício de Cristo: "Assim, todas vezes que comeis desse Pão e bebeis desse Cálice, lembrais a Morte do Senhor, até que Ele volte." 1 Cor 11,26
    Pois Ele é Nossa Páscoa, nossa passagem para a Jerusalém Celestial (cf. Ap 21,2), para a Vida Eterna: "Pois Nossa Páscoa, Cristo, foi imolada. Celebremos, pois, a festa, não com o velho fermento nem com o fermento da malícia e da corrupção, mas com os Pães sem fermento, de pureza e de Verdade." 1 Cor 5,8
    E o Apóstolo dos Gentios assim tratava de ensinar por onde passava, como explicou aos cristãos da cidade de Corinto, garantindo-lhes a fidelidade à Sagrada Tradição, e assim também afirmando a primazia da Tradição Oral frente ao Novo Testamento: "Eu recebi do Senhor o que vos transmiti: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão e, depois de ter dado graças, partiu-O e disse: 'Isto é Meu Corpo, que é entregue por vós. Fazei isto em memória de Mim.' Do mesmo modo, depois de haver ceado, também tomou o cálice, dizendo: 'Este Cálice é a Nova Aliança em Meu Sangue. Todas vezes que O beberdes, fazei-o em memória de Mim.'" 1 Cor 11,23-25
    Mas ele também adverte que não confundamos a Santa Eucaristia com qualquer outro rito: "Não podeis beber ao mesmo tempo o Cálice do Senhor e o cálice dos demônios. Não podeis participar ao mesmo tempo da Mesa do Senhor e da mesa dos demônios. Ou queremos provocar a ira do Senhor? Acaso somos mais fortes que Ele?" 1 Cor 10,21-22


"FELIZES OS CONVIDADOS"

    Ele fala da necessária penitência para que se esteja em dia com os Mandamentos de Deus, e assim possamos participar da Comunhão Eucarística: "Portanto, todo aquele que indignamente comer o Pão ou beber o Cálice do Senhor, será culpável do Corpo e do Sangue do Senhor. Que cada um se examine a si mesmo, e assim coma desse Pão e beba desse Cálice. Aquele que O come e O bebe sem distinguir o Corpo do Senhor, come e bebe sua própria condenação. Esta é a razão porque entre vós há muitos adoentados e fracos, e muitos mortos." 1 Cor 11,27-30
    Pois a verdadeira se vive perante os olhos de Deus, como a Primeira Carta de São Paulo a São Timóteo pedia a todos: "... que guardem o mistério da fé numa pura consciência." 1 Tm 3,9
    Ele mesmo dava exemplo, como alegou em sua defesa perante o procurador romano de Judeia, Felix, e os principais dos judeus, quando foi julgado em Cesareia: "Por isso, sempre procuro ter sem mácula minha consciência diante de Deus e dos homens." At 24,16
    Porque nosso Batismo, antes de tudo, é um pedido a Deus em virtude da Ressurreição de Cristo, como a Primeira Carta de São Pedro argumenta: "Esta Água prefigurava o Batismo de agora, que também salva a vós, não pela purificação das impurezas do corpo, mas pela que consiste em pedir a Deus uma boa consciência, pela Ressurreição de Jesus Cristo." 1 Pd 3,21
    E nós nada podemos sem a Graça, pela qual São Paulo exulta: "A razão de nossa Glória é esta: o testemunho de nossa consciência de que, no mundo e particularmente entre vós, temos agido com santidade e sinceridade diante de Deus, não conforme o espírito de sabedoria do mundo, mas com o socorro da Graça de Deus." 2 Cor 1,12
    Logo, na Carta aos Hebreus, os seguidores de sua tradição exaltam a inestimável dádiva que é o Sacrifício Pascal, que nos redime de todos pecados: "... quanto mais o Sangue de Cristo, que pelo Eterno Espírito Se ofereceu como vítima sem mácula a Deus, purificará nossa consciência das obras mortas para o serviço do Deus Vivo?" Hb 9,14b
    Porque quem bem se examina, deve confessar e pedir absolvição aos Sacerdotes da Santa Igreja, conforme o Sacramento que Jesus também instituiu pelo Espírito Santo, e desde a primeira aparição aos Apóstolos: "Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: 'Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, sê-lhes-ão perdoados. Àqueles a quem os retiverdes, sê-lhes-ão retidos.'" Jo 20,22-23
    Ora, os judeus também tinham restrições sobre quem poderia comer das coisas sagradas, como o próprio Deus disse a Abraão no Livro de Números: "Também te dou as primícias que os israelitas oferecerem ao Senhor: o melhor de seu óleo, de seu vinho e de seu trigo. Serão para ti as primícias dos produtos da terra que trouxerem ao Senhor. Todo membro de tua família, que estiver puro, delas poderá comer." Nm 18,12-13
    Quanto aos castigos a quem desrespeita a Comunhão, havia paralelo na história do povo de Deu, como São Paulo aponta: "Não quero que ignoreis, irmãos, que todos nossos pais estiveram debaixo da nuvem e que todos atravessaram o mar. Todos foram batizados em Moisés, na nuvem e no mar, todos comeram do mesmo alimento espiritual, todos beberam da mesma bebida espiritual, pois todos bebiam da pedra espiritual que os seguia, e essa pedra era Cristo. Não obstante, a maioria deles desgostou a Deus, pois seus cadáveres cobriram o deserto. Estas coisas aconteceram para servir-nos de exemplo, a fim de não cobiçarmos más coisas, como eles as cobiçaram." 1 Cor 10,1-6
    E assim, por não acolherem Jesus como o Cristo, os judeus terminaram afastados da Santa Eucaristia. Invocando o Antigo Testamento como um convite, Nosso Salvador afirmou na parábola do grande banquete: "Pois digo-vos: nenhum daqueles homens que foram convidados provará Minha Ceia." Lc 14,24
    Após o episódio em que multiplicou os 5 pães e os 2 peixes para a multidão, de fato, Ele apontou a mundana ânsia da mera e física saciação: "Em Verdade, em Verdade, digo-vos: buscais-Me não porque vistes os milagres, mas porque comestes dos pães e ficastes fartos." Jo 6,26
    Instou-nos, portanto, a buscar o Sagrado Alimento: "Trabalhai não pela comida que perece, mas pela que dura até a Vida Eterna, que o Filho do Homem vos dará. Pois n'Ele Deus Pai imprimiu Seu sinal." Jo 6,27
    E como para São Pedro, Seu Sumo Pontífice, foi claramente dito, os Sacerdotes da Igreja não podem descuidar dessa vital obrigação: "Disse-Lhe Pedro: 'Senhor, propões esta parábola só a nós ou também a todos?' O Senhor replicou: 'Qual é o sábio e fiel administrador que o Senhor estabelecerá sobre Seus operários para a seu tempo dar-lhes sua medida de trigo? Feliz daquele servo que o Senhor assim achar procedendo, quando vier! Em Verdade, digo-vos: confiá-lhe-á todos Seus bens.'" Lc 12,41-44
    Não por acaso, no Pai Nosso, ainda que também Se referindo ao diário alimento, Ele ensinou-nos a pedir ainda no Sermão da Montanha, de leitura no Evangelho segundo São Mateus: "O Pão Nosso de cada dia dai-nos hoje..." Mt 6,11
    Pois sobre o alimento propriamente dito, Ele já havia citado o Livro de Deuteronômio, quando por Satanás foi tentado no deserto: "Está escrito: 'Não só de pão vive o homem, mas de toda Palavra de Deus (Dt 8,3).'" Lc 4,4
    E criticando aqueles que em demasia se preocupam com as vísceras, Ele foi contundente desde Suas primeiras prédicas: "Portanto, eis que Eu vos digo: não vos preocupeis por vossa vida, pelo que comereis, nem por vosso corpo, pelo que vestireis. A vida não é mais que o alimento e o corpo não é mais que as vestes? Não vos aflijais, nem digais: Que comeremos? Que beberemos? Com que nos vestiremos? São os pagãos que se preocupam com tudo isso. Ora, Vosso Pai Celeste sabe que necessitais de tudo isso. Antes buscai o Reino de Deus e Sua justiça, e todas estas coisas sê-vos-ão dadas em acréscimo." Mt 6,25.31-33
    Alertando para nossas obrigações de cristãos, disse mais: "Tenho um alimento para comer que vós não conheceis. Meu alimento é fazer a vontade d'Aquele que Me enviou e cumprir Sua obra." Jo 4,32.34
    Porque a obra do Pai é espiritual: "Perguntaram-Lhe: 'Que faremos para praticar as obras de Deus?' Respondeu-lhes Jesus: 'A obra de Deus é esta: que creiais n'Aquele que Ele enviou.'" Jo 6,28-29
    É conceder-nos a Vida Eterna, como Jesus descreveu o Evangelho perante os líderes judeus em Jerusalém: "Em Verdade, não falei por Mim mesmo, mas o Pai, que Me enviou, Ele mesmo prescreveu-Me o que devo dizer e o que devo ensinar. E Eu sei que Seu Mandamento é Vida Eterna." Jo 12,49-50a
    E isso Ele realiza através do Santíssimo Sacramento, que ofereceu na Santa Ceia e se perpetua até o fim dos tempos: "Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir Minha voz e Me abrir a porta, entrarei em sua casa e cearemos, Eu com ele e ele Comigo." Ap 3,20
    Uma vez nos Céus, porém, o alimento será outro, da própria árvore da Vida de que fala o Gênesis. Jesus prometeu ao Amado Discípulo nas revelações do Apocalipse: "'Ao vencedor darei de comer do fruto da árvore da Vida, que se acha no Paraíso de Deus.' O anjo então mostrou-me um rio de Água Viva, resplandecente como cristal de rocha, saindo do trono de Deus e do Cordeiro. No meio da avenida e às duas margens do rio, achava-se uma árvore da Vida, que produz doze frutos, dando cada mês um fruto, servindo as folhas da árvore para curar as nações." Ap 2,7;22,1-2
    Pois ela é a árvore da própria Vida Eterna, como o Livro de Gênesis registrou logo após Eva ser seduzida pela Serpente: "E o Senhor Deus disse: 'Eis que o homem se tornou como um de Nós, conhecedor do bem e do mal. Agora, pois, cuidemos que ele não estenda sua mão e também tome do fruto da árvore da Vida, e coma-o e viva eternamente.'" Gn 3,22
    O Arcanjo São Rafael, aliás, deu este singular detalhe sobre a alimentação dos anjos, falando a Tobit no Livro de Tobias, seu filho: "Parecia-vos que convosco eu comia e bebia, mas meu alimento é um invisível manjar, e minha bebida não pode ser vista pelos homens." Tb 12,19
    E a entrada dos eleitos na Vida Eterna terá a festividade de um indizível banquete, como o Cordeiro de Deus ordenou a São João Evangelista: "Escreve: 'Felizes os convidados para a Ceia das Núpcias do Cordeiro.'" Ap 19,9
    Mas enquanto aqui na Terra, e sobre a necessária 'digestão' da Palavra de Deus, São Paulo vai dizer aos inconstantes: "Eu dei-vos leite a beber, e não sólido alimento que ainda não podíeis suportar. Nem ainda agora o podeis, porque ainda sois carnais." 1 Cor 3,2
    Os seguidores de sua tradição também reclamavam: "Muita coisa teríamos a dizer sobre isso, e coisas bem difíceis de explicar, dada vossa lentidão em compreender... A julgar pelo tempo, já devíeis ser mestres! Contudo, ainda necessitais que vos ensinem os primeiros rudimentos da Palavra de Deus, e tornaste-vos tais que precisais de leite em vez de sólido alimento! Ora, quem se alimenta de leite não é capaz de compreender uma profunda doutrina, porque é ainda criança. Mas o sólido alimento é para os adultos, para aqueles que a experiência já exercitou na distinção do bem e do mal." Hb 5,11-14
    O Príncipe dos Apóstolos, no mesmo sentido, vai falar de outro leite: "Deponde, pois, toda malícia, toda astúcia, fingimentos, invejas e toda espécie de maledicência. Como recém-nascidas crianças, com ardor desejai o leite espiritual, que vos fará crescer para a Salvação..." 1 Pd 2,1-2
    Com efeito, os últimos 20 anos da vida de São Nicolau de Flüe, nos quais apenas se alimentou da Hóstia Consagrada, demonstram que só o Pão do Céu é realmente essencial. Assim também foram as experiências de inédia da estigmata alemã Teresa Neumann e da Beata portuguesa Alexandrina Maria da Costa, que viveram no século passado e tiveram suas místicas amplamente documentadas.
    Se realmente quisermos viver, portanto, temos o Sacrifício Pascal oferecido por Jesus, por Quem, uma vez a Ele achegados, somos saciados de tudo, já não carecemos de nada: "Eu sou o Pão da Vida. Aquele que vem a Mim não terá fome, e aquele que crê em Mim jamais terá sede." Jo 6,35
    A multidão, que havia comido dos pães e dos peixes multiplicados, bem entendeu Sua mensagem: "Senhor, dá-nos sempre deste Pão!" Jo 6,34

    "Todas vezes que comemos deste Pão e bebemos deste Cálice, anunciamos, Senhor, Vossa Morte, enquanto esperamos Vossa Vinda!"

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

O Evangelho da Reconciliação


    A Primeira Carta que São Paulo aos Tessalonicenses afirma o poder que o Evangelho tem em si mesmo, como Divina Palavra que é, e informa que seu principal objetivo é reconciliar o povo com Deus. Não poderia ser diferente: é Deus Jesus, Verbo Encarnado (cf. Jo 1,14), que vem ao nosso encontro: "Nosso Evangelho foi-vos pregado não somente por palavra, mas também com poder, com o Espírito Santo e com plena convicção. Sabeis o que temos sido entre vós para vossa Salvação." 1 Ts 1,5
    Lembrando as trombetas que derrubaram as muralhas de Jericó (cf. Js 6,20), a Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios dá uma ideia desse poder: "Não são carnais as armas com que lutamos. São poderosas, em Deus, capazes de arrasar fortificações. Nós aniquilamos todo raciocínio e todo orgulho que se levanta contra o conhecimento de Deus, e cativamos todo pensamento e reduzimo-lo à obediência a Cristo." 2 Cor 10,4-5
    Ele diz que no Evangelho se tem a Glória de Jesus, quer dizer, a própria personificação de Deus, e que só a sedução do inimigo pode evitar que a percebamos: "Se nosso Evangelho ainda estiver encoberto, está encoberto para aqueles que se perdem, para os incrédulos, cujas inteligências o deus deste mundo obcecou a tal ponto que não percebem a Luz do Evangelho, onde resplandece a Glória de Cristo, que é a imagem de Deus. Porém, temos este tesouro em vasos de barro, para que claramente transpareça que este extraordinário poder provém de Deus e não de nós." 2 Cor 4,3-4.7
    E vibrante, ele comenta a percepção que os cristãos alcançaram de Jesus e da própria humanidade, para muito além do meramente humano, atestando a profunda transformação dos fiéis como resultado da reconciliação com o Pai. Ora, o Ministério da Igreja é exatamente esse, que ela cumpre através dos Sacramentos: "Por isso, daqui em diante a ninguém nós conhecemos de um humano modo. Muito embora tenhamos considerado Cristo dessa maneira, agora já não O julgamos assim. Todo aquele que está em Cristo é uma nova criatura. Passou o que era velho, eis que tudo se fez novo! Tudo isso vem de Deus, que Consigo nos reconciliou, por Cristo, e nos confiou o ministério desta reconciliação. Porque é Deus que, em Cristo, Consigo reconciliava o mundo, não levando mais em conta os pecados dos homens, e pôs em nossos lábios a mensagem da reconciliação. Portanto, desempenhamos o encargo de embaixadores em Nome de Cristo, e é Deus mesmo que vos exorta por nosso intermédio. Em Nome de Cristo, rogamo-vos: reconciliai-vos com Deus!" 2 Cor 5,16-20
    Essa, aliás, era a reclamação da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios: "A vós, irmãos, não vos pude falar como a homens espirituais, mas como a carnais, como a criancinhas em Cristo. Eu dei-vos leite a beber, e não sólido alimento, que ainda não podíeis suportar. Nem ainda agora o podeis, porque ainda sois carnais. Com efeito, enquanto houver entre vós ciúmes e contendas, não será porque sois carnais e procedeis de totalmente humano modo?" 1 Cor 3,1-3
    E do próprio Jesus, que inquiriu os líderes judeus em Jerusalém no Evangelho segundo São João: "Por que não compreendeis Minha linguagem? Quem de vós Me acusará de pecado? Se falo-vos a Verdade, por que Me não credes? Quem é de Deus ouve as palavras de Deus, e se vós não as ouvis é porque não sois de Deus." Jo 8,43a.46-47
    Pois o Apóstolo dos Gentios explicava: "Ora, nós não recebemos o espírito do mundo, mas sim o Espírito que vem de Deus, que nos dá a conhecer as Graças que Deus nos prodigalizou e que pregamos numa linguagem que nos foi ensinada não pela sabedoria humana, mas pelo Espírito, que exprime as coisas espirituais em termos espirituais. Mas o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, pois para ele são loucuras. Nem pode compreendê-las, porque é pelo Espírito que devem ponderá-las. O homem espiritual, ao contrário, julga todas coisas e não é julgado por ninguém." 1 Cor 2,12-15
    E fez um contraponto ao Antigo Testamento, exultando com o Ministério do Santo Paráclito, que chamou de Ministério da Justificação, válido para a eternidade: "Ora, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, se revestiu de tal Glória que os filhos de Israel não podiam fitar os olhos no rosto de Moisés, por causa do resplendor de sua face, embora transitório, quanto mais glorioso não será o Ministério do Espírito? Se o ministério da condenação já foi glorioso, muito mais há de sobrepujá-lo em Glória o Ministério da Justificação! Aliás, sob esse aspecto e em comparação desta eminentemente Glória superior, empalidece a Glória do primeiro Ministério. Se o transitório era glorioso, muito mais glorioso é o que permanece!" 2 Cor 3,7-11
    Foi o que Jesus disse sobre o Espírito Santo na noite da Santa Ceia, quando prometeu que Ele seria derramado sobre a Santa Igreja. Quer dizer, o Divino Paráclito veio para ficar no Corpo Místico de Cristo, e para sempre: "E Eu rogarei ao Pai, e Ele dá-vos-á outro Paráclito, para que convosco fique eternamente. É o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber porque não O vê nem O conhece. Mas vós conhecer-Lo-eis, porque convosco permanecerá e em vós estará." Jo 14,16-17
    Também disse de Si mesmo, pela Comunhão da Santíssima Trindade, pouco antes de Sua Ascensão, no Evangelho segundo São Mateus: "Eis que convosco estou todos dias, até o fim do mundo." Mt 28,20b
    A Carta de São Tiago, aliás, diz a própria Sabedoria já é por si um apelo à conciliação com Deus e com todas pessoas: "Onde houver ciúme e contenda, ali também há perturbação e toda espécie de vícios. A Sabedoria, porém, que vem de cima, é primeiramente pura, depois pacífica, condescendente, conciliadora, cheia de Misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, nem fingimento." Tg 3,16-17
    Ora, exaltando a preciosidade do Sangue de Jesus, a Carta de São Paulo aos Romanos atestou: "Se, quando ainda éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus pela Morte de Seu Filho, com muito mais razão, estando já reconciliados, seremos salvos por Sua Vida. ... nós gloriamo-nos em Deus por Nosso Senhor Jesus Cristo, por Quem desde agora temos recebido a reconciliação!" Rm 5,10-11
    De fato, ao anunciar a iminência de Sua Crucificação, Nosso Senhor mesmo afirmou: "E quando Eu for levantado da Terra, a Mim atrairei todos homens." Jo 12,32
    E, desde o início de Suas pregações, Ele já associava o acolhimento do Evangelho ao necessário reconhecimento dos pecados, e assim à conversão. O Evangelho segundo São Marcos anotou: "Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Fazei penitência e crede no Evangelho." Mc 1,15
    Pela mesma razão, Ele convocou os Apóstolos e deu-lhes poder: "Então chamou os Doze e começou a enviá-los, dois a dois. E deu-lhes poder sobre os imundos espíritos. Eles partiram e pregaram a penitência." Mc 6,7.12
    Por isso, logo na primeira aparição ao Colégio dos Apóstolos, ainda no Domingo da Ressurreição, Ele mesmo instituiu a Igreja, dando-lhe o poder de perdoar os pecados, que propriamente é o Sacramento da Reconciliação: "Disse-lhes outra vez: 'A Paz esteja convosco! Como o Pai Me enviou, Eu envio a vós.' Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: 'Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, sê-lhes-ão perdoados. Àqueles a quem os retiverdes, sê-lhes-ão retidos.'" Jo 20,21-23
    Na mesma ocasião, Ele justificou Sua Paixão nestes termos, apontando a Missão da Igreja Católica, como está no Evangelho segundo São Lucas: "Assim é que está escrito, e assim era necessário que Cristo padecesse, mas que ressurgisse dos mortos ao terceiro dia. E que em Seu Nome se pregasse a penitência e a remissão dos pecados a todas nações, começando por Jerusalém." Lc 24,46-47
    Contudo, é o Batismo o primeiro e principal Sacramento para o perdão dos pecados, porque, como indispensáveis requisitos à Salvação, Jesus estabeleceu a e o Batismo, em Sua última aparição antes do Pentecostes: "E disse-lhes: 'Ide por todo mundo e pregai o Evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo...'" Mc 16,15-16a
    E como diz São Paulo, é pelo Batismo que temos a justificação: "Fomos, pois, sepultados com Ele em Sua Morte pelo Batismo, para que, como Cristo ressurgiu dos mortos pela Glória do Pai, nós também vivamos uma Nova Vida." Rm 6,4
    Por isso, em pregação no dia do Nascimento da Igreja, no Livro dos Atos dos Apóstolos, São Pedro vai recomendá-lo ao peregrinos que estavam em Jerusalém, sempre começando pelo arrependimento: "Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em Nome de Jesus Cristo para remissão de vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo." At 2,38
    Pois segundo Jesus, em despedida do Apóstolos, a função do Divino Paráclito é exatamente levar o mundo a um verdadeiro exame de consciência: "E quando Ele vier, convencerá o mundo a respeito do pecado, da justiça e do Juízo." Jo 16,8
    Ele já lhes havia afirmado: "Digo-vos que assim haverá maior júbilo no Céu por um só pecador que fizer penitência do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento." Lc 15,7
    E a Primeira Carta de São João bem observou: "Quem conhece a Deus, ouve-nos. Quem não é de Deus, não nos ouve. É nisto que conhecemos o Espírito da Verdade e o espírito do erro. Quem observa Seus Mandamentos, permanece em Deus e Deus nele. É nisto que reconhecemos que Ele permanece em nós: pelo Espírito que nos deu." 1 Jo 4,6a;3,24
    Desta forma, todo gesto de verdadeira  deve estar impregnado do poder do Espírito de Cristo, que se antecipa e promove a total reconciliação, com Deus e com todos irmãos. Jesus recomendou desde o Sermão da Montanha: "Se estás, portanto, para fazer tua oferta diante do Altar e lembrares que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá tua oferta diante do Altar e primeiro vai reconciliar-te com teu irmão. Só então vem fazer tua oferta." Mt 5,23-24
    Nas palavras de São Paulo, essa é obrigatória atitude para quem está sob os Sacramentos, como o do Matrimônio: "Aos casados mando (não eu, mas o Senhor) que a mulher não se separe do marido. E se ela estiver separada, que fique sem se casar, ou que se reconcilie com seu marido. Igualmente, o marido não repudie sua mulher." 1 Cor 7,10-11
    Ora, o perdão que podemos obter de Deus sempre será proporcional ao perdão que oferecemos aos irmãos. É o que rezamos no Pai Nosso, que o Senhor mesmo nos ensinou: "... perdoai nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos têm ofendido..." Mt 6,12
    Aliás, em todas orações que fizermos, também como Ele determinou: "E quando vos puserdes de pé para orar, perdoai, se tiverdes algum ressentimento contra alguém, para que Vosso Pai, que está nos Céus, também perdoe vossos pecados. Mas se não perdoardes, tampouco Vosso Pai que está nos Céus perdoará vossos pecados." Mc 11,25-26
    São João Evangelista é taxativo: "Aquele que diz estar na Luz, e odeia seu irmão, ainda jaz nas trevas. Quem ama seu irmão permanece na Luz e não se expõe a tropeçar. Mas quem odeia seu irmão está nas trevas e anda nas trevas, sem saber para onde dirige os passos. As trevas cegaram seus olhos." 1 Jo 2,9-11
    Eis o grande teste para quem diz que conhece o amor de Deus: "Se alguém disser: Amo a Deus, mas odeia seu irmão, é mentiroso. Porque aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a Quem não vê." 1 Jo 4,20
    Pois estar em Comunhão com Deus significa estar em Comunhão com a Igreja: "Se dizemos ter Comunhão com Ele, mas andamos nas trevas, mentimos e não seguimos a Verdade. Se, porém, andamos na Luz como Ele mesmo está na Luz, temos Comunhão uns com os outros, e o Sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, purifica-nos de todo pecado." 1 Jo 1,6-7


O EVANGELHO DA PAZ

    Sem dúvida, era essencialmente essa a missão dos Apóstolos, como o Amado Discípulo declara: "O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com nossos olhos, o que temos contemplado e nossas mãos têm apalpado no tocante ao Verbo da Vida, porque a Vida se manifestou e nós temo-la visto, damos testemunho e anunciamo-vos a Vida Eterna, que estava no Pai e que se nos manifestou. O que vimos e ouvimos nós anunciamo-vos, para que vós também tenhais Comunhão conosco. Ora, nossa Comunhão é com o Pai e com Seu Filho Jesus Cristo." 1 Jo 1,1-3
    Porque a Igreja de Jesus aí está para celebrar na Santa Missa o Santíssimo Sacramento, e d'Ele aprendemos que sem a Comunhão Eucarística, que é o símbolo máximo dessa Comunhão, não entraremos na Vida Eterna: "Então lhes disse Jesus: 'Em Verdade, em Verdade, digo-vos: se não comerdes a Carne do Filho do Homem, e não beberdes Seu Sangue, não tereis a Vida em vós mesmos.'" Jo 6,53
    Afirmativamente, Ele vinculou Sua Paixão, oferecida em Pão e Vinho, à Redenção: "Durante a refeição, Jesus tomou o pão, benzeu-o, partiu-O e deu-O aos discípulos, dizendo: 'Tomai e comei, isto é Meu Corpo.' Depois tomou o Cálice, rendeu graças e deu-lhO, dizendo: 'Bebei d'Ele todos, porque isto é Meu Sangue, o Sangue da Nova Aliança, derramado por muitos homens para a remissão dos pecados.'" Mt 24,26-28
    Com este mesmo propósito, a Carta de São Paulo aos Colossenses anuncia Nosso Salvador em Sua plenitude, como Deus Filho, bem como Sua Missão de restabelecer, pela força do Evangelho, a santidade, isto é, a divina semelhança que havemos perdido: "Sede contentes e agradecidos ao Pai, que vos fez dignos de participar da herança dos Santos na Luz. Ele arrancou-nos do poder das trevas e introduziu-nos no Reino de Seu Amado Filho, no Qual temos a Redenção, a remissão dos pecados. Ele é a imagem de Deus invisível, o Primogênito de toda Criação. N'Ele foram criadas todas coisas nos Céus e na Terra, as criaturas visíveis e as invisíveis. Tronos, dominações, principados, potestades: tudo foi criado por Ele e para Ele. Ele existe antes de todas coisas, e todas coisas n'Ele subsistem. Ele é a Cabeça do Corpo, da Igreja. Ele é o Princípio, o Primogênito dentre os mortos, e por isso tem o primeiro lugar em todas coisas. Porque aprouve a Deus fazer habitar n'Ele toda plenitude, e por Seu intermédio reconciliar Consigo todas criaturas, através d'Aquele que, ao preço do próprio Sangue na Cruz, restabeleceu a Paz a tudo quanto existe na Terra e nos Céus. E a vós, que há bem pouco tempo eram alheios a Deus e inimigos por vossos pensamentos e más obras, eis que agora Ele também vos reconciliou pela Morte de Seu Corpo humano, para que possais apresentar-vos Santos, imaculados, irrepreensíveis aos olhos do Pai. Para isto, é necessário que permaneçais fundados e firmes na fé, inabaláveis na esperança do Evangelho que ouvistes, que foi pregado a toda criatura que há debaixo do Céu, e do qual eu, Paulo, fui constituído ministro." Cl 1,12-23
    Povos de todas nações, portanto, têm em Jesus a verdadeira oportunidade de reconciliar-se com Deus, como se lê na Carta de São Paulo aos Efésios: "Ele quis, assim, a partir do judeu e do pagão, criar em Si um só novo homem, estabelecendo a Paz. Quis reconciliá-los com Deus, ambos em um só Corpo, por meio da Cruz." Ef 2,15a-16b
    De fato, já estava no Livro do Profeta Isaías, 700 anos antes do Advento: "O povo que andava nas trevas viu uma grande Luz, sobre aqueles que habitavam uma tenebrosa região resplandeceu uma Luz. ... porque um Menino nos nasceu, um Filho nos foi dado. A soberania repousa sobre Seus ombros, e Ele chama-Se: Admirável Conselheiro, Deus Forte, Pai Eterno, Príncipe da Paz. Seu império será grande e a Paz sem fim sobre o trono de Davi e em Seu Reino. Ele firmá-lo-á e mantê-lo-á pelo direito e pela justiça, desde agora e para sempre. 'Eis Meu Servo que Eu amparo, Meu Eleito ao qual dou toda Minha afeição. Sobre Ele faço repousar Meu Espírito para que leve às nações a verdadeira religião. Eu, o Senhor, realmente chamei-Te, segurei-Te pela mão, formei-Te e designei para ser a Aliança com os povos, a Luz das nações, para abrir os olhos aos cegos, tirar do cárcere os prisioneiros e da prisão aqueles que vivem nas trevas.'" Is 9,1.5-6a;42,1.6-7
    E o próprio Jesus afirmou: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai senão por Mim." Jo 14,6b
    Foi assertivo: "Aquele que não honra o Filho, não honra o Pai, que O enviou." Jo 5,23b
    Disse aos principais dos judeus: "Não conheceis nem a Mim nem a Meu Pai. Se Me conhecêsseis, certamente também conheceríeis a Meu Pai." Jo 8,19b
    Explicou a condição deles: "... sei que não tendes em vós o amor de Deus." Jo 5,42
    E São Paulo complementou: "Porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado." Rm 5,5b
    Assegura que é ouvindo o Evangelho que recebemos o Espírito de Deus: "Em Cristo, vós, depois de terdes ouvido a Palavra da Verdade, o Evangelho de vossa Salvação no qual tendes crido, também fostes selados com o Espírito Santo que fora prometido..." Ef 1,13 
    E muito além de judeus e pagãos, Deus Pai quer reunir em Jesus todas criaturas, toda Criação, dando um único sentido a toda existência: "Ele manifestou-nos o misterioso desígnio de Sua vontade, que em Sua benevolência formara desde sempre, para realizá-lo na plenitude dos tempos, desígnio de reunir em Cristo todas coisas, as que estão nos Céus e as que estão na Terra." Ef 1,9-10
    Embora mencionando a armadura de um guerreiro, ele deixou-nos uma das definições mais apropriadas do Evangelho: "Estejam, portanto, bem firmes: cingidos com o cinturão da Verdade, vestidos com a couraça da justiça, os pés calçados com o zelo para propagar o Evangelho da Paz..." Ef 6,14-15
    Ora, essa foi a determinação dada por Jesus a São Pedro, o Príncipe dos Apóstolos após ressuscitar: "Apascenta Meus cordeiros. Apascenta Minhas ovelhas." Jo 21,15b.17b
    E a Carta de São Paulo aos Gálatas segue garantindo o poder e a origem da Palavra de Deus: "Asseguro-vos, irmãos, que o Evangelho por mim pregado nada tem de humano. Não o recebi nem o aprendi de homem algum, mas mediante uma revelação de Jesus Cristo." Gl 1,11
    Garante o poder dos Sacerdotes, quer dizer, da Igreja para anunciá-lo: "Por conseguinte, desprezar estes preceitos é desprezar não a um homem, mas a Deus, que nos infundiu Seu Santo Espírito." 1 Ts 4,8
    Garante o acesso à : "Logo, a fé provém da pregação, e a pregação exerce-se em razão da Palavra de Cristo." Rm 10,17
    Ele afirma: "Não me envergonho do Evangelho, pois ele é uma força vinda de Deus para a Salvação de todo aquele que crê..." Rm 1,16
    Ora, dele vem a esperança, como ele diz aos cristãos da cidade de Colosso: "Esperança que vos foi transmitida pela pregação da Verdade do Evangelho..." Cl 1,5b
    Diz de seus termos: "A linguagem da Cruz é loucura para os que se perdem, mas, para os que foram salvos, para nós, é uma divina força." 1 Cor 1,18
    Por ele, Jesus realizou o maior sonho da humanidade: "... destruiu a morte e suscitou a Vida e a imortalidade, pelo Evangelho..." 2 Tm 1,10b
    Por ele nascem os filhos de Deus, como São Paulo diz: "... fui eu que vos gerei em Cristo Jesus pelo Evangelho." 1 Cor 4,15
    Que a ele se tornam obedientes, como se deu entre os fiéis de Corinto: "... eles glorificam a Deus pela obediência que professais relativamente ao Evangelho de Cristo..." 2 Cor 9,13
    Por ele, toma-se parte na Glória do Filho de Deus. A Segunda Carta de São Paulo aos Tessalonicenses diz: "E pelo anúncio do nosso Evangelho, Deus chamou-vos para tomar parte na Glória de Nosso Senhor Jesus Cristo." 2 Ts 2,14
    Dele os verdadeiros Sacerdotes de Cristo tornam-se servos: "Eu tornei-me servo deste Evangelho em virtude da Graça que me foi dada pela onipotente ação divina." Ef 3,7
    E assim, dos cristãos a Carta de São Paulo aos Filipenses exige testemunho de vida: "Cumpre, somente, que em vosso proceder vos mostreis dignos do Evangelho de Cristo." Fl 1,27a
    Por todas essas Graças, ele não deixa de reconhecer seu mistério: "E também orai por mim, para que me seja dado corajosamente anunciar o mistério do Evangelho..." Ef 6,19
    A esse respeito, Jesus reclamou das limitações dos fariseus, como disse a Nicodemos: "Se vos tenho falado das coisas terrenas e não Me credes, como crereis se vos falar das celestiais?" Jo 3,12
    Reclamou dos líderes judeus: "Como podeis crer, vós que recebeis a glória uns dos outros, e não buscais a Glória que é só de Deus?" Jo 5,44
    Disse-lhes: "'Tenho muitas coisas a dizer e a julgar a vosso respeito, pois Aquele que Me enviou é verdadeiro, e o que d'Ele ouvi, digo ao mundo.' Eles, porém, não compreenderam que Ele lhes falava do Pai. Então lhes disse Jesus: 'Quando tiverdes levantado o Filho do Homem, então conhecereis que EU SOU e que nada faço de Mim mesmo, mas falo do modo como o Pai Me ensinou.'" Jo 8,26-28
    Disse aos próprios Apóstolos, na última noite entre eles: "Muitas coisas ainda tenho a dizer-vos, mas agora não podeis suportá-las. Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensiná-vos-á toda Verdade, porque não falará por Si mesmo, mas dirá o que ouvir e anunciá-vos-á as coisas que virão." Jo 16,12-13
    Falando de Sua Ressurreição, garantiu-lhes a Comunhão dos Santos: "Naquele dia conhecereis que estou em Meu Pai, e vós em Mim e Eu em vós. Aquele que tem Meus Mandamentos e os guarda, esse é que Me ama. E aquele que Me ama será amado por Meu Pai, e Eu amá-lo-ei e a ele manifestar-Me-ei." Jo 14,20-21
    Por fim, após o Domingo de Ramos, perante os Apóstolos referiu-Se à Boa Nova como a grande prova do amor de Deus, que é a razão de ser de todas coisas: "Este Evangelho do Reino será pregado pelo mundo inteiro para servir de testemunho a todas nações, e então chegará o fim." Mt 24,14
    A Primeira Carta de São Pedro, falando a todos cristãos, também discorreu sobre a Graça da Boa Nova. Pois movidos pelo Espírito de Deus, os Profetas já haviam anunciado a remissão dos pecados pelo Sacrifício de Cristo: "Esta Salvação tem sido o objeto das investigações e das meditações dos Profetas, que proferiram oráculos sobre a Graça que vos era destinada. Eles investigaram a época e as circunstâncias indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles estava e que profetizava os sofrimentos do mesmo Cristo e as Glórias que haveriam de segui-los. Foi-lhes revelado que propunham não para si mesmos, senão para vós, estas revelações que agora vos têm sido anunciadas por aqueles que vos pregaram o Evangelho da parte do Espírito Santo, enviado do Céu. Revelações estas que os próprios anjos desejam contemplar. Cingi, portanto, os rins do vosso espírito, sede sóbrios e colocai toda vossa esperança na Graça que vos será dada no Dia em que Jesus Cristo aparecer." 1 Pd 1,10-13
    Desta forma, completando a obra da Salvação, o Evangelho foi anunciado aos que já haviam falecidos, e assim Jesus desceu à mansão dos mortos para levar aos Seus a reconciliação com Deus. São Pedro pontua: "Pois, para isto, o Evangelho também foi pregado aos mortos. Para que, embora sejam condenados em sua humanidade de carne, vivam segundo Deus quanto ao espírito." 1 Pd 4,6
    Tal qual São Paulo falando sobre a herança dos Santos, ou seja, sobre a perfeita reabilitação da condição humana, seus seguidores falam em santidade na Carta aos Hebreus: "Aliás, temos na Terra nossos pais que nos corrigem e, no entanto, olhamo-los com respeito. Com quanto mais razão havemos de submeter-nos ao Pai de nossas almas, o Qual nos dará a Vida? Os primeiros educaram-nos para pouco tempo, segundo sua própria conveniência, ao passo que Este o faz para nosso bem, para comunicar-nos Sua santidade." Hb 12,9-10
    E a Segunda Carta de São Pedro menciona o chamamento de Deus para participarmos de Sua natureza divina: "O divino poder deu-nos tudo que contribui para a Vida e a piedade, fazendo-nos conhecer Aquele que nos chamou por Sua Glória e Sua Virtude. Por elas, temos entrado na posse das maiores e mais preciosas promessas, a fim de tornar-vos por este meio participantes da natureza divina, subtraindo-vos à corrupção que a concupiscência gerou no mundo." 2 Pd 1,3-4

    "Fazei-nos, ó Pai, instrumentos de Vossa Paz!"